Segredos de Família: Herdeiros Dominadores romance Capítulo 5

Matthew passou os dedos pela mão de Mike Weber, seu primo. O rapaz ergueu a cabeça do seu livro e fitou Matthew com grandes olhos negros, assim como os cabelos.

—O que foi?

—Nada— Matthew recolheu a mão— É só que... Fiquei pensando naquela coisa que vou ter de fazer— Mike suspirou— Você sabe algo sobre isso? Sabe se você também vai fazer?

Mike fechou o livro e olhou em volta, eram os únicos sentados no imenso jardim colorido, na mesa redonda de vidro, mas sendo herdeiros de uma família rica, nunca estavam sozinhos, sempre havia o vulto de preto de um segurança por perto.

—Somos primos, Matthew, claro que vou passar por isso.

—Então sabe o que pode ser? O que farei?

—Bom— Mike olhou em volta novamente. Matthew sabia que o assunto era muito sério, mas não compreendia o exagero do primo— Eu não sei, mas sei de alguém que sabe. Ela meio que sabe muita coisa.

—Quem é? Uma vidente?— Disse Matthew com sarcasmo.

—Ela tem uma rede de informantes, sabe praticamente tudo— Mike informou irritado— O nome dela é Clarice.

— Acha mesmo que ela pode saber de algo assim? Meu pai disse que isso meio que ultra secreto, e que somente membros da família sabiam o que era esse ritual. Essa Clarice é uma Smith?

— Não, mas não existem segredos que ela não saiba.

—Muito bem. Me leve a ela— Matthew disse decidido.

Mike se recostou na cadeira e suspirou pesadamente.

— Não sei se isso é uma boa ideia, se nossos pais descobrirem…

— Eles não vão descobrir, a não ser que você fale algo, e você não pode falar nada— Matthew encarou o primo com firmeza— Entendeu?

— Tudo bem, não vou dizer nada. Preciso ligar para ela.

—Pode parar aqui Miele— Mike exclamou para o motorista particular.

Matthew olhou pela janela e franziu a testa.

—Uma escola? O que estamos fazendo aqui?

—Clarice comanda tudo daqui, e é uma aluna pelo que sei. Vamos.

Matthew seguiu o primo, mas agora que estavam ali, não sabia se acreditava muito naquilo. Iria mesmo confiar algo tão sério a uma aluna qualquer? Mas Mike acreditava nela, o problema é que Mike acreditava em tudo e em todos.

Um homem de macacão cinza com o símbolo da escola gravado no peito os esperava no alto dos degraus de entrada da escola, era o zelador. Ele avaliou os dois com cuidado.

— Temos hora marcada com Clarice— Mike falou.

O zelador assentiu e virou de costas para eles e abriu a porta. Mike sinalizou em silêncio para segui-lo. O corredor principal da escola estava vazio, um silêncio pesado se erguendo pelas paredes. Aquela escola era completamente diferente da escola de Matthew, onde a maioria das paredes eram pintadas de branco e havia grandes janelas de vidro que tinham um belo jardim como vista, que no inverno parecia um mar congelado.

Para o espanto de Matthew, eles pararam em frente a uma porta entreaberta, o zelador da escola ergueu uma mão, Mike retirou dois dólares do bolso do jeans e entregou ao homem, que deu de ombros e abriu mais a porta.

Desceram um lance de escadas e Mike bateu em uma porta de aspecto imundo. Matthew olhou entretido para o primo, jamais imaginou que o primo calado e delicado se envolvia no "submundo" de alguém, todos esperavam que Matthew fosse o fracasso total, a desonra da família. Encolheu os ombros e voltou ao normal quando a porta foi aberta.

Uma garota de aspecto severo surgiu.

—Mike, meu querido Mike— Deu um sorriso e apertou a mão de Mike. A garota era normal demais para ser uma grande rede de informações— Matthew, é um prazer vê-lo aqui.

Matthew olhou apreensivo para o primo.

—Eu disse, ela sabe de tudo. Venha.

Eles entraram no escritório. Matthew notou primeiro os dois alunos fazendo papel de seguranças e depois um garoto. Era o garoto mais lindo que ele havia visto na vida, era delicado, mas tinha um olhar determinado, que os examinava. As entranhas de Matthew se esticaram em um calafrio estranho.

—Esse é Thomas— Clarice sorriu. Ela parecia satisfeita demais com algo— Curioso que tenha trazido Matthew aqui, Maki. Thomas querido, pode ir. Nos falaremos em breve.

Thomas deu mais uma olhada em Matthew e saiu dali ligeiro. Matthew sentiu um impulso de segui-lo, mas pela cara do outro parecia que ele queria ficar sozinho.

—Então Mike, sei o que quer. Matthew, sente.

Matthew sentou à mesa redonda e Clarice a sua frente. Mike ficou em pé atrás de Matthew, as mãos pousadas nos ombros largos do primo.

—Clarice sabe de tudo, sabe porque estou aqui— Matthew disse com sarcasmo. Não cederia, não ainda.

—Você atingiu a idade não foi?— Seu sorriso era tão poderoso que fez Matthew lembrar dos chefes malvados dos filmes— Veio saber como será o Ritual.

—Sim. Você sabe?

—Sim, eu sei.

—Diga.

—Claro, mas antes você tem que pagar cem dólares— E recostou—se na cadeira— Tenho o dia todo.

Christian encostou-se no seu carro. Olhou desgostoso para o céu azul como tinta fresca, era sábado, um ótimo dia para ir à praia, mas não, estava parado no estacionamento da escola, esperando os outros nerds do clube de leitura para iniciar aquela maldita reunião extra.

Meu Deus, quem diabos ia para a escola no fim de semana?! Ele estava furioso. Se ao menos tivesse sido avisado com antecedência, mas não, o Simon nerd havia ligado aquela manhã bem cedo. E como ele havia conseguido seu número? Maldito!

Ele avistou um grupinho saindo de um carro surrado, logo depois chegou mais outros, todos formando um grupinho de nerds barulhentos. Ele revirou os olhos e permaneceu na sua, até mesmo quando eles sumiram dentro do prédio. Simon não havia chegado ainda, ou seja, ele não tinha motivos para entrar naquela prisão ainda.

Estava prestes a ir embora, enfurecido acreditando que Simon havia passado a perna nele quando viu o garoto atravessar o estacionamento. Ele vinha de cabeça abaixada e andando ligeiro, estava retirando um chapéu e arrumando os cabelos com os dedos, jogou o chapéu dentro da mochila e subiu os degraus de entrada. Christian correu para alcançá-lo.

—Sábado? Sério?— Christina indagou a guisa de bom dia.

Simon parou de repente, arregalando os olhos, havia levado um susto. Christian riu por dentro.

—Bom dia... Sim, pois quarta—feira é feriado, esqueceu?

Christian queria entender o que aquilo tinha demais. E daí se fosse feriado e eles não se reunissem? Aquilo não era o fim do mundo.

Eles caminharam pelo corredor central, que estava mortalmente vazio, o que era estranho, Christian pensou, na semana aquele espaço era muito apertado de tantos alunos, barulhento e quente. Mas ele conseguia até ouvir seus passos agora.

—Sim, eu sabia— Não, ele não sabia, não era bom com datas —Mas hoje é sábado, que diabos de tão importante tem pra falar hoje? Faz uma porra de grupo virtual.

—Não é a mesma coisa— Simon resmungou e eles entraram na sala de reunião. Simon deu bom dia para todos e seguiu para a mesa maior para organizar os lanches que trazia na bolsa. Christian o seguiu fingindo não ver o pessoal sentado no círculo.

—E porque eu tinha de vir?—Sibilou para os outros não ouvirem, não queria que mais nerds tomassem conta de sua vida.

—Não pergunte isso para mim e sim para a diretora— Simon retirou uma vasilha de plástico da bolsa e encheu de biscoitos.

—Bom, você poderia falar com alguém de lá— Christian sugeriu esperançoso, se Simon falasse que ele havia se comportado, talvez no próximo fim de semana ele não precisaria passar por isso.

—Acredite, eu tentei, não quero você aqui intimidando o pessoal, mas não deu resultado— Simon se virou para ele— Temos que aturá-lo.

—Olha como fala comigo.

—Ou o quê? Vai me bater? Polpe-me— Simon revirou os olhos e seguiu para o grupo com um sorriso largo. Christian ficou ali em pé por alguns segundos. Ninguém havia sido tão petulante assim com ele antes. Quem aquele nerd pensava que era?! —Bom dia pessoal, vamos começar? Ótimo.

Christian passou a reunião afastado, largado em uma carteira no canto, observando os terrenos vazios da escola, banhados pelo sol. Ele achou que aquilo nunca ia acabar. Porque tinha de falar tantas coisas sobre um só livro? Porque simplesmente não passavam para outro? Ou iriam fazer algo de verdade? Como ir à praia, ou ao shopping? Christina acabou mergulhando em um em um estado sonolento, e as horas agora pareciam confusas e as vozes conversando no círculo no meio da sala eram apenas barulhos irritantes e distantes.

Quando a reunião finalmente acabou ele esperou todos saírem e acompanhou Simon com o olhar, esperando o garoto liberá-lo para finalmente ter um fim de semana de verdade. Simon, no entanto, parecia bastante disposto a não olhar para ele. Ele fez barulho com a carteira e o garoto olhou para ele.

—Algum problema?

—Posso ir embora?

Simon suspirou e assentiu. Christian se levantou, mas antes que chegasse a porta sentiu uma mão leve em seu braço, ele parou e olhou surpreso para Simon. O moleque havia encostado nele!

—Que foi agora?

—Tome aqui— Ele estendeu um livro —É o tema da próxima reunião, vai ser legal se participar, em vez de ficar no canto como uma estátua.

Christian sentiu a raiva fervilhar. Pegou o livro com um sorriso debochado e o jogou para o outro lado da sala.

—Foda-se seu livro, essa reunião e você— Rosnou —Não se mete a besta pra cima de mim ou eu esmago você.

Christian esperou que o menino fosse recuar, chorar, gritar, fazer o que quer que os covardes fizessem. No entanto, Simon apenas suspirou.

—Tenha um ótimo fim de semana, Christian— E lhe deu as costas, voltando a organizar a bagunça na mesa.

Christian respirou fundo e saiu.

… …

Quando acordou no domingo estava com uma grande dor de cabeça. Havia bebido demais no sábado e tinha uma festa para ir no início da noite, e por isso permaneceu deitado por várias horas, no escuro, mas logo precisou descer para comer algo quando sentiu o estômago doer.

Na sala de jantar, um espaço comprido com uma grande mesa, encontrou seus pais tomando café da manhã, sentou-se.

—Bom dia, querido. Dormiu bem?— James indagou com um sorriso.

—Dor de cabeça— Resmungou.

—Tome um remédio então e depois vamos sair— Matthew aconselhou com um pequeno sorriso —Achei que poderíamos passar um dia juntos, como antigamente, o que acha?

Christian franziu a testa. Já iria fazer muito tempo que não saía com os pais.

—Acho que vou voltar a dormir— Respondeu.

—Querido...— James começou mas Christian cortou suas palavras.

—Sério, preciso descansar— E levantou-se da mesa.

… …

Na escola as coisas estavam indo de mal a pior. A direção havia decidido ficar de olho em Christian como corvos sobrevoando uma carcaça. As reuniões do maldito clube do livro estavam ficando mais demoradas e Simon parecia mais atrevido que nunca e Christian estava prestes a explodir e quase fez isso ao final de uma das reuniões quando Simon lhe pediu para organizar as cadeiras.

—Não sou seu maldito empregado!— Christian gritou —Faça você!

—Christian...

—Vai a merda, Simon. Você tem me usado como capacho em todas essas malditas reuniões!

—E o que quer que eu faça?! Você se recusa a participar! E temos que aguentar você! Não basta você e seus amigos nos agredindo por aí e agora temos que aceitá-los aqui!— Christian não disse nada, estava surpreso demais para isso. Havia montado em sua cabeça a imagem de um Simon calmo, calado e passivo, e ver aquele Simon vermelho de raiva e gritando com ele o estava deixando... Assustado! —Esse maldito clube do livro é o nosso refúgio após a merda de um dia de agressões físicas e verbais que você e seus amigos idiotas aplicam na gente!— E Simon saiu a passos pesados, batendo a porta com força.

Christian ficou tão abalado com a explosão de Simon que durante as três reuniões seguintes ele decidiu ficar mais próximo do grupo e ajudar sem esperar Simon pedir. Ele, na atual situação, não sabia bem porquê estava tão abalado. Havia visto muitos nerds explodindo de raiva, mas com Simon era diferente. Era como ver algo imaculado ser corrompido, e ele sentia culpa. Mesmo que negasse isso veemente em sua cabeça, ele não conseguia deixar de sentir remorso pelo que havia feito com o clube do livro, e da noite para o dia ele se sentiu um intruso, e não era como antes, que ele simplesmente não se importava por esta incomodado.

Tanto que pediu aos seus amigos para pararem de mexer com Simon e os outros garotos do seu grupo. Infelizmente era o que podia fazer. E parece que surtiu efeito, pois em um dia, ao final de mais uma reunião, Simon suspirou e sorriu enquanto organizava algo na mochila.

—Você falou com os rapazes para pararem de me perseguir e aos meninos também?

—Não sei do que tá falando— Christian lhe deu as costas, organizando as cadeiras em fileiras novamente.

—Os meninos e eu estávamos notando que os seus amigos passam pela gente e nem olham mais na nossa cara. O Bryan nem está mais levando surra no estacionamento. Foi você que falou com eles? —Quando notou, Simon já estava ao seu lado, lhe encarando.

Christian, somente agora, havia reparado em como Simon era mais baixo que ele, e como seus braços eram finos, os ossos dos pulsos tão delicados. Christian franziu a testa e virou o rosto, aquilo não era uma boa ideia.

Christian não queria admitir, mas estava sentindo uma pontada de orgulho de si mesmo por ter feito aquilo.

—Eu já disse, não sei de nada.

—Tudo bem— Simon sorriu mais —Obrigado mesmo assim. Boa noite, Christian— E saiu.

Christian não conseguiu conter o enorme sorriso que surgiu em seus lábios.

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