Virgindade Leiloada romance Capítulo 24

Murilo

Quando, ao entrar em uma das lojas do shopping, a primeira pessoa que eu vi foi a Virgínia, eu fiquei muito feliz, para não dizer completamente radiante, tamanha a alegria por ter, enfim, uma oportunidade de falar com ela pessoalmente.

Ela não atendia as minhas ligações e também não respondia às minhas mensagens e eu concluí que somente o destino, nas atuais circunstâncias, seria capaz de me colocar frente a frente com a garota pela qual eu estava apaixonado.

A verdade nua e crua era aquela e eu não podia mais negar aquele fato.

Fui imediatamente em sua direção, disposto a lutar com unhas e dentes pelo o que eu queria.

Mas, ao me ver, a sua expressão era claramente de repulsa e eu estagnei no lugar, indeciso sobre impor a minha presença a Virgínia daquela forma, visto que era bastante evidente que ela não gostou quando me viu e tampouco parecia desejar a minha aproximação.

— Aquela não é a mesma garota da boate? — Lavínia perguntou, parando ao meu lado.

Só então me dei conta do fato de estar acompanhado pela Lavínia e o quanto aquilo poderia complicar ainda mais a situação entre a Virgínia e eu.

Eu fiquei analisando se deveria ou não ir até onde ela estava, pois não queria causar nenhum tipo de mal-estar para a mulher que estava carregando meu filho em seu ventre.

— Veja só, ela deve trabalhar aqui, Murilo. — Lavínia falou em um tom que chamou a minha atenção para ela de imediato.

— Qual o problema nisso? — Perguntei, mas já antecipando que não iria apreciar a sua resposta.

— Você é um bilionário, querido! Não deveria se envolver com pessoas tão abaixo do seu nível social.

Eu me senti mal, apenas por ouvir o tom arrogante daquelas palavras mesquinhas e, se eu já não gostava nenhum pouco da atual namorada do meu primo, agora eu a detestava com todas as minhas forças.

— Exatamente por este motivo, por ser um homem independente financeiramente, que eu não preciso ouvir esse tipo de coisa vindo de pessoas como você, Lavínia.

— Eu não estou entendendo, querido. — Lavínia insistiu em me aborrecer.

— Tenho certeza que entendeu sim. — Falei em um tom duro. — Não devo nada a você, muito mesmo satisfação sobre quem eu quero na minha vida. E não conte com a minha ajuda para escolher presente para o imbecil do meu primo.

Não esperei para ouvir mais nada vindo daquela mulher fútil e decidi tentar uma aproximação com quem era verdadeiramente importante para mim.

— Desculpa, Virgínia. — Foi a primeira coisa que eu disse, ao chegar ao lado dela. — Eu sei que parece bastante clichê, mas eu estar aqui com a Lavínia não é o que você está pensando.

— Você não me deve satisfações sobre o que faz, ou deixa de fazer, da sua vida, Murilo. — Virgínia disse, seu tom cheio de mágoa.

Estava bastante claro que ela tentou disfarçar o que estava sentindo, mas também percebi que ela não parecia bem, estava pálida.

Fiquei ainda mais preocupado, pensando se talvez eu tenha sido o responsável por aquilo, quando a Mariana se aproximou de nós.

— Oi, Murilo. — Apesar das palavras leves, ela parecia querer me fuzilar e eu tinha que dar-lhe toda a razão. — Acredito que existem várias outras lojas neste shopping e você não precisava vir passear com a sua namoradinha aqui em nossa loja.

Se as primeiras palavras pareceram cheias de significado, o que ela disse depois foi bem direto e totalmente injusto, mas eu precisava admirar por vir em defesa de sua amiga.

— Você estaria certa, se esse tivesse sido o caso.

Olhei em volta, procurando pela Lavínia, mas ela tinha ido embora, como imaginei que faria.

— Procurando pela bruxa? — Mariana perguntou com ironia. — Fique à vontade. Eu estou indo deixar a minha amiga em casa.

— Eu posso fazer isso, então. — Me ofereci de imediato.

— Eu não quero a sua companhia.

Ouvir aquelas palavras da mulher que eu amava foi duro, mas eu entendi que ela acreditava que eu merecia aquilo e, resolvi que primeiro eu precisava esclarecer o que tinha acontecido e somente depois, a gente poderia falar sobre nós.

— A Lavínia é a namorada do meu primo e eu não vim ao shopping com ela. — Comecei a esclarecer os fatos.

— Então como vocês chegaram aqui juntos? — Mariana me interrompeu, tomando as dores da Virgínia, mais uma vez. — Como você explica isso?

— Eu posso explicar, sim.

Antes que eu fosse em frente com o que tinha a dizer, Virgínia se segurou em meu paletó, parecendo estar tonta ou algo parecido e meu coração disparou descontrolado.

— Eu não me sinto bem. — Ela falou, com bastante dificuldade.

Virgínia estava respirando com dificuldade e eu a segurei, pensando em colocá-la no colo, mas ela, apercebendo o que eu pretendia, recusou com um gesto negativo de cabeça.

— Eu só preciso sentar. — Disse, entre fortes respirações. — Não chama a atenção das outras pessoas, por favor.

Atendi o seu pedido e a ajudei a caminhar até o balcão, que estava quase ao nosso lado.

— Tem uma cadeira aqui, por trás desse balcão. — Mariana apontou para o lugar mais próximo a nós.

Virgínia

Ver que o Murilo estava com a Lavínia na minha loja só fez com que eu me sentisse ainda pior do que já estava e, quando eu percebi que estava prestes a cair ali mesmo, no meio de tantas pessoas, decidi que era melhor pedir ajuda para a pessoa que estava mais próxima a mim, mesmo que fosse alguém que eu simplesmente detestava, naquele momento.

Depois de alguns minutos, quando eu já estava sentada e me sentindo um pouquinho melhor, mas ainda tentando respirar o máximo de vezes possível, pois sentia que poderia perder os sentidos a qualquer instante, eu pensava apenas em mim e no meu bebê.

— Acho melhor te levar ao hospital, Virgínia. — Murilo falou, com evidente preocupação. — Isso não é normal. Não acho uma boa ideia que você continue aqui.

Eu não respondi e nem pretendia, pois eu não conseguia nem mesmo pensar com clareza, quando mais elaborar uma resposta satisfatória.

— Ela não parece bem, Mariana!

— Eu sou capaz de ver isso com os meus próprios olhos, Murilo. Você não precisava me dizer.

— Vamos chamar o gerente da loja. Ela precisa ser dispensada por alguns dias. Não pode continuar trabalhando desse jeito.

— Já chegamos à mesma conclusão sozinhas. — Mariana rebateu. — Você aparece aqui com aquela mulherzinha e depois quer bancar o bom homem. Faça-me o favor!

Agora, Mariana e Murilo estão brigando. Só era isso que faltava!

— Trás a bolsa da Virgínia. Vou levá -la para o hospital agora.

O tom de comando do Murilo era algo que eu ainda não tinha presenciado, e teria achado engraçado, se não estivesse sentindo uma tontura tão forte.

O Murilo me olhou com uma expressão bastante séria e parecendo até mesmo chateado e já consegui imaginar o que ele pretendia dizer.

— Tudo bem, eu vou para o hospital. — Concordei, antes mesmo que ele dissesse. — Só me dá alguns segundos.

Ele concordou e, após alguns segundos realmente, eu me levantei devagar e comecei a caminhar para a saída da loja, com a Mariana ao meu lado e o Murilo olhando com sua mais nova cara de bravo.

Não deixei que ele me carregasse, no entanto e, para minha satisfação, a loja ficava bem próxima a umas das saídas que levavam ao estacionamento de vários andares do shopping.

Acredito que por quase não ter ninguém caminhando pelo estacionamento, Murilo decidiu que era o momento de contrariar a minha vontade e me colocar em seus braços.

Eu não admito o fato em voz alta, mas agradeci internamente pela atitude. Estava me sentindo muito cansada, como se estivesse carregando quilos e quilos sobre os meus ombros e até o meus membros pesavam.

— Ninguém está vendo. — Ele falou, enquanto caminhava comigo em seus braços, confirmando aquilo que eu já tinha deduzido sozinha.

Rapidamente chegamos ao seu carro, ou eu perdi a noção do tempo e logo estávamos à caminho do hospital.

O Murilo pediu para que a Mariana fosse no banco de trás comigo e quando chegamos a um hospital que reconheci como sendo um dos melhores de São Paulo, ele novamente me colocou em seus braços, não aguardando pelo atendimento dos enfermeiros do local.

— Vou te colocar em uma cadeira de rodas, tudo bem? — Ele perguntou, em seu tom gentil, aquele com o qual eu já estava acostumada.

— Sim.

Assim ele o fez e em pouco tempo eu fui não apenas atendida pela equipe médica, como também fiz vários exames clínicos.

A Mariana foi embora, voltando para a loja a meu pedido, pois, mesmo que eu insistisse em não querer estar com o Murilo, a verdade é que ele era o pai do filho que eu estava esperando e era mais do que justo que ele estivesse comigo naquela situação.

A nossa loja estava apenas no início e precisava que uma de nós estivesse lá, cuidando de tudo pessoalmente.

— Como está se sentindo agora? — Murilo perguntou, tentando segurar a minha mão.

Eu estava em um dos apartamentos do hospital, mesmo acreditando que aquilo não era necessário e era tudo muito diferente ao que eu estava acostumada.

Depois que ganhei o dinheiro com o leilão, eu havia iniciado não apenas um negócio próprio, como também passei a pagar um bom plano de saúde para mim e para os meus pais.

Mas, como ainda não havia precisado usar e também ainda estava no período de carência de alguns serviços, eu não conhecia ainda na prática o quanto era diferente dos serviços públicos a que eu estava acostumada.

— Sinto-me um pouco melhor agora.

Eu estava tomando uma medicação intravenosa e realmente, me sentia melhor, pois estava deitada e quietinha, enquanto que o Murilo não parava de andar de um lado a outro.

— Espero que esteja tudo bem com o nosso bebê.

Ele havia puxado uma poltrona, que parecia até bastante pesada, para o lado da minha cama e ainda segurava em minha mão, enquanto me olhava com um sentimento bastante claro e que me deixou confusa: adoração.

Mas, ao pensar mais claramente, deveria ser dirigido ao filho e não a mim e eu não deveria pensar bobagens.

Bateram brevemente à porta aberta, acredito que apenas para anunciar a entrada de alguém e nós dois olhamos na direção do recém chegado.

— Virgínia Barbosa? — O jovem médico que me atendeu quando cheguei ao hospital entrou no quarto.

— Sou eu mesma, doutor.

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