Além do horizonte romance Capítulo 7

– Perfumado e tão alinhado assim tão cedo? Já sei, vai até a casa de Lupe. – Amélia o vê arrumando os punhos da camisa e bem vaidoso para sair.

– Sim, preciso adiantar as coisas entre nós. Já estou aqui a muito tempo aqui e ando subindo pelas paredes, nunca fiquei tanto tempo sem...

– Um rabo de saia. – Completou Amélia com um sorriso no rosto marcado pelo tempo.

– Exatamente, essa menina virou uma obsessão tão grande que nem sequer consigo olhar ao meu redor. Eu quero ela e vou ter!

– Guadalupe não é mulher para você.

– Como não é para mim? Eu já te disse, no fim das contas cega ou não ela é uma mulher como outra e fácil de enganar.

Como combinado eu me arrumei e fui até a casa dela, eu precisava convencer Guadalupe a viver comigo e não pouparia conversa mole para isso.

Resolvi ir a cavalo dando uma olhada ao redor e pensando nela, ainda bem cedo bati na porta daquela humilde casa.

– Atílio? – Perguntou Ester ao abrir a porta e por que o esperasse, achou que não viria assim tão cedo.

– Perdoe-me por vir assim tão cedo, mas vim conversar um instante com Guadalupe. É claro se sua filha quiser me receber!

– Minha filha não tem nada para tratar com você. – Leonel não queria admitir aquele encontro.

Aquele estúpido do Leonel não podia ter quebrado nosso acordo, mas no fim pouco importava se havia contado a ela a verdadeira causa de sua prisão repentina.

Quem sabe isso mostrasse a ela do que eu sou capaz para conseguir o que quero.

– Papai, eu não sou nenhuma incapaz e quantas vezes preciso lembrá-lo? – Guadalupe estava envergonhada por ter que desafiar o pai na frente daquele homem, mas naquele momento foi necessário.

– Mas esse homem... – Leonel ainda resmungava.

– Mamãe, Atílio e eu caminharemos um pouco aqui pelo rancho.

– Está bem filha, mas não se afastem muito de casa.

– Vamos Atílio? – Guadalupe saiu caminhando com total segurança na frente dele.

Tão independente e decidida, sempre me deixava impressionado e com aquela atitude parecia estar caindo bem rápido em meus galanteios.

Caminhamos um pouco até nos aproximarmos de um velho balanço de madeira.

– Gabriel e eu costumávamos vir aqui, até que um dia ele me derrubou do balanço e depois disso nunca mais quis brincar por medo de me ferir de novo.

– Vem sente-se. – Pediu ele.

Guiei ela delicadamente até o balanço de madeira em uma enorme mangueira, mas Guadalupe relutou.

– Não confia em mim como confia nele, por que?

– Eu confio em você, mas é que Gabriel e eu fomos criados juntos. Já o senhor (pausa) chegou agora e pouco sabemos a seu respeito.

– Então sente-se no balanço e vou falar um pouco mais sobre mim.

Guadalupe respirou fundo, com muito medo ela se sentou e segurou nos dois lados da corda e eu toquei suas mãos aquecendo-as devagar.

– Agora vou te balançar lentamente, sou um homem da cidade como todos sabem e sempre sonhei em viver em um lugar assim. Tranquilo e ter muitos filhos. – Ele mesmo se surpreendia com a lábia que tinha.

Minha capacidade de mentir era enorme e talvez nem fosse de tudo mentira, já que um dia todos temos que ter filhos.

Atílio começou a me balançar devagar, eu sentia o vento tocar meu rosto e aos poucos meu medo foi indo embora conforme ele falava sobre suas vontades e sonhos.

– Viu? Eu só quero que confie em mim e de todas as formas que puder. – Atílio falou rente ao seu ouvido e o cheiro dela o fazia sonhar acordado.

– Eu confio.

– Se lembra do que falamos na igreja? A solidão tem me tirado o sono, tanto que vim parar aqui assim tão cedo para te ver e poder conversar um pouco.

– Sempre pode vir aqui me ver e conversar comigo, podemos ser amigos e até acho que já somos.

– Se você fosse comigo para casa, se confiasse de verdade Lupe...

– Por favor não fale mais nisso! Como eu poderia viver com um homem com quem não tenho qualquer compromisso? – Guadalupe mais uma vez se impôs.

– Você recusou todos os pedidos de casamento que lhe fizeram! Até mesmo de Gabriel em quem confia tanto e desde sempre!

– Mas isso não te dá o direito de achar que pode se amasiar comigo, Deus não se agradaria disso. Sei que iria me tratar como uma amiga, mas e as pessoas o que pensariam de nós dois sob o mesmo teto?

– Claro que eu te respeitaria como uma irmã, pouco me importa o resto do mundo, se eu tiver você ao meu lado...

– Não insista mais!

Parei de balançar Lupe e fiquei em sua frente ajoelhado e segurando as cordas daquele balanço.

– E se eu te pedir para se casar comigo? Ser minha esposa, isso mudaria tudo! – Minha respiração ofegante fazia agitar seus cabelos negros.

Ajoelhado aos pés de uma camponesa, quem diria que um dia eu chegaria a tanto por um desejo?

– Não posso tomar uma decisão assim, sem pensar.

Essa garota jogava comigo, como ela podia pedir tempo para pensar em ser minha mulher? Todos sabem que sou o melhor partido dessa região, ainda mais para uma donzela como ela que apesar de linda era cega.

– Dois dias é que o posso esperar. – Disse ele se levantando.

Ajudei ela se levantar do balanço, caminhamos de volta para casa havia uma pedra e deixei que ela tropeçasse.

A agarrei com força contra meu corpo, apertando-a contra mim.

Ele tocou meu seio, fiquei assustada ao mesmo tempo que estar nos braços dele me dava uma sensação diferente e boa assim como eu senti antes.

– Não me toque assim! Você é muito atrevido! – Disse ela, mas no fundo talvez tivesse apreciado.

– Me desculpe, eu só quis ajudar para que não caísse.

Eu sorri maliciosamente e a cegueira dela tinha suas vantagens, levantei o queixo de Guadalupe de maneira delicada com os dedos, aqueles olhos verdes tão lindos enchiam-se de lágrimas e eu não sabia por que.

– Vá para casa Atílio, prometo que te darei uma resposta no tempo que pediu.

– Espero que pense com carinho em tudo o que eu disse, em dois dias eu volto e quero uma resposta.

Fui correndo para casa, entrei no quarto e me deitei na cama pesando na proposta que ele me fez.

– O que aconteceu filha? Onde está aquele homem, já foi embora? Te fez alguma coisa não foi? Eu não devia ter deixado que saísse juntos! – Lamenta Ester tocando na coxa da filha que deitada de lado deixava as lágrimas rolarem.

– Ele queria se juntar comigo e que eu fosse com ele para casa dizendo que viveríamos como irmãos.

– Sem se casar, como uma mulher desonrada? Esse homem é mesmo um doente!

– Eu disse a ele que não, insistiu e ele então Atílio me pediu em casamento.

– E você aceitou ser esposa dele? – Perguntou Ester ofegante e temendo a resposta.

– Pedi um tempo para pensar melhor em tudo.

– Acha que ele gosta de você de verdade? Mesmo depois de uma proposta asquerosa como essa?

– Sei que está nos ouvindo papai...

– Me desculpem, mas não gosto desse homem e não pude me abster de ouvir o que disse sobre ele. – Leonel estava na porta do quarto.

– Não precisa mais tentar me enganar, sei que Atílio armou para mandar o senhor para a cadeia por minha causa. – Guadalupe revelou o que os pais pensavam esconder dela.

– Como sabe disso? Quem disse a você? – Questionou Leonel envergonhado.

– Eu ouvi a conversa do senhor e da mamãe eu posso ser cega, mas minha audição é apurada.

– Então não é preciso que eu te diga quem ele é, se afaste desse animal antes que ele te desonre filha! É tudo o que ele quer e se soubesse como te olha de maneira desrespeitosa (Leonel cerrou os punhos) se eu pudesse mataria esse monstro com minhas próprias mãos.

– Atílio é poderoso papai, rico e já nos provou o quanto é cruel. Não podemos vencer um inimigo como ele nenhum de nós pode.

– Não sozinhos, mas se você se casar com Gabriel ele te deixaria em paz. – Ester diz a filha tentando trazê-la uma solução.

– Não mamãe, faria mal a ele também. Gabriel é como um irmão para mim e não posso me casar com ele.

– Vamos juntar nossas tralhas e ir embora daqui hoje mesmo. – Leonel não queria deixar as terras, mas para salvar a família talvez fosse a melhor solução.

– Vou aceitar o pedido e me casar com ele!

– Você enlouqueceu filha? – Ester se irrita.

– É o meu futuro e eu soube desde a primeira vez que ouvi a voz dele, nossos destinos precisavam se cruzar ainda que eu não saiba por que. Tenho sonhado com sua música no piano, Atílio é um homem poderoso e somos humildes demais para lutar contra ele.

– Apesar de tudo, está apaixonada por ele? Se pensa nele e se sonha, então só pode ser isso...amor. – Diz Ester.

– Não sei o que sinto mãe, mas meu coração diz que tenho que aceitar meu destino por vocês.

– Não conseguiria te entregar a ele...tão frágil e ainda mais...

– Cega? Não tenha medo por mim papai, vou aprender a viver com ele. O senhor e minha mãe ficarão aqui em paz e ele não vai fazer nada de mal a você enquanto eu for dele. Pelo menos consegui que ele se case, seria muito mais humilhante ter que viver com ele sem matrimônio.

– Se você decidiu isso, que Deus te dê forças filha. – Ester dá a benção a filha e eles vão deitar.

Atílio chegou em casa bravo como sempre nos últimos dias, pois nada saia como ele queria.

– Aquela estúpida me pediu tempo, então acha que eu saio por aí fazendo pedidos de casamento a toda hora? – Ele joga o chapéu no chão da sala.

– Então Guadalupe te fisgou de vez? Quem diria que eu te ouviria dizer que vai se casar com alguém. – Amélia sorria deixando-o ainda mais possesso.

– Nada é para sempre, casamentos também acabam. Vou aproveitar com ela até me satisfazer por completo e depois dou uma casa decente para ela e os pais.

– E acha que isso iria limpar sua consciência?

– Sim, por suposto!

– Acho que está caindo na própria armadilha filho, já está apaixonado por essa garota e não quer enxergar...no fim das contas o cego é você!

– Só quero ver a cara daquele palerma do Gabriel, quando souber que a princesinha que ele tanto protegeu vai ser todinha minha! – Ele sorria.

– É capaz de te matar bem antes de dizer sim a ela.

– Ele que se atreva, antes disso eu posso mandar lhe dar uma boa surra.

– Faça isso e vai perder a noiva!

– Tem razão, mas depois que ela for minha. Mando quebrar toda a cara dele!

Amélia saiu sorrindo e me deixando bem irritado. Onde já se viu? Eu o mais mulherengo de todos os homens, sendo laçado por uma caipirinha cega e pobre!

Tomei um banho e me deitei, não pude dominar meus pensamentos. Me recordava do cheiro da pele dela e do toque tão suave de seu seio farto, me vi excitado e imaginando como seria dormir abraçado ao seu corpo nu todas as noites.

Ver aqueles olhos verdes ao despertar todas as manhãs, seus beijos....

– Como eu anseio provar os lábios e todo o seu corpo, você tem que me dizer sim ou vou enlouquecer em breve! Apenas me diga sim Guadalupe!!!

Dormi abraçado ao travesseiro.

Em casa, Lupe andava de um lado para o outro no quarto queria ter outras opções para sua vida, mas estava diante de um pedido de casamento.

– E se eu estiver errada? Ele me deixaria em paz se eu dissesse que não quero me casar? São tantas dúvidas dentro de mim, não quero que meus pais sofram!

Ela se deitou de novo na cama de lado e ficou se lembrando daquele dia, o toque das mãos dele segurando o seu corpo para que não caísse.

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