Além do horizonte romance Capítulo 36

No dia seguinte.

Sebastião estava consciente e Luíza estava ao seu lado, Amélia voltou para casa para descansar e finalmente o médico da cidade foi mandado para cuidar dele.

– As lesões internas parecem ter sido graves, mas com cuidados e os medicamentos certos ele irá se recuperar. – O médico diz depois de realizar os exames.

Luíza esperou que a mãe chegasse, não queria deixar ele sozinho.

– Onde você vai filha? – Margareth perguntou e Luíza respondeu antes de sair.

– Prometo não demorar.

Ela montou no cavalo e foi até a delegacia.

– Sebastião foi agredido por Leandro, e você viu isso acontecer? – O delegado perguntou a ela.

– Não delegado, mas só ele faria algo assim e o senhor sabe o motivo.

– Mas não há provas mocinha!

– Eu disse a todos que aqui a mão da justiça, só alcança os humildes.

– Quando tiver alguma prova venha e eu terei prazer em investigar.

Luíza saiu pior do que chegou, não tinha a quem recorrer para fazer a justiça acontecer.

Na casa de Atílio a nova empregada Matilde, já estava ajudando nos afazeres e Amélia foi descansar.

– Agora que tudo está mais tranquilo e tenho certeza que Sebastião vai se recuperar, eu quero comunicar que vou me separar de Gabriel. – Jamile diz e Gabriel fica indignado.

– Vai o que?

– Você entendeu Gabriel, não é necessário que eu repita.

– Não tem noção do que está dizendo Jamile, não imagina como é a vida de uma mulher separada do marido.

– Matilde, nos deixe a sós. – Atílio pede para que a nova empregada deixa a família a sós para resolver aquele conflito.

– Com licença senhor. – Matilde sai.

– Não tente coagir minha filha com suas chantagens emocionais, todos nós nessa mesa sabemos o real motivo de você ter se casado com ela.

– Por favor Atílio, não seja tão duro com as palavras. – Guadalupe pediu a ele.

– Prefere então, ter uma filha abandonada? – Gabriel pergunta para ele com um grito de revolta e Atílio responde tranquilamente.

– Ela está te deixando!

Gabriel empurrou a cadeira e saiu irritado, Jamile começou a chorar desconsolada.

– Ele não está errado em tudo o que disse, sei que não vai ser nada fácil seguir em frente. – Jamile diz, sentindo a dor que seria viver longe dele.

– Seja firme em sua decisão, ele vai reconsiderar. – Guadalupe a tranquiliza, mas Atílio logo discorda.

– Reconsiderar? O melhor que ele faz é sair do caminho dela.

Gabriel

Jamile é uma estúpida, como pode preferir ser uma mulher separada do que seguir ao meu lado? Todos dirão que eu falhei como homem e por isso não tivemos filhos, maldição!

Me sentei na cama tentando pensar em alguma saída, Jamile abriu a porta e meu coração se encheu de esperança.

- Eu só vim te devolver isso. – Jamile o surpreende.

Ela me entregou a aliança, antes que saísse por aquela porta eu a fechei.

– Não faça isso com a sua vida.

– Deixe de hipocrisia Gabriel, nós dois sabemos o que realmente te preocupa. Ficar longe de Guadalupe ou ficar com má reputação perante os homens da vila, mas eu não me importo e de agora em diante vou cuidar da minha vida.

– Cuidar da sua vida? Acha que ainda vai ter uma?

– Sim eu terei, por que não sou como você que passará a vida inteira rastejando por quem não te ama! –Jamile gritou.

Agarrei ela com força e acabamos caindo na cama, ofegante, irritado e excitado.

– Pegue toda a sua arrogância e despeito e desapareça de uma vez da minha vida.

– Não é o que você quer de verdade Jamile, me ama e não pode negar.

Invadi seus lábios doces com os meus, adentrei sua boca com minha língua. Jamais imaginei sentir o que senti junto ao seu corpo, Jamile não era uma menina tola como sempre pensei, é uma mulher com sede de se sentir amada.

Jamile

Nosso primeiro beijo, quanto tempo esperei e sonhei com esse momento, por mais que tivesse me preparado para ele, havia sido muito mais belo que qualquer ideal de perfeição que eu pudesse ter. Mas Amélia e Guadalupe me pediram para ser firme em minha decisão e eu serei até o final.

– Termine de arrumar suas coisas! – Avise e o empurrei de cima do meu corpo, Gabriel ficou tocando os próprios lábios e eu saí sorrindo sem que ele se desse conta disso.

Fechei a porta e desci as escadas.

Na casa de Raul Fontes

Leandro não desceu para tomar café da manhã e sua mãe entrou no quarto levando uma bandeja de pães e leite.

– Não precisava se incomodar, não estou com fome. – Leandro se senta na cama para falar com a mãe.

– Me preocupo com sua tristeza filho, você era um rapaz alegre e o sorriso abandonou de vez seu rosto.

– Nunca imaginei que o amor pudesse doer tanto assim.

– Se a ama, lute por essa moça. Achei que pudesse ser mais uma de suas conquistas, mas eu estava errada. Não gostaria de te ver casado com uma camponesa, mas pelo visto seu coração a escolheu!

– Eu a perdi, antes mesmo de ter. Fiz algo que ela jamais irá perdoar.

– Foi mesmo você quem mandou espancar o noivo dela?

– Não, meu pai fez isso e graças a ele, tenho mais esse motivo para fazer com que Luíza me odeie.

– Seja o que for, me fale.

– Eu abusei dela mamãe, me aproveitei do amor que ela sentia por mim e agi como um covarde.

Mabel ficou em choque, sabia das aventuras sexuais do filho e a libertinagem masculina naquela época era justificada. Mas saber que o filho tinha sido capaz de cometer um ato contra a vontade da jovem, havia sido uma grande decepção.

– Por isso tanta violência, vingança por cima de vingança e isso não vai ter fim até que alguém perca a vida!

– Me diga o que eu faço para que ela me aceite? eu juro por Deus que eu farei mãe.

– Eu não sei filho, o primeiro passo já foi dado. Vejo arrependimento sincero em suas lágrimas!

Atílio saiu, não disse para a esposa onde iria, pois sabia que ela iria se opor.

– Já imagino que o traga tão cedo até minha casa. – Raul já sabia que o sobrinho viria tirar satisfação pela confusão do dia anterior.

– Fico feliz, assim me economiza as palavras

– Sua esposa e aquela mocinha vieram me afrontar, o que esperava Atílio? Que eu lhes desse flores?

– Que as mandasse para casa, e não que ordenasse seu jagunço a sacar uma arma!

– Abaixe o tom, está em minha casa moleque!

– Nem que eu estivesse em uma igreja, o senhor pode ter o dobro da minha idade, mas não tem a metade do bom senso.

– Atílio, filho por favor não brigue com seu tio. Nossa família já está fragmentada o bastante para que os dois passem a se odiar também. – Mabel tentou acalmar os ânimos.

– Meu pai não gostaria disso, mas não posso me abster depois do que meu tio Raul fez.

– Como Sebastião está? – Leandro aproveitou que o primo estava ali e perguntou.

– Espero que morto! – Raul indagou.

– Para sua tristeza ele está bem e tenha certeza de que assim como fiz justiça por Leandro, farei por ele e nunca, nunca mais aponte uma arma para minha mulher! – Atílio colocou o chapéu e saiu deixando o tio furioso.

– Moleque desaforado, meu irmão não soube lhe dar educação.

– Ele está certo em defender a esposa dele e eu faria até pior. – Leandro repreende o pai.

– Atílio estava aqui? Ouvi a voz dele. – Celina diz descendo as escadas.

– Estava, mas já foi e espero que não volte nunca mais. – Raul saiu resmungando em direção a cozinha.

– O que aconteceu? – Celina perguntou.

– Meu pai já chegou arrumando encrenca e logo com nosso primo.

Gabriel arrumou as malas, mesmo sem querer ir embora. Desceu as escadas e encontrou-se com Amélia pelo caminho.

– Vai mesmo deixar que Jamile faça essa loucura Gabriel?

– Ela tomou essa decisão e não posso fazer nada.

– Claro que pode, ela te ama e você sabe disso. Use a distância ao seu favor e lute para conquistar o coração dela mais uma vez. – Amélia tentou aconselhar.

– Ela é caprichosa como o pai, uma verdadeira cabeça dura!

Amélia sorriu, sabia que agora ele iria descobrir o que sente por ela. Ele saiu e foi ao estábulo pegar seu cavalo, era uma das poucas coisas que tinha na vida.

– Eu deveria mandar te matar para lavar a honra da minha filha, mas agradeça a ela por eu não fazer isso.

– Jamile vai sofrer longe de mim Atílio, mesmo que queira se fazer de forte vai sentir minha falta.

– Vou tratar de encontrar um homem decente para ela, minha filha é romântica e sonhadora.

Gabriel montou no cavalo, olhou para Jamile que estava na janela do quarto no primeiro andar e partiu dali.

Jamile

Como dói ver ele ir embora, vou sentir falta de acordar vendo-o dormir ao meu lado. Mesmo que nunca tenha me tocado, eu me sinto dele...

– Jamile, está aqui no quarto?

– Sim Lupe, venha. – Estiquei a mão e trouxe ela para perto enquanto disse. – Gabriel foi embora de vez.

– Ele vai voltar para você. – Guadalupe disse para a enteada.

– Tenho planos para a casa que papai mandou fazer, eu estudei um pouco na cidade e gostaria de dar aula para as crianças da região lá.

– Sim, eu e Luíza poderíamos te ajudar!

– Claro Lupe, tenho certeza de que vai dar muito certo.

Aqueles planos poderiam me ajudar a superar a dor de estar sozinha, dar instrução e apoio as crianças que como eu, passam tantas privações poderia ser minha real vocação neste mundo.

Dez dias depois...

Sebastião se recuperou, Guadalupe, Jamile e Luíza inauguraram sua escola. Estavam muito felizes em poder contribuir de alguma maneira com aquela região tão pobre. O padre e todos estavam presentes, Gabriel estava lá...naqueles dias longe de Jamile havia sentido o quanto dependia dela.

O padre deu uma bênção, Ester, Amélia e Margareth serviram um lanche para todas as crianças.

– Quanta estupidez dar instrução a esse bando de porcos. – Lucília tripudia sobre a intenção das jovens.

– Você deveria estar dando ao menos apoio a caridade que elas estão a fazer.

– Achei que eles fossem nossos inimigos Igor!

– Atílio sim, Guadalupe não. Vou dar uma boa doação para que a escola funcione.

– Quero ir para casa agora, não me interessa ficar escondida vendo essa comemoração patética.

– Eu vou, mas por que eu quero. Não por você Lucília!

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