O Vício de Amor romance Capítulo 54

Uma semana depois e Jorge ainda não tinha retornado. Natália se recompôs lentamente.

Ela entrou e saiu do trabalho nos horários corretos.

- Eu ouvi falar que o Presidente Marchetti foi a Atalaia acompanhar a Ester. - Durante o almoço, um grupo se juntou para fofocar.

- Ele admitiu que Ester é sua namorada faz um tempo, então é normal que a visite, mas... - A mulher olhava a si mesma em um espelho pequeno, brincando com o próprio cabelo e curvando os lábios vermelhos em um sorriso.

A mulher no espelho, pensou ela, tinha uma beleza estonteante.

Era como se todo mundo estivesse acostumado com esse comportamento narcissista dela, já que o viam com frequência.

Provocados pelas palavras dela, se aproximaram ainda mais:

- Mas o quê?

A mulher lançou a eles um longo olhar atravessado, disse:

- Presidente Marchetti a deixaria ir para Atalaia se a amasse de verdade? De tantas pessoas na empresa que poderiam ir, tinha que ser ela?

Muitos pensavam que fazia sentido.

Mas tinha quem discordou.

- Se como você diz, o Presidente Marchetti não gosta da Ester tanto assim, como você explica o fato de que ele não veio ao escritório por uma semana inteira só pra fazer companhia a ela? Sabendo que ele não costuma fazer isso.

Ambas tinham argumentos válidos, e com opiniões diferentes, estavam prestes a entrar em uma discussão. Uns disseram que Jorge estava apaixonado por Ester, os outros disseram que não.

A discussão nunca terminaria.

- Ei, Natália, você acha que o Presidente Marchetti ama a Ester? - Um colega chamou Natália, que sentava em seu canto sem dizer uma palavra.

- Por que você não conversa com a gente?

Por dentro, Natália soltou um riso amargo. Não era sacanagem ter que discutir o amor do marido por outra mulher?

Um colega pressionou:

- Diga alguma coisa.

Natália, sem saída, disse o que achava:

- Eu não sei, sou nova por aqui, não sei muito sobre eles, suponho... que ele goste dela, por que ele a assumiria se não gostasse?

Depois de alguns segundos de silêncio, acharam que aquilo parecia fazer sentido. Se Jorge não amava Ester, por que a asumiria como namorada?

- Viu? Eu sabia que o Presidente a amava.

A fofoca não parou e Natália os deixou com o pretexto de beber água. O horário de almoço acabou e todos se dispersaram antes que Natália voltasse para o seu posto.

Jorge também não voltou naquele dia.

Depois de ouvir a fofoca dos colegas no trabalho, ela só queria um pouco de paz e tranquilidade. Não esperava que Joana também decidisse a incomodar com esse assunto.

- Por que o Sr. Jorge está demorando tanto?

Natália estava com dor de cabeça e pressionou suas têmporas. Joana, pensando que ela podia não estar bem, se aproximou e perguntou:

- Você está doente?

Natália balançou a cabeça, negando:

- Não.

- Então você...

- Hum... - Natália sentiu então um cheiro de peixe vindo de Joana e franziu o nariz.

- Você comprou peixe?

Joana assentiu e apontou para a mesa, disse:

- Acabei de voltar do supermercado e estou preparando linguado para o jantar...

Antes que ela conseguisse terminar a frase, Natália já estava cobrindo a boca e correndo para o banheiro para vomitar.

Joana seguiu logo atrás e ficou de pé na porta, olhando para ela, perguntou:

- Natália, você está grávida, não está?

Embora Natália e Jorge estivessem separados, eles se deitaram juntos na noite de núpcias.

E se ela engravidou de primeira?

Joana ficou animada e disse:

- Venha, vamos para o hospital.

Com uma criança envolvida, qualquer amante teria que se afastar.

Natália balançou a cabeça.

- Não, eu... Meu estômago não está muito bem.

- Serve para isso também. - Joana era firme como um diamante, ela só acreditaria no doutor.

- Joana. - Natália tentou puxar as mãos, mas Joana não largaria.

- Vamos, é pro seu próprio bem.

- Ande logo e troque de sapatos. - Joana puxou Natália em direção à entrada.

Natália não ousou resistir demais. Por um lado, por medo de machucar Joana, e por outro, por medo de machucar o bebê.

Enquanto Natália varria seu cérebro por uma explicação para dar a Joana, a porta foi empurrada aberta.

Natália e Joana olharam para a entrada quase ao mesmo tempo.

Jorge avançou pela porta, o terno em um braço, o colarinho da camisa meio aberto, mostrando a clavícula delicada, uma camada fina de barba surgindo em seu queixo e olheiras escuras sob seus olhos. Ao contrário do normal, parecia cansado.

Ela tinha certeza que Jorge não descansou o suficiente durante essa viagem para acompanhar e cuidar de Ester.

Vendo que era Jorge, Joana se alegrou.

- Sr. Jorge, Sra. Natália pode estar grávida.

A expressão de Jorge não mudou.

Natália só conseguia se sentir envergonhada.

Os olhares dos dois se encontraram e eles souberam.

Só Joana, incerta, encarou Jorge e perguntou:

- Você não está feliz que sua esposa está grávida?

As linhas no rosto de Jorge se aprofundaram, o nó em sua garganta deslizando para cima e para baixo quando ele falou com calma:

- Vamos nos divorciar.

Uma decisão mais cedo ou mais tarde.

Ela só não esperava que isso viesse tão de repente.

Foi um erro e já deveria ter terminado.

Não houve choro, só um vazio.

Um vazio imenso.

Natália sorriu e disse:

- Tá bem.

Ela foi tão seca, tão seca, que Jorge não conseguiu processar a tempo, e nem mesmo conseguiu absorver aquela atitude dela.

O tom de Natália era baixo.

- Vamos dar entrada no divórcio amanhã.

Com isso, ela virou e voltou para o próprio quarto.

Joana parecia ter sido atingida por um caminhão. Eles vão se divorciar?

Casamento é, por um acaso, brincadeira de criança?

- Sr. Jorge… você… você quer se divorciar? - Joana pensou estar alucinando.

Como eles podiam falar de divórcio tão de repente e ainda assim permanecerem tão calmos?

- Eu estou cansado. - Jorge não queria falar sobre o assunto, então simplesmente a cortou e seguiu para o segundo andar.

Joana congelou no lugar por um momento, virando para olhar ele se afastar.

- Esse foi o casamento escolhido para você quando a Sra. Terezinha ainda estava viva.

Os passos de Jorge vacilaram, mas muito brevemente, e ele continuou marchando escada acima.

Joana ainda não tinha desistido, continuou:

- Sra. Natália está grávida e você simplesmente não se importa?

O barulho da porta batendo fechada ressoou, e Jorge expressou seu descontentamento em silêncio.

O bebê na barriga de Natália não é dele.

Não é!

Se fosse, talvez ele não estivesse com tanta raiva.

O bebê dele está morto!

Morto!

Joana também se assustou. Ele raramente ficava tão bravo.

Natália quase não dormiu aquela noite, sentada sozinha na cama com as malas ao seu lado, que não eram muitas.

Apenas algumas peças de roupa e alguns items domésticos.

Ao amanhecer, ela trocou de roupa e saiu do quarto na mesma hora que Jorge estava descendo, já totalmente vestido. Um homem muito diferente do da noite anterior. Usava um terno bem cortado que abraçava bem sua figura alta e esguia, como um príncipe encantado arrancado para fora de um conto de fadas.

Nobre, belo e encantador.

Seus olhos se encontraram, ambos calmos.

Natália falou primeiro:

- Ainda é cedo, o Cartório ainda não deve estar aberto e eu tenho que sair para fazer algo. - Enquanto falava, ela olhou para o relógio:

- Eu estarei de volta as nove, você teria tempo?

Primeiro ela precisava sair e procurar um lugar para ficar, o divórcio surgiu de forma tão abrupta que ela não teve tempo de se preparar. Algo que ela negligenciou e deveria ter encontrado uma brecha para fazer há muito tempo.

Jorge continuou descendo, disse:

- Eu enviarei Lucas ao Cartório em meu lugar.

Ele disse e andou em direção à porta.

Natália sorriu para si mesma. Como ela poderia esquecer que foi Lucas que a levou para assinar os documentos de casamento, Jorge nem mesmo apareceu, então por que ele se daria o trabalho de aparecer agora?

Era esse o destino desse casamento? Que era aparentemente abençoado pelos céus e prometido desde a infância?

Hoje esse casamento de vida curta parecia mais uma piada.

Natália respirou fundo. Era hora de acabar com isso.

Jorge seguiu seu caminho em direção à mesa de café da manhã.

Natália veio logo em seguida e sentou-se de frente para ele.

- Está tudo bem com Sra. Ester?

Ele se decidiu depois que foi encontrá-la, então talvez ele esteja pronto para pedi-la em casamento?

Mas aquela mulher é complicada, será que ele não consegue ver?

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