Além do horizonte romance Capítulo 9

Ester penteava os cabelos longos e negros da filha, naquela manhã Leonel havia saído bem mais cedo do que de costume para ir até a cidade buscar insumos para o jantar de noivado que dariam naquela mesma noite...queria dinheiro também, para pelo menos dar a filha um bom vestido de noiva.

– Mamãe, como foi quando se casou com o papai? – Indagou Guadalupe.

– Nós mal nos conhecíamos, seu avô havia acertado nosso casamento e então na véspera da cerimônia eu o vi. – Ester sorria ao se lembrar do passado.

– Só viu meu pai um dia antes?

– Sim, fiquei muito tímida e ele também, mas eu o achei um belo rapaz, forte e de um sorriso muito encantador.

– Então de certa forma a senhora já o amava.

– Não e temia muito como seria a vida ao lado dele, isso que está sentindo é natural e ainda mais por que Atílio é um homem muito difícil de lidar.

Ela foi para a frente da filha e segurou suas mãos.

– Acho que não é bem isso o que quer me perguntar, estou certa filha?

Guadalupe abaixou a cabeça e suspirou.

– O que vai acontecer mamãe? Sempre ouço as meninas dizerem que temem a primeira vez...primeira vez do que?

– Eu devia ter falado sobre isso com você desde sempre, mas quis te proteger demais e elas falavam sobre a primeira noite de amor de um casal. – Ester não sabia se deveria dizer exatamente o que a filha deveria esperar desse momento.

– Mas amor não é um sentimento que se constrói ao longo do casamento e da convivência?

– Sim, mas quando um homem e uma mulher se casam, eles dormem juntos e unem seus corpos se tornando um só. Esse período inicial de casamento, se chama lua de mel.

– E como isso acontece?

– Deus, como posso te explicar isso? – Ester se levantou e deu algumas voltas pelo quarto.

– Eu só queria saber, como devo me comportar nessa tal lua de mel?

– Apenas seja assim, doce e feminina como é....Atílio irá tocar o seu corpo e ficarão sem roupas.

– Isso parece muito estranho.

– Vai aprender a gostar, mas quer saber de uma coisa? acho que será melhor que descubra no momento certo e não fique pensando nisso. Está bem?

– Sim senhora. – Guadalupe confirma com um sorriso.

Ester finalizou um penteado na filha e foi para a cozinha.

– Pobre da minha filha, aquele homem parece ser tão frio e prepotente. Que ao menos ele saiba ser carinhoso com ela nesse momento.

Ela ouve baterem na porta.

– Quem será assim tão cedo?

– Bom dia dona Ester, Guadalupe está? – Ele retira chapéu e assente com a cabeça.

– Sim, bom dia Sebastião.

– É que eu venho a pedido do meu patrão, ele mandou alguns presentes para a senhorita e seus pais.

– Presentes? – Perguntou Guadalupe ao ouvir parte do assunto.

– Sim...são seis vacas leiteiras, um casal de cavalos, dezoito porcos e algumas galinhas que eu nem pude contar.

– Diga que agradecemos, mas não poderemos aceitar! – Ester se enfurece.

– Sim, iremos aceitar mamãe.

– Mas filha?

– Obrigada Sebastião, diga a ele que somos muito gratos.

– E ele disse que ainda essa semana, os outros peões e eu iremos arrumar as cercas e os estábulos aqui do rancho para que tudo fique mais seguro.

– Está bem.

Depois que ele e os outros homens foram embora...

– Filha não devia ter aceito esses animais.

– Ele vai ser meu marido, devia estar feliz por ele se preocupar com a senhora e com o papai também.

– Me perdoe, mas é que eu ainda tinha esperança de que no último instante você desistisse dessa loucura.

– A senhora e o papai ficarão bem, agora eu posso ficar mais tranquila. Por que não vai faltar nada a vocês.

Tantos sacrifícios que minha filha fazia para ver a mim e ao pai dela bem, doía na alma vê-la casando sem amor e sem esperanças de ser feliz.

Na casa de Atílio...

– Quero que amanhã vá até a cidade, compre roupa de cama e quero lençóis de cetim os melhores que encontrar e não se preocupe com preço. – Solicita Atílio ao olhar para a própria cama.

– Tudo isso para agradar a mulher a quem você diz não amar? – Amélia ironiza.

– Bom se ela vai ser minha mulher, ao menos que enquanto estiver aqui seja bem tratada.

– Sei e o que mais?

– Essas coisas de mulher, roupas íntimas, perfumes ah e no dia de nosso casamento quero que encha essa casa de flores. Ela não pode ver, mas vai sentir o perfume de cada uma delas.

– Certo! – Confirma a governanta.

Sebastião chega.

– Com licença patrãozinho e dona Amélia.

– Já entregou o que pedi?

– Sim, dona Ester quis devolver tudo, mas Guadalupe não permitiu e agradeceu de todo o coração. – Diz Sebastião do lado de fora do quarto.

– Obrigado e pode voltar ao seu trabalho. – Atílio agradece enquanto Amélia entra para arrumar o quarto.

– Com licença. – Sebastião se retira.

– Confesso que me surpreende essa atitude dela, achei que também recusaria. Isso é um bom sinal, mostra obediência e submissão! – Atílio se alegra, Guadalupe estava cedendo a ele.

– Pois para mim parece o contrário. – Retrucou Amélia, dobrando a roupa de cama.

– Como o contrário?

– Em breve você irá entender filho.

Amélia saiu sorrindo e pensativa, Atílio ficou sem entender absolutamente nada.

Pobre menino Atílio, acha que tem as melhores cartas, mas esse jogo já virou a muito tempo. Está apaixonado por ela e sequer percebeu!

Anoitece.

Guadalupe e Ester haviam recebido a ajuda de Luíza para preparar o jantar daquela noite.

– Me perdoe Lupe, mas meu irmão Gabriel não virá. – Diz Luíza trocando o forro da mesa.

– Eu já esperava por isso.

– Com o tempo eu sei que ele vai se conformar com a situação!

– Sim...o tempo cura todas as feridas. – Afirma Ester, cozinhando.

Elas prepararam um verdadeiro banquete, era uma comida simples de fazenda, mas de encher os olhos. Guadalupe se arrumou com o melhor vestido que tinha, Leonel viu todos aqueles animais. Ficou irritado e quis tomar uma atitude.

– Esse homem acha que pode ganhar tudo com dinheiro! – Resmungou.

– Ele nos deu de presente pai, devemos agradecer ao invés de sermos orgulhosos.

– Você não vê o quanto ele nos humilha com essa atitude Guadalupe?

A porta estava aberta e os convidados foram entrando...

– Nunca foi minha intenção humilha-los! – Atílio os surpreende naquela conversa.

– Atílio? – Ester pergunta em meio ao susto.

– Entre por favor. – Guadalupe pede.

Atílio e Amélia entram e aquele clima constrangedor se instalou de vez e Ester precisava fazer alguma coisa.

– Filha leve seu noivo até a sala de jantar. – Pediu Ester,

– Sim, vamos?

Atílio foi até ela e pegou sua mão colocando-a em seu antebraço, Guadalupe foi levando-os até lá.

– Você está muito linda! – Diz ele ao conferir sua amada.

– Sentem-se e fiquem à vontade, vou ajudar mamãe a arrumar as outras coisas.

– Quero que sente aqui ao meu lado, hoje é nosso noivado e você não tem por que se cansar. – Atílio pega na mão dela e a impede de sair.

– Seu noivo está certo filha, sente-se e eu vou ajudar na cozinha. – Amélia saiu deixando os dois a sós.

Guadalupe respirou fundo e se sentou ao lado dele.

– Boa noite! – Chega o padre quebrando a solidão do jovem casal.

– Boa noite padre, sua benção. – Pede Guadalupe.

– Que Deus os abençoe, então finalmente Atílio conseguiu a moça mais valiosa de toda nossa vila?

– Finalmente padre. – Responde envaidecido pegando a mão dela e beijando.

O padre notou que a empolgação vinha apenas dele, Guadalupe estava séria e pensativa.

Depois de servirem aos convidados, Ester e Amélia se sentam a mesa com todos os outros. Saulo e a esposa também estavam lá, Atílio sabia que aqueles eram os pais de seu rival, como o clima estava tranquilo ele sabia que Gabriel não tinha sido capaz de contar a eles da briga quase mortal da noite anterior e estava adorando que estivessem ali para dizer a ele tudo o que aconteceria.

– Um instante da atenção de todos. – Atílio pediu e se levantou.

– Hoje é um dia muito especial, dia esse em que Guadalupe se tornará oficialmente minha noiva. Levante-se princesa, por favor!

Ela se levantou e ele pegou sua mão.

– Você já me deu um anel de compromisso! – Lembrou ela tentando sorrir.

– E muito valioso por sinal. – Amélia ressaltou.

– Isso é pouco para ti.

Atílio tirou uma caixa pequena do bolso e colocou na mão dela, ajudando-a a abrir.

– O que é?

– Um lindo par de brincos filha. – Diz Ester encantada.

– Brincos de esmeralda para combinarem com seu anel! – Atílio mostra aos convidados.

– Não precisava gastar com isso.

Atílio se aproximou colocando os cabelos dela de lado e colocou aquele par de brincos.

– Ficaram perfeitos. – Atílio ficou encantado ao ver a noiva usar as joias.

– Agora todos se levantem e vamos fazer uma oração. – Convida o padre e todos se levantam.

Depois da oração eles jantaram.

– Vamos brindar? – Leonel convidou, ainda que não fosse o genro dos seus sonhos, era o noivado de sua única filha.

Seria um verdadeiro disparate ter que brindar meu noivado com aquele vinho vagabundo. Mas ainda assim eu concordei, não posso desagradar a família da minha futura esposa.

– Claro. – Atílio diz ao levar o copo de vinho até a boca.

– A saúde e felicidade dos noivos! – Diz o padre.

Todos brindaram.

– Podemos conversar um instante lá fora? – Atílio pede a futura esposa, encostando os lábios delicadamente na orelha dela.

– Vão estranhar se sairmos assim.

– Estamos noivos princesa e é natural que fiquemos um pouco a sós.

– Está bem. – Concorda timidamente.

Eles saíram de braço dado, Ester viu e não gostou nada, mas sabia que a filha era ajuizada e não fariam nada de errado.

Eles foram indo em direção ao estábulo onde Raio de sol e os outros cavalos estavam.

– Raio de sol agora pode ter enfim uma namorada! – Disse Atílio e a fez sorrir pela primeira vez.

– Ele é muito especial para mim. – Guadalupe tocou a cerca e se apoiou nela.

– Agora com mais animais precisarão de cercas e uma estrutura mais firme.

– Quero agradecer por tudo, pelos animais e pelos brincos que me deu.

– Eu não mereço mais do que um obrigado? – Ele sorri ao sugerir.

– Sim. – Guadalupe suspirou nervosa.

Ela pegou a mão do noivo e a beijou, ele sorriu. Como homem Atílio esperava muito mais do que apenas esse gesto.

– Me refiro a isso.

Atílio a agarrou encostando nas tábuas e lhe deu um beijo ardente, ele estava tomado pelo desejo e se deixou levar por ele. Alisou os seios dela, percorrendo com as mãos todas as curvas do corpo dela.

– Me solte! – Ele conseguiu dizer ainda que estivesse sendo devorada pelos beijos dele.

– Deixe de ser tão puritana, em poucos dias estaremos casados e isso é só o começo. – Revelou ele rente a boca dela, estava gemendo de tesão.

– Mas ainda não estamos! – Ela gritou o empurrou com toda a força que tinha.

– Não consigo entender que noiva apaixonada é essa que sequer pode me dar um beijo de gratidão?

– Eu nunca disse que te amava Atílio!

Ele arregalou os olhos.

– Depois de tudo isso, ainda cospe na minha cara todo o seu orgulho.

– Você sabe os motivos pelos quais estou me casando, não há por que cobrarmos sentimentos um do outro. Eu não te amo e você não me ama! – Guadalupe decidiu que era melhor deixar claro que não havia entre eles sentimento, Atílio precisava entender que não estava no altar que sempre imaginou.

– Está certa, não há amor, mas se vai ser minha mulher terá que cumprir com suas obrigações.

– Guadalupe - Eu vou cumprir Atílio...eu vou cumprir! –Concordou com a voz embargada e algumas lágrimas nos olhos.

Depois de falarmos todas aquelas dolorosas verdades eu fui em direção a casa, não queria mais ficar sozinha com ele e trocando mais verdades dolorosas.

– Volte aqui!

Ele me segurou pelo punho e eu parei.

– Vamos voltar para dentro, vão notar nossa ausência em breve.

– Seque as lágrimas, podem perguntar o motivo e tenho certeza que ninguém vai acreditar se disser que foi a emoção de se tornar minha noiva!

Sequei rispidamente meus olhos e entrei em casa.

Guadalupe me rejeitava de uma forma que jamais outra havia feito, mesmo depois de lhe dar tantos presentes ainda duvida que dentro de mim haja qualquer apresso por ela. Eu não devia me doer por isso, tudo o que quero é me deitar com ela e seus sentimentos não deviam me importar e muito menos entristecer.

– Eu não posso negar o quanto queria que ela rastejasse de amores por mim, maldição, por mais que eu faça não consigo que você me ame Lupe!

No final do jantar o padre pegou carona com Atílio e Amélia e antes de ir.

– Já estamos de saída. – Atílio se despede.

– Vão com Deus e padre eu gostaria de me confessar antes do casamento. – Guadalupe era muito religiosa, queria por tudo deixar os pecados para trás e começar do zero como mandam os costumes católicos.

– Sim estarei lhe aguardando amanhã na sacristia.

– Se me permite eu também gostaria de me confessar. – Atílio se oferece para ir também.

– Sim, devem os dois estarem livres do pecado para se unirem.

– Virei te buscar às nove horas para irmos Lupe.

– Mamãe irá conosco, não fica bem sairmos sozinhos assim.

Atílio fez uma expressão de decepção, esperava ficar a sós com ela por todo o caminho e tentando adiantar a lua de mel.

– Certo. – Ele foi forçado a concordar.

Ele deu um beijo na testa da noiva e foram embora.

Guadalupe e Ester no quarto...

– Me parece que Atílio está mudando o jeito orgulhoso de ser, mesmo que não demonstre tanto em palavras vejo nos olhos dele que nutre um sentimento por você.

– Não me ama mamãe, disso não há dúvidas. – Guadalupe abaixou a cabeça – Seremos dois estranhos a dividir um lar.

– Diz isso por que infelizmente não pode ver, sabe eu estava muito assustada em te entregar para ele, mas depois de hoje e do modo tão sublime que Atílio te olhava tenho certeza que a única neste mundo capaz de mudar o coração dele é você!

– Dissemos um ao outro a verdade que todos querem fingir não ver.

– O que disseram? – Ester cobriu a filha com o lençol.

– Que não estamos nos unindo por amor! Todos sabem disso, Amélia por que é como mãe dele, a senhora e o papai sabem por que conhecem meu coração e os outros fingem se enganar por conveniência.

– Não devia ter dito a ele que não o ama, mesmo que talvez seja verdade, você partiu o coração dele.

– Foi bom para que ele deixe de ser tão egocêntrico.

– Não veja seu casamento como uma batalha, ele é muito mais poderoso e tem armas para te fazer sofrer muito se quiser.

– Eu também posso causar sofrimento a ele. – Ela se sentou na cama irritada. – Sim eu posso e facilmente.

– Pode sim e pelo que disse, sei que conseguiu hoje.

Depois de deixar o padre na cidade Amélia e Atílio seguiram até em casa.

– Vai me contar o que houve? – Amélia olhou para ele e sabia que estava aflito.

– Como o que houve?

– Você suspirou pelo caminho inteiro Atílio.

– Ela não gosta de mim Amélia, nem sequer como homem e deve ter horror aos meus toques.

– Por que diz isso? Ela foi amável ao receber seu presente e até sorriu timidamente.

– Está se casando por medo, aquele animal do Gabriel sempre esteve certo.

– Você mesmo disse que não queria o amor dela.

– E não quero! – Atílio gritou e esmurrou o volante.

– Filho não faça isso com você mesmo e nem com essa moça. Admita o que sente por ela, desfaça o noivado e tenho certeza que assim vai conseguir ganhar devagar o coração de quem você já ama. Guadalupe é uma garota romântica, adoce a vida dela!

– Para me rebaixar a ponto de dizer eu te amo e ouvir dela que não quer mais se casar comigo?

– Eu não disse que seria fácil chegar ao coração dela, mas pense em como será bonito algum dia ouvir que Guadalupe te quer e que você a faz feliz.

– Não. Ela é minha noiva e agora não irei mais voltar atrás!

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