Filha da Lua romance Capítulo 6

- O que você disse?! - grita Stefanny fazendo todos sentirem medo. Sua voz soa como trovão.

- Qual parte você quer que eu repita? - pergunto tentando não transparecer que estou morrendo de medo.

- Sua vaca... Quem você pensa que é? - Stefanny grita essas palavras e vem pra cima de mim.

Eu deveria ter ficado com a boca calada, bem que a Anna me avisou. Porque sou assim? Agora vou apanhar e a coisa vai ficar feia para mim. Fora que se o Gastón descobrir que menti e coloquei o seu nome no meio, é perigoso eu voltar para casa...

Assim que olho para frente Stefanny puxa meu cabelo e com uma força que não sei da onde vem e me joga a alguns metros fazendo eu bater contra a grade que separa a quadra do pátio.

Sinto minhas costas estalarem. Sei que meus olhos devem estar arregalados, pois na verdade estou assustada. Percorri uma certa distância voando... Minha cabeça está doendo.

- E aí já está com medo? - pergunta sorrindo.

- Eu... Não... Não tenho medo de você - Estela acho que você quer morrer hoje.

Os alunos gritam "briga... briga... briga". Vejo Stefanny correr até onde estou e dar um soco em meu maxilar lançando minha cabeça para trás em um movimento brusco.

Morri. Sinto gosto de sangue na minha boca. Tento abrir meus olhos mas algo está errado pois não consigo abri-los e me sinto tonta. Mexi com a pessoa errada dessa vez...

Tento me manter acordada mas aos poucos as vozes vão sumindo e a visão vai ficando turva.. Acho que estou desmaiando, sem outra escolha me entrego a escuridão, deixo ela me levar para seu mundo de solidão .

horas depois

- Tem certeza que ela está bem? - escuto alguém falar e pela voz sei que é Anna.

- Sim, só foi um susto. Ela vai acordar daqui a pouco. - fala uma voz que não conheço.

Minha cabeça está doendo, abro os olhos devagar e vejo que estou em uma cama hospitalar. Uma cortina rodeia a cama não deixando eu ver quem está do outro lado .

Me sento devagar e isso me faz sentir uma enorme dor nas costas o que me faz quase perder os sentidos novamente .

O que aquela menina come? Pois acho que só academia não deixaria a pessoa tão forte a ponto de levantar 65 kg e jogar longe do jeito que a mesma fez. Será que ela tem poderes sobrenaturais? Uma vez ouvi algo parecido com isso...

A cortina se abre de repente e Anna entra, assim que ela me vê acordada abre um sorriso..

- Então acordou, bela adormecida. - fala ao sentar-se em uma cadeira perto da cabeceira da cama - Você é louca, provocou a Stefanny, a garota que todos tem medo...

- Para falar a verdade eu estava morrendo de medo - digo rindo e sinto meu rosto esquentar.

- E por que você a provocou? - pergunta levantando as sobrancelhas.

- Não sei, quando ela me chamou de vadiazinha eu quis provocá-la... Na verdade minha vontade era de voar em sua garganta. Mas o que aconteceu depois que desmaiei?

- Você meio que quebrou uma costela...

- O quê? - assusto. Como assim quebrei uma costela? Para quebrar tem que ser uma baita batida. Tá a garota era forte, mas forte a ponto de quebrar uma costela?

- Eu sei, é doideira né... Mas a Stefanny já foi punida e logo seu pai irá chegar. A diretora ligou para ele.

- Meu pai não! Se ele souber vai me mandar de volta para minha mãe! - merda, justo no meu primeiro dia.

- Calma, a diretora conversou com ele, sei que ele irá reconsiderar...

- Espero que sim... - digo me segurando para não chorar.

Anna ficou mais um pouco comigo e foi embora já eram cinco da tarde. Minha barriga e costas estão enfaixados, não posso me mexer muito pois dói demais. Uma enfermeira veio e me deu um analgésico para melhorar a dor, troquei de roupa e meu pai chegou.

Na verdade meu pai não falou nada, apenas me encarou com os olhos mais frios que eu conheço, me pegou e colocou no carro. Não disse uma palavra sequer até chegarmos em casa .

Ele me pegou e me carregou até meu quarto, sei que quando ele abrir a boca eu vou ouvir muita coisa.

- Papai, o senhor está bem? - perguntei tentando puxar assunto.

- Se eu estou bem? - fala me encarando assim que me arruma na cama - Eu que deveria perguntar isso, o que você tem na cabeça para provocar a Stefanny? A garota mais forte da cidade?

- Eu não sabia desse dom dela... - e bota forte nisso hein - Essa garota é o incrível Hulk feminino só pode.

- Não exagera também... Já que a senhorita está bem, vamos conversar.

-Então, eu estou sentindo uma dorzinha...

- Não adianta inventar. Quero que saiba que mais uma que você aprontar te mandarei de volta para sua mãe, que até agora nem ligou para saber como foi seu dia...

- Depois eu ligo para ela... Papai eu juro que eu nunca mais vou dar trabalho para você, pode acreditar.

- Não sei se acredito mais em você.

- Mas eu vou tentar ficar longe dessa garota Hulk.

- E o Gastón está bravo com você. Ele ficou sabendo que você inventou coisas sobre ele. Onde você estava com a cabeça, inventando coisas desse tipo?

- Merda, não acredito... Aquela baranga já foi correndo para o namorado. - eu deveria saber que isso iria acontecer - Ele está muito bravo?

- Amanhã vocês conversam melhor, acho que hoje ele vai dormir com a Stefanny para tentar deixar as coisas mais calmas...

- Claro né. - ela deve estar toda sorridente agora que sabe que tudo que eu falei foi mentira.

- Amanhã nós conversamos melhor. Agora durma. Você vai ficar alguns dias sem ir na escola até que sua costela melhore.

- Boa noite. - digo olhando enquanto ele sai do quarto e fecha a porta.

Assim que me vejo sozinha me sento devagar na cama. O que farei amanhã...Eu e minha sorte de arranjar briga...

Meu celular começa a tocar , pego e vejo que é a Sol.

- Alô... - digo assim que atendo.

- Estela? É a Sol. - percebo que ela fala meio envergonhada.

- Sol, quanto tempo! - tento disfarçar a animação em minha voz.

Sei que só fazem dois dias que eu vim morar com meu pai mas parece uma eternidade.

- Como você está?

- Estou bem, apenas com uma costela quebrada, mas bem...

- Costela quebrada? - pergunta me cortando - O que aconteceu?

- Bem eu meio que arrumei uma briga aqui na escola no meu primeiro dia de aula - falo e dou risada o que me faz sentir dor - mexi com a pessoa errada.

- Diga o nome dela que eu acabarei com ela nas redes sociais - diz rindo. Percebo que a antiga Sol voltou.

- Sol me desculpa por não ter contado para você o que estava acontecendo.

- Amiga, isso é passado. O Pedro me contou a verdade, eu não estou mais falando com ele. Ele ultrapassou os limites...

- Não fica assim, ele é seu irmão. Não quero que briguem por minha causa.

- Eu sei, mas ele me fez desconfiar de você, uma amiga irmã.

- E aí, como andam as coisas? A escola?

- Está tudo mais entediante ainda. Só uma novidade, chegou um gatinho novo no pedaço, ele entrou no seu lugar... Amiga ele é um pedaço de mal caminho. - se Sol está falando assim ele deve ser realmente bonito.

- Como ele chama? - pergunto entusiasmada.

- Caio... Caio Trenne, ele é loiro de olhos verdes... É muito bonito.

- E você já está caidinha por ele? - pergunto me segurando para não rir.

- Então, ele... Ele meio que está andando comigo...

-- Sol?! Você já me trocou? - falo fazendo minha voz sair triste.

- Ai amiga, você foi embora e eu não ia ficar chupando dedo vendo uma belezura dessa na minha frente e não fazer nada. - nós duas rimos e novamente eu sinto dor,

- Sol, mudando de assunto, você viu minha mãe por aí? Ela não me ligou ainda e seu telefone não atende.

- Não. Se quiser posso ir na sua casa para ver se está tudo bem.

- Eu adoraria. Ela me ligou ontem mas estava bêbada e dormiu ao telefone, agora não consigo falar com ela.

- Ok, amanhã vou lá dar uma olhada e ligo para você.

- Obrigada mesmo... Amiga eu te amo e sinto sua falta.

- Eu também, sua louca. Estou sentindo sua falta.

Assim desligamos, amanhã ela me ligará para falar da minha mãe. Sei que deve estar bebendo aproveitando que não estou lá.

Me levanto devagar e me aproximo da janela onde vejo a lua linda e enorme que enfeita o céu junto com as estrelas fazendo a noite ficar cada vez mais bela.

Olho para a floresta na qual está mergulhada na escuridão e novamente avisto a pequena luz se movimentando entre as árvores. Hoje ela está bem aqui embaixo, se movimentando devagar e de repente para. Mas logo retoma o seu caminho. Olho para meu celular e vejo que são já duas da manhã. Fiquei conversando com a Sol que nem vi o tempo passar

Os minutos passam e a luz continua a trilhar seu caminho... E se eu desse uma espiadinha? Não faz mal né. Nessa hora meu pai está dormindo e o Gastón foi dormir com a chata da namorada.

- Ai Estela para de ser curiosa, às vezes alguém tem alguma plantação e vai lá toda noite para ninguém roubar. - olho em volta. E agora o que eu faço?

A curiosidade acabou me vencendo. Pego meu celular que na verdade só está com 20% de bateria mas acho que dá, eu só quero dar uma espiadinha de leve e voltar.

Ando devagar e abro a porta do meu quarto e desço silenciosamente a escada sem fazer barulho algum. Minha costela dói um pouco, por isso pego meu remédio na estante e bebo.

Saio na noite escura e fresca, começo a andar para o fundo de casa e daqui consigo avistar uma luz no meio da escuridão.

As árvores se aproximam. Piso em umas pedras que acabam machucando meus pés, só agora me dou conta que estou descalça.

- Se o papai me pegar aqui eu estou ferrada... - sussurro para mim mesma enquanto entro mais a fundo da floresta.

Agora não posso voltar. Ligo a lanterna do celular e começo minha pequena aventura. Porque eu tenho que ser tão curiosa? Mesmo com uma costela quebrada eu estou entrando dentro de uma floresta que na verdade nem sei que animais vivem nesse lugar.

A floresta está super fria, eu deveria ter pegado um casaco ou uma blusa de moletom, mas não, eu estou com um short de dormir de pano mole e uma regata. Subo cada vez mais. Sinto que está ficando mais frio ainda, meus pés doem mas não posso desistir agora.

* Meia hora depois *

Meu Deus esse lugar nunca chega, já se passaram meia hora e a porcaria da luz continua a se movimentar. Estou toda suada por conta da subida que cada vez está mais inclinada. Minha costela parou de doer por conta do efeito do remédio. Ainda bem, senão eu já teria desistido.

Meu celular começa a descarregar.

- Merda... Justo agora. - agora está tudo mais escuro.

- Cadê ele? - grita uma voz no meio da escuridão, o que me faz cair por conta do susto.

Me levanto e ando devagar entre as árvores, não sei de onde a voz veio mas está perto. Me aproximo de uma árvore e assim que vou passar-lá vejo a luz do outro lado, me escondo rapidamente atrás da árvore.

- Calma cara, ele é enrolado mas vai vir. - fala uma voz que não conheço.

- Espero. - espera aí... Essa voz eu reconheço.

- Gastón...? - sussurro para mim mesma. - O que ele está fazendo aqui e quem vai vir?

A luz que vi da minha janela é uma lamparina onde ilumina um pequeno espaço. Gastón e o outro homem que não sei quem é estão sentados em um tronco de costas para mim.

- Já faz duas horas que marcamos de nos encontrar aqui...

- Ele deve ter seus motivos para o atraso. - fala o outro acalmando Gastón.

Se ele está bravo assim, imagina quando ele for conversar comigo sobre o que eu aprontei com o seu nome. Só de pensar já sinto medo.

- Vamos esperar apenas mais meia hora Eduardo. Senão teremos que descer. - fala ele mais calmo.

De repente um barulho tira os dois e eu dos pensamentos e nos coloca em alerta, olho para todos os lados mas não vejo nada.

Então quando olho para eles novamente me assusto com a visão, tem... Tem um enorme lobo preto, que para ser franca não sei da onde ele saiu. Tampo minha boca para não gritar, o que me assusta é seu tamanho. Posso dizer que é do tamanho de um cavalo ou até maior, seus olhos são amarelos que se destaca do meio dos pêlos pretos.

Gastón e Eduardo nada dizem, apenas encaram o animal como se estivessem familiarizados com o bicho. Me encolho mais no meu canto, espero não ser descoberta aqui.

- Até que enfim Thiago, chegou. - fala Eduardo.

Olho para todos os lados mas não vejo um outro homem, apenas os dois e o lobo. Com quem Eduardo está falando? Olho para a floresta atrás de mim, tenho medo que algum animal apareça por conta da luz.

- Olá rapazes. - essa voz é nova, olho ao redor mas não consigo dizer de onde ela veio.

- Thiago vamos conversar. Chamamos você aqui pois o assunto é sério. - fala Eduardo se sentando novamente no tronco seguido por Gastón. - E se transforme pois esse seu pêlo está fedendo cachorro molhado.

Meu Deus, eles estão falando com o animal?! Acho que estou enlouquecendo.

- Vocês que sabem!

O lobo ele... Ele falou?! Devo estar sobre o efeito do remédio e vendo coisas onde não tem. Começo a dar passos leves para trás sem tirar os olhos dos três.

O lobo começa a andar em direção aos rapazes e de repente... Esfrego meus olhos e vejo de novo... Ele virou... HOMEM!

Sinto meus olhos ficarem mais arregalados. Um grito arrepiante corta a noite fria, os três homens agora olham em minha direção.

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