Filha da Lua romance Capítulo 9

Acordo assustada suando frio, esse pesadelo parecia tão real. Sinto algo pesado sobre minha barriga me impedindo de me levantar, olho para o lado e vejo Gastón com seu braço em cima de mim. Eu mereço isso mesmo .

— Gastón… Gastón eu quero levantar. – tento tirar seu braço de cima de mim o que é em vão e ele não acorda – Gastón, por favor!

— Mais cinco minutinhos… – diz ainda dormindo.

— GASTÓN AGORA! – grito fazendo o mesmo levantar assustado.

Gastón me encara confuso e olha para si mesmo que só está de cueca por baixo do edredom.

— Estela… O-O que faz aqui? – típico de pessoas que bebem.

— Bom, você que está no meu quarto.

— Não me diga que nós… Nós...

— Você não se lembra? – digo fazendo uma cara de triste – Foi a melhor noite que uma garota poderia ter. Você é demais Gastón.

— Estela, eu… Eu sinto muito. Não era pra isso acontecer. – fala movendo as mãos para seu cabelo bagunçado num ato de desespero.

— Você me magoar desse jeito, como pode me dizer palavras lindas e agora não lembrar de nada? – digo fazendo o possível para não rir.

— Seu pai vai me matar...

— Isso eu concordo, ainda mais se eu estiver grávida.

— Grávida?! – Gastón arregala os olhos o que me faz cair na risada.

— Não, não aconteceu nada não. – digo rindo – Não sou desse tipo, aliás você tem namorada. Ou tinha né, sinto muito por vocês.

— Quer me matar é isso? – pergunta se enrolando no edredom – Como vim parar aqui?

— Você chegou bêbado, eu tentei te levar ao seu quarto mas você não falava onde estava a chave, então te dei um banho e deixei você dormir aqui.

— Você me deu banho?! – percebo que engole em seco.

— Eu não vi nada, apenas coloquei você embaixo da água com roupa e tudo. Foi você que tirou a roupa e não eu...

— Eu?!

— Sim, você. Sorte que não tirou a cueca, senão dormiria no banheiro.

— Me desculpe, não lembro de nada.

— Imagino, você disse tanta coisa.

— Me desculpe mesmo, eu nunca fiquei assim.

— Sei como é, minha mãe sempre chegava bêbada em casa então estou acostumada.

— Poderia não comentar isso com seu pai? – diz se levantando e levando meu edredom junto.

Assim que ele pronunciou meu pai lembro do pesadelo que tive essa noite. Fico arrepiada só de lembrar, levanto correndo e pego meu celular.

— Ei… Ei, o que está fazendo? Se quer falar pro seu pai tanto assim deixa que eu conto, tá legal? Eu errei e por isso serei castigado...

— Gastón um minuto. – digo colocando meu celular na orelha.

O celular chama mas ninguém atende, ligo várias e várias vezes mas ninguém atende, olho para Gastón que me encara da porta. Sinto o pânico crescer dentro de mim, o que está acontecendo ?

— Estela, você está bem? O que aconteceu? – pergunta vendo o medo estampado em meu rosto.

— Gastón você conhece algum… Como é o nome…? Lu… Lukeche… Isso, Lukeche?

Assim que Gastón ouve o nome já sei que ele conhece, seu semblante muda totalmente e vejo seu maxilar se enrijecer.

– Onde ouviu esse nome? – pergunta sério.

— Eu meio que sonhei com ele, ou sei lá o que foi. No sonho ele estava com meu pai e agora não consigo falar com ele, seu celular chama mas não tem resposta...

— Você viu o Lukeche alguma vez? – pergunta se aproximando e vejo que tem urgência na resposta.

— Não… Não que eu me lembre, é a primeira vez que ouço esse nome.

— Vou me trocar e vamos falar com o Edgar, ele deve saber onde seu pai está. – diz caminhando para a porta então para e me encara – Seu pai disse onde ia?

— Não. Ele deixou um bilhete dizendo que tinha coisas a resolver e me mandou avisar você, disse que ficaria uma semana fora.

— Se troque, saímos daqui dez minutos! – dito isso sai e fecha a porta me deixando sozinha com meus nervos a flor da pele.

Minutos depois

 

Chegamos na casa do Edgar, Gastón não disse nada enquanto vínhamos, se manteve quieto com a atenção na estrada. Edgar mora no final da cidade é mais dentro da floresta.

  Assim que batemos na porta, uma mulher atende e assim que me vê, a mesma fecha a cara, acho que eu não sou bem vinda aqui, mas não sei o motivo!

— Abigail, o Edgar está? – fala Gastón já indo direto ao assunto.

— Está no escritório, entrem. – diz saindo do caminho e liberando a passagem.

  A casa é bem chique, passamos por uma sala com sofás brancos uma estante de madeira escura com uma tv enorme, no meio da sala se estende um tapete bege lindo felpudo. Há vários quadros na sala de imagens de diferentes tipos de lobos, isso me faz recordar o dia que tudo começou… O lobo escuro de olhos amarelos… Isso ainda me causa arrepios.

   Seguimos por um corredor onde nos leva a várias salas, mas paramos na última e antes de entrarmos Gastón bate na porta e uma voz rouca nos autoriza entrar.

Assim que entro vejo um homem de meia idade, moreno, sentado atrás de uma enorme mesa onde está coberta por pilhas de papéis.

— Gastón, Estela, o que fazem aqui? – perguntou nos encarando.

A sala em si é grande, tem uma estante com muitos livros, várias poltronas e uma mesinha de centro. Nas paredes como lá fora está pendurados vários quadros de lobos.

— Edgar, desculpe virmos assim, mas Estela tem algo para dizer.

— Claro, pode dizer. – fala parando sua atenção em mim.

— Bem, é que… eu sonhei com o Lukeche...

— Você o quê? – pergunta me interrompendo.

— Olha, eu não sei quem é esse homem, ele até mandou lembranças a você e eu nem te conhecia antes de agora. No sonho ele estava com meu pai...

— Isso é muita coincidência… Me ligaram do Vale da Lua e disseram que Marck não chegou lá ontem. Pensei que ele havia parado em algum lugar, mas agora faz sentido.

— O que faremos Edgar? – pergunta Gastón nervoso.

— Primeiramente, Estela, quero que descreva o lugar do seu sonho tudo que você lembrar.

— É no meio de uma floresta, uma casa pequena onde a vegetação tomou conta cobrindo a mesma. – tento lembrar de tudo, não posso deixar passar nada – Dentro é muito escuro e uma escada leva ao porão onde é mais escuro ainda...

— Mas como você viu seu pai ou Lukeche?

— No meio da sujeira eu consegui distinguir algo como um monte de pano, algo do tipo, daí eu escutei passos atrás de mim e quando eu virei lá estava ele, cabelos grisalhos e ainda falou do irmão dele, mas não sei quem é...

— É a cara dele fazer esse tipo de coisa, ele deve estar tramando algo, mas o que? – fala Gastón andando pela sala.

— Quero que volte para casa e tente dormir, quem sabe você consiga voltar novamente nesse lugar. Precisamos saber mais. Enquanto isso vamos planejar uma busca pela floresta, irei falar com os caçadores.

— Mas-

— Estela, o Edgar está certo, vou te levar pra casa. Nós vamos achar o seu pai, eu prometo. – fala Gastón me abraçando.

— Qualquer coisa quero que falem comigo, não posso perder meu pai também… – tento não demonstrar, mas o medo está me matando.

    Voltamos para casa e vou direto para meu quarto, mas o sono não vem e o medo de sonhar com meu pai machucado me faz ficar cada vez mais acordada. Gastón saiu assim que me deixou, disse que tinha que conversar com algumas pessoas.

Isso tudo está me assustando, eu vou ficar louca, tanta coisa que está acontecendo que nem consigo assimilar tudo. Tenho que ser forte... Queria tanto poder voltar à minha antiga vida… Mas agora já é tarde.

Sem perceber mergulho em um sono profundo.

“ Novamente aqui estou dentro da casa, a escuridão domina tudo, esse lugar cheira forte, um cheiro de sangue misturado com podridão...

Olho para o lugar que vi meu pai da outra vez e lá está ele na mesma posição. Me aproximo e vejo muito sangue escorrendo no chão. Isso não tinha da outra vez, o que aquele maluco fez?!

— Papai… – lágrimas escorrem do meu rosto.

— Então você voltou… – assim que ouço essa voz me levanto como uma onça prestes a atacar.

— O que você fez com ele? – grito com raiva.

— Ora Estela, ele esconde coisas de você, segredos que você nem imagina… Já tentou ir na floresta? Ou ao menos sabe porque ele realmente te abandonou?

— Você não sabe de nada da minha vida… E sim, eu já sei de tudo, dos lobos e tudo desse mundo maluco, meu pai já me contou!

Ouço meu pai tossir e corro até o mesmo.

— Papai!

— Estela? – ele tenta se levantar mas o seguro.

— Calma, o senhor está ferido...

— O que faz aqui? Como chegou aqui? – pergunta segurando meu braço e percebo que está assustado.

— Isso é um sonho, pelo menos eu acho… Só sei que é como uma visão...

— Me escute… Avise o Gastón que a Lua azul vai chegar dois dias mais cedo… Estela você tem que estar preparada...

— Como assim? – o que ele está dizendo?

— O Gastón vai te explicar tudo, eu confio em você… Agora vai...

Olho para trás e vejo que Lukeche nos encara mas vejo que de alguma forma ele não escutou nada… Ou escutou?

— Você tem que ir, prepare todos para a guerra que está para se iniciar.

De repente tudo começa a desaparecer e mergulho na escuridão."

Acordo assustada suando frio, que sonho foi esse? Meu pai está doente, tenho que achá-lo logo!

— Estela...– entra Gastón correndo pelo meu quarto – Você está bem?

— Meu pai… Ele está... Doente e machucado… – digo chorando ao lembrar do sangue no chão – Precisamos encontrá-lo rápido...

— Calma… – diz ao me abraçar – O que você viu dessa vez?

— Vi meu pai e o Lukeche também estava lá, mas quando ele falou comigo, parece que não podia nos ouvir...

— Seu pai deve estar usando o poder da mente, como vocês são do mesmo sangue fica mais fácil usar esse poder. Ele fez que só você o entendesse. O que ele disse afinal?

— Disse que a lua azul aparecerá dois dias mais cedo e disse que eu tenho que estar preparada. Não entendo o que ele quis dizer com isso... 

— Tem certeza que ele disse isso mesmo? – pergunta Gastón preocupado.

— Tenho… Absoluta!

— Ok, eu vou falar com o Edgar e você não saia daqui. Vou ver o que resolvemos...

— Mas por que meu pai quer que eu me prepare?

— Quando eu chegar te explico certinho. Agora só temos uma semana e meia até a lua azul, precisamos correr.

Dito isso, Gastón sai e me deixa sozinha com meus pesadelos em uma casa mergulhada no silêncio. Meu corpo todo dói, tenho uma nítida impressão que minha vida vai mudar mais ainda.

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