Além do horizonte romance Capítulo 26

Leandro estava em seu quarto sozinho a olhar pela janela de braços cruzados, pensou no que fez e não conseguia pegar no sono por mais que tentasse.

– Por que sinto essa angústia dentro do meu peito? Não é a primeira jovem a quem eu desonro, mas nunca havia feito assim contra a vontade de uma mulher. Luíza me queria, ela queria por mais que gritasse dizendo que não!

A algumas portas dali, Jamile mais uma vez dormia frustrada por não ter o amor e o desejo de Gabriel. Ela se levantou, pegou uma das velas acesas do quarto e desceu as escadas para tomar água.

Se assustou ao ver Amélia sozinha na cozinha...

– Está sem sono também? – Jamile pergunta.

– Na verdade sim, tomei um chá de gengibre para dor de garganta e ele me acabou me deixando desperta. Mas sente-se aqui comigo, vamos fazer companhia uma à outra e me diga o que tem tirado o seu sono?

– Nada demais, dona Amélia.

– Eu sei o que está acontecendo, conheço Gabriel e antes de vocês se conhecerem muitas aconteceram aqui. Brigas terríveis entre Atílio e ele por causa de Guadalupe!

Jamile chorou, todos sabiam que ele a amava.

– Não chore jovem, tudo nesse mundo pode mudar. Os sentimentos dele também!

– Não sei por que, ele parece estar com um cisco nos olhos e não me enxerga ao lado dele. Faço tudo o que posso para que repare em mim, Atílio me deu belos vestidos, mas eu sei que nem isso será capaz de fazê-lo me amar.

– Você é muito menina ainda, vai aprender a lidar com os homens.

– Me ajude dona Amélia!

– Primeiro de tudo, não coloque sua felicidade nas mãos de Gabriel. Sorria e lhe dê o desprezo e ainda mais se ele te fizer coisas ruins, quando perceber que você pode viver sem ele, as coisas irão mudar Jamile.

– Não sei se consigo.

– Consegue.

As duas sorriram, depois daquela conversa Jamile voltou para o quarto e se deitou bem longe do corpo dele.

Amanhece

Eles tomam café da manhã.

– Guadalupe e eu iremos até a casa dos meus sogros, amanhã faremos um jantar em homenagem ao aniversário de casamento dos dois. – Atílio avisa.

– Finalmente vou conhecer essa tal Luíza de quem meu irmão tanto fala, por falar nisso, por que ele ainda não desceu? – Celina pergunta estranhando aquele fato.

– Leandro disse que não está com fome, levarei um copo de leite para ele antes que saia para a cidade com o advogado. – Amélia avisa enquanto os serve.

– Estranho, nunca vi meu irmão perder o apetite por nada nesse mundo.

– Deve estar ansioso com a compra da casa Celina.

Jamile foi com Atílio e Guadalupe até o rancho, Gabriel tinha ido ajudar Sebastião com o trabalho e voltou para a mansão.

– Viu onde Jamile está? – Gabriel pergunta.

– Ela saiu com Lupe e Atílio mais cedo. – Amélia responde.

– Não me disse que ia com eles.

– Jamile é uma jovem muito bonita, Atílio me disse que na cidade despertou muitos olhares masculinos. – Amélia queria deixar Gabriel vigilante e quem sabe assim, poderia entender os próprios sentimentos.

Ele saiu irritado, sempre gostava de ter o controle sobre todas as situações. Essa independência de Jamile o estava deixando inseguro...

Guadalupe

Conheço a casa dos meus pais pelo cheiro de aconchego, dei um forte abraço nos dois.

– Está muito bonita filha, parece até ter engordado um pouco. – Ester diz abraçando a filha.

– É que Amélia cozinha tão bem quanto a senhora, mãe.

– E essa mocinha tão bonita?

– É uma longa história dona Ester. – Atílio responde.

– Então vamos entrar e descobrir. – Leonel os convida.

Sentados no sofá da sala, Jamile observava aquela velha propriedade. Guadalupe era de origem humilde assim como ela, antes de saber sobre quem era seu pai.

– Ela é Jamile, filha de Atílio. – Guadalupe apresenta a enteada para seus pais.

– É sério? – Leonel pergunta.

– Fiquei tão surpreso quanto vocês meus sogros, mas é verdade.

– E olhando bem, realmente há uma semelhança física. – Ester diz ao perceber que os dois realmente se parecem.

– E ela está casada com Gabriel, ele retornou também. – Guadalupe deixou os pais assustados com aquela notícia, logo casado com a filha de Atílio.

Ester congelou, estava evidente a grande confusão que estava armada naquela casa.

– Mudando de assunto, soube os dois estão completando mais um ano de casados.

– Graças a Deus Atílio e espero continuar dando trabalho a minha velha esposa por muitos anos.

Todos sorriram.

– Vamos dar um belo jantar com direito a benção do padre para os dois amanhã, caso estejam de acordo. – Atílio os convida e eles se sentem lisonjeados.

– Seria uma honra filho! – Ester sorri.

– Eu já até pedi a Sebastião para ir até a cidade e deixar o padre de sobreaviso. – Guadalupe avisa e eles deixaram tudo acertado.

Atílio foi com Leonel e Ester para ver os novos estábulos que ele havia mandado fazer por lá, Jamile e Guadalupe andavam de braço dado perto de uma das cercas.

– Gostei dos seus pais, parecem ser boas pessoas.

– Eles são muito especiais para mim Jamile, me deram muito mais do que era possível para a realidade deles.

– Eu não tive minha mãe, ela morreu quando eu nasci. Minha avó disse que ela era muito novinha e seu corpo não estava preparado para uma gestação, às vezes me sinto culpada por ter roubado a vida dela.

– Você não roubou, essas coisas acontecem e não temos controle sobre elas.

– Minha avó Esmeralda fez o papel de pai e mãe na minha vida, até em seu leito de morte ela pediu que Gabriel cuidasse de mim.

– Ela fez bem, Gabriel te trouxe para perto do seu pai e de mim. Vamos cuidar de você agora Jamile!

– Você é jovem demais para cuidar de mim Lupe, seria como uma irmã e não como uma mãe.

– Irmã ou mãe, isso não importa.

As duas se juntaram a Atílio, Leonel e Ester.

Longe dali, na cidade.

– Assine aqui nessas duas páginas, por favor. - Diz o advogado Josué lhe entregando a caneta.

Leandro estava perdido em pensamentos, parecia não perceber o mundo ao seu redor.

– Leandro, está me ouvindo?

– O que disse doutor?

– O tabelião e eu estamos esperando que assine os documentos de compra.

– Claro, me desculpem por isso. – Leandro os assinou e a compra da fazenda estava firmada.

Em casa Luíza estava fria, distante em suas dores. Margareth percebeu que a filha também não queria se alimentar, estava pensativa e o brilho de sua alegria parecia ter ido embora de repente do coração dela.

– Luíza está estranha desde ontem.

– Deve ser pela volta de Gabriel e a situação arriscada em que ele se encontra ao viver sob o mesmo teto que o pior inimigo.

– Sim Saulo, deve ser isso. Mas nossa filha precisa cuidar da vida dela rápido, encontrar um marido. Estava tão empolgada com o tal primo de Atílio!

– Ele ou um outro bom homem, vou dar um destino a nossa filha antes que ela se perca tentando o encontrar sozinha. – Diz Saulo preocupado com a filha.

A jovem Luíza andava sozinha sem rumo, com um dos filhotes de cachorro da fazenda em seu colo. Sentou-se encostada em uma árvore...

– Você apenas segue os instintos, não sofre como nós sofremos e nem paga o preço pelas suas escolhas.

Sebastião estava voltando da cidade depois de falar com o padre e a viu chorar tão desesperadamente, desceu do cavalo e foi até ela se abaixando para poder olhar em seus olhos.

– O que aconteceu? Por que está chorando assim? – Sebastião diz tocando seu rosto e secando uma das várias lágrimas.

– Minha vida está acabada Sebastião!

– Não fale uma coisa dessas Luíza, me diga o que aconteceu de repente eu possa fazer alguma coisa.

– Você não pode e ninguém pode. – Ela se levantou e ele a acompanhou.

– Foi aquele bastardo do Leandro, não foi? ele magoou seu coração. Sempre soube que ele faria isso, te iludiu para se divertir!

– Não foi ele, estou sofrendo por causa de Gabriel e dessa volta repentina. - Luíza tentou desconversar.

– Você não me engana, te conheço desde menina e esse sofrimento em seus olhos é por amor aquele maldito. Não me diga que ele se atreveu a...

Ele montou no cavalo e saiu furioso de volta para a fazenda, Luíza já estava preocupada demais com seu próprio futuro para impedir que Sebastião desse uma lição em Leandro.

– Ele merece sofrer para pagar um pouquinho do mal que me fez! – Luíza diz sentindo ódio e remorso.

Leandro saía do carro do advogado, Sebastião quase se jogou de cima do cavalo e chegou dando um forte soco no rival. Leandro caiu no chão tocando o nariz e se dando conta do sangue que saia dele sem parar.

– Ficou maluco peão miserável? – Leandro gritou.

– Nunca mais quero te ver perto de Luíza.

– Não sei o que ela te disse, mas sou um homem e ela se ofereceu.

Sebastião deu um chute no rosto dele, que estava caído no chão terminado de quebrar seu nariz. Leandro gritava, mas o empregado do patrão ainda não estava satisfeito e ia para cima dele, o advogado Josué o segurou antes que ele o matasse.

Celina e Amélia ouviram a confusão e correram para lá.

– Ficou maluco Sebastião? – Celina abraçou o irmão que sangrava e gemia de dor.

– Você é um verme, nunca vai ser digno do amor de uma moça como Luíza. Vou dar a ela um destino!

– Chama de destino, se unir a um pobre coitado como você? – Leandro dizia entre gemidos.

– Pare de provocar Leandro, acha pouco estar com a cara quebrada? – Celina tentava levantar o irmão do chão.

– Se ela me quiser, nos casaremos agora mesmo e você vai ser um passado sombrio e esquecido na vida dela. – Sebastião disse colocando o chapéu de volta na cabeça.

Celina, Josué e Amélia levaram Leandro para dentro da casa e o colocaram na cama. Enquanto isso Sebastião chutava todas as tábuas do celeiro, Gabriel estava com os peões montado a cavalo no meio do pasto, quando Paulo se aproximou.

– Patrão Gabriel o senhor acabou de perder a maior confusão bem na frente da mansão.

– O que aconteceu, Paulo?

– Sebastião deu uma baita surra no primo do vosso sogro. E eu ouvi o nome da sua irmã na briga dos dois.

– Vou tirar essa história a limpo.

Ele foi a cavalo de volta para a o estábulo e andou até o galinheiro.

– O que diabos deu em você homem? Por que bateu em Leandro? – Gabriel perguntou.

Sebastião

Não posso dizer que aquele maldito a desonrou, Gabriel não a perdoaria e ela seria mal falada por todos.

– Por que ele anda cortejando Luíza e lhe fazendo promessas que nunca irá cumprir.

– E isso é motivo para agressão? minha irmã é propriedade sua?

– Não Gabriel, mas eu a amo e vou zelar por ela. – Sebastião responde.

– Sou irmão de Luíza e estou de volta, deixe eu posso cuidar dela.

Dentro da casa grande...

– Ainda bem que está aqui doutor Josué, Atílio levou o carro e agora precisamos de um médico. – Amélia pedia ao advogado para buscar ajuda médica.

– Vou buscá-lo o mais rápido que eu puder.

Celina estava apavorada ao ver tanto sangue.

– Não devia ter se envolvido com essa garota estúpida Leandro, há tantas na cidade e escolheu justamente a amante desse peão descontrolado e bruto.

– Luíza não é e nunca foi amante dele, Celina!

Celina se levantou.

– Você está apaixonado por ela.

– Claro que não! – Leandro gritou.

– Claro que sim, ficou enciumado em saber que ele irá lhe propor casamento.

– Não é por ciúme, mas por orgulho. Luíza mesmo sendo pobre é muito, para um empregado de merda como ele.

Ela sorriu, era inacreditável o que havia acontecido naquele lugar para mudar Atílio e Leandro daquela forma.

Celina

Sim, ele está apaixonado. Nunca em toda a minha vida o vi assim, Leandro não pode ficar com essa garota miserável. Vou empurrar ela para os braços de Sebastião, isso não me impedirá de brincar com ele depois.

Amélia trouxe um pano molhado para tentar estancar o sangue, mas ele não aguentava que nada encostasse em seu ferimento.

– Posso falar um instante com Leandro? – Gabriel pediu, Celina temia outra confusão por ele ser irmão de Luíza.

– Se veio agredir ele chegou tarde, meu irmão já em pedacinhos.

– Deixe de ser exagerada minha irmã e nos deixe a sós.

– Ele é irmão da garota!

– Eu sei anda, nos dê licença Celina.

Celina saiu com os olhos enormes de medo do irmão apanhar de novo.

– Só por garantia vou deixar a porta aberta! – Diz ela cumprindo a promessa e saindo de lá.

– Soube que andou cortejando minha irmã, é verdade Leandro?

– Não exatamente, ela é uma bela moça e eu sou homem...

– Aqui os homens tem apenas duas opções quando uma moça lhes desperta desejo, casar-se com ela ou deixá-la em paz para que faça sua vida com outro.

– Está exagerando, Gabriel.

– Não fuja da resposta, você um homem ou um rato?

– Gosto da sua irmã, mas não o bastante para me casar com ela.

– Certo, então façamos um acordo entre compadres. Você nunca mais chegará perto dela ou lhe fará promessas...

Leandro não resistiu e mesmo sentindo dores, sorriu.

– Ou? – Leandro pergunta.

– Não serei tão bondoso quanto Sebastião, eu arranco a sua pele e com ela farei uma sela para o meu cavalo!

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