Além do horizonte romance Capítulo 8

Eu havia me decidido, unir minha vida a de Atílio parecia assustador, porém seria muito mais triste saber que minha família pagaria caro por eu lhe dizer não.

– Papai, por favor me leve até a casa de Atílio.

– Vai mesmo dizer sim para essa proposta? Filha isso é loucura...pense...pense! – Pediu ele quase chorando.

– Sim, é o melhor para todos nós.

Leonel sabia que por mais argumentos que usasse jamais convenceria a filha a desistir, selou Raio de sol e os dois foram até a mansão.

Ainda na estrada de terra, alguém se aproximou também a cavalo.

– Bom dia senhor Leonel, Lupe! – Gabriel tirou o chapéu em respeito assim como todos os cavalheiros ao ver uma dama.

– Bom dia Gabriel. – Responde Guadalupe forçando um sorriso.

– Estão indo tão cedo para a cidade? – Questionou Gabriel.

– Sim, iremos...

– Estamos indo buscar umas coisas que a mamãe pediu, depois vá lá em casa hoje à noite que precisamos conversar.

– Sim, mas é claro que irei Lupe.

Gabriel sentiu esperança de que ainda naquela noite ela pudesse dar uma resposta positiva a pergunta que sempre fez a ela, se aceitaria ser sua mulher ainda que dentro dele o não fosse uma verdade.

Eu não sabia se a minha decisão era a melhor ou a pior que eu poderia ter tomado, mas eu sei que Atílio é perigoso e muito audaz quando quer alguma coisa. Ao mesmo tempo eu me lembrava da canção tão linda que havia tocado meu coração naquela festa e as vezes sentia esperança de ser feliz. Sei ele que nunca irá me amar como a uma esposa e tem alma aventureira, além de tudo eu não sei o que acontece entre marido e mulher...minha mãe nunca conversou sobre isso comigo, mas eu sempre ouvi as meninas contarem como as coisas aconteciam a um casal dentro de um quarto.

Eu temia tantas coisas, estar com ele e até estar sem ele!

– Já chegamos meu amor, vamos descer. – Leonel a ajudou a filha a apear do cavalo.

Meu pai me ajudou a descer do cavalo, senti ele pegar minha mão e parecia apreensivo e talvez mais ansioso do que eu com aquela visita.

– Filha, se quiser ir para casa comigo eu sei que juntos vamos encontrar uma forma de lidar com esse homem, sem que precise tomar uma atitude drástica como essa. Pensa que por sermos velhos não poderemos te proteger, mas há formas de lidarmos com isso e deve confiar.

– Está decidido, me casarei com ele. – Diz ela irredutível.

– Que Deus te dê juízo filha.

Leonel bateu na porta e Amélia levou um grande susto ao ver os dois ali tão cedo.

– Lupe e seu Leonel entrem por favor, vou dizer a Atílio que estão aqui.

– Não é necessário Amélia. – A voz grossa dele invade o ambiente no mesmo instante.

– Entrem e sentem-se, vou preparar um café. – Avisa Amélia ao ir para a cozinha.

– Não precisa se incomodar com nada disso Amélia, seremos bem breves.

– Por favor sintam-se em casa.

– Filha, vou te esperar aqui fora. – Avisou Leonel lançando um olhar de revolta para seu futuro genro.

Leonel não se sentia bem estando perto daquele homem, como queria arrancar a filha de lá antes que cometesse tal loucura era sua única descendente e a estava prestes a entregar para o pior dos homens desse mundo na visão dele.

– Está bem papai, não vou demorar muito.

Leonel saiu, Atílio pegou a mão de Guadalupe respeitosamente e os dois entraram na casa.

Eu estava ansioso pela decisão dela, não podia passar pela minha mente mais uma negativa. Se ela não me aceitasse, eu encontraria uma maneira de fazê-la reconsiderar.

– Atílio - Sente-se Lupe! Lamento que seu pai não tenha entrado também, não sei por que ele me desaprecia tanto. – Ele passou a mão sobre a dela que estava no sofá, mas Guadalupe a recolheu.

Depois de ter mandado ele para a cadeia era compreensível, mas eu tinha que manter minha pose de ofendido injustamente.

– Como prometi, eu vim te dar a resposta que esperava.

– Veio para finalmente me dizer que sim! É a melhor decisão quer poderia tomar, juro que não irá se arrepender. – Atílio tomou a mão dela e a beijou.

Atílio é terrivelmente presunçoso, mas o que eu poderia fazer se estou em desvantagem em relação a ele e sempre será assim. Abaixei a cabeça, senti ele me tocar delicadamente o queixo com a outra mão...

– Vamos...diga então! – Pediu ele a sorrir.

– Sim Atílio, vou me casar contigo.

Eu sorri, ela seria minha e eu mal podia esperar para esfregar na cara de todos daquela maldita vila, que a garota que jamais quis se casar com outro agora tinha um dono!

– Certo, vou pedir a Amélia que prepare tudo e tenho uma coisa para você. Comprei isso a alguns dias e confesso que já esperava ansioso para que me dissesse que sim!

Peguei o anel que havia comprado desde que busquei Leonel na cadeia, eu sabia que ela seria minha e só me bastaria ter um pouco mais de paciência. Peguei a mão dela que estava fria e trêmula, ela já não usava o anel que aquele verme havia dado dias atrás e coloquei o meu anel de noivado dando um beijo sobre ele.

– Você gostou? – Perguntou Atílio.

Guadalupe passou os dedos da outra mão sobre ele, percebeu que era uma pedra bem maior do que a do outro anel.

– Acho que deve ser muito bonito.

– E muito caro também, você merece o melhor.

– Meu pai está lá fora, tenho que voltar para casa agora.

Ela se levantou apressada.

– Não vá ainda, temos que marcar a data e muitos outros detalhes. – Atílio a segurou pelo punho.

– O que você decidir está bem para mim.

– Em uma semana.

– Apenas uma semana? – Questionou assustada.

– Sim, é tudo o que posso esperar para....para....nos casarmos e você vir de uma vez para cá.

– Quando eu vier aqui para sua casa, posso trazer o meu cavalo comigo?

– Mas é claro que sim...eu faço tudo o que você quiser!

Maldito cavalo, ela pensa que depois que for minha mulher ainda vai sair sozinha por esses bosques cavalgando sem direção correndo o risco de se encontrar com um desses peões...eu jamais vou permitir isso de novo.

Cheguei perto e a abracei forte contra meu corpo, ela ficou assustada e respirava aceleradamente. Preciso deixar ela pronta para mim, acostumada aos meus toques e disposta a tudo para me realizar.

– Disse que tenho que ir.

– Eu só quero um beijo para selarmos nosso compromisso.

Puxei seu rosto e a devorei aos beijos, fiquei loucamente excitado e pouco me faltou para perder de vez o juízo e levar ela para minha cama. Guadalupe tremia e tentava sair dos meus braços.

– Lupe deseja alguma coisa?.... – Amélia os interrompeu.

Os dois se afastam e era visível a expressão de medo da jovem.

– Me perdoem, eu não queria incomodar.

– Não incomodou, eu já estava indo...pode me levar até meu pai? – Guadalupe queria sair daquela casa imediatamente.

– Eu te levo. – Respondeu Atílio prontamente.

Dei o braço e acompanhei até o pai, ela queria fugir de mim, mas aquilo estava perto de acabar.

– Como o senhor pode ver no dedo da sua filha estamos por fim noivos, em uma semana nos casaremos aqui em minha casa.

– Se minha filha estiver de acordo...

– Sim papai, eu estou.

– Amanhã á noite quero dar um jantar para firmarmos o noivado diante de todos e mandarei chamar o padre para reservar nossa data.

– Não precisa fazer nenhum jantar, não se incomode Atílio.

– Não é incomodo algum, mandarei buscar vocês no rancho.

– De maneira nenhuma, segundo a tradição o jantar de noivado é cedido pela família da noiva. – Leonel não estava de acordo com a escolha da filha, mas ao menos queria seguir a tradição para que os demais moradores não falassem deles.

– Mas... – Atílio tentou argumentar.

– Iremos fazer um jantar simples e te esperamos às 20:00. – Leonel disse e já foi desamarrando o cavalo para voltarem para casa.

– Está bem, será como quiserem.

Maldição de jantar naquele lugar tão pobre, eu queria jogar na cara de todos inclusive dos parentes dela o quanto eu tinha para oferecer, ainda que dissessem que ela não me ama e agora ficaríamos noivos naquela casa em ruínas.

Eu queria poder dar outro beijo como aquele nela, mas com o velho ali era impossível....ele montou no cavalo e eu a ajudei a subir.

– Então até amanhã princesa.

– Até amanhã Atílio.

Fiquei olhando eles irem, fiquei ainda mais cativo do desejo que sinto por ela depois dos beijos que roubei

Enquanto iam para casa.

– Uma semana, Deus!

– É melhor assim pai.

Enquanto voltávamos para casa os toques que ele me deu não saiam da minha mente, sim haviam descrito para mim o que era um beijo, mas nunca pensei que seria dessa forma. Roubada e imposta como Atílio me fez sentir, de alguma maneira violada.

Os dois chegaram em casa e ela contou para a mãe o que havia sido decidido, naquela noite ela esperava por Gabriel.

– Boa noite.

– Boa noite Gabriel, entre. – Pediu Guadalupe.

Os dois foram conversar na cozinha e Ester saiu para deixá-los mais à vontade, pois sabia que o teor daquela conversa o desagradaria e muito.

– E esse anel? – Questionou Gabriel.

– É justamente sobre isso que quero falar com você, estou noiva (suspiro de hesitação) – E sei que vai me odiar por isso.

– Como noiva? Sempre recusou todos e inclusive a mim e aquele maldito Atílio.

– Mas reconsiderei e vou me casar com ele dentro de uma semana.

– De jeito nenhum, você não seria tão estúpida! – Diz ele aos gritos.

– Não extravase todo o seu ódio me ofendendo Gabriel, nós nos amamos como irmãos.

– Não! eu nunca te enganei sobre o que sinto, não é justo que se case com esse homem (choro engasgado) ele é cruel e se você pudesse ver a maneira como te olha e desmerece as pessoas, eu tenho certeza que não faria uma loucura como essas.

– Você está certo sobre tudo o que diz, Atílio é um homem cruel e arrogante.

– E por que vai se casar com ele? Por dinheiro, por que ele te deu um anel muito melhor que o meu? – Pergunta ele inconformado e inquieto.

– Por que é o meu destino ser dele e não há nada que possa mudar isso.

– Inferno de destino! Ninguém foi feito para ser infeliz ao lado de um homem com o ego como o dele e que age com preconceito contra as pessoas como nós, humildes!

– Está decidido Gabriel, não entre no nosso caminho por que se fizer isso, nem mesmo como amigo eu te aceitarei de novo. – Ao ouvir isso ele se levantou atônito.

Eu tinha que magoar Gabriel dessa forma ou ele jamais se conformaria com minha decisão e Atílio poderia fazer muito mal a ele e até mesmo a sua família. Doía muito dizer tudo aquilo, mas era necessário para evitar o pior no futuro.

Ouvi ele arrastar a cadeira na sua frente e bater forte a porta.

– Gabriel você já vai embora? – Indagou Ester.

Ele sequer olhou para trás e Ester foi até a cozinha falar com a filha.

– Deus, espero que ele não cometa nenhuma loucura...Atílio seria capaz de matá-lo.

– Ele está seguro contra Atílio, não fará nada contra ele e nem irá mandar enquanto eu não disser sim perante o padre. – Guadalupe estava segura de que de alguma forma estar noiva de Atílio traria alguma segurança para as pessoas que tanto ama.

–Tem razão, mas isso não me deixa calma e se Gabriel atentar contra a própria vida?

– Ele sabe que para esse pecado não há o perdão de Deus.

Já eram quase 22:00 e Amélia ouviu baterem forte na porta da mansão, colocou seu robe e desceu as escadas daquela grande casa.

– Boa noite rapaz. – Amélia se surpreende ao receber aquela inesperada visita.

– Onde está aquele miserável? – Pergunta Gabriel enfurecido.

– Suponho que fale do meu patrão, todos já se deitaram por que já é tarde.

Gabriel a empurrou e entrou na casa, Amélia quase vai ao chão, mas se segurou em um móvel.

– Atílio! Atílio! – Gabriel gritava pela casa olhando para cima.

Atílio surgiu do alto da escada.

– A que me deve a honra de sua visita a essa hora da noite? Ahhh já sei, veio me dar os parabéns pelo noivado com a jovem mais bonita da região! – Disse Atílio dispondo de um sorriso sarcástico e descendo os degraus.

Sarcasmo Vim para te arrancar as mãos antes colocá-las nela!

Gabriel ia com tudo para cima de Atílio que não esboçava qualquer receio ou preocupação, Amélia gritava por Sebastião e os outros funcionários da fazenda. Antes que Gabriel tocasse nele, Atílio sacou sua arma.

– Terá que me arrancar um pouco mais do que só as mãos para me impedir.

– Eu não tenho medo, vamos atire! – Clamou Gabriel.

– Você sabe que eu não mataria um verme como você, não que eu sinta pena, mas infelizmente minha bela noivinha nutre um certo apresso fraternal por você.

Sebastião e André seguraram Gabriel que mesmo vendo Atílio lhe aprontar uma arma não temia nada.

– O que fazemos com ele patrão? – Pergunta Sebastião contendo a fúria do rapaz.

– Vamos ter nossa chance de acertar as contas Gabriel, mas não antes de eu consumar meu casamento – Atílio chegou bem perto do rosto do rival que ainda transpirava ira – Quando eu estiver dentro dela, vou me lembrar do quanto você gostaria de estar no meu lugar!

– Maldito! Ela nunca vai amar você, sei que ela não te quer e se está se casando é por que teme que faça algo, não é e nunca foi por amor! – Gabriel não podia sair dali sem dizer a verdade na cara daquele homem.

– Levem esse lixo daqui agora.

– Sim senhor. – Concordou Sebastião.

Gabriel foi levado por eles ainda se debatendo e querendo por tudo continuar aquela contenda.

– Você tem que se proteger filho, esse rapaz não está brincando. – Amélia chegou perto e estava nervosa.

– Eu também não, devia ter atirado quando pude!

– E perderia a noiva.

– Nada! colocava ela no meu carro e levava para longe, sequer precisaria me casar.

– Que Deus te perdoe por pensar em uma coisa assim!

Atílio entrou no quarto, colocou a arma sobre o móvel e se jogou de costas na cama e se lembrou das palavras do rival que mexeram com os sentimentos dele:

– Maldito! Ela nunca vai amar você, sei que ela não te quer e se está se casando é por que teme que faça algo, não é e nunca foi por amor!

– E quem disse que eu quero o amor dela? – Atílio não queria, mas sentiu doer.

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