Além do horizonte romance Capítulo 27

Atílio, Guadalupe e Jamile voltaram para a mansão já quase no fim da tarde e viram o médico chegar junto com o advogado e Amélia os recebeu na porta.

– O que está acontecendo? – Atílio perguntou e logo Amélia respondeu.

– Graças a Deus que todos chegaram, venha doutor. Leandro está sentindo muita dor e precisa de cuidados urgentes.

– Não nos deixe aflitos Amélia, diga de uma vez! – Guadalupe suplicou aflita.

– Um dos peões de Atílio agrediu Leandro e parece grave. – Josué respondeu o que todos ansiavam saber.

– Sebastião!

– Como sabe que foi ele Atílio? – Jamile pergunta para o pai.

– Depois falaremos todos sobre isso, agora o importante é cuidar de Leandro. – Atílio responde.

O médico subiu as escadas com sua maleta, Atílio e os demais acharam melhor esperar o atendimento para saber o que poderia ser feito.

– Claro que foi por causa de Luíza, Sebastião a ama e Leandro a estava cortejando a dias. – Atílio revelou enquanto dava alguns passos.

– Se Sebastião bateu nele, deve ter sido alguma coisa grave. Não quero pensar que Leandro foi capaz de fazer alguma coisa a minha amiga. – Guadalupe diz.

– Vamos esperar que os dois tenham algo a dizer ao meu pai. – Jamile diz ao pedir paciência para descobrirem o que de fato havia acontecido.

Atílio ficou honrado em ser chamado de pai pela primeira vez, era uma sensação diferente, mas que aqueceu seu coração. Enquanto isso o médico entrou no quarto, Celina estava ao lado dele e preocupada.

– Doutor o senhor tem que fazer alguma coisa, está sangrando muito e já tentamos de tudo para estancar. – Celina chorava e suplicava para o doutor Douglas e ele se compadeceu ao responder.

– Farei o que eu puder, agora é preciso que a senhorita saia e nos deixe a sós.

– Sim senhor, com licença. – Celina saiu e fechou a porta, o médico se aproximou e precisou tocar o nariz lesionado para saber a extensão do problema que iria enfrentar. Ele mal tocou e Leandro começou a gritar desesperadamente de dor e todos na sala ouviram e ficaram ainda mais preocupados, Celina e Amélia se amparavam.

– Por Deus doutor Douglas, se me tocar de novo vou morrer!

– Seu problema é grave Leandro, está com uma dupla fratura nasal. Aqui não podemos cuidar disso e você precisará ir para a cidade com urgência, caso a lesão calcifique você ficará com uma deformação permanente.

– Peão desgraçado, minha vontade era de acabar com a raça desse maldito. – Leandro resmungava enquanto sentia muitas dores.

– Depois de se cuidar, agora é preciso organizar tudo para que você vá se tratar.

Leandro

Se eu for me tratar na cidade, quando eu voltar Luíza pode estar casada com esse maldito. Não posso permitir que isso aconteça, não posso!

– Admitindo que eu não possa ir com tanta rapidez para a cidade, quanto tempo eu tenho até que meu ferimento possa ser tratado doutor?

– Não brinque com isso rapaz, você tem posses e pode ir agora mesmo se quiser. O que te prende aqui?

– A sede de justiça, quero prestar queixa e só vou sair daqui quando Sebastião estiver preso.

– E se isso levar dias, Leandro?

Alguém bate na porta, era Amélia levando uma bandeja com água para o médico pois era uma noite quente.

– Por favor senhora, peça para que um dos parentes do rapaz suba até aqui. – O doutor Douglas pediu e Amélia foi chamar os dois.

– Eu já volto.

Algum tempo depois Celina e Atílio entraram no quarto, ele levou um grande susto ao ver o primo quase desfigurado.

– Diabos, não sei o que fez, mas por pouco Sebastião não te mata! – Atílio tinha que reconhecer que por ódio Sebastião poderia ter acabado com a vida de Leandro se realmente quisesse.

– Seu nome é Atílio, não é?

– Sim doutor, me perdoe por não ter me apresentado antes, mas a situação era preocupante demais para esperar por isso.

Os dois se cumprimentaram com um aperto de mão e Celina se sentou na cama ao lado do irmão.

– E aí doutor, o rosto do meu irmão vai ter jeito? – Ela perguntou com medo da resposta.

– Por isso mandei chamá-los, seu irmão precisará de uma operação e aqui não será possível. Terá que ir para a capital e rápido antes que o ferimento cicatrize de maneira errada.

– Sim, sim ele vai agora mesmo comigo para lá. – Celina logo se prontifica a acompanhá-lo.

– Ele não quer ir. – O médico a deixa incrédula com aquela recusa.

– Ficou maluco, seu inconsequente?

– Me escutem todos, só aceito fazer essa viagem se Sebastião for preso! – Leandro deixa todos ainda mais irritados ao brincar com algo tão sério quanto sua saúde.

– Diabos Leandro, sequer me disseram por que tudo isso aconteceu.

– Vai ficar do lado dele, Atílio? Ai, maldição! - Leandro gritou e forçou o rosto, causando ainda mais dor a si mesmo.

– Não se altere ou vai piorar ainda mais. – O médico avisa a ele.

– Por que ele te bateu? – Atílio pergunta, chegando mais perto da cama.

– Ciúmes de Luíza!

– Só por isso, primo?

– Ele é um selvagem, xucro e não sabe dialogar. – Leandro disse, mas sabia que a surra havia sido mais do que justa.

– Mande chamar o delegado para averiguar a situação. – O médico aconselha.

– Atílio pode expulsar ele da fazenda, sem a necessidade de mandar pobre para a prisão.

– Vai defender ele na minha frente, Celina? Que maravilha de irmã eu tenho! – Leandro ironizou.

– Só estou tentando ser justa.

Atílio

O que vou fazer, tenho em minhas mãos uma decisão dura a tomar. Se eu mando prender Sebastião, Guadalupe irá repreender pela atitude e se eu não fizer isso e Leandro for pessoalmente prestar queixa, pode até me acusar de acobertar um capanga.

– O que vai ser Atílio, vai chamar o delegado ou mesmo terei que ir nesse estado em que me encontro?

– Eu lhe darei uma medicação para dor e parar o sangramento. No mais tardar amanhã, Leandro precisa estar dentro de um trem para a capital. – O médico foi abrindo sua mala de medicamentos.

– Está bem, amanhã ele estará! – Atílio respondeu olhando nos olhos do primo teimoso.

Depois de medicar Leandro, Atílio saiu com o médico para pagar os gastos. Estava preocupado, não queria ficar mal com o primo e ainda mais agora na iminência da chegada do pai dele.

Atílio finalmente foi falar com a esposa sobre tudo o que sabia até o momento.

– Leandro está com uma lesão grave e precisa se tratar na cidade.

– Já sabe por que Sebastião fez isso? – Guadalupe perguntou.

– Leandro disse que foi por ciúmes de Luíza e ele quer que Sebastião vá para a cadeia o mais rápido possível.

– Quero falar com Sebastião, Atílio!

– A essa hora já foi para o barraco dele.

– Vamos até lá, precisa dar a ele o direito de se defender.

– Por que duvida tanto de Leandro, princesa?

– E por que você desconfia tanto de Sebastião, que tem te servido com tanta gratidão desde que você chegou aqui?

– Certo, vou selar um cavalo e iremos até lá. – Atílio finalmente concorda com ela.

O médico foi embora com o advogado e com ajuda dos remédios Leandro pode descansar. Jamile estranhou toda aquela confusão e nada de Gabriel aparecer.

Na casa de Saulo...

Gabriel chegou a cavalo e queria ver a irmã e saber melhor se aquela confusão havia realmente acontecido por causa de um simples ataque de ciúmes. Ele chegou em casa e cumprimentou os pais passou direto para o quarto da irmã.

– O que está fazendo aqui tão tarde? – Luíza pergunta para Gabriel.

– Vim saber de você, por que Sebastião quase matou Leandro essa tarde?

Luíza não ficou tão surpresa, sabia que o resultado não poderia ser diferente disso.

– Ele está bem?

– Ele quem? – Gabriel perguntou

– Na verdade, os dois.

– Leandro está no mínimo com o nariz quebrado e Sebastião ainda furioso com ele.

– Não foi por nada demais, Leandro estava a me cortejar e Sebastião o advertiu sobre a honra das garotas daqui. O primo de Atílio é um homem irônico, os dois devem ter discutido por isso.

– Seja como for dei meu recado a ele, Leandro nunca mais irá colocar os olhos em você outra vez Luíza.

Luíza

Não sei o que diabos está acontecendo comigo, a frase de Gabriel deveria me deixar mais tranquila e não, me deixar triste. Como posso pensar em querer ver um homem que só me fez mal, debochou dos meus sentimentos da maneira mais suja.

– Obrigada por vir e por sempre cuidar de mim, Gabriel!

– Me perdoe por ter ido embora da forma que fui e vendo o que está acontecendo contigo eu me arrependo tanto de ter virado as costas para vocês.

– O que importa é que você está aqui agora.

Os dois deram um forte abraço, para Luíza era muito mais do que um encontro entre dois corpos. Era um abraço de almas e que ele tanto precisava para acalentar seu coração magoado.

Atílio selou o cavalo, ele e Guadalupe foram em direção a choupana de Sebastião. Antes de sair das dependências de suas terras ele viu uma luz de tocha não muito longe da casa grande.

– O que diabos e aquilo? – Atílio perguntou olhando intrigado.

Guadalupe se apertou a ele mais forte.

– Desculpe princesa, não fique com medo. Vi uma tocha, há de ser algum trabalhador voltando para casa.

Ele ficou cismado, as pessoas da região não costumavam perambular a noite sozinhas mesmo carregando uma tocha acesa. Sabiam dos animais perigosos que espreitavam por lá e no quanto os moradores presavam pela segurança de suas terras, mantendo homens armados sempre à espreita para afugentar invasores.

Atílio fez o cavalo ir mais rápido e chegaram na cabana, ele a ajudou a descer e amarrou o cavalo. Logo depois bateu na porta, Sebastião abriu apontando uma pistola para a cabeça do patrão.

– Acho que não é para tanto! – Atílio levantou as duas mãos sorrindo.

– Patrão e Lupe, me desculpem por isso. É que a essa hora da noite as últimas pessoas a quem eu esperava receber eram vocês. Entrem por favor.

– Com licença! – Guadalupe diz.

– A casa é humilde, mas fiquem a vontade.

Atílio e Guadalupe se sentaram em duas velhas cadeiras.

– O assunto que nos trás aqui você já pode imaginar qual seja. – Atílio já preparou para que a conversa fosse ainda mais direta.

– Vosso primo! – Sebastião respondeu, falar em Leandro sempre era incômodo.

– Por que bateu nele? – Guadalupe pergunta.

Sebastião se levantou fechando os punhos, não conseguia disfarçar o ódio que ainda sente por ele.

– Ele vive cercando Luíza e eu a amo.

– Mas isso não é motivo para tomar uma atitude como essa. – Atílio retira o chapéu ao dizer e Guadalupe complementa a fala do marido em seguida.

– Não acredito que tenha sido só por esse motivo.

– Ele me desafiou e eu não suportei a afronta!

Sebastião

Não posso acabar com a vida de Luíza ao dizer a verdade, dona Margareth também não suportaria ter dois filhos cujas vidas foram destruídas por amar as pessoas erradas.

– Se há uma outra verdade, precisa me dizer. Por que infelizmente o delegado irá te prender muito em breve.

– Não me importo Atílio, sei que o senhor não deseja que eu padeça na prisão e temos apresso de irmãos. Diga ao seu primo que estarei esperando pelo delegado aqui, não sou um covarde como ele! – Sebastião diz e se levanta.

– Farei tudo o que eu puder para te ajudar a sair dessa situação, nos conhecemos desde crianças e sei que você é um homem bom.

– Obrigado Guadalupe e agradeço por terem vindo prosear comigo antes de tomar uma atitude.

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