Giulia Miller
__ Mas minha filha como? A política do hospital diz que não podemos operar nossos entes queridos. Você sabe disso! Não é como se fosse uma coisa nova...
__ Pai, essa política é ridícula, quando eu for nomeada a presidente do hospital, pode ter certeza que vou tirar essa regra estúpida, quem é mais adequado a fazer uma cirurgia importante na pessoa que ama? Um médico qualquer ou o médico que faria tudo pra salvar a vida do seu amado?
__ Minha filha, você não está pensando direito, você está pensando que vai dar tudo certo, mas e se não der filha? Como vai viver com isso? Me diz?
__ Eu não sei, porquê não quero pensar em coisas ruins pai, eu vou fazer o meu melhor, e não irei atrair coisas negativas, por favor me ajude papai, o James é o amor da minha vida o senhor sabe disso, eu daria a minha vida por ele, por favor... – falo chorando e o meu pai me abraça tentando me consolar, e eu deixo as lágrimas descerem sem parar, então ele levanta o meu rosto que estava em seu peito e diz:
__ Tudo bem filha, vou permitir, dessa vez, mas vai ter mais dois ou três neurocirurgiões com você na sala, quero que se caso você não conseguir, deixe que outro assuma o seu lugar ok?
__ Vou ser supervisionada? - pergunto birrenta.
__ Sim, não posso mudar isso ou podemos receber multas.
__ Ta bom, posso escolher os neurocirurgiões?
__ Pode, mas temos um substituto do James aqui trabalhando no nosso hospital, ele é muito bom também, vai gostar de trabalhar com ele.
__ Obrigada papai, prometo que não vou decepcionar vocês, eu vou conseguir. – olho pro James e falo: __ Vou conseguir amor, você vai ver.
__ Vai sim querida, eu confio a minha vida a você... – ele diz me deixando mais confiante...
Depois dessa discussão acalorada, fomos todos pra cozinha comer um lanche, meus irmãos já tinham ido para o apartamento deles, que assim como eu, quando fiz dezoito anos ganhei do meu pai, eles também ganharam... Mas em vez de ser uma cobertura, é apenas um apartamento normal, claro normal eu quero dizer gigante, mas nada comparado ao meu, os meninos até perguntaram ao papai porque eles não ganharam um igual ao meu, e a resposta do nosso velho é que eu sou mulher, e precisava de mais cuidado e segurança...Vai entender né?
Comemos um sanduíche de frango e suco de maracujá natural, e logo fomos para o nosso quarto descansar... Nosso bebê estava apagado, provavelmente por causa do Jet lag, apenas coloquei o pijaminha dele e troquei a fralda e ele continuou dormindo tranquilo.
Eu e o James tomamos banho juntos e depois dormimos logo em seguida...
NA MANHÃ SEGUINTE...
Acordamos cedo, fizemos a nossa higiene matinal e começamos o dia com um café da manhã bem nutritivo.
Logo após ao café, meus pais foram trabalhar e eu e o meu marido, meu filho e os meus sogros fomos pra minha casa...
Ontem meus sogros foram para a casa deles, e nós ficamos nos meus pais, mas agora de manhã eles vieram nos buscar porque estamos sem o nosso carro.
Chegando em nosso apartamento, coloquei a senha no painel e subimos até a cobertura.
Quando o elevador chega no hall de entrada, saímos e fomos recebidos por nossos amigos e alguns colegas do hospital, ninguém aqui sabe que o James não lembra deles, e assim vai continuar. Então olhei para o meu marido que me olhou assustado, porque ele não sabe quem são essas pessoas.
Com os lábios fechados eu sussurro: “confia em mim” e ele assente, e então eu digo:
__ Ah que saudade de você minha amiga Min-Ji e Carlos, uau que casal lindo que vocês fazem, me conta como vocês estão? – pergunto dando ênfase no nome deles e o que são um para o outro, faço isso com todos que estão aqui e logo ele se enturma com o pessoal.
Fiquei sabendo que a dona Evangelina queria vir aqui, mas não tinha ninguém para acompanhar ela, e por causa da COVID, era perigoso ela estar aqui por causa da sua idade avançada, fiquei triste por isso e mandei uma mensagem no celular dela que assim que nós estivermos mais descansados da viagem, vamos ir buscar ela pra nos visitar. Ou ir fazer apenas uma visita rápida a ela.
Conversamos com todos e agradecemos a recepção, mas como eles tinham que trabalhar logo se despediram de nós e foram embora, ficou apenas os nossos amigos.
A Min-Ji me abraça apertado e pergunta:
__ Uau amiga, esse James novo é super musculoso né? Não me lembro dele ser assim antes.
__ Ah verdade, ele não era tanto, mas na ilha que ele estava sobrava muito tempo para malhar.
__ Interessante... Eu vejo que você está bem cansada, o que aconteceu?
__ Ahh deve ser o Jet lag, ainda não acostumei com a mudança de horário. – minto, porque ela não sabe de nada ainda, e não irei falar nada por enquanto, ela me examina, mas sei que ela não fará mais perguntas, pois ela já me conhece.
__ Mas me conta amiga, como está os preparativos do casamento? – pergunto mudando totalmente de assunto, ela dá um sorriso sem graça e responde:
__ Ahh, tá indo, que bom que está aqui, agora vai poder me ajudar, já que é a minha madrinha né?
__ Claro, com maior prazer!
__ Então, porquê não trouxe a dona Evangelina com vocês? – perguntei
__ Porquê faz tempo que não vamos lá no asilo, está bem corrido pra nós, muitas cirurgias e plantões, Nossa!! não temos tempo nem de nos ver direito, a dona Evangelina entende porque eu avisei a ela que iríamos dar uma parada de ir toda a semana, e ela não queria incomodar e disse que tudo bem, mas quando me sobra tempo eu ligo pra saber do pessoal se estão todos bem, – ela diz envergonhada. E entendo ela perfeitamente, afinal ela tem uma vida de noiva agora, antes ela tinha mais tempo assim com eu, agora temos a nossa família pra cuidar.
__ Ah sim, tudo bem, então preciso ir lá ver ela, porque ela está ansiosa para conhecer o Lucca, ela só viu ele por vídeo chamada, e confesso que estou com saudades do pessoal do asilo, eles eram tão legais né?
__ Ele é muito lindo amiga, Parabéns, mas sinto em lhe informar que você só emprestou a barriga, e sim é verdade os velhinhos são show de bola, quem sabe com você aqui, podemos ir juntas lá mais vezes, até porque sem você é chato sabia? que saudade que eu estava da sua companhia... – ela diz e eu falo:
__ É, eu sei é a cara do pai. – olho para o James onde o Lucca está dormindo no colo enquanto ele conversa com o “amigo” Carlos, ele não se lembra, mas está conversando de boa... volto a minha atenção para a minha amiga e falo: __ Eu também estava com saudades das nossas conversas e folias, só você me entende Min-Ji, e tem tanto que quero te contar da nossa viagem, coisas que por telefone não tinha graça de falar.
__ Eu quero saber de tudo, mas hoje não tem como, meu plantão começa em uma hora, - ela fala olhando o relógio e continua falando: __ Mas a noite podemos pedir uma pizza e conversar pode ser?
__ Pode sim, então está marcado.
__ Ótimo, agora temos que ir, porque tenho uma cirurgia importante e preciso me preparar. Vamos amor? – ela chama o Carlos e ele levanta do sofá, se despede de nós e os dois se vão, deixando eu meu marido e meu bebê sozinhos, a minha sogra e meu sogro foram comprar mantimentos para ter em casa, como ficamos muito tempo longe, não tinha nada na despensa, então me aproximei do James e me sentei ao lado dele no sofá.
__ Está tudo bem amor? – pergunto depois de uns minutos.
__ Tudo tranquilo, é lindo esse apartamento, você que decorou?
__ Não, eu ganhei pronto dos meus pais, a única coisa que fiz é escolher as cortinas e alguns utensílios que não tinham, mas a mobília já veio pronto.
__ Entendi, mas aqui parece a sua cara, por isso achei que tinha sido você.
__ Ah sim, é que minha mãe me conhece né? Sempre soube dos meus gostos e aí fez tudo como ela achava que eu gostaria.
__ Entendi, e aliás, eu gostei dos seus pais, mas o seu pai é bravo né? Porquê ele tem medo que você faça a cirurgia? – ele pergunta me olhando.
__ Não é medo que eu erre, fique tranquilo com isso, é medo que algo além do que eu possa controlar aconteça e eu me culpe pra sempre, sabe como é, ele é meu pai e só quer me proteger...
__ Ah sim, imprevistos acontecem né? E podem acontecer isso com você operando ou não, e não podemos nos culpar por tentar.
__ Sim, é o que eu penso também amor, por isso a minha insistência entende? Eu sei que consigo, porquê você era o meu professor e sempre foi o melhor.
__ Gosto que me elogia assim, mas sabe, não se lembrar de algo que você era muito bom, é frustrante. – ele diz e baixa a cabeça.
__ Eu imagino que deve ser mesmo horrível, acredite quando digo que ser esquecido é muito ruim também. – falo e sorrio ele me olha e responde:
__ Verdade, mas vamos mudar de assunto... Aquele Carlos noivo da sua amiga, é bem falante né? Nossa, eu não consegui acompanhar ele e tudo o que ele me contava, as novidades, sobre as pessoas, eu só concordava e ele nem pareceu perceber que tinha algo errado comigo.
__ Ah sim, ele já era falante antes da Min-Ji e convivendo com ela deve ter multiplicado, porque ela também ama falar, adoro ela, mas eu filtro tudo que vou contar porquê ela não sabe guardar segredos.
__ Entendi, e eu tinha mais amigos?
__ Assim, que convivia com nós, só os médicos mesmo, tem um neuropediatra e um dono de restaurante que eu conheci e eles são muito legais, inclusive são patrocinadores do nosso projeto no navio, porque eles queriam muito ajudar eu te encontrar. Mesmo não sabendo a razão por trás da minha missão, acredito que eles desconfiaram.
__ Entendo, mas será que eles vão saber que estou desmemoriado?
__ Acredito que não, você disfarça bem, e pode continuar usando o acidente como desculpa de não se lembrar de alguma coisa corriqueira.
__ Tá bom, mas Giulia, quando vamos começar as consultas pra enfim fazer a cirurgia?
__ O mais rápido possível amor, só preciso da autorização do meu pai, ele vai buscar lá no Japão um neurologista renomado pra me ajudar. E também tem as festas de final de ano, provavelmente vamos começar os exames mais elaborados no dia dois de janeiro tá bom?
__ Ajudar a fazer a cirurgia? Por isso vai vir mais médicos?
__ Não amor, a cirurgia vai ser eu, mas ele precisa estar comigo junto, é política do hospital, só vamos seguir as diretrizes tá bom? Vai dar tudo certo!
__ É que estou muito ansioso.
__ Eu também!
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