O Vício de Amor romance Capítulo 71

Ela aguardou ouvir a permissão para entrar antes de abrir a porta.

Dentro daquele espaçoso e distinto escritório havia uma mesa retangular ao meio, rodeada de manequins com diversos tipos de véus. Uma mulher idosa, mas bastante elegante, estava sentada na frente deles, usava um terninho preto, cabelos brancos amarrados em coque e portava um colar de pérolas uniformes, grossas e translúcidas, além de brincos de pérolas que complementavam muito bem o visual. Era um estilo que deixava claro a sua elegância e temperamento.

- Sente-se. - A Sra. Grace segurava uma caixa elaborada em sua mão.

Ela acariciava a caixa com paixão.

Natália olhou para ela de relance e se sentou, disse:

- Sra. Grace, estava me procurando?

A Sra. Grace colocou a caixa sobre a mesa, mas manteve a mão na caixa, disse de forma clara e sucinta:

- Eu vou abrir uma filial em Belo Mato, Santa Cruz, e você está indo para gerenciá-la.

A Design LEO era única, e havia seguido esta regra desde sua criação: Não abriria filiais em diversos países, somente neste.

E este, por si só, já tinha recebido encomendas de todo o mundo.

Era um serviço personalizado, os vestidos de festa e de casamento que eram entregues tinham a garantia de serem absolutamente únicos.

É por isso que a Design LEO era a favorita de muitas mulheres.

Em especial quando fariam presença em grandes ocasiões, como atrizes no tapete vermelho, noivas se casando, vestidos de festa, véus, tudo era importante para eles, portanto a personalização, que garantia a exclusividade, fazia deles a primeira escolha.

- Não era uma regra da Design LEO de não abrir filiais? - Natália não entendia.

A abertura de uma filial em Santa Cruz, ainda por cima em Belo Mato, foi de grande surpresa para ela.

Era o lugar que mais odiava, teria dito “sim” na mesma hora caso fosse em qualquer outro país.

A Sra. Grace suspirou e suplicou:

- Sacrifícios precisam ser feitos.

A Design LEO foi fundada pela Sra. Grace e as regras tinham sido definidas por ela.

Agora a Sra. Grace tinha noventa e a regra tinha sessenta anos, como poderia quebrar a regra sem cerimônia?

- Sra. Grace, há algum problema? - Natália olhou para a caixa que ela estava mexendo.

Era como se ela contivesse algo extremamente precioso.

A Sra. Grace parecia relutante em dar detalhes:

- Eu já decidi.

Natália sentiu que havia algo de errado em tal decisão tão repentina.

O local escolhido era uma grande coincidência.

Coincidência na qual ela não acreditava.

Se não fosse uma coincidência, quem queria ela de volta?

- Natália, se você não concorda, nenhuma das outras empresas irá empregar você. - A Sra. Grace via o quão relutante Natália estava, suspirou:

- Na verdade isso não é tão ruim. Afinal, essa é a sua terra natal.

Natália abaixou a cabeça, sentiu emoções complicadas ao dizer:

- Sra. Grace, você poderia me dizer o que te fez decidir dessa forma?

- Por causa disso. - A Sra. Grace pegou a caixa delicada e disse:

- Eu sempre soube quem o possuía, mas não importava o quanto eu oferecia, ele nunca estava disposto a vender...

Ela se reuniu com o Sr. Jorge de Santa Cruz ontem à tarde.

Ele fez uma troca com ela, entregando-lhe o item.

Ela precisa abrir uma filial em Belo Mato, Santa Cruz, gerida por Natália.

E Natália deveria ser avisada que estaria fora dessa área caso tentasse sair da Design LEO.

Fazendo ela voltar, mesmo que ela não quisesse!

A expressão de Natália mudou, como se tentasse entender o motivo para isso, e manifestou a sua suposição:

- Foi alguém que lhe deu o que você sempre quis, mas com a condição de abrir uma filial em Belo Mato, Santa Cruz, da qual eu estaria na frente?

Sra. Grace balançou a cabeça, mas não era para discordar de Natália, mas por desaprovar sua inteligência.

- É bonitinho quando mulheres são estúpidas. Mas acho que aquele senhor gosta muito de você, caso contrário não teria negociado comigo. - A Sra. Grace, que gostava muito de Natália, estendeu a mão e acariciou Natália nos ombros:

- Fugir não vai resolver nada, só poderá dizer que superou o passado quando puder enfrentá-lo com a paz, e o fato de que você se importa tanto significa que ainda não superou.

Natália estava relutante em admitir:

- Eu superei.

- Agora que superou, do que tem medo?

Natália não sabia, mas ela não queria voltar, do fundo do seu coração, não queria ver as pessoas que costumava ver e relembrar o que havia acontecido.

Foi uma época muito infeliz.

- Já decidi, pense nisso e volte ao trabalho. - A Sra. Grace pegou a caixa delicada e a segurou em suas mãos, examinando-a cuidadosamente.

Era como se pudesse ver alguém através da caixa.

Natália se levantou e saiu.

Renata estava de pé em frente à porta esperando por ela e correu quando ela viu Natália saindo:

- O que você vai fazer?

Renata, que também era nativa de Santa Cruz, veio para a Design LEO dois anos depois de Natália porque ela não era uma profissional graduada e não podia ser aceita naquele momento; foi Natália quem fez ela ficar e estudar na Design LEO.

Já conhecia Natália há algum tempo, então sabia mais ou menos quem ela era.

Natália sorriu amargamente:

- Eu não tive escolha.

As palavras da Sra. Grace foram bem claras; se ela recusasse, nenhuma outra empresa do ramo ousaria contratá-la.

A Sra. Grace tinha uma boa reputação na indústria e suas palavras eram bastante influentes.

- Você sabe o que estava na caixa da Sra. Grace? - Natália estava muito curiosa para saber o que aquilo era, e por que aquilo faria aquela regra ser quebrada depois de tanto tempo.

Renata balançou a cabeça e disse:

- Eu não sei.

Natália suspirou, curiosa sobre isso, mas o pedido para voltar para Santa Cruz era o seu maior problema agora.

Ela levou o arquivo de volta para o seu escritório e, após ler todos eles, sabia em detalhes o que o cliente queria. Pegou o papel de desenho e o lápis preto, mas ela não conseguia acalmar a sua mente e, com o lápis na mão, não sabia como começar.

Ela esfregou as bochechas e pediu para Renata fazer uma xícara de café sem açúcar.

- Não descansou bem na noite passada? Você não me parece muito bem - Renata perguntou com preocupação.

Natália tomou um gole de seu café, mais do que não descansar bem, ela não tinha dormido.

- Não precisa ter pressa nesse projeto, não prefere voltar e descansar um pouco primeiro? - Renata sugeriu.

- Mesmo que eu volte, eu não consigo dormir a esta hora. Pode começar - Ela respirou fundo:

- A vida continua.

Quanto mais difícil fosse o problema, menos conseguia relaxar.

As crianças precisavam dela.

- Está bem.

Renata saiu do escritório e se virou para fechar a porta quando, de repente, a porta foi segurada por uma mão enorme, ela viu um homem alto de pé atrás dela.

- Você...

- Shh! - Jorge sussurrou:

- Eu estou procurando por ela.

Renata se lembrou de como ele puxou Natália dali naquele dia, dava a entender que eles se conheciam e tinham uma relação incomum.

Renata teve o bom senso de não dizer nada e recuou.

Jorge fechou a porta e entrou.

Natália havia acalmado sua mente por um momento e se concentrava no desenho do projeto.

De acordo com o pedido, o vestido de casamento deveria ser de decote cai-cai em coração e esse modelo de vestido pedia uma cauda de sereia, ideal para um corpo bem bonito.

Jorge ficou de pé atrás dela e observou atentamente o seu trabalho, foi a primeira vez que ele tinha visto ela desenhar.

A ponta daquele lápis simples parecia encantada e, em poucos traços, o papel em branco possuía agora um esboço de um vestido de casamento.

Natália sentiu alguém atrás dela mas, pensando que fosse Renata, que tinha o hábito de vê-la desenhar, ficou em silêncio por um tempo e então disse:

- Renata, você tem a altura e peso dessa cliente?

Ela tinha de escolher o desenho de acordo com o corpo da cliente.

Como não ouviu uma resposta, virou-se:

- Renata...

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