Um amor de cabaré romance Capítulo 11

Faziam oito dias que eu não via o Felipe, e não dava pra negar que eu criava grandes expectativas de vê-lo, mais eu acabava frustrada no fim do meu expediente quando eu não o via, eu já tinha colocado na cabeça que não iria mais atendê-lo, mas eu queria vê-lo, e por diversas vezes eu fiquei me perguntando se ele não iria mais ao Cabaré, se aquela vez tinha sido a última vez que eu o tinha visto.

O olhar intenso dele vagou por diversas vezes na minha mente, as mãos dele no meu corpo me fazia suspirar, eu o queria, mas sabia que não podia alimentar isso em mim, afinal ele era só um cliente.

No décimo dia, fui pro Cabaré e o Raul mandou me chamar, eu achei estranho, já que isso quase nunca acontecia, exceto naquela vez que eu mesma fui lá buscar o meu dinheiro.

Assim que cheguei no escritório dele, eu bati na porta e ele mandou eu entrar.

- O que você quer?

Raul: Boa noite pra você também Mila, sente-se.

- Estou bem em pé, e se você puder ser rápido eu te agradeço, pois tempo pra mim é dinheiro.

Raul: Você não cansa de ser ingrata Mila? mesmo com tudo o que faço por você?

- Não vejo você fazendo nada por mim Raul, afinal é eu que tenho que dar a buceta pra ter dinheiro, e sou eu quem te pago.

Raul: Quero ver onde você daria a buceta se não existisse esse lugar aqui.

- Lugar é o que não falta, agora diz logo o que você quer.

Raul: Tem um cliente que me procurou e gostaria de uma acompanhante de luxo, ele não quer sexo, ele quer apenas uma garota jovem, bonita e que saiba se comportar adequadamente pra acompanhá-lo em um grande evento.

- Você sabe que eu não posso ser vista com ninguém fora daqui Raul.

Raul: Eu sei, mas o evento é fechado Mila, só estarão presentes alguns empresários e alguns funcionários da empresa que ele trabalha.

- E ele é empresário?

Raul: Não, ele é gerente geral de uma grande empresa, sem contar que ele é jovem, tem uns 25 anos.

- Quando vai ser o evento?

Raul: Amanhã, as 21:00hrs.

- E como você acha que eu vou conseguir sair nesse horário Raul? eu vou dizer o quê pros meus pais?

Raul: Mila, ele vai te pagar 15 mil só pra passar duas horas nesse evento. Você vai querer mesmo perder essa oportunidade?

- E quanto você vai ganhar por isso? nessa insistência toda, deve ganhar alguma coisa.

Raul: Vou receber o mesmo que você.

- Tá bom, mas sem sexo. Eu dou um jeito com os meus pais.

Raul: Esteja amanhã aqui pelo menos uma duas horas antes, ele vai mandar uma roupa pra você usar no evento, uma maquiadora e uma cabeleireira também.

- E ele vai vim me buscar aqui?

Raul: Sim.

- Tudo bem.

Raul: Não vai dar pra trás Mila, seja profissional.

- Se ele não for um babaca igual aquele outro, eu serei.

Eu dei as costas e saí da sala do Raul imaginando qual a desculpa que eu daria pros meus pais pra poder sair de casa às 18:30, pois geralmente eu levava meia hora pra chegar no cabaré, e ainda passaria duas horas me arrumando.

Eu realmente precisava organizar a minha vida e sair da casa dos meus pais, chegava a ser humilhante ter que dar satisfações pra todo canto que eu ia.

No dia seguinte, eu já estava com tudo arquitetado na minha cabeça.

- Bom dia, falei pro meus pais assim que eles entraram na cozinha pro café da manhã.

Pai: Bom dia Nicole, dormiu bem?

- Dormi sim.

Mãe: Bom dia filha.

- Bom dia mãe.

Pai: Como está indo na faculdade?

- Até agora estou indo bem, mas hoje eu vou precisar do máximo de concentração pra poder estudar pra uma prova, e da última vez, eu escapei de levar bomba por pouco na mesma matéria, então eu vou deixar o jantar pronto , mas não vou jantar com vocês, pois vou estar estudando, e gostaria de pedir por favor pra não ser incomodada, pode deixar que eu levo minha comida pro quarto e só vou sair dele no dia seguinte. Tudo bem?

Meu pai olhou pra minha mãe, e eu pensava que ele tinha desconfiado, mas ele parecia admirado.

Pai: Muito bem minha filha, isso mostra que você leva seus estudos a sério.

Mãe: Pode ficar tranquila minha filha, nós não vamos incomodar você.

- Obrigada por me entenderem.

Depois do café eles me deram um beijo e saíram pro trabalho.

Eu fiquei com a consciência pesada por ter mentido, mas não existia outra forma, eu poderia simplemente dizer que iria sair com meus amigos, mas eles iriam estranhar pois estávamos no meio da semana e quando eu saio com eles, geralmente saio em um fim de semana.

Eu não fui pra faculdade, e já era a terceira falta que eu tive no mesmo mês, mas eu precisava deixar o jantar pronto cedo, pra quando meus pais chegassem, terem o que comer.

Quando a noite chegou, eu peguei as minhas coisas, tranquei a porta do meu quarto, e deixei um papel escrito com a seguinte frase: Bom jantar, amo vocês, até amanhã.

Depois eu fui pra boate, antes que os meus pais chegassem em casa.

Existia um risco enorme deles irem no meu quarto mesmo eu tendo dito pra não me incomodarem, mas eu estava torcendo pra que isso não acontecesse.

Cheguei meia hora antes, mas o meu vestido já havia chegado junto com um par de sandálias com um salto divino e uma bolsa linda de mão.

Com um tempo a cabeleireira chegou e logo depois a maquiadora.

Elas fizeram o serviço completo em mim.

Eu estava deslumbrante, e nem parecia eu, de tão luxuosa que eu estava.

Raul: Uau! Você está magnífica Mila.

- Obrigada Raul, mas cadê o cara?

Raul: Ele já deve estar chegando.

Na mesma hora o celular do Raul tocou, ele saiu com o celular no ouvido e logo voltou.

Raul: Vamos Mila, ele chegou, vou acompanhá-la até o carro.

Uma Mercedes estava estacionada em frente ao Cabaré, e um homem muito gato saiu de dentro dele.

Ele tinha o cabelo castanho claro, cavanhaque bem feito, o corpo era musculoso e escultural, e ele tinha um sorriso lindo, mas foi o olhar dele que me paralisou, pois o olhar dele era idêntico ao do Felipe, ou talvez a minha cabeça estava ainda bem bagunçada pra eu achar essa semelhança.

Raul: Mila, esse é o Fred.

Fred: Que mulher linda, quando eu pedi a ajuda do Raul eu não tinha a mínima ideia que ele iria me trazer uma princesa como essa, muito prazer Mila.

Foi inevitável não sorrir, o cara além de lindo, era também muito galanteador.

- O prazer é meu Fred.

Fred: Vamos?

- Sim, vamos.

Ele abriu a porta do carro pra mim, e eu entrei.

Fomos conversando durante todo o caminho.

- Então Fred, porque um homem bonito como você, precisou pagar pra uma mulher te acompanhar?

Fred: Na verdade o meu irmão vive jogando a cunhada dele pra cima de mim, e isso acaba me colocando em situações desagradáveis, e eu não quero namorar com ninguém agora, então essa foi a única forma que achei dele não fazer isso nesse evento.

- Pensei que esse evento fosse apenas pra funcionários e empresários.

Fred: E é, mas ele sempre fala da cunhada dele, ela nem precisa estar junto pra isso acontecer, e isso é um grande saco, pois ele é o dono da empresa que eu trabalho, e os funcionários acabam ouvindo esses comentários dele e isso faz com que eles idealizem algo que não vai acontecer.

- Então o seu chefe é o seu irmão?

Fred: Exatamente.

- E qual é o ramo da empresa?

Fred: Chegamos, mas logo você vai ver com o que eu trabalho.

Nós chegamos ao um espaço luxuoso, e de longe dava pra ver que se tratava de um evento muito importante.

Existiam fotógrafos e jornalistas em todo lugar, e eu tive que olhar pro chão pra não correr o risco do meu rosto aparecer em alguma revista, existiam também seguranças por todos os lados.

Quando finalmente chegamos na parte interna do local, eu levantei a cabeça, e na mesma hora, senti que eu iria desmaiar.

As minhas mãos começaram a suar, o meu coração começou a bater de forma acelerada, e eu fiquei estática, olhando pro imenso nome na minha frente: "Gutz".

Fred: Algum problema Mila? você está pálida.

Eu quase não consegui falar de tão nervosa que fiquei.

- Fred, quem é o seu irmão?

Não deu tempo nem do Fred me responder, no mesmo instante eu vi aquele homem me olhando, paralisado, com o maxilar rígido, e com os ombros tensos.

Eu fui incapaz de dar um passo se quer, era como se o meu corpo não reagisse.

Fred: Mila? o que há com você? Mila?

- Desculpe Fred, eu preciso ir no toalhete.

Fred: Claro, fica no próximo corredor a direita, mas se tiver cheio, tem outro no andar de cima, fique a vontade, eu espero você aqui.

Eu caminhei apressadamente em direção ao toalhete, o corredor estava fazio, mas antes que eu adentrasse no toalhete, senti uma mão puxando pelo meu pulso, era o Felipe, ele me levou pra uma porta que ficava logo depois.

Assim que entramos, ele a trancou, e me encarou com furia.

Felipe: O que você está fazendo aqui menina?

- Menina? de novo Felipe? sai da minha frente, eu quero sair daqui.

Felipe: Você ainda não respondeu a minha pergunta.

- E desde quando eu devo satisfações da minha vida pra você?

Felipe: Desde quando você resolveu participar de um evento da minha empresa.

- Eu vim a convite do Fred.

Ele me puxou e me prendeu na porta.

Felipe: De onde você o conhece Nicole?

Ele perguntou com a respiração pesada, e com a boca bem pertinho da minha.

- Não é da sua conta Felipe.

Felipe: Você tá fazendo isso de caso pensado? pra me provocar? é isso? me responda.

- Claro que não, tá maluco? se eu soubesse que esse evento era da sua empresa, eu nem tinha vindo.

Felipe: Então como você conhece o meu irmão?

- Ele contratou os meus serviços.

Nesse momento ele fechou os olhos, e respirou fundo, como se estivesse tentando controlar a raiva, logo depois ele abriu, e parecia que ele queria me matar.

Felipe: Você vai fuder com o meu irmão Nicole? é isso que você está me dizendo?

Eu sabia que o acordo não incluía sexo, mas eu não iria falar isso pro Felipe.

- E se eu fuder Felipe? o que você tem a ver com isso?

Felipe: Não me provoca Nicole.

- Eu não estou entendendo o motivo de você ficar tão irritado, você sempre fica assim quando sabe que vou transar com alguém, e quero te lembrar que eu não sou sua propriedade, e mesmo assim você age como se eu fosse.

Felipe: Tem razão, você não é a minha propriedade, você pertence a todos, e o meu irmão é só mais um.

As palavras dele me abalaram, mas eu tentei não demonstrar.

Ele se afastou de mim, e me olhou com desprezo.

Felipe: Vai lá, pode dar a buceta pro meu irmão e pra quem você quiser.

- Eu não estou pedindo sua permissão.

Eu falei abrindo a porta e saindo, deixando ele pra trás.

Eu entrei no toalhete, e pela primeira vez desde quando o conheci, eu senti vontade de chorar, não só pelas palavras dele, mas também por ter a sensação que eu o magoei também.

- Que droga! Eu não deveria ficar assim. Pensei.

Depois de me recompor, eu voltei pra onde o Fred estava.

Fred: Você demorou. Você está bem?

- Sim, estou, foi só um mal estar, mas agora estou melhor.

Fred: Que bom, deixa eu te apresentar pro meu irmão.

Eu respirei fundo e tentei manter o controle, fomos caminhando em direção ao Felipe, e a mulher dele estava bem ao lado dele, magra, alta e extremamente linda.

O Felipe me olhou com frieza, e o olhar dele me atingiu mais do que deveria.

Fred: Felipe, Marina, essa é a Mila, alguém que estou conhecendo melhor.

Marina: Muito prazer, você é muito linda.

Eu voltei a olhar pro Felipe, e ele praticamente vomitou as palavras na minha cara.

Felipe: Acho que você consegue alguém melhor Fred.

Marina: Felipeee? isso são modos? tenha respeito com a moça.

Fred: Caramba Felipe? precisava falar isso cara?

Eu enchi os olhos de lágrimas, dei as costas e saí correndo do evento.

As palavras do Felipe me destruíram por dentro, e eu estava me sentindo um lixo.

Não demorou muito pra eu ouvir o Fred me chamando, mas eu não olhei pra trás, continuei correndo, mesmo com um salto gigante e vários jornalistas tirando fotos de mim.

Na hora eu não pensei na foto que poderia sair nas revistas ou nos jornais, eu só conseguia pensar nas palavras do Felipe.

Eu entrei dentro do taxi e pedi pra me deixar no Cabaré, ainda bem que eu havia levado dinheiro.

Assim que o Raul me viu, ele foi logo me interrogando.

Raul: Que merda você fez agora Mila?

- Que merda eu fiz? porquê você não me disse que o Fred era irmão do Felipe?

Raul: Felipe? que Felipe?

- Do Gutierrez, ele é irmão do Felipe Gutierrez, que me humilhou quando me viu. Eu não sou paga pra passar esse tipo de humilhação Raul. E essa é a última vez que você me coloca em um trabalho fora daqui, tá me ouvindo?

Raul: Eu não sabia Mila, como eu ia saber? eu sinto muito.

- Sente nada, você só pensa na porra do dinheiro.

Raul: Quem você pensa que eu sou? Eu não sou esse monstro todo que você imagina não Mila, eu jamais te mandaria pra nenhum local pra ser humilhada.

- Por favor, me deixa sozinha, eu preciso chorar antes de começar a atender os clientes de hoje.

Ele se retirou, e eu fiquei em prantos, eu não sei ao certo por quanto tempo eu fiquei assim, mas eu sabia que eu não teria condições de atender ninguém nesse estado, então eu decidi ir pra casa.

Eu tirei toda a roupa, o vestido e a sandália, guardei na bolsa, pois certamente eles haviam custado uma fortuna, eu retirei toda a maquiagem do meu rosto, desfiz o penteado do meu cabelo e fiz um coque, e depois fui embora antes que os clientes chegassem.

Já estava tarde, e antes que eu conseguisse pegar um taxi, um carro preto parou do meu lado.

Eu fiquei assustada, afinal a rua estava deserta, e qualquer pessoa poderia facilmente me sequestrar ou me matar, mas logo eu percebi que se tratava do Felipe, que abaixou o vidro.

Felipe: Entra no carro Nicole.

Eu senti vontade de matar ele.

- Quem você pensa que é pra me dar ordens, mesmo depois de tudo o que me falou?

Felipe: Eu falei sem pensar, agora por favor, entra no carro.

- Não! Vai a merda e me deixa em paz, volta lá pra sua mulher, e pra sua vida de luxo.

Ele desceu do carro e caminhou até a mim, e me encarou.

Felipe: Por favor, a gente não pode ser vistos juntos e eu preciso que você me ouça, então por favor, entra no carro.

- Eu já disse que não Felipe, eu não tenho nada pra falar com você, e por favor, nunca mais me proucura.

Na mesma hora apareceu um mototaxista, e eu o chamei e pedi pra ele me levar pra casa, mas assim que parei em casa, percebi que o Felipe havia seguido a gente.

Eu pensei em ir até ele e perguntar se ele era um psicopata, mas eu tive medo de algum vizinho fofoqueiro me ver, então eu entrei em casa.

Meus pais já estavam dormindo, e eu dei graças a Deus por ter chegado em casa sem ser pegue.

Eu entrei no banheiro, sentei no chão, e voltei a chorar, sentindo a água lavar a minha alma.

- Que merda Nicole, eu falei pra você não se apaixonar.

Falei pra mim mesma, sentindo que o meu mundo estava de cabeça pra baixo.

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