Virgindade Leiloada romance Capítulo 26

Virgínia

— Eu gostei verdadeiramente do doutor Clifford e vou fazer o meu pré-natal com ele, sim! — Falei e cheguei até mesmo a bater o pé no piso do carro do Murilo.

— Ele é um abusado e você deveria escolher melhor a pessoa que vai te acompanhar durante toda a gravidez, Virgínia. — Murilo insistiu, mais uma vez. — Deveria ver outras opções, primeiro. Alguma indicação, quem sabe.

— E quem poderia me indicar um médico obstetra, Murilo?

Desde o momento em que entramos naquele carro, o Murilo teimava em que eu não deveria fazer meu pré natal com o médico tão gentil que havia me atendido na urgência aquela tarde e eu não pretendia atender aos seus desejos de forma alguma.

Ele não gostou do médico, mas não seria ele a pessoa atendida e sim, eu. E ninguém melhor que eu mesma para saber qual seria a pessoa ideal para cuidar da minha saúde e da saúde do meu bebê.

— O que você acha de fazermos um acordo?

— Depende do que seja a sua proposta de acordo. — Falei com desconfiança.

— Eu não me meto mais nesse assunto de médico, deixando você escolher livremente a pessoa que você quer para te acompanhar durante toda a gestação…

— E o que você quer, em troca de tamanha generosidade, Murilo? — O interrompi, falando de maneira bastante sarcástica.

— Algo simples e que não vai demandar muito do seu tempo. — Ele disse, sua atenção totalmente concentrada no trânsito.

Já passava das vinte e duas horas e o trânsito estava bem tranquilo, para meu alívio.

Depois de tomar três litros de soro e ter recebido a medicação que o médico prescreveu, eu me senti bem melhor dos sintomas horríveis e bastante incômodos que estavam me perseguindo há alguns dias.

Agora, que eu sabia que a fraqueza e tonturas se deviam a anemia, eu cuidaria melhor da minha saúde e evitaria várias outras coisas, entre elas, o Murilo.

— E o que seria? — Perguntei, querendo que ele fosse direto ao ponto.

— Quero apresentar você para a minha vó e para a minha prima Ártemis. — Ele falou, me deixando completamente abismada. — Gostaria que aceitasse me acompanhar ao almoço de domingo, na casa da vovó.

— Sem chance! — Eu cortei logo as suas pretensões. — Não posso ir almoçar na casa da sua família, Murilo.

— Por que, não? — Ele perguntou, dessa vez tirando até o seu olhar do caminho a sua frente.

— Eu tenho certeza de que a "casa da vovó" deve ser uma mansão enorme, ela deve ser uma senhora pedante e cheia de planos para o neto querido e jamais vai aceitar que a mãe do seu filho seja uma pobre coitada e sem berço, igual a mim. — Eu disse sem fazer questão alguma de medir as palavras. — Eu não saberia nem mesmo entrar na casa dessa sua avó!

Ele não me olhou dessa vez, mas, ao olhar para o seu perfil, enquanto dirigia atento ao trânsito, notei que sua mandíbula estava trincada, como se estivesse com raiva.

Mas nada saiu de sua boca e eu também me mantive em silêncio, aguardando por uma explosão que não veio.

— Não vai dizer nada? — Perguntei, após minutos sem que nenhuma palavra fosse trocada dentro do carro.

— Dizer o quê? Você não pode ser obrigada a fazer aquilo que não quer.

Sorri com satisfação ao ver que ele compreendeu a minha posição e que nada poderia me fazer mudar de ideia.

Já estávamos bem perto da rua em que eu morava e suspirei aliviada agora, me sentindo até mais leve, ao constatar que não haveria pressão alguma de sua parte.

Quando o carro parou em frente a casa onde moro com meus pais, pensei em apenas dar um tchau breve e sair do veículo sem perda de tempo.

Então, fui logo segurando na maçaneta interna e a puxando, logo que ele estacionou e estava prestes a dar o meu "tchau breve", quando constatei que ele também havia descido do carro e dava a volta e caminhando em direção ao portão de entrada da minha casa.

— Onde você vai? — Perguntei horrorizada, ao ver que ele já estava parado na porta de entrada.

— Ao contrário de você, quero conhecer sua casa e a sua família. — Ele disse, em um tom que não admitia contestações. — E nada poderá me impedir de fazer isso.

Murilo me encarou com um olhar duro e que conseguiu mexer comigo, de uma forma completamente estranha.

Vê-lo com os lábios selados e o rosto demonstrando irritação, fez com que eu desejasse me aproximar dele e o beijar, tirando de seu rosto aquela expressão de raiva, que não combinava em nada com o homem sempre adorável.

Repreendi esses pensamentos libidinosos e segui até a porta também, parando ao seu lado e apenas girando a maçaneta, pois sabia que deveria estar destrancada, como meus pais costumavam deixar, quando estavam em casa.

A porta estava trancada e aquele era o sinal de que não haveria ninguém em casa, algo bem estranho e eu, ainda olhando com estranheza para o Murilo, peguei a chave dentro da minha bolsa e abri a porta.

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