Virgindade Leiloada romance Capítulo 22

Murilo

Faz dois dias que eu tentava conversar com o meu primo sobre a Virgínia e não conseguia obter sucesso nem mesmo em algo tão simples.

O fato é que Aquiles estava reservando todo o seu tempo livre para a sua namorada e atual paixão, Lavínia Moura.

E quando estávamos na empresa, todos os tipos de situações estavam conseguindo atrapalhar essa nossa conversa e eu me sentia realmente muito frustrado com isso.

Como se já não fosse o bastante para me enlouquecer o fato de a Virgínia não responder as minhas mensagens e não atender às minhas muitas ligações.

Mas hoje eu estava decidido a conseguir resolver as duas situações e nada iria me demover dessa decisão e foi com esse pensamento que eu entrei no escritório do Aquiles, naquela tarde.

— Imagino que você tenha vindo decidido a ter a bendita conversa importante, estou certo? — Aquiles já me recebeu fazendo suas costumeiras piadas.

— Tenho certeza de que você me conhece o suficiente para chegar ao ponto de até mesmo antecipar até mesmo as minhas palavras. — Eu rebati.

O Aquiles estava sentado em sua cadeira de executivo e parecia digitar algo no computador quando eu cheguei e, por imaginar que seria importante, eu pedi que concluísse o que estava fazendo e então nós poderíamos conversar à vontade.

Ele fez conforme eu o orientei e, enquanto o Aquiles fazia o seu trabalho, eu verificava meus e-mails, pois a minha secretária fazia uma triagem do que era realmente necessário chegar ao meu conhecimento e do que ela mesma poderia dispensar ou resolver e eu precisava responder a alguns mais importantes.

Estávamos nós dois trabalhando, o Aquiles em seu lugar por trás da mesa de escritório e eu em uma das cadeiras dispostas diante dele, quando a porta foi aberta e, para meu espanto total, a Lavínia entrou, se sentindo então completamente à vontade para fazer isso.

— Oh! Olá, rapazes! — Ela exclamou, demonstrando surpresa por me ver ali, mas sem se desculpar por ter entrado de maneira tão intempestiva em um local de trabalho e aquilo me deixou chateado.

— Olá, meu amor!

Aquiles não pareceu se importar com a atitude da namorada e até mesmo se levantou de seu lugar e foi ao encontro dela, a abraçando e a beijando nos lábios, sem se importar com o fato de que eu estava presenciando a cena em seu escritório.

— Que surpresa agradável. — Ele ainda acrescentou, quando os dois terminaram o beijo cinematográfico, mostrando que também não sabia da visita da Lavínia.

— Estava com saudades de você, meu amor. — Ela retribuiu as palavras de carinho.

Eu me contive para não atrapalhar o momento do casal de pombinhos, mas quase revirei os olhos de tédio, pois eu realmente não acreditava que todo aquele amor fosse de fato verdadeiro.

E eu não estava me referindo apenas no que dizia respeito a Lavínia, pois o Aquiles era do tipo que conhecia uma mulher hoje e já se dizia apaixonado, assim como aconteceu com a atriz e, tão rápido como começava, rapidamente chegava ao fim e eu imaginei que não seria diferente naquele caso.

Pelo menos dessa vez eu estava torcendo para isso e o Aquiles que não ficasse sabendo sobre isso.

Mas o que acontece é que eu não queria ter ligação alguma com a Lavínia e nem saberia dizer com certeza por qual motivo.

— E você, querido? — Lavínia perguntou e demorei um pouco para entender que ela estava me direcionando àquela pergunta.

— O que tem eu? — Perguntei, fingindo não entender.

— Ah, querido! Você é sempre tão desatento. — Lavínia falava batendo os cílios e fazendo charme, ao acrescentar caras e bocas as suas falas, tal qual estivesse em uma cena de teatro. - Estou perguntando como você está!?

— Tudo tranquilo por aqui. — Respondi de modo sucinto e tampouco retribuí a pergunta, pois eu realmente não desejava ficar trocando cordialidades, quando eu não me sentia nenhum pouco disposto a isso.

— Fico feliz que esteja tudo bem com você, Murilo. Eu também estou muito feliz por estar com o Aquiles, a gente se dá muito bem e temos vários planos para o futuro, não é mesmo, amor? — Falou, visivelmente, na intenção de fazer o assunto render.

— Muitos planos, mesmo! - Aquiles brincou.

Olhei para os dois com desagrado, antes que o meu primo e sua namorada "do momento" resolvessem me contar quais eram esses planos e, eles, enfim se separaram um do outro e o Aquiles caminhou até a sua cadeira e voltou a sentar.

— Eu vou deixar que continuem a trabalhar. — Lavínia acabou por dizer, quando percebeu a tensão na sala.

Ela foi até o jogo de sofás em um dos cantos da sala e sentou, parecendo bem confortável em seu lugar.

A sensação de incredulidade se formou dentro de mim, pois eu concluí que ela pretendia simplesmente sentar ali e ficar… aquilo era demais, pois eu não iria conversar com o Aquiles enquanto a Lavínia nos observada e resolvi que era melhor aguardar um outro momento, quando o meu primo estivesse realmente disposto a me ouvir, com atenção e sem plateia.

Após sair da sala do Aquiles, voltei para minha própria sala e sentei em minha cadeira me sentindo extremamente irritado com esse novo relacionamento do meu primo.

Era, para dizer o mínimo, constrangedor estar no mesmo ambiente que eles dois e não estava me referindo às demonstrações de afeto entre eles.

Eu estava me referindo ao fato de que há menos de uma semana atrás, eu estava fodendo a Lavínia e, na mesma noite, o Aquiles estava fazendo a mesma coisa.

Se a ele aquilo não incomodava, para mim sim e, principalmente, porque eles estavam namorando.

A partir desse episódio eu cheguei a conclusão de que não era tão liberal quanto eu imaginava ser, pelo menos não no sentido da minha própria vida sexual.

Ao que tudo indicava, eu era um homem mais restrito no que se referia a esse assunto, e após sair da sala do Aquiles, cheguei a algumas conclusões sobre a minha própria vida.

Tudo o que eu queria, pelo menos no momento, era ter um relacionamento estável, com a mãe do meu filho, claro, e que nós pudéssemos ser fiéis um ao outro.

A minha relação com a Bruna me deixou ressabiado e eu passei alguns meses sem querer me envolver nem mesmo sexualmente com ninguém, e agora, tudo havia mudado em minha cabeça.

Mandei mais uma mensagem para a Virgínia, mesmo sabendo que ela não iria responder.

Murilo: Passando para te desejar um ótimo dia.

Murilo: Espero que esteja tudo bem com vocês.

Murilo: Quando se sentir pronta, estou aqui.

Era para ser apenas uma mensagem, mas acabei mandando três e estava tudo bem. Eu só precisava que ela se sentisse segura e esquecesse a sua ideia fixa sobre a minha condição financeira ser algo negativo para a nossa futura relação.

Meus pensamentos foram interrompidos pela minha secretária, que ligou avisando sobre a reunião da diretoria, ou melhor dizendo, me relembrando, pois eu tinha esquecido totalmente do fato.

Aquele não era um bom dia para encarar a Bruna e, muito provavelmente, Ethan Constantino e fiquei andando por minha sala de um lado a outro, me sentindo encurralado.

A verdade é que dificilmente algum dia seria um bom dia para enfrentar aquele casal de cretinos, ainda mais quando eu me sentia tão incerto sobre o meu futuro.

Se aquilo tivesse acontecido antes de eu conhecer a Virgínia e, principalmente, antes de saber que ela estava esperando um filho meu, eu me estaria blindado para os enfrentar.

A raiva era um excelente escudo de proteção e eu a possuía em excesso antes da noite do leilão.

Hoje, tudo o que eu sentia era asco. Nada, além disso.

Entrei em contato novamente e pedi a minha secretária que fosse pessoalmente à sala do Aquiles, pois, com toda a certeza, ele também não se recordava sobre essa reunião de hoje.

Usei o tempo que ainda faltava para a reunião ter início e me debrucei sobre todas as informações que a minha secretária havia providenciado a meu pedido e me inteirei de todos os dados, assim como constatei a necessidade de o detentor de trinta por cento de nossas ações precisar ter um representante em todas as nossas reunião da diretoria e eu já conseguia imaginar muito bem quem seria.

Aliás, eu tinha convicção de que não apenas o representante estaria presente, como também a possuidora da parcela de ações e eu precisava aprender a lidar com aquele fato concretizado, a não ser que conseguisse que a Bruna me vendesse a sua cota de ações, algo bastante improvável de acontecer, tendo em vista todos os fatores envolvidos, mas um homem era livre para sonhar.

Quando a Arlete, minha secretária, entrou para avisar que todos já estavam me aguardando na sala de reuniões principal, que ficava no mesmo andar da presidência, onde eu mesmo estava instalado, eu peguei o meu notebook e aparelhos celulares, assim como minha pasta e segui ao lado dela para a sala em questão, pois a hora da verdade havia chegado.

Ao entrar na sala, a primeira pessoa que notei foi a Bruna, que estava belíssima em um conjunto de blazer e calça social clássica na cor vermelha, acompanhada de uma blusa branca por baixo.

Ela estava usando o seu batom vermelho de sempre, algo que ela não abria mão nem mesmo em momentos mais sóbrios e que pediam uma cor mais discreta e eu senti uma pontada no peito, pois vários flashes de recordações de momento juntos passaram por minha mente em questão de segundos.

Mas em um segundo momento, eu trouxe a lembrança da descoberta de sua traição e de todos os momentos em que eu servi de chacota no meio empresarial e o momento nostálgico foi rapidamente esquecido, dando lugar a raiva que me acompanhou por meses.

Com esse sentimento no peito, caminhei até a cadeira que ficava na ponta da mesa e anunciei o início da nossa reunião mensal de diretores e os pontos que seriam discutidos naquele mês.

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