Segredos de Família: Herdeiros Dominadores romance Capítulo 4

Thomas encontrou com o irmão no Dragay, uma lanchonete a poucos metros da escola. Era um lugar meio afastado da avenida principal, tinha paredes pintadas de um vermelho claro enjoativo, as mesas eram de tampo de vidro, que acumulava uma fina camada de poeira e gordura. Thomas detestava o local, além do visual de filme de terror a comida era péssima. Mas o irmão insistia em comer ali.

Tiago Lins era alto e magro, com cabelos repicados para todos os lados e pintados de azul escuro, vestia uma blusa de uma banda de rock e jeans gastos. E devorava um hambúrguer, Thomas não pediu nada para si, sabia que não aguentava mais comer naquele lugar. Na verdade ele ultimamente não estava conseguindo comer nada, até havia perdido peso, e quando se olhava no espelho achava que estava vendo um fantasma.

—A mamãe falou que você tirou nota baixa em Artes— Tiago olhou para o irmão parando de comer por um instante— O que foi?

—Não é nada. Só não estava com cabeça para nada.

—Como assim? Achei que gostasse dessas coisas de desenho.

—Eu gosto— Olhou para a parede além do irmão, não queria encarar Tiago— Gosto.

—Olha, eu estou tentando, ok? Levo dinheiro e comida pra casa, não precisa se preocupar com nada— Thomas suspirou e olhou para o irmão— É sério. Vamos ficar bem.

—E a mamãe?

—Ela vai superar. Só precisa de tempo. Essa situação é passageira, vamos melhorar de vida. Se preocupe apenas com a escola.

Thomas não conseguia, mas não queria preocupar mais o irmão, então balançou a cabeça positivamente. Os problemas em sua vida giravam em volta dele como adagas afiadas, prontas para feri-lo.

—Eu posso trabalhar— Disse por fim— Posso ajudar.

—Trabalhar em quê?— Tiago deu a última mordida e limpou a boca com o guardanapo quadriculado.

—Posso conseguir algo. E não afetaria meus estudos— O irmão balançou a cabeça em um "não" mudo— Deixe só eu tentar. Você vai ver que posso ajudar e estudar.

—Não. Já falamos sobre isso. O papai...

—Morreu, e a gente precisa sobreviver.

—Ele não aceitaria.

—Mas ele não está mais aqui. Agora somos só nós dois, porque ninguém sabe como a mamãe vai ficar.

—Eu… Ah, Thomas… Você é muito cabeça dura. O que quer fazer? Aonde quer trabalhar?

Na verdade Thomas não sabia o que faria, mas para sair daquela situação estava pronto para aceitar qualquer coisa.

Quando se despediu do irmão e voltou para a escola a ideia de conseguir algum trabalho martelava mais forte em sua cabeça, não sabia fazer muita coisa, mas poderia conseguir algo. Ele estava caminhando pelo gramado seco da escola quando teve uma ideia, e bastou olhar para o prédio quadrado de tijolos a sua frente. Ele deu um sorriso largo e bateu a mão na testa por ser tão lento. Claro que havia uma forma dele conseguir emprego e ajudar a família. Bem, uma pessoa que poderia ajudá-lo.

Clarice Ward era conhecida na Beladorn School como "Fada", pois ela conhecia coisas e vendia coisas que eram bem difíceis de encontrar (algumas coisas raras), também era uma imensa rede de informações dentro e fora da escola, os boatos diziam que ela tinha contatos até com políticos poderosos, mas claro que nem todos os boatos eram reais, pois alguns diziam que ela também era uma assassina profissional.

Thomas desceu as escadas de pedra em direção ao porão da escola, a porta nunca era vigiada, corria a história de que o zelador recebia dinheiro de Clarice para deixar alunos saírem e entrarem sem denunciá-los às autoridades da escola.

No final da escada tinha um corredor pequeno com duas portas, a mais suja e arranhada era o "escritório" de Clarice, a outra era apenas o armário com materiais de limpeza. Thomas bateu na porta duas vezes e ela foi aberta por Clarice.

Clarice tinha olhos negros assim como os cabelos muito curtos, usava um terninho gasto. O escritório era amplo, com paredes cinza e branco, um sofá antiquado branco, uma mesa redonda com duas cadeiras, e dois alunos mais velhos imóveis no canto, deviam ser os seguranças de Clarice.

—Thomas Lins— E deu um sorriso convencido— Em que posso ajudar?

Thomas olhou surpreso para ela.

—C—Como sabe meu nome?

—Eu sei o nome de todos nessa escola, principalmente aqueles que nunca vinham a mim— Ela fechou a porta— Sente-se — Thomas olhou em volta e sentou. Clarice sentou na cadeira em frente— Vamos, diga.

—Bom, meu irmão...

—Sim, eu já sei. Quero que me diga o que quer de mim.

—Quero saber se você sabe de algum lugar que daria emprego para mim.

Clarice dá um sorriso satisfatório, passou o dedo indicador no lábio inferior e o estudou atentamente, como se estivesse avaliando um produto. Thomas se sentiu incomodado.

—Thomas, com seu tamanho e corpo, e esse rostinho de anjo.... Sim, conheço uma pessoa que irá se interessar por você— Thomas não conseguiu sorrir, havia algo em Clarice que o estava deixando nervoso e o fato de ter alguém que se interessaria por ele por causa do seu rosto e corpo não o deixava nadinha animado— Venha aqui daqui a dois dias e darei uma resposta a você.

Simon organizou as carteiras em um círculo, podia ouvir os alunos no corredor correndo para saírem da escola e encerrar mais um dia de aula. O círculo havia aumentado com mais dois lugares, agora eram quinze membros.

Retirou o seu exemplar de A Casa das Orquídeas da mochila e o colocou sobre seu lugar. A mesa com lanche ainda não havia sido organizada. Havia se atrasado ao sair da aula de Calculo.

Os membros do Clube foram entrando, alguns chegavam em pares e outros sozinhos. Simon colocou os copos descartáveis e as garrafas de suco de maçã na mesa e despejou os biscoitos com gotas de chocolate nas duas tigelas de vidro que haviam sido emprestadas pela cozinha da escola. Precisava devolvê-las ao final de cada reunião. Ele tinha um medo secreto das pessoas que trabalhavam ali, pareciam sombrias demais.

Todos os lugares estavam ocupados, menos o de Christian, talvez ele escolhesse ser transferido a ficar em um grupo de leitura, pensou Simon balançando a cabeça levemente.

—Boa noite, hoje vamos...— Ele foi interrompido pelo som da porta abrindo, olhou para trás e viu Christian parado na entrada da sala. Ele viu o olhar de espanto de todos, aqueles garotos haviam sido vítimas daquele brutamontes parado ali.

Simon levantou e foi até ele.

—Bem vindo— Disse forçando um sorriso. Estava nervoso. Não queria mais apanhar, muito menos na frente dos outros, e nem queria que os outros meninos apanhassem, pois aquele clube era como um refúgio para eles—Achei que...

—Diz logo o que tenho que fazer e pronto— Rosnou Christian.

—Tudo bem— Ele pegou o exemplar que havia pego para Christian na biblioteca da escola —Esse é seu. Venha.

Ele se virou e voltou para seu lugar. Todos estavam mortalmente calados. Christian sentou no seu lugar, do outro lado da roda, de frente para Simon. Todos desviam os olhos. Christian por sua vez, olhava feroz para quem arriscasse olhar para ele.

—Bom, vejo que todos estão aqui. Hoje vamos discutir sobre A Casa das Orquídeas. Quem gostaria de falar primeiro?

Em uma reunião normal todos teriam levantado a mão. Mas com a presença ameaçadora de Christian ninguém se atreveu a mover qualquer parte do corpo além dos olhos.

Christian levantou a mão. Todos olharam para ele, espantados. Simon engoliu a surpresa.

—Christian, o que gostaria de dizer?

—Vocês perdem a noite de vocês falando de livro?

—Bom, não vemos como uma perda de tempo. Gostamos de ler e gostamos de falar sobre o que lermos— Simon sentiu uma pontada de orgulho de si mesmo por ter falado corretamente sem gaguejar na frente de Christian— Acreditamos que mesmo que não seja uma leitura da escola, é algo que alimenta nossas mentes e será muito importante no futuro próximo.

—Ao meu "ver"— Ele fez as aspas com os dedos e se inclinou para frente— Isso é uma idiotice.

Simon fechou as mãos em punhos sobre o livro em seu colo. Ele precisava se controlar, claro que Christian provocaria todos o máximo possível, seria como sua vingança por ter sido castigado. Contanto que Simon ficasse tranquilo, tudo estaria sob controle, pensou ao respirar fundo.

—Christian, mais alguma queixa?

—Não.

—Ótimo. Voltando ao livro...

O resto da reunião foi com clima de enterro. Ninguém falava e nem levantava os olhos. Simon se sentiu falando para as paredes então decidiu acabar a reunião meia hora mais cedo.

Todos saíram quase correndo da sala, como se a mesma estivesse pegando fogo. Christian já sabia como funcionava o castigo, só poderia ir embora se Simon o liberasse, por isso ficou sentado onde estava, calado.

—Você gostou?— Simon perguntou tentando cortar o silêncio enquanto juntava os copos em uma lixeira e reorganizava as carteiras, e tentava ignorar a ansiedade de estar sozinho na escola com seu agressor.

—Odeio isso. Odeio esse tipo de gente. Odeio você. Pode parar de se fazer de meu amigo?

—Não estou me fazendo de nada. Não sou seu amigo. E poderia parar de intimidar o pessoal do grupo?

Christian se levantou e olhou para Simon de cima. O garoto deu um passo para trás.

—Eu faço o que quiser. Tô liberado?

—As tigelas...

—Ótimo, vai deixar— Ele pegou a mochila no chão e saiu da sala, deixando Simon olhando para a porta fechada.

Simon suspirou pesadamente e agradeceu aos céus por ter sobrevivido aquela reunião.

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