Além do horizonte romance Capítulo 17

Mais tarde naquele dia...

Amélia bateu na porta do quarto de Leandro para avisa sobre o jantar.

– O jantar será servido em poucos minutos, filho.

– Vou tomar um banho e descerei em alguns minutos Amélia. – Leandro respondeu ao se levantar da cama.

No quarto ao lado Atílio e Guadalupe também se arrumavam para jantar.

– Descerei para ajudar Amélia a organizar as coisas.

– Tenha cuidado princesa.

– Eu já aprendi a andar pela casa e a perceber cada degrau da escada, não precisa se preocupar.

Atílio deu um beijo nela, Guadalupe saiu do quarto e foi em direção a escada. Passo antes pelo corredor, Leandro viu a sombra dela passar pela porta e resolveu sair também, ainda dobrando os punhos da camisa.

Ficou olhando a delicadeza com que ela passava a mão pelo corrimão da escada, contando minunciosamente cada passo que dava.

– Sua independência é tão admirável quanto sua beleza. – Leandro diz quebrando bruscamente o silêncio daquele lugar.

Ela se assustou e calculou errado a distância, sentiu o chão sair de seus pés e só não caiu escada abaixo, por que Leandro a segurou forte pela cintura. Ela podia sentir sua respiração acelerada, rente aos seus lábios e quase tocando-os com os dele.

– Me assustou. – Ele disse ainda respirando fundo.

– Mil perdões moça, não foi minha intenção. Posso te oferecer meu braço para descermos?

– Sim, ainda estou tremendo de susto.

Ele olhou para os lados se certificando de que ninguém os havia flagrado tão próximos assim, pegou a mão dela e acomodou em seu antebraço descendo devagar os degraus que faltavam.

– Pronto, agora sim terra firme!

– Obrigada Leandro, tenho que ajudar Amélia com os afazeres. Mas Atílio já vai descer para te fazer companhia.

– Vá tranquila! – Ele disse acompanhando a saída dela, era como se os olhos dele estivessem presos ao corpo dela por um magnetismo que só o desejo é capaz de explicar.

Guadalupe

Aquele homem havia me segurado de uma forma tão estranha, mas ele é primo de Atílio e eu devo estar imaginando coisas. E sendo jovem como parece, acho que Luíza deveria conhecê-lo. Sinto falta da sua companhia, ela sempre sonhou em se casar e ter muitos filhos, mas o destino quis que eu me casasse primeiro.

– Pensativa Lupe?

– Não Amélia, vim apenas para te ajudar.

– Eu já fiz tudo princesa, já disse que aqui você é a patroa e não deve se cansar com serviços domésticos.

– Mas eu gosto de ajudar, assim preencho meu tempo e também uso isso como um pretexto para conversar com a senhora.

Amélia sorriu e a abraçou.

– Não precisa de pretexto nenhum para vir conversar é como uma filha que a vida me deu.

Na sala, Atílio descia as escadas e via o primo ainda cheirando a camisa, buscando um cheiro em especial e que ele sequer imaginava qual seria.

– Algum problema com a camisa? – Atílio perguntou.

– Nada, apenas dando uma desamassada da viagem.

– Vamos nos sentar um instante, enquanto elas terminam de aprontar o desjejum. Pensa de verdade em viver aqui? – Perguntou Atílio antes de se sentar.

– Meu pai insiste, quer netos e que eu forme uma família.

Leandro gargalhou.

– Posso te dizer com propriedade, que a melhor decisão que já tomei na vida foi a de me casar com Lupe.

– Então está mesmo apaixonado? – Leandro pergunta, mesmo prevendo qual seria a resposta.

– Completamente apaixonado.

– Me perdoe a pergunta Atílio, mas é que nunca te imaginei casado e muito menos com uma garota cega.

– Isso não faz dela menos mulher que as outras, pelo contrário, jamais tive uma mulher como ela, em todo os sentidos.

– Quem sabe eu não possa conseguir um dia, alguém assim como a sua mulher.

– Claro que vai Leandro, só precisa deixar de ser como eu era, orgulhoso!

– O jantar está servido. – Guadalupe surgiu na porta da sala de jantar e os comunicou.

Atílio se levantou pegou na mão da esposa e os três foram para a mesa de jantar.

– Pensam em aumentar a família?

– Claro que sim primo, quero um varão!

– Não sei, acho que ainda é cedo para falarmos sobre isso. – Guadalupe respondeu demonstrando que aquele assunto a incomodava e muito.

– Nada de cedo, tem que ser mãe enquanto é jovem e disposta! – Amélia respondeu enquanto cortava o bolo e os servia.

– Perdoem-me, mas concordo com Lupe, é necessário que um casal descubra muitas coisas um do outro, até que possam dar um passo como ter filhos. – Leandro tratou de demonstrar sua parcialidade para com ela.

– Leandro está aqui em busca de casamento.

– Não é bem assim Atílio...

– Lupe deveria apresentar a ele aquela mocinha que fez crisma e que sempre andavam juntas. – Amélia recordou-se de Luíza e sabia que era uma jovem de valor, assim como Guadalupe.

– Luíza, é uma boa moça. – Guadalupe sorriu ao falar da melhor amiga.

– E de boa família, faremos um convite a ela, claro, se você concordar. – Atílio sorriu e propôs aquele encontro.

– Claro que concordo primo, será bom para que eu possa fazer novas amizades.

Leandro

Fiquei pensando em como poderia ser essa garota, mas o fato é que a esposa de meu primo estava se tornando uma verdadeira obsessão. Não encontro outra palavra que possa definir o que estou a sentir, desde que a vi nos braços dele.

O fato de ainda não terem filhos, casamentos são desfeitos mais facilmente quando não existem elos tão grandes como um laço genealógico. Lamento primo, mas se ela me quiser nada me fará recuar e nem mesmo nossos laços de sangue.

Guadalupe

Seria bom para Luíza conhecer um rapaz da cidade, distinto e de boa educação. Quem sabe eles poderiam se gostar e construir um amor bonito e sólido, acima de tudo que não comece de maneira triste como o nosso.

Por mais que as mágoas tenham ficado no passado, nossa história permanece e ela tem um início, que foi muito doloroso.

Terminamos o desjejum, eu quis ajudar a lavar a louça, mas Amélia não permitiu e muito menos Atílio, o dia passou muito depressa e sempre era assim desde que nos casamos. Ouvi o som dos animais noturnos e meu amor todas as noites tinha pressa em me levar para o quarto.

– Fique à vontade primo, é que nos deitamos cedo aqui nessa casa. – Atílio a pegou nos braços, sem qualquer constrangimento pela visita e foi subindo as escadas enquanto ela sorria envergonhada.

– Eu te entendo primo, eu te entendo! – Fui para o meu quarto, fiquei a ouvir ela sorrir enquanto ele a tocava e posso imaginar como. E eu percorreria minha língua por cada centímetro da sua pele, até que ela implorasse para que a penetrasse aos gritos de prazer.

Atílio não a merece, não para sempre. Sempre dividíamos as coisas no passado e agora não será diferente, a mansão que preciso escolher poderá esperar mais tempo e quanto a tal Luíza. Ela pode se tornar uma boa distração, mas não abro mão de ter a mulher dele.

Não seria a primeira mulher casada a passar pela minha cama, mas darei a ela um trato mais do que especial!

Não consegui ler quase nada, ouvindo os gemidos dos dois.

– Inferno de vida, aproveite Atílio aproveite enquanto pode!

No dia seguinte depois do café da manhã, Atílio pediu a Sebastião que fosse até a fazenda de Saulo.

– Diga que o convite é meu e de Guadalupe, tenho certeza de que não irá recusar. – Atílio tinha pressa em fazer com o primo conhecesse uma mulher especial e deixasse a vida boêmia assim como ele.

Sebastião montou em seu cavalo e foi em direção ao rancho.

– Dona Margareth, vim a pedido de meus patrões para dar um recado a sua filha Luíza. – O peão diz olhando para a casa, buscando ver Luíza.

– Vou chamá-la. – Margareth entrou no rancho e poucos minutos depois Luíza veio correndo até ele, cabelos cacheados ao vento deixando-o impressionado com sua beleza.

– Mandou me chamar Sebastião.

– Sim senhorita Luíza, Guadalupe e Atílio me pediram para convidá-la para o jantar dessa noite. Querem que dê as boas vinda ao primo dele que chegou de viagem da cidade grande.

– Diga que sim, eu irei e com muito gosto! – Ela sorriu, estava com saudades da amiga que não via a dias.

Ela saiu feliz e satisfeita, o padre já havia dito a ela sobre a presença do tal primo da cidade. Ela estava ainda mais ansiosa para conhecer esse tal rapaz.

Sebastião tocou o cavalo, uma tristeza entrou em seu coração ao perceber o que pretendiam com aquele jantar. Sempre achou Luíza, uma boa e bela moça e aguardava o momento certo de se declarar, agora havia se dado conta de que esperou demais.

– Vão querer juntar os dois, por certo que é isso. Luíza não pode cair nos braços daquele homem. Atílio mudou por amor, mas ele não e a maldade está clara em seus olhos maliciosos até mesmo para cima de Guadalupe!

Luíza entrou feliz em casa e se encostou na porta ao fechar.

– Aposto que Sebastião aproveitou o recado e por fim se declarou a você! – Margareth se senta na cama com a filha.

– Está muito equivocada mamãe, não se trata dele. Atílio e Lupe me convidaram para o jantar e há um primo dele que veio da cidade para cá, deve estar querendo conhecer as mocinhas daqui. Por certo, assim como Atílio ele pretende se casar e se estabelecer por aqui.

– Filha é melhor ir devagar com as expectativas, não sabemos quem é esse rapaz e de fato o que pretende por aqui. Por que não se acerta de uma vez com um bom moço e trabalhador como Sebastião?

– Sebastião não me agrada em nada, apesar de bonito é xucro e rude. Eu quero um homem romântico e cheire a perfume como Atílio ou o primo, não a esterco feito um peão! – Luíza se enfureceu ao dizer o que achava da ideia da mãe de juntar ela e Sebastião.

– Nunca te ouvi falar assim antes.

– Só vou me casar por amor mamãe, não vou ficar feito uma boba pelos cantos ou me perder no mundo como Gabriel. Mas não se preocupe, não sou tola e saberei escolher o que é melhor para mim.

– Eu espero que sim Luíza, já basta o que seu irmão tem nos feito desde que se foi sem nos explicar nada.

Guadalupe

Eu estava na cozinha lavando algumas verduras enquanto cantarolava uma poesia que Gabriel costumava declamar enquanto me empurrava no balanço de madeira. Me bateu uma saudade da infância e da amizade dele, como eu gostaria que ele fosse feliz como eu sou agora.

– Depois fui conhecer teus encantos deliciosos e tive seu corpo ardente...e...e... – Eu tentava me lembrar, mas não conseguia.

– Seus mistérios invisíveis eu já tinha adivinhado, no quadril a forma pura, breve gentil cintura, o teu busto torneado! – Leandro a declamou, ele sabia perfeitamente.

– Conhece tão bem essa poesia.

– Sim Guadalupe e ela é de um autor anônimo, seja quem for que tenha te ensinado a declamá-la, se esqueceu de te dizer o quanto ela é erótica.

– Erótica? – Não sei bem o sentido da palavra, mas acredito que não seja apropriada para uma dama.

– Fala sobre a beleza do corpo feminino, sinuoso e quente.

Eu sorri, Gabriel talvez não soubesse naquela época o que significava tendo em vista que éramos muito crianças. Ou talvez soubesse e já sentisse o que diz sentir por mim.

– Precisa de alguma coisa Leandro?

– Apenas de água, mas já encontrei. Posso te fazer uma pergunta de cunho pessoal?

– Se não for ofensiva. – Fiquei preocupada, apesar de saber que por ser primo de meu marido eu não teria por que me preocupar com ele.

– Como conseguiu convencer meu primo a se casar? Pergunto isso por que sei que ele nunca foi do tipo de cavalheiro romântico e que almejava constituir uma família!

– É uma longa história, mas prefiro que ele te diga se assim achar conveniente.

– Certo, com licença e me desculpe por atrapalhá-la Lupe.

Segundos depois Amélia entrou na cozinha com algumas folhas para o tempero.

– Estava conversando com Leandro?

– Não sei se é uma boa ideia apresentá-lo a Luíza. – Amélia deve ter ficado surpresa com minha mudança repentina de opinião sobre ele.

– E por que diz isso?

– Por nada em especial, eu apenas sinto.

– Se é por ele e Atílio terem sido mulherengos, isso ficou no passado. Não vê como ele mudou por você?

– Pode ser que esteja certa Amélia, só não quero que Luíza sofra. Ela é uma boa moça, quero que ela viva um amor feliz e que não comece cheio de dor como...

Abaixei a cabeça.

– Como o nosso? – Atílio respondeu por mim.

– Atílio?

– Ainda sente mágoa por tudo o que fiz, não é?

– Eu volto depois. – Ouvi os passos de Amélia nos deixando com aquele assunto pendente.

– Não é isso, eu perdoei de todo o coração, mas não posso negar que gostaria de termos começado nosso amor de outra forma.

– Não consigo mudar o passado, gostaria de poder fazer isso, mas não posso.

– Esqueça o que eu disse, eu te amo e você me ama e só isso importa de agora em diante.

– Sim!

Nos beijamos.

Leandro

Saí da cozinha ainda mais curioso do que havia entrado e fiquei na frente da casa acendendo meu charuto, Atílio não se casaria forçado então o fato é que realmente se apaixonou por ela.

Comentários

Os comentários dos leitores sobre o romance: Além do horizonte