POR Samuel Heughan.
Contra meu peito a ouvia choramingar, assim como ouvia sua respiração entrecortada a cada trovoada dada pela tempestade.
As janelas apesar de feitas para tolerar os objetos sendo arremessados contra o vidro temperado, já estavam cheias de folhas e algas arrancadas da praia pelo vento, tanto que mal se podia enxergar através delas.
Quando algum tempo passou, a mulher retirou sua cabeça de meu peito, não aguentando mais a situação.
— Samuel, já passaram três horas, essa chuva não para… onde eles estão?
A julgar por seu temperamento, Sophia poderia sair naquela tempestade a qualquer momento se não recebesse notícias. Tento fazê-la racionar e penso que eles estão em algum lugar esperando a tempestade passar, mas cada minuto ali aumenta minha preocupação tanto quanto a dela.
— Por favor, Sra. Sangü, tente ligar novamente. — Peço, ainda abraçando Sophia.
Sabia que se a soltasse, além de dar uma chance dela correr atrás de Seth, também corria o risco de perder o controle de mim mesmo.
— Cinco minutos Samuel, se em cinco minutos eles não passarem por aquela porta, vou buscá-lo eu mesma. — Ela advertia e a conhecendo bem, não era um blefe.
O temporal cada vez pior fez com que as palmeiras mais próximas e visíveis de dentro da casa se curvassem pela fúria do vento.
Por minha cabeça passava a possibilidade de que os filhos do Sangü estivesse descoberto sobre a tempestade e a possibilidade de algo batendo contra eles era tão grande que me arrepiava. Tentei me manter calmo, porque Sophia precisava tirar a tranquilidade de algum lugar, já que a sua estava inexistente.
Em um momento prestes a não conseguí-la mais convencê-la, Sophia correu para a porta, na intenção de cruzar o tufão.
— Não!! — Todos gritamos e corremos atrás dela.
Eu a segui o máximo que pude e diante da tempestade com poeira e folhas, mas a perdi de vista.
— Droga Sophia! Volta por favor! — Cai de joelhos no chão, sem nenhuma orientação de pra onde ir.
Milhões de sentimentos e imagens cruzaram minha mente, eu naquele momento voltava a ser só. Sem aquela mulher impetuosa e aquele garotinho manhoso e chorão.
O quê seria de mim?
Se algo passasse a eles, como eu poderia seguir?
Demorou e fui idiota por não dar valor antes, precisei chegar neste exato momento para saber que Sophia e Seth se tornaram a razão da minha existência.
E como se por uma enorme coincidência, naquele mesmo instante a tempestade cessou me permitindo enxergar a ilha devastada.
De pé, a poucos metros à minha frente, lá vinham eles.
Cruzando a praça entre a casa principal e as demais cabanas da ilha, os quatro filhos do casal vinham juntos de Sophia, quem carregava Seth em seus braços o abraçando fortemente contra si.
Levantei-me rapidamente, indo de encontro a eles e os apertando contra mim.
— Vocês estão bem? — Perguntei revisando o menor, logo Sophia e depois os rapazes.
— Obrigada, mas estamos todos bem. — O filho mais velho, Onur, encarregou-se de declarar por todos os irmãos.
Voltamos para a casa dos Sangü, vendo o temor de Zeynep e Salih se esvair à medida que todos entravam um a um. Minutos depois, recuperados do susto, olhei seriamente para Sophia.
— Percebi lá fora que vocês são o mais importante que tenho, não cometa essa loucura de novo, está me ouvindo?
— Não posso te prometer nada Samuel, se pudesse faria tudo de novo. — Ela diz tão séria quanto pode.
Seu corpo ainda está trêmulo e ela o abraça, o bebê agora adormecido em seus braços parece tranquilo por estar com a mãe, mas eu não estou. Achei que perderia ambos e Sophia era uma variável intrigante em minha vida. Tinha que me dar por vencido, Sophia podia não ser a mãe biológica, mas com certeza era mais mãe do quê qualquer exame de DNA pudesse afirmar.
— Me dê ele, você precisa se secar. — Pedi, esticando os braços para pegar o bebê.
— Quero ficar com ele mais um pouco. — Ela diz o abraçando mais, como se eu fosse arrancá-lo dela.
— Sophia, você está ensopada e nem mesmo se recuperou. Quer pegar uma pneumonia?
— Não me importo. — Responde ela, irracional.
Vendo-a como está, parece que o choque junto do medo a fizeram se agarrar a Seth como nunca. Sem muito o quê fazer, teríamos de ficar com os Sangü, não haveriam balsas ou helicóptero dispostos a enfrentar a tormenta envolta da ilha, por mais dinheiro que os oferecesse.
— Senhor e Sra. Sangü, se ainda estiver de pé, poderiam nos ceder um quarto?
— Está mesmo pedindo? É o mínimo que podemos fazer depois de tudo que enfrentaram em nossa ilha. — Salih responde, respaldado pela esposa quem compartilhava da mesma opinião.
— Obrigado. — Agradeço e volto minha atenção a Sophia. — Vêm, vamos subir. — A guio pela casa.
Não a conheço exatamente, mas minha construtora havia feito todo o projeto e eu me lembrava da planta muito bem.
Ainda nas escadas, olhei para minha "esposa" e filho.
— Obrigado por estarem bem.
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