O Sheikh e Eu(Completo) romance Capítulo 46

Zilena chegou acompanhada de muitos guardas que carregavam sua mala. Como sempre, estava linda. Usava um hijab de cor vinho que combinava muito bem com seu batom escuro e olhos marcados. Era fantástica em seu modelito e em seu porte elegante. Como sempre, onde Zilena passava, todos olhavam.

– Agnes, como você está? – Ela me perguntou abraçando-me. Tinha um sorriso polido e carinhoso na face e eu a abracei também, ainda tímida.

– Eu vou bem, graças a Deus. – Respondi simpática. – E a senhora, como vai? – Perguntei e ela lançou-me um sorriso terno de cumplicidade.

– Muitas compras, mas fico feliz ao perceber que a senhorita conseguiu manter a mansão em segurança de possíveis paparazzi que pudessem querer mentir sobre aqui. – Concordei balançando a cabeça. Não sabia como levar o elogio da Sra. Zilena, na verdade. Ela parecia tanto com minha mãe, mas, na verdade, eu não podia esquecer que ela era minha chefe.

– Está tudo bem para a Senhora. Alguma coisa mais que eu poderia fazer pela senhora? – Perguntei. Antes que Zilena pudesse responder, ouço a voz de Seth logo atrás e meu corpo todo paralisa de medo, choque, gelidez. E alguma coisa mais que não consigo identificar.

– Mamãe! – Diz um Seth simpático e Zilena abre um sorriso adorável enquanto o abraça carinhosamente fechando os olhos quando coloca a cabeça no ombro do rapaz. Fico vendo aquela cena graciosa e sinto vontade de suspirar, mas Seth continua: – Tenho muitas coisas para contar para a Senhora, bem como pedir a sua permissão. – Seth não volta os olhos para mim, mas tenho certeza que estou corando e pedindo aos céus que não seja sobre mim que Seth falará. Engulo em seco e Zilena franze o cenho. Parece começar a desconfiar de alguma coisa. Por Deus, essas mães que parecem saber de tudo. Estou com medo de fitar Zilena agora.

– Como assim pedir minha permissão, Seth? – Ela pergunta com um pequeno sorriso debochado no canto dos lábios. E eu pensando que esse tipo de coisa era só de Seth. Pelo visto é de família.

– Te explico mais tarde, mamãe. Primeiro, tenho muita coisa para contá-la, se quer saber. – Zilena ainda tinha aquela cara de quem começa a desconfiar de algo e passa a interrogar com os olhos. Espero que ela não perceba a minha fantástica face de morta, porque certamente estou escarlate por inteira.

– Ok. – Zilena mal fala e Karen aparece correndo, deixando uma Zilena alarmada.

– O que foi? – Pergunta Zilena e Karen para de correr. Está usando um hijab azul claro e parece corar ao perceber que Zilena está falando com ela.

– Senhora Zilena, Nadirah está sozinha no salão de entrada e espera para que a acompanhem. Acredito que seja melhor haver alguém como nós próximo dela. – Karen volta os olhos para Seth como para identificar qual o perigo de Nadirah ficar sozinha e Zilena parece concordar.

– Tudo bem. Não esperava a visita dela hoje aqui, mas não há problema. – Zilena abriu um cálido sorriso. – Acompanhá-la-ei. – Disse Zilena e então voltou seus olhos para mim. – Agnes, você pode organizar a sala de chá para mim? – Pergunta e eu concordo porque esse é o meu serviço. Simples assim. – E Seth, você virá comigo. – Diz uma Zilena elegante já seguindo para a sala de entrada. Não espero receber uma segunda ordem. Já vou fazer o que Zilena me mandou fazer, com rapidez.

*

Não demora para que ela apareça. Nadirah, hoje, está com um hijab cor de rosa e fico até mesmo tentada a rir ao lembrar da minha aparição assim. Agora não importa. Parece que já foi há muito tempo, mas à vista de Nadirah, talvez não seja. Ela está com um hijab muito parecido com o que eu estava usando outrora. Agora, também, não me importo.

Percebo que Nadirah está em choque ao ver os meus cabelos cacheados fora de um véu. Eu não ligo. A Sra. Zilena nunca reclamou e lá está ela. Não é como se Nadirah fosse falar de mim na frente dela. Ao menos é no que acredito. De qualquer forma, dou de ombros. Apenas recebo o olhar irado de Nadirah ao ver que não estou adequada para suas condições e não me importo. Zilena nunca foi como ela e me julgou por conta disso e, afinal, eu tenho o meu direito de vestir o que quero. Não estou nua.

Estou tomada de um sorriso genuíno e Nadirah parece muito mais comportada do que da última vez, agora que está acompanhada da Sra. Zilena. Ela não faz nenhum comentário audacioso, tampouco me faz perguntas estranhas. Apenas está ali, inconveniente como sempre, no seu sorriso acanhado. Uma mulher completamente diferente ao lado da sua nora. Fato.

Zilena e Nadirah se entretém numa conversa e Seth começa a mexer no celular. Sei que ele está esperando o momento certo para falar com sua mãe, mas eu estou em pavor só de pensar nisso. É como se eu fosse morrer a qualquer momento. E acredito que possa acontecer. Respiro fundo. Não é o momento apropriado para ficar pensando nessas asneiras.

Ouço meu celular receber um alerta de mensagem e pego ele discretamente para olhá-lo. Percebo que é uma mensagem de Seth e tento não sorrir ao perceber isso para não levantar suspeitas. Ainda mais da sua noiva ali presente. Leio então o que ele escreveu:

“Já que tudo isso vai se resolver. Já pensou na minha proposta?”

Reviro os olhos. Só Seth para me fazer uma pergunta numa hora descarada como aquela.

“Aproveite a sua noiva aí, Seth. Já comprou o anel mesmo.”

Alfineto e tento, novamente não sorrir, mas vejo que Seth não esconde o sorriso, para meu espanto, enquanto me escreve.

“Não tenho noiva Ag. Pare com essas ideias insanas. E quem disse que eu comprei?” Há um anjinho logo em seguida como emotion e eu reviro os olhos.

“Podemos parar de nos falar na frente delas?”

“Não, a não ser que você me responda.” Escreve Seth.

“Estou pensando ainda.” É mentira. Não consigo conceber essa ideia.

“Está demorando demais.” Responde Seth brincalhão, mas eu não consigo ter tempo de respondê-lo, já que recebo uma ligação de áudio no whatsaap e percebo, para minha estranheza, que é Fernanda me ligando. Por que ela está me ligando? Ou será que é só para passar para minha mãe me xingar depois de tudo o que acontecera com Matheus? Revirei os olhos. Os dias estavam passando absolutamente rápidos e eu ultimamente não vinha conseguindo tempo nem para mim mesma. Isso era fato.

– Um minuto. – Peço para Senhora Zilena e ela concorda meneando a cabeça. Corro para atender a ligação antes que caía e sinto vontade de xingar Fernanda por atrapalhar o meu trabalho.

Consigo seguir para uma parte da mansão que parece mais vazia. Atendo então rapidamente. Já penso em xingar Fer por ter me feito passar por isso, mas ela não me dá tempo para falar nada enquanto, entre lágrimas, ela diz:

– A sua irmã está internada, Ag. – É como um balde de água fria em cima de mim. Não consigo pensar em mais nada. O meu mundo parece ter ruído por um segundo e eu sinto que estou prestes a cair no abismo, as pernas bambas e a cabeça rodando. Ainda parece que é um sonho do qual uma hora acordarei porque não consigo acreditar no que ouço e no que Fernanda continua falando: – Sua mãe está em frangalhos. Não sai do hospital por nenhum segundo. A Soph está na UTI. – Diz Uma Fernanda aflita.

– Ela está... na UTI? – Pergunto só para confirmar, pois sabemos que quem está na UTI é porque o caso não está indo nada bem e que a pessoa está realmente em risco de morte. Sinto as lágrimas aglomerarem-se ao redor dos meus olhos e só consigo pensar em como sou uma maldita ao pensar no meu futuro quando Sophia estava ainda lutando pelo dela.

Ela sempre foi a pessoa mais importante na minha vida e era por ela que eu estava lutando e estava em outro país. Eu não devia me preocupar com asneiras de casamento ou coisa do tipo. E sim com o maldito do dinheiro para o seu tratamento. Agora, por conta dos meus malditos devaneios e sessões de paixonite e amores badalados, eu não tinha ligado um dia sequer para saber como ela estava. Mesmo quando tanto Fer quanto Matheus tinham dito que ela ia começar o tratamento novo. Não, eu não estava nem aí. Eu não liguei para a minha irmã para desejar um bom tratamento para ela ou para saber como ela estava.

Eu era uma maldita. Uma idiota, babaca, iludida. Mas uma completa maldita.

Nem mesmo quando eu tinha quase morrido eu tinha ligado para ela. Não. Sophia agora estava na UTI e eu sequer tinha tido tempo para dizê-la o quanto amo. Não que eu não falasse isso direto para ela..., mas.... Eu era a culpada de tudo. Eu devia lembrá-la sempre disso, todos os dias. E não tinha feito. Estava aqui preocupada com meu mundinho egoísta do que com ela, a razão de tudo isso.

Funguei ao perceber que as lágrimas desciam furiosamente e Fernanda não tinha parado de falar. Eu só conseguia pensar em como tinha que ir embora daqui, como tinha que ver Sophia e me despedir dela, se houvesse necessidade. Como ela precisava de mim. Oh, como minha mãe precisava de mim! Ela devia estar um caco.

– Ag, ainda está aí? – Perguntou-me uma Fernanda chorosa. Ela sempre acompanhou a gente nessa. Sempre esteve do nosso lado, sempre foi como uma irmã para mim. Cuidando da minha mãe e da minha irmã quando eu não tinha capacidade. Agora, era ela que me dava essa notícia e eu podia perceber pela sua tonalidade de voz que ela também sofria.

– Estou. – Respondi com o rosto já cheio de lágrimas. Minha voz não existia.

– O tratamento não deu muito certo. Em alguns tem reações adversas e a médica disse que esse foi um dos casos. Que pode ser que, subitamente, o corpo dela reaja e tudo fique bem, mas que ela pode piorar, também, cada vez mais, e acabar ficando em coma para sempre. – A simples constatação das palavras de Fernanda me deixaram em pranto. Eu não consegui me manter em pé. Caí de joelhos, ainda tonta por tudo o que tinha ouvido e fiquei ali, parada, tentando absorver as palavras.

– Eu vou. Eu... – Funguei. – Acredito que em um dia estou aí. – Disse firme para Fernanda que aparentemente assentiu pelo celular. – Diga a mamãe e a Soph que aguentem só um pouquinho. Vou sair daqui agora. – Digo tentando esconder a minha voz chorosa, a culpa que sinto, o arrependimento de não ter ligado e a dor de ver que minha irmã está desfalecendo antes da hora. Pois para mim, não deveria haver hora alguma.

– Ok. Digo sim. Tenha cuidado, Ag. Esperamos você. – Disse Fernanda também fungando. Eu agradecia muito ela pelo apoio e pela amizade. Não sabia mais o que dizer.

– Muito obrigada, Fer. – Disse por fim, por que não tinha mais ânimo para falar nada. Eu só precisava correr e ir ver a minha irmã o mais rápido que eu pudesse.

– Te amo amiga. – Respondeu uma Fer aflita. – Eu que agradeço. – E desligou. Fiquei alguns segundos ainda contemplando o celular e tentando acreditar que eu tinha recebido uma ligação de Fer, que minha irmã estava na UTI, que todas essas coisas de ruim decidiram me assolar na questão de apenas uma única semana. Todo mal do século caindo numa semana da minha vida. Eu não sabia se conseguiria aguentar.

Engoli em seco enquanto decidia me levantar e pedir ajuda de Zilena. Eu precisava de um tempo, nem que fossem três dias, se fosse possível, para ela, para que eu visse minha irmã. Contaria a verdade para ela e torceria para que isso não fizesse eu perder o emprego. Eu precisava vê-la. Eu precisava estar com minha mãe nesse momento tão difícil.

Limpei as lágrimas que tinham escorrido pelo meu rosto. Certamente, eu estava com os olhos e nariz vermelho, mas não me importava. Eu não me importava com mais nada além da minha irmã e o fato de que ela precisava de mim. E que eu precisava estar logo no Brasil.

Avistei Zilena sentada ainda conversando com Nadirah. Seth me olhou aflito, sem saber o que tinha acontecido comigo para eu estar esgotada, assim, em lágrimas, mas eu simplesmente não liguei. Num fio de voz, chamei:

– Posso falar com a senhora Zilena, por favor? – E ela voltou seus olhos para mim com uma atitude séria, já se levantando e buscando vir em minha direção. Não disse nada. Passou por mim e eu sabia que tinha que a acompanhar para falar com ela.

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