Além do horizonte romance Capítulo 16

– Padre? Podemos ir? – Disse Leandro de malas nas mãos, esperando pelo sacerdote na frente da igreja.

– Claro meu jovem, se não se importar em ir de charrete?

– Claro que não. – Estar nesse fim de mundo não era bem o que eu queria, graças a meu pai que me obrigou a escolher entre um internato ou a vida no campo. Eu decidi vir para cá escolher uma bela casa e me morar por um tempo e por causa da vida de jogatina e mulheres, meu pai tomou essa maldita decisão e já que eu estava ali, iria procurar alguma forma de me entreter.

Horas depois naquela charrete que sacudia mais do que qualquer outra coisa nesse mundo e da conversa fiada daquele sacerdote, que só sabia falar da vida alheia, avistamos uma grande propriedade.

– Esta é a casa de seu primo!

– Sem dúvidas ele se estabeleceu bem por essas bandas, já deve estar curado da lesão pulmonar. – Que por certo adquiriu ao se deitar com mulheres de vida libertina.

– Sim, tem se alimentado bem e agora se cuida muito melhor do que antes. Com uma esposa jovem como Guadalupe ele precisa manter a saúde.

Me admirava o humor ácido desse senhor de batina, não posso negar que as suas palavras me fizeram ficar ainda mais curioso a respeito da esposa de meu primo. O padre retirou o chapéu, devia ser um costume e fiz igual, batemos na porta.

Amélia estava na cozinha, Atílio e Guadalupe já haviam tomado seu café da manhã e dedilhavam o piano.

– Viu como está aprendendo rápido princesa, daqui a poucos dias vai me superar e tocar com muito mais destreza.

– Diz isso por que me ama! – Ela demonstrou tristeza, apesar de sempre ser encorajada a se esforçar para ser igual aos demais, haviam coisas que ela não poderia ser capaz de fazer.

– Quanto a isso, não posso negar. Te amo e te amo! – Diz ele, os dois sorriram e começaram a se beijar, ela sentou-se em seu colo e os carinhos começaram a ficar quentes. Atílio desabotoava os botões de seu decote enquanto ela gemia de desejo sabendo onde gostaria de terminar...

O padre já se sentia de casa, abriu a porta e os dois entraram. Leandro ouviu o som das teclas do piano serem tocadas aleatoriamente pelos amassos e trocas de carinhos dos dois e os flagrou naquela cena excitante.

Leandro

Aquela jovem linda de olhos verdes ao ser acariciada por ele, me olhava dentro dos olhos e eu jamais havia contemplado nada mais belo e excitante.

Forcei uma tosse...

Atílio os olhou assustado, enquanto fechava o decote da esposa que estava quase a mostra e a tirava de seu colo se levantando em seguida.

– Leandro? – Atílio perguntou assustado ao fechar os últimos botões do vestido da esposa.

– Aqui estou, primo!

Os olhos dele estavam presos aquela jovem e ele tentava por tudo disfarçar o interesse.

– Vim te trazer essa encomenda. – O padre fez o trocadilho e sorriu, Guadalupe entrelaçou seus dedos à mão de seu marido, ainda estavam constrangidos pelo flagra e principalmente ela ao ter sido vista por aquele homem desconhecido.

– Padre a tanto tempo que não vinha me ver! – Ela retomou forças para dizer.

– Está mais linda do que eu me lembrava, filha.

– Deve ser por que estou feliz!

– Não vai me apresentar? – Leandro olhou para o primo e depois para ela.

– Claro que vou, essa é minha esposa Guadalupe.

Leandro estendeu a mão, obviamente ela não podia ver e corresponder ao seu gesto. Ela sorriu inocentemente...

– Muito prazer senhor!

Leandro

Passei alguns minutos tentando assimilar aquele fato, meu primo, o grande violador de mocinhas estava casado e apaixonado. E ainda mais do que isso, com uma donzela cega!

– Leandro? Meu filho o que faz aqui? – Amélia ficou feliz em vê-lo.

Dei um forte abraço em Amélia, assim como criou Atílio ela também me viu crescer.

– A senhora conhece meu pai, ele cordialmente me mandou escolher entre uma vida regrada no campo ou um colégio interno. Quer me controlar se esquece de que aos 28 anos, não sou mais o filhinho dele!

– Vamos nos sentar. – Atílio cortou a fala do primo e eles foram se sentar um momento.

– Vou servir um lanche. – Amélia saiu para preparar.

– Com licença, vou ajudar Amélia. – Guadalupe ainda estava tímida, mas sabia que eles teriam muitas coisas para conversar.

Ela andava pela casa como se pudesse ver, era intrigante como tinha total independência e eu não conseguia parar de olhar e pensar nela.

– Então meu velho tio Raul Emanuel, resolveu te colocar na linha primo!

– Exatamente, ele também pretende vir a passeio ou mesmo para estabelecer moradia. Quer que eu compre uma boa casa e quem sabe me case por aqui.

Atílio começou a rir, sabia bem quem eu era.

– Por que a graça? – O padre questionou.

– Meu primo é do tipo que não se amarra a nenhuma mulher nesse mundo padre.

– E você sempre foi um pouco pior que eu, não perdoava nem mesmo as nossas primas! – Leandro revelou a sorrir.

Guadalupe estava com uma bandeja, ia deixar sobre a mesa, mas depois de ouvir aquela frase incômoda calculou errado e as xícaras caíram e se quebraram assustando a todos.

– Perdoem-me! – Guadalupe sentiu-se mal e envergonhada.

Amélia se abaixou e tocou a mão dela, antes que alcançasse os cacos.

– Deixe que eu cuido disso filha.

Ela saiu, não queria mais ouvir nada daquilo, pois ainda que fosse passado magoava seu coração.

– Espere... – Atílio pediu a ela.

– Não devia ter dito isso filho. – O padre olha com uma expressão condenatória para Leandro.

– Perdoem-me por ter dito isso, mas achei que ela soubesse das suas travessuras do passado! Mas vamos mudar de assunto, acha que por essas bandas posso conseguir uma boa mansão como a sua? – Leandro tentou mudar de assunto.

– Quem sabe, podemos procurar! Amélia, peça a Sebastião que leve as malas de Leandro para o quarto de hóspedes lá de cima... – Atílio fez o pedido e Amélia ia cumprir sua ordem.

– Agora que o rapaz está entregue eu já vou indo, tenho que ir a uma fazenda vizinha para dar a extrema unção a dona Lucrécia.

– Eu o acompanho padre. – Amélia e o padre saem.

– Fique à vontade primo Leandro, a casa é sua!

– Vá consolar sua princesa, depois conversamos mais.

Os dois sorriram e Atílio subiu as escadas, entrou no quarto e Guadalupe estava deitada de lado apenas sozinha com seus pensamentos. Ele chegou de mansinho e se deitou abraçando-a.

–Não fique pensando em coisas do passado, nenhuma garota desse mundo me faz ou fez feliz, como você faz!

– Por que é divertido para os homens partir corações assim?

– Era divertido por que eu não sabia o que era amar, agora eu sei que morreria se alguém tirasse você de mim!

Ele a abraçou, enquanto isso Leandro passava por aquele corredor em direção aos quartos. Parou para ver aquela bela cena pela fresta da porta...

– Então me abraça forte e me prometa que nunca vai me abandonar.

– Eu te prometo minha princesa, nada nesse mundo será capaz de nos separar, só a morte!

Os dois se beijam.

Leandro entrou em seu novo aposento, ficou a pensar...

Atílio está diferente, não sei se é possível que uma mulher transforme tanto a natureza de um homem como ele. O fato é que apesar de cega, ela é muito linda e tem um jeito especial de se deixar tocar, pude perceber pelos carinhos que trocavam e como ela se entregava a cada um deles. Como seria estar com uma jovem bela e que não pode ver? Como seria estar contigo, Guadalupe?

– Gostou de seu novo quarto? – Amélia perguntou, trazendo-o de volta de seus sonhos e desejos.

– É de veras aconchegante e arrumado, meu primo Atílio está vivendo em um verdadeiro paraíso!

– E não estranhe os gemidos noturnos dessa casa filho, eles estão em eterna lua de mel e você conhece bem seu primo.

– Sim Amélia, eu o conheço bem.

Os dois sorriram, Amélia estava feliz por ter ele ali...

O padre resolveu ir até a casa de Saulo, já que estava pelos arredores queria dar seu apoio a família já que Gabriel havia desaparecido.

– Padre, entre por favor. – Luíza abriu a porta para ele, convidando-o.

– Sua mãe está em casa?

– Minha mãe foi até a casa de Nora, para dar um banho de ervas no bebezinho dela que acabou de nascer.

– Imagino como vocês estejam depois dessa partida repentina de Gabriel.

– Sente-se padre. Meu irmão perdeu o juízo por causa do que sente pela Lupe, por que crescemos juntos ele se acha dono dela. Tentamos fazer ele entender que é caso perdido sofrer por ela, por que está casada com Atílio agora, mas ele não entende.

– Ele vai aceitar, mesmo que precise de tempo para isso. Tenho fé que esse sentimento tão belo que ele cresceu sentindo por ela, não se converta em ódio e envenene a sua alma. Amo Gabriel, você e Lupe como meus filhos, os vi crescer e quero que encontrem sua felicidade.

– Sim padre, eu sei que sim!

– Falando nisso, trago notícias de Guadalupe e ela está feliz com Atílio.

– Graças a Deus que eles se acertaram de uma vez por todas.

– Hoje eles receberam a visita de um primo dele que veio da cidade, pelo que me disse pretende se estabelecer por aqui.

– E ele é jovem? – Luíza perguntou muito curiosa.

– Sim e bem apessoado, acho que deveria fazer uma visita a ela.

O padre sabia que poderia ser uma boa oportunidade para ela conhecer aquele rapaz, Luíza era muito diferente de Guadalupe. Sempre sonhou em se casar e formar uma grande família, mas quase nunca saia de casa e vivia entregue ao trabalho na roça. Apesar de bela, ainda não havia tido a chance de conhecer alguém especial.

– Sim senhor, mas não pense que irei para ver o rapaz padre. Sinto falta de conversar com Guadalupe.

– Eu sei que sim! – O sacerdote sorriu maliciosamente.

O padre esperou mais um tempo, mas nada da matriarca daquela família chegar. Ele precisava voltar para a cidade, pois tinha uma cerimônia ainda naquele dia para realizar.

Luíza ficou pensando naquele rapaz, como ele seria e se de verdade poderia chegar a sonhar com alguém como ele.

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