Virgindade Leiloada romance Capítulo 14

Murilo

Pensei em mandar mensagem para a Virgínia assim que abri os olhos, no dia seguinte ao nosso encontro na boate, mas me controlei. Eu sabia que ela estava chateada por me encontrar nas condições em que aconteceu e, mesmo sabendo o quanto aquilo era errado, eu fiquei bastante arrependido por ter transado com a Lavínia do jeito que aconteceu.

Agora, no entanto, não fazia sentido ficar remoendo o que aconteceu e só me restava tentar conseguir uma forma de a Virgínia esquecer, ou ao menos, relevar, visto que nós não estávamos juntos, pelo menos não ainda, algo que eu pensava em corrigir o mais breve possível, o que ela acabou por ver na boate.

Fui para a casa da minha avó, como o fazia todos os domingos. Um dia ao lado da minha filha me faria bem e quem sabe eu conseguiria esperar até amanhã para tentar falar com a Virgínia.

— Estávamos esperando por você, Murilo. — A minha irmã fez questão de apontar.

Percebi que deveriam ter acabado de sentar à mesa de café da manhã, pois tudo ainda parecia intacto, apesar da grande variedade de comidas sobre a disposição.

— Noite movimentada, querido?

Ela estava com o cenho franzido, provavelmente por suspeitar que eu havia saído na noite anterior. Aquela era a forma de a vovó perguntar se eu havia chegado de manhã, após uma noite de farra.

— O Aquiles ainda não chegou? — Perguntei para a vovó, sem responder diretamente a sua pergunta.

— Agora consegui entender o atraso dos dois. — Ágata falou e eu tinha certeza que ela havia realmente entendido. — Você saiu com o Aquiles ontem a noite?

— Estive com ele na inauguração da boate do Arthur.

Falei, já me sentando em uma das cadeiras ao lado da vovó, que estava a cabeceira da mesa, como sempre.

— Estou faminto. — Disse, já levando um ovo cozido ao meu prato, com algumas torradas.

— Posso perceber. — Ágata falou com ironia.

— Mas isso é bom. Faz muito tempo que não o vejo com essa disposição no café da manhã. Fico feliz que tenha voltado a se divertir, estava muito focado apenas em trabalhar e isso não faz bem à saúde.

Eu preferi não contrariar as palavras da vovó, pois ela fazia questão de ter a última palavra sobre todos os assuntos e não adiantaria eu dizer estar me sentindo ótimo, pelo menos no que dizia respeito à saúde.

Também não desejava que ela entrasse em assuntos desagradáveis, como, por exemplo, minha vida amorosa, mais precisamente, a traição da Bruna.

— Irei fazer alguns exames de rotina durante a semana. A senhora não deve se preocupar, vovó.

— Você sabe quem é a mulher que o Aquiles trará para nos apresentar?

Estava levando a xícara de café à boca naquele exato instante e parei a meio caminho de concluir a ação.

— Ele trará alguém aqui? — Perguntei, a incredulidade estampada em minha frase.

— Não sabemos. — Vovó respondeu. — Seu primo ligou para se desculpar por não vir tomar café conosco, mas garantiu que não faltaria ao almoço e que traria uma pessoa para nos apresentar.

— Se você estava com ele ontem, deve saber quem é a mulher misteriosa.

— Tenho uma leve suspeita. Mas prefiro não criar expectativas.

— Por que iríamos criar expectativas, Murilo? — Vovó perguntou, astuta. — Devo entender que já a conhecemos?

— De certa forma, sim.

Eu terminei a refeição com certa dificuldade, só de pensar na possibilidade de que o Aquiles estaria com a Lavínia e que pensava em a apresentar à nossa família, quando menos de doze horas atrás, eu estava transando com ela em um corredor, para qualquer olhar mais atento ver.

Muitas pessoas que frequentavam casas noturnas não se preocupavam com nada mais a sua volta, além da sua própria diversão.

Bebiam, dançavam e não ficavam observando o que as pessoas faziam ao seu redor.

Mas sempre tinha aquelas, que estavam entediadas, e que por alguma razão não estavam se divertindo, apesar de terem ido ao local em busca exatamente daquilo.

Essas pessoas estavam atentas a tudo e, com toda a certeza, algum deles prestou atenção ao que fazíamos e poderia até mesmo ser algum conhecido.

Seria muito estranho se o Aquiles assumisse qualquer tipo de relação com a Lavínia logo em seguida ao que aconteceu. Mas se ele não estava desconfortável, eu ficaria se aquilo realmente acontecesse, porém, tentaria não me meter em suas decisões, assim como ele evitava fazer o mesmo comigo.

A minha avó e a Ártemis ainda tentaram me fazer falar o que elas deduziram que eu sabia, mas mudei de assunto e falei de algo que sempre as tirava o foco de qualquer outro assunto.

— Estava com muita saudade de vocês. — Apesar de ter trazido aquilo a conversa por desejar mudar de assunto, aquela era realmente a verdade.

— Deveria vir aqui mais vezes, Murilo. — Ártemis aproveitou o gancho e disse aquilo que ela adorava repetir. — Você e o Aquiles estão sempre tão ausentes, mesmo estando na mesma cidade que nós.

— Não deve dar ouvidos às palavras da sua irmã. Eu sei que os meus netos são homens de negócios e sempre estão bastante ocupados em seu dia a dia.

— A senhora, como sempre, defendendo esses dois marmanjos. — Ártemis falou, já levantando da mesa.

A segui no gesto e fui até a cadeira onde minha avó estava sentada, ajudando-a a levantar e caminhando ao seu lado, algo que eu insistia em fazer todas às vezes que estava próximo a ela e mesmo mediante a sua insistência em dizer que aquilo não era necessário, pois ela era perfeitamente capaz de caminhar sem auxílio.

— Vou concordar com a minha irmã, pois tenho pensado sobre isso e concluí que estou trabalhando em excesso e preciso diminuir o ritmo, ou não chegaria nem aos cinquenta anos.

— Mas querido, você agora que está com trinta anos. É muito jovem ainda.

Caminhamos até a varanda de trás, local onde costumávamos passar nossas manhãs, pois a vovó não gostava de ficar à beira da piscina, principalmente àquela época do ano, devido ao calor forte que costumava fazer no verão de São Paulo.

— Eu sei que a senhora não quer nos pressionar a estar sempre vindo aqui, vovó. Mas a partir de agora, prometo que serei mais presente.

Comentários

Os comentários dos leitores sobre o romance: Virgindade Leiloada