O Egípcio romance Capítulo 83

Desisti da festa com um monte de gente. Farei um jantar à luz de velas. Será uma surpresa para ele. Estou muito agitada. Hoje vou contar que ele será pai.

Raissa e eu estamos arrumando tudo agora, estamos no horário do nosso almoço. Eu nem volto mais para o trabalho hoje. Estou tão ansiosa, que não conseguiria trabalhar.

Raissa precisará voltar ao hotel para Hassan não desconfiar de nada. Ela já deu parabéns para ele hoje cedo. Já eu fiz que esqueci da data. Percebi que ele me olhava insistentemente hoje de manhã, acho que não acreditando nisso.

Tadinho. Quase dei parabéns para ele, mas me segurei, pois quero que a surpresa seja muito maior quando ele se der conta de tudo que preparei para ele.

— Bem, está tudo pronto — ela diz, olhando as bexigas cheias em forma de coração, e com a amarração formamos um grande coração na sala. Nós as enchemos com um cilindro de gás que ela conseguiu.

A mesa para dois está linda. Perfeita, romântica…

— Vou arrancar algumas lágrimas de Hassan Hajid — eu digo. — Ele irá se emocionar.

— Hassan se emocionar? Duvido! No máximo ele irá sorrir, mostrar-se grato e animado.

Eu tenho convivido com Hassan e sei o quanto ele está diferente. Ela tem o irmão, o homem de negócios. Eu não, tenho o homem transformado. Eu tenho o cinza, e por que não o colorido?

— Pois eu tenho certeza de que ele vai! — afirmo.

— Está aí uma coisa que eu preciso ver.

Eu sorrio para ela. Não lhe contei sobre a gravidez. Ninguém sabe. Hassan tem que ser o primeiro a saber…

Mudo de assunto:

— E seu pretendente? Como estão as coisas?

— Estou feliz, Karina. Está difícil controlar a atração que temos um pelo outro. Mas o namoro árabe é como um preparado em banho-maria, lento, mas que deixa tudo no ponto. Estamos nos conhecendo devagar.

— Ah, disso eu entendo bem.

— Verdade! — ela ri. — Quando não se tem sexo, estimulamos mais o relacionamento com muita conversa. Conhecimento um do outro. Mas não nos demoramos muito a casar também.

— Sabe que é verdade! Vejo as meninas da loja. Os caras saem com elas regados a muito sexo e bebida, e eles conversam muito pouco — fico pensativa. — Bem, mas acho que deve ter o que faz ambos transarem e conversarem. Eu acho.

Ela meneia a cabeça. Ela, como eu, não entende muito desse assunto. Como todos sabem, sempre fui muito nerd e lenta para essas coisas.

Raissa olha o relógio. Ela inala o ar hélio da bexiga e a fecha. Fala com voz engraçada, fina, horrível.

— Preciso ir. Hassan irá desconfiar se eu não almoçar com ele.

Eu rio.

— Então vai. Não quero que meu habibi desconfie de alguma coisa.

— Está certo.

Hassan

Eu estou de mau humor. Atravesso o hotel em passadas largas, tomando cuidado para não tropeçar nos pedaços de concreto no chão. Se houvesse um troféu “paciência” para lidar com a mais completa incompetência desse engenheiro civil, eu deveria ganhá-lo. Ele está rindo de algo que um dos pedreiros falou, quando ele me vê se endireita e fica sério.

— Pensei que você tinha me dito que tinha acabado essa parte de destruir — digo com meu árabe arrastado.

— Tivemos que quebrar essa parede. Encontramos cupim nela.

Xara!

— Se o senhor permite-me dizer, as fundações dele são muito velhas. Uma hora isso iria acontecer.

Esse foi meu primeiro hotel. Ele era um pulgueiro, e eu o ampliei e reformei o que pude.

— Vai precisar quebrar tudo? — pergunto, irritado, sem dar maiores explicações.

— Não, vamos aplicar o veneno nessa parte que abrimos e esperar para ver se surtirá efeito. Caso os cupins não sejam exterminados de vez, teremos que quebrar tudo.

— Então deixa eu explicar para você como vai ser. Não quero que me enrole mais com essa merda toda. Estou cansado dessa reforma, sempre surge alguma coisa. Estamos em um hotel. Xara! Eu já tinha te mostrado essa parede e só agora você viu que o problema é cupim?

Ele dá um passo ameaçador em minha direção para dizer alguma merda. Eu imediatamente meço a distância com meu punho fechado. Louco para acertar sua cara.

Steve deve ter percebido o quanto estou nervoso, pois ele para e fala:

— Está certo. Prometo que em quinze dias iremos concluir a reforma. Nem que tivermos de trabalhar de madrugada.

— Ótimo. Mas na madrugada serviços sem barulho! — aviso, mal-humorado, e me afasto.

Quando vou até o restaurante do hotel, o maître se aproxima de mim com um sorriso. Estende a mão.

— Parabéns, Senhor Hajid.

Eu forço um sorriso tentando ser simpático e aperto sua mão com força.

— Obrigado.

De repente, entendo de onde vem meu mau humor. A questão é que completei hoje 41 anos e a mulher da minha vida não se lembrou. Até a faxineira se lembrou da minha data. Não comemoramos aniversário, mas sei que eles, os ingleses, são muito festeiros com essa data.

— A mesma mesa?

— Sim. E Raissa?

— Não a avistei ainda. Irá esperá-la?

Olho o relógio.

— Vou.

— Beberá algo antes? Um suco, talvez?

— Um uísque.

Ele estranha, mas assente e se afasta.

Enquanto espero Raissa, pego o meu celular na mão. Olho para ele, louco para mandar uma mensagem para Karina. Mas meu orgulho não deixa. Sempre mando algo para ela. Uma frase carinhosa, um poema de amor. Mas hoje não!

Allah!

Guardo o celular no bolso. Ergo meu rosto e vejo Raissa entrando no restaurante. Ela está com um pacote entre as mãos.

Meu presente? Até essa cabeça-oca se lembrou do meu dia. Eu me levanto e afasto sua cadeira.

— Você demorou hoje. Onde estava?

Ela sorri.

— Comprando isto. Parabéns.

Eu lhe dou um sorriso melancólico. Pego o pacote da mão dela. Puxando a fita azul, desfaço o embrulho branco.

— Lembra desses doces?

— Baklavá de nozes. Papai sempre comprava. Onde você os achou?

— Com meu namorado egípcio. Quando eu falei para ele da minha infância, que papai sempre nos trazia esses doces, ele deu um jeito de conseguir a receita e fez para mim em seu restaurante. Eu pedi para ele uma caixa para te dar de aniversário.

Eu sorrio aberto para ela.

— Amei meu presente. Esse era o doce preferido de minha mãe.

— Puxa! Eu não sabia.

— Ela sempre fazia para nós aos sábados.

Ela pega a minha mão e aperta carinhosamente.

— Bebendo? — Raissa comenta.

— Sim, estou irritado. A reforma do hotel está demorando demais. Toda hora surge alguma coisa. Estou cansado de tropeçar nas coisas. Desse jeito vamos cair na classificação. Os hóspedes já estão olhando torto.

— Sei — ela diz, me estudando.

Desvio meus olhos dos dela. E termino minha bebida.

Karina

Hassan não me mandou mensagem hoje. Ele deve estar chateado por eu não ter me lembrado do seu aniversário. Olho meu vestido longo vermelho, que marca todo o meu corpo. Guardei alguns para momentos como este.

Coloco saltos altos, faço uma maquiagem leve, valorizando os olhos. E deixo os cabelos soltos, como ele gosta.

Na sala, a lareira está acesa, o fogo crepitando, as brasas bem vermelhas trazendo um calor muito agradável para o ambiente.

Passo as mãos nas bexigas com um sorriso. Elas estão presas com uma fita em um peso de papel. Logo que ele entrar na sala, sentirá o cheiro da essência árabe no ambiente. Pois nada marca mais no mundo oriental do que o Bakhoor. É como se estivéssemos no Egito. Quero que Hassan se sinta em um ambiente familiar, aconchegante, verdadeiramente em casa.

Meu coração está agitado. Não vejo a hora de vê-lo, de mostrar a ele que não só me lembrei, mas me preparei para este dia e tudo para recebê-lo.

Quando ouço a porta se abrir, coloco a música que Raissa e eu escolhemos juntas. É uma música egípcia, maravilhosa, que fala de amor, e me escondo atrás de um pilar.

Hassan surge na sala. Seu semblante está carregado, ele parece cansado. Ele imediatamente me procura no sofá. Uma sobrancelha se ergue. Só então ele repara nos balões mais para frente do seu lado direito. Ele vira a cabeça em direção à sala de jantar e vê a mesa arrumada, e sorri.

— Hassan — o chamo.

Ele se vira para o som, mas não me vê. Eu sorrio e saio do meu esconderijo. Seus olhos correm meu corpo e depois procuram os meus. É nítido seu estremecimento.

— Você se lembrou.

— Sim, você acha que eu ia esquecer de um dia tão especial? Sei que vocês não têm o costume de comemorar. Mas sei que esperava isso de mim, por causa da minha cultura.

— Você está linda — diz rouco, olhando para mim como que enfeitiçado.

Passo a mão pelas minhas curvas.

— Guardei alguns vestidos para momentos como este.

Ele solta o ar, como se o estivesse retendo, e caminha em minha direção. Sorri quando passa a mão nas bexigas vermelhas em forma de coração e em formato de um grande coração.

Sente o perfume do ambiente e fecha os olhos. Olha o som, e sorri quando ouve as palavras de amor que saem de lá. Depois olha para mim.

Nos abraçamos. Eu estremeço em seus braços. Ele procura meus olhos e diz:

— Allah! Eu tenho uma mulher incrível.

— Estamos empatados, então, porque você é um homem incrível.

Ele sorri e diz, emocionado:

— Amei meu presente.

Começamos a dançar ao som de Tamer Housny.

sempre com você

دايما معاك لو فى الخيال

Sempre com você mesmo se for na minha imaginação

حبيبى واقرب حد مهما الوقت طال

Querida, e a mais próxima não importa quão longo é o tempo

وكأنى حاسس من زمان فى يوم هنبقى لبعض زى ماقلبى قال

Como se eu sentisse há muito tempo que nós seríamos um para o outro um dia, exato como o que meu coração disse

انا بين ايديك حلم ولا حقيقة وانت قصاد عينيا

Eu estou entre suas mãos, é um sonho ou real quando você está em frente aos meus olhos

احساسى ليك وازاى معاه وصلت للدرجة ديا

Meus sentimentos por você, como eu consegui chegar a esse nível com eles?

انت الوحيد اللى انا اضحى بعمرى وحياتى وسنينى وذكرياتى واتمنى اعيش معاه كل الحياة

Você é a única por quem eu sacrificaria minha vida, meus anos, minhas lembranças, e desejo viver toda a minha vida

عارف نفسى توعدنى بأيه ميبقاش حبيبى بينا وقت للخصام

Você sabe! Eu desejo que você me prometa que não haverá nenhum tempo para nós brigarmos

Eu sorrio de leve. Então, me afastando, o encaro:

— Não, meu amor. Seu presente, o principal, eu ainda não dei.

— Tem mais? — ele pergunta, jocoso, os olhos com um brilho travesso. Ele então passa a mão pelas minhas costas, me causando arrepios.

Digo rouca:

— Tem. Mas te dou depois do nosso jantar.

Hassan parece nem prestar atenção nas minhas falas, pois ele olha a minha boca como se fosse a coisa mais encantadora de se ver. Ele para de dançar e a toma com paixão avassaladora.

Deus! Desse jeito eu serei o jantar.

Eu o afasto e digo, ofegante:

— Vem, vamos. Zaina caprichou, fez tudo que você gosta.

Eu o puxo pela mão, passo pela mesinha de centro e agito o sino. Zaina surge, forçando para não rir da nossa cara de apaixonados.

— Pode servir, Zaina.

— Sim, senhora.

Ela sai e vai em direção à cozinha. Eu olho para Hassan, que sorri para mim.

Ele afasta a minha cadeira e depois ocupa seu lugar à mesa. Zaina aparece com uma bandeja e coloca o prato na frente de Hassan.

— Hum, carneiro assado?

— Sim, Raissa disse que essa é sua comida preferida.

— Allah! Essa música, a essência saindo do bukhur e essa comida, sinto como se estivesse em uma casa no Egito.

— Você sente falta de lá, não sente? — pergunto, triste por ele.

Hassan olha bem nos meus olhos.

— Sinceramente? Eu amo meu país, mas o que eu sentia falta era da família que eu deixei para trás. Hoje estou feliz aqui. Pois agora neste país tenho tudo que preciso. Você. Raissa. E agora sua nova família.

Eu me emociono com as palavras dele. Pego sua mão e levo aos lábios, e a beijo de olhos fechados.

Entre sorrisos e olhares, nos servimos. Além do carneiro, colocamos os legumes cozidos e arroz fresquinho que estavam dispostos na mesa.

Quando finalizamos o jantar, eu puxo Hassan para o nosso quarto.

— Agora, seu presente.

Hassan sorri.

— Allah!

— Não é o que você está pensando — aviso quando ele me dá uma lambida no pescoço.

— Karina, estou curioso agora.

Com o coração acelerado, acendo a luz do quarto e o coloco sentado na cama. Respiro fundo e pego o pequeno pacote nas mãos. Caminho com um sorriso até Hassan. Ele me olha nada animado. Tadinho, tão sincero, que não consegue nem esconder que ele esperava algo que não fosse material.

— Abra — digo, animada.

Hassan solta o ar. Quando ele pega a caixa, dá uma balançada, pois é muito leve.

— Uma gravata.

Eu rio.

— Você tem uma coleção de gravata, você acha que eu te daria mais uma?

— Então não é roupa — ele diz, mais animado.

— Não.

Ele puxa o laço vermelho e abre o papel de presente preto. Meu coração salta mais no peito. Quando ele abre a caixa, vê dois sapatinhos de crochê e um envelope. As mãos de Hassan tremem, ele ofega. Pega imediatamente o envelope e tira o ultrassom.

Seus olhos marejados voam nos meus. Mas ele não consegue falar. Agora suas lágrimas descem.

— Sim, você será pai.

— Karina. Allah! Fomos abençoados! — ele diz, emocionado, e me abraça forte. — Sawf 'akun al'ab! — “eu serei pai!”. — Allhamdulillah — “glória a Deus”. Ele então me afasta. — E os comprimidos?

Eu passo a mão no rosto dele.

— Raissa me disse seu grande desejo de ser pai, você mesmo me disse isso. E nosso relacionamento tem dado certo. Por que esperar, então?

— Você parou de tomar, então?

— Sim, e torci para que eu ficasse grávida logo, para te dar essa notícia no seu aniversário.

— Ana Habebik ya, habibi — “Eu te amo, meu amor”. — Amei meu presente.

Ele então olha para a minha barriga e diz, pensativo:

— Nem parece que você está grávida.

— Mas estou! Gravidíssima!

Um sorriso sexy se espalha lentamente por seu rosto.

— Vamos tirar então esse vestido, que quero beijar meu filho e depois quero cuidar com carinho da mãe dele — eu me arrepio com a voz sexy com que ele diz tudo isso.

— Filho?

— Sim, eu acho que será um homem.

— Hassan, acho meio machista isso. E se você tiver duas meninas?

— Eu vou amá-las.

— Você sabe que…

— Eu sei, dois filhos — ele diz, meio resignado.

— Isso! — digo, sorrindo.

— Por que com você tem que ser tudo preto no branco? — ele pergunta.

Essa é boa!

— Bom, chega de conversa. Tire esse vestido.

Eu sorrio e puxo a lateral do meu vestido. Logo estou de calcinha e sutiã.

Ainda bem que o ar-condicionado está ligado, pois lá fora dá para ver a neve caindo, está um frio congelante. Hassan também se livra de sua roupa, enquanto eu tiro a minha. Então, só de cueca, ele se ajoelha e beija a minha barriga, um beijo demorado. Ao se erguer, me abraça forte. Olha para mim e sorri.

— Eu amei meu presente.

— Eu sei, sabia que você ia amar…

Sua boca toma a minha com paixão. Mãos correm pelo meu corpo, levemente sobre meus seios e, em seguida, duramente em torno de meus quadris, tocando-os antes de viajar abaixo, nas minhas coxas. Todo o tempo ele me beijou e mal se separou para respirar. Sua língua se choca contra a minha, dentes mordiscam meu lábio inferior. Eu respiro com dificuldade enquanto envolvo minhas pernas em torno de seus quadris.

Ficamos assim:

Beijos molhados.

Línguas que se acariciavam.

Mãos correndo o corpo um do outro. Elas já sabem onde tocar, o que agrada.

Ficamos assim, durante segundos, nus, os toques de quentes a inocentes. Amo quando sua língua encontra a minha pelo caminho em um toque maravilhoso, úmido e quente. Nessa hora, o seguro e aprofundo o beijo, sentindo seu gosto.

Ele parece sentir o mesmo, pois logo seu beijo é descontrolado, ansioso.

Vejo emoção nos olhos dele quando me segura, seu corpo se encaixando no meu. Ele está dentro de mim. Em uma única mexida, meu corpo explode com um choque elétrico de prazer, pernas e braços abraçam um ao outro enquanto ele se mexe. Instintivamente, eu me mexo também, ansiando por lhe dar prazer. Sinto como se o corpo dele completasse o meu.

Fizemos amor assim, cercados de adoração e desejo…

— Deus — exclamo, explodindo sem reservas com espasmos que me consomem até o alívio.

— Nunca haverá outra — Hassan diz, se movimentando, olhando nos meus olhos. — Só quero este corpo — me beija. — Só quero estes lábios — volta a beijar-me. — Eu te amo.

Mais lágrimas descem pelo meu rosto ao ouvir sua declaração. É a força dos meus sentimentos, o amor que sinto por Hassan transbordando…

Hassan fecha os olhos quando se entrega, explode em prazer, e quando me abraça satisfeito geme com murmúrios de amor. Braços me puxam e contornam o meu corpo em um abraço apertado. Com emoção, o abraço também, e apoio minha cabeça em seu peito, enquanto sinto meu corpo se encaixando melhor no seu. Ouço sua respiração agitada como a minha, seu coração acelerado como o meu. Aos poucos tudo vai se acalmando, e o silêncio fica mais denso, até dormirmos, um nos braços do outro.

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