Além do horizonte romance Capítulo 21

Esmeralda estava a cada dia pior, sua saúde muito debilitada e já nem andava mais. Em seu leito de morte pediu a Jamile que fosse atrás de seu destino e buscasse encontrar o pai.

– Eu não consegui te deixar estabilizada na vida, pelo menos com um marido que possa cuidar de você. – Jamile se ajoelhou ao lado da cama da avó e segurou sua mão enrugada e fria.

– A senhora não vai morrer vó, por favor não me deixe sozinha nesse mundo.

Gabriel soube o que estava acontecendo e foi ver as duas.

– Venha até aqui filho! – Esmeralda o chamou com a mão, ela pegou a mão dele e juntou a dela, sabia do grande amor que a neta tem por ele e o quanto isso daria força a ela para superar as dores. – Quero que jure para mim que vai cuidar dela, ou que pelo menos a levará até o pai.

– Eu juro que vou levá-la até o seu destino. – Gabriel prometeu.

Esmeralda morreu naquela mesma noite, Jamile ficou desolada e Gabriel a abraçou forte pois agora ela só tinha ele e aquela joia de família.

Gabriel

Você vai me trazer tudo o que eu mais quero dessa vida, amor e vingança.

Longe dali...

Celina é uma jovem de 22 anos, irmã de Leandro e muito liberal para sua época. Sempre teve um amor enorme por Atílio desde a infância pois ele, foi o primeiro homem de sua vida.

Recebeu o telegrama e o pedido para ir até lá e conhecer a vila e ajudar na compra da mansão, arrumou as malas e foi. Já estava descendo do trem na estação e havia se informado sobre o local da fazenda.

Todos os homens da cidade reparam em sua beleza, afinal andava sempre com os melhores trajes e exalava libertinagem por onde passava.

– Pode me levar até a fazenda de Atílio? – Celina pediu a um jovem que passava.

– Posso lhe conseguir um chofer para a senhorita.

– Faça isso, por favor.

Algumas horas depois, ela finalmente conseguiu um carro que a levasse até lá. Eram tantas malas que parecia estar indo para ficar de vez, viu como aquelas terras eram bonitas...

Atílio e Guadalupe estavam almoçando com Leandro, o assunto ainda era Luíza. Guadalupe com medo pela amiga, Atílio torcendo para que tudo desse certo e o primo tomasse jeito e Leandro, com outros planos para as moças daquele lugar.

– Me perdoe por perguntar mais uma vez Leandro, mas já se decidiu sobre ficar por aqui definitivamente?

– Como eu disse anteriormente Guadalupe, meu pai insiste que eu finque raízes e estou encurralado.

– Acho que devia fazer o pedido de noivado a Luíza de uma vez, antes que alguém se adiante e você perca sua chance. – Atílio deixou o primo avisado.

– Então significa que ela tem um outro pretendente?

– Ela é uma moça bonita, claro depois de Lupe...ela é a mais bela da região e não faltam rapazes querendo ter uma família com ela. – Amélia também fazia parte das pessoas que queriam muito unir esse casal.

– Não sei se seria uma boa ideia os dois se casarem. – Guadalupe surpreendeu a todos com sua frase e Atílio logo questionou.

– Mudou de ideia princesa, achei que quisesse que os dois se acertassem?

– Não sei se Leandro a faria feliz!

Leandro

Guadalupe só pode estar enciumada por saber que estou a cortejar sua amiga, não posso perder as esperanças de ter essa mulher e Celina precisa estar aqui para tirar Atílio do meu caminho e tudo irá ficar em seu devido lugar.

– Lupe tem razão, não sei se quero me amarrar a um matrimônio agora. – Leandro sorriu e levou a colher até a boca.

– Como eu disse uma vez, amar e ser amado é a melhor coisa desse mundo e só vai compreender isso se você se permitir tentar! – Atílio disse sorrindo e beijou da esposa, Amélia ouviu baterem e foi abrir a porta e viu aquela jovem cheia de malas e adornos e logo reconheceu de quem se tratava aquela visita.

– Amélia! – Celina exclamou.

Amélia

Não posso acreditar que ela esteja aqui, essa menina é muito perigosa e ainda mais pelo que teve com Atílio no passado.

– Vai ficar aí parada Amélia? Vamos, me ajude com a bagagem.

Sebastião viu aquela bela moça e estava ainda paralisado com sua beleza, não sabia de quem se tratava.

– Já que está aí me ajude e leve as malas de Celina para cima, por favor. – Amélia pediu para Sebastião e ele estava encantado com a beleza daquela jovem da cidade.

Ela olhou para aquele homem forte e rústico sorrindo, sua força e a facilidade com que pegou todas aquelas malas a deixou impressionada.

– Todos estão a mesa e chegou na hora do almoço!

– E pelo cheiro parece ótimo. – Celina sorriu e olhou para Amélia enquanto as duas iam para se juntar a eles.

Ambas chegam até a sala de jantar, Leandro sorriu ao ver sua irmã ali bem antes do que esperava.

– Eis minha bela flor do campo! – Leandro sorriu.

– Leandro! – Ele se levantou e ela correu para os braços dele dando um forte abraço fraternal.

– Celina está aqui. – Atílio anunciou para Guadalupe.

– E quem é ela Atílio?

– Minha prima e irmã mais nova de Leandro.

Guadalupe

Não sei por que aquela voz, os sorrisos não me deixaram nada alegre. Era como se o meu coração não quisesse dar boas-vindas a ela, só não sei por que me sinto assim.

– Não vai me dar um abraço primo? – Celina abriu os braços olhando para Atílio.

– Venha princesa, vamos cumprimenta-la. – Atílio me disse e fomos de braço dado até lá, percebi pelo movimento do corpo de Atílio que ela o abraçou.

Naquele momento...

Celina interrompeu o sorriso ao perceber que Guadalupe não a acompanhava com o olhar.

– Ela é? – E não se conteve ao fazer a pergunta.

– Cega! – Guadalupe respondeu para ela.

– Me desculpe, não quis ser rude.

– Não foi Celina, me chamo Guadalupe.

– Sou Celina e muito prazer.

– Mas sente-se que vou servir o almoço, Celina deve estar faminta. – Amélia puxou uma cadeira para aquela inesperada visita.

– Sim eu estou exausta e a viagem foi cansativa.

Ela olhava fixamente para Atílio e para Guadalupe, não podia negar que a esposa dele era bela, mas sequer pelo telegrama soube que ela era cega.

– Estávamos convencendo seu irmão a se casar finalmente. – Atílio logo a atualizou sobre o teor da conversa anterior.

– Ele é um caso perdido, assim como achei que você fosse também primo! – Celina disse com muito prazer em deixar ele constrangido perante a esposa e conseguiu.

Atílio

Celina estava ali para trazer mais coisas do meu passado que poderiam ferir minha esposa e era tudo o que não queria.

– Mas eu mudei e sei que nunca seria feliz, se não tivesse vindo para cá e conhecido Lupe.

– Sou testemunha do amor e devoção de Atílio por essa bela morena. – Leandro não mediu as palavras e os fez sorrir.

– A recíproca é verdadeira! – Guadalupe respondeu.

– Então estamos em um ninho de amor, por acaso já achou a casa que papai pediu que comprasse? – Celina perguntou a Leandro, que logo respondeu.

– Não tive tempo.

– Aposto que atrás de alguma mulher fácil da região, errei?

– Não desmereça nossa classe Celina, não conhece Luíza para se referir assim a ela. – Guadalupe respondeu irritada com a forma com que Celina usou para se referir as jovens da região.

– Acho que devemos começar a comer este refogado que parece maravilhoso. – Atílio logo mudou de assunto e desconversou antes que ânimos se exaltassem ainda mais entre as damas. Depois de comerem Leandro e Amélia acompanharam Celina até o quarto de hóspedes.

– Estúpido, por que não disse pelo telegrama que a esposa de Atílio era cega?

– Não achei relevante Celina. – Leandro respondeu.

– Além do mais, não vejo por que tanto alarme por isso filha. Guadalupe é tão mulher quanto qualquer outra e faz o menino Atílio muito feliz. – Disse Amélia saindo do quarto irritada e os dois puderam destilar seu veneno com maior conforto, Celina se sentou na cama e cruzou as pernas.

– O que achou da Lupe, claro tirando o pequeno detalhe de não poder ver?

– Não posso negar que é até bonitinha, mas ainda assim é uma cega.

– Não diminui em nada os encantos dela e você fala com a voz do despeito, por que também é mulher.

– Já vi que está encantado com ela, quase tanto quanto o bobo do Atílio.

– Não minha cara irmã e ela é o motivo de eu ter pedido que viesse com urgência para cá. Você e nosso primo tiveram um certo romance no passado...

– Mas não pense que ele e eu chegamos a...

– Não mandei que viesse aqui para te julgar Celina, quero o seduza e tire do caminho de Guadalupe e não me importam os meios que vai usar para conseguir isso, desde que consiga.

Celina começou a rir.

– Não sei do que acha graça? – Leandro se enfureceu e deixou isso bem claro em sua pergunta.

– Eu tentando me explicar para não ser vítima de seu julgamento e veja só, você mesmo está agindo como um canalha.

– Vai fazer o que eu quero ou não?

– Sim Leandro, mas não por que você quer e sim por que Atílio ainda me agrada. Essa garota doente não é para ele!

Leandro saiu do quarto, Celina não tinha muito o que fazer naquele momento pois Guadalupe e Atílio foram até a cidade. Decidiu dar uma volta pela fazenda e ver o que tinha para se distrair, viu Sebastião a manejar o gado. Sempre foi um rapaz bonito e forte, ela gostou de vê-lo sem camisa e transpirando embaixo daquele sol.

– Como você se chama? – Celina perguntou para Sebastião, ele fez o cavalo parar e se aproximou da cerca.

– Sou Sebastião, a senhorita precisa de alguma coisa senhorita?

– Agora não, mas depois quem sabe eu possa precisar de você.

Ele sabia reconhecer uma mulher devassa e aquela definitivamente era uma, pensou em Luíza e em qual relação essa jovem tinha com Leandro.

– Desculpe-me pela pergunta, mas o senhor Leandro é seu noivo?

– Meu irmão. – Respondeu ela deixando-o desapontado, se os dois fossem noivos ele deixaria Luíza em paz.

Celina

O infeliz já está louco por mim, um xucro como ele pode ser uma boa diversão.

Atílio e Guadalupe andavam pela cidade, entraram na igreja e o padre os esperava.

– Fico feliz em ver os dois assim em harmonia, Deus instituiu o casamento com essa finalidade. – O padre pegou na mãos dos dois.

– Não viemos a missa no sábado passado, então pedi a Atílio para que viéssemos orar um pouco.

– Prometo que de agora em diante não faltaremos as celebrações. – Disse Atílio vendo a beleza que a igreja estava, em boa parte graças as suas contribuições financeiras.

– Assim deve ser! – O padre respondeu.

Atílio

Paramos em frente ao altar, nunca fui tão devoto quanto deveria ser. Mas estar vivendo o momento mais feliz da minha vida, merecia agradecimento a Deus e verdadeiro. Fizemos nossas orações e saímos para a cidade onde fizemos algumas compras e levei Guadalupe a uma joalheria comprei um colar com pedra rubi no pingente e coloquei em seu pescoço.

Ela passou a mão sentindo a peça em seu colo.

– Ficou bonito? – Ela perguntou e nada podia se comparar ao seu sorriso.

– Muito mais do que isso princesa, ficou perfeito.

Enquanto voltávamos para casa dentro do carro...

– Celina e Leandro, será que ficarão muito tempo conosco? – Eu sabia que em sua pergunta havia um desejo de defesa, se sentiu intimidada pela presença de Celina e me senti envaidecido por seu ciúme.

– Não sei princesa, mas vou procurar com ele alguma fazenda pelos arredores. Tenho pressa em ter de volta nossa privacidade e lua de mel!

Ela sorriu.

– Mas isso nunca nos interrompemos! – Ela disse sorrindo e eu beijei sua mão.

– Nossa vida será uma eterna noite de núpcias, princesa.

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