O Sheikh e Eu(Completo) romance Capítulo 30

Por quanto tempo eu poderia me arrepender de todas as burradas da minha vida?

Agora eu compreendia porque eu nunca tinha feito nada assim. Por que me humilhar com meu chefe de tal forma que eu preferia me manter trancafiada para sempre no quarto a ter que lembrar de cenas e recortes variados do dia anterior, sem saber o que tinha acontecido primeiro, mas me arrependendo de cada lembrança vaga?

Cheguei a pensar que podia forjar a minha morte, mas a enxaqueca estava forte e pensar não era algo que eu estava com muita capacidade de fazer. Contudo, foi somente quando eu ouvi uma batida na porta que o alarde tomou conta de mim e eu ouvi Seth falando do outro lado:

– Vou deixar um remédio e uma água aqui na porta do seu quarto. A gente se encontra no almoço? – Eu ia dizer que não, mas estava com vergonha até mesmo de falar.

– Eu sei que você está acordada, Agnes. Você faz muito barulho quando acorda. – Ele murmurou e pareceu se afastar. Finalmente consegui tomar o ar novamente e respirar. Não sabia se ainda estava em mim, mas certamente, a vergonha estaria na minha alma para sempre.

O que eu fiz? Perguntei a mim mesma mais uma vez. Novamente, não obtive resposta da minha imagem.

Abri a porta lentamente, para ter certeza de que Seth não estava ali e, quando tive certeza disso, respirei aliviada e peguei o copo e o comprimido que estavam numa bandejinha no chão. Engoli o comprimido pedindo aos céus que aquela enxaqueca pudesse se ver livre de mim e decidi me aprontar para almoçar com Seth. Não podia fugir dele para sempre.

Coloquei uma calça jeans de lavagem escura e uma blusa de manga comprida cinza. Coloquei ainda um casaco grande e pesado de tecido grosso sobre a blusa e fechei completamente para realmente não pegar frio. Coloquei tênis confortável e prendi o meu cabelo num rabo de cavalo alto esperando que meu cabelo não desse os ares de floresta no clima úmido.

Mal desci para a entrada do hotel e percebi, para a angústia geral da nação, que Seth estava do lado de fora do hotel, falando no celular. Por algum motivo, me escondi na parede. Agora que o via, a vergonha alheia me impedia de me aproximar dele e eu comecei a pensar em maneiras de sair de Zurique de trem e ir até Munique. Talvez se o hotel tivesse outra saída para a rua, bastava eu ir por essa e...

– Ta fugindo de mim, Amira? – Tomei um susto com a presença de Seth como um fantasma aparecendo na minha frente. Meu coração estava completamente acelerado.

– Claro que não. – Tentei parecer profissional. Coisa que não estava.

– Aham, sei. – Disse Seth tentando não rir. – Não se esqueça que você agora é minha amiga. – Ele disse brincalhão.

– Só em sonho! – Disse e Seth balançou a cabeça negando. Devia estar rindo internamente de mim e o faria pela eternidade se fosse possível!

Rapidamente almoçamos, com Seth me dando um sermão para não beber mais. Disse que depois da festa dele, percebeu que tinha, inclusive, infringido leis do alcorão e nunca mais repetiria. Não mais pessoas beberiam por conta dele, pois isso transformava o indivíduo e esse se sentia humilhado depois que o efeito passava. Ouvir Seth falar tão sério sobre isso só fez eu me sentir ainda pior diante dos erros que tinha cometido a sua frente.

Para apaziguar o clima constrangedor que estava entre a gente, Seth ficou de me mostrar um pouco de Zurique – que aparentemente ele conhecia muito bem – e me levou para passear pelas ruas da parte antiga da cidade.

Avançamos à tarde com passeios inusitados. Bebi das fontes que eram espalhadas pela cidade e visitei até mesmo o que parecia um recanto chinês. Seth ficou me zoando o dia inteiro e inevitavelmente, me fazia revirar os olhos diante das minhas humilhações.

Uma hora, para meu completo desespero, eu tinha me perdido em pensamentos e, quando percebi, Seth tinha tirado uma foto minha com o celular e estava rindo dela. Dei tapas no braço dele depois de ver que ele tinha capturado a foto no exato momento que meu maldito cabelo tinha voado para a minha cara e eu parecia uma tonta tentando me livrar dele, mais parecendo que estava me enrolando ainda mais nele. Ele gargalhava tanto observando a foto que, invariavelmente, uma hora eu acabei fazendo o mesmo também.

– Agora, então, é minha vez. – Disse e tirei o celular do bolso. Apontei a câmera para ele e fiquei contemplando a imagem do Sheikh sob a vista do celular.

Seth estava usando uma blusa comprida de cor marrom e um casaco de lã também marrom por cima. Além disso, tinha um gorro marrom na cabeça e estava com calças largas e coturnos. Estava galanteador no sorriso cafajeste dele e quando apontei o celular para ele, Seth deu uma longa gargalhada e eu tirei a foto no exato momento que meu cabelo decidiu voltar a me enroscar e me matar asfixiada deixando um Seth risonho.

Quando estávamos seguindo para o hotel, Seth comprou dois chocolates quentes para nós e nos sentamos em banquinhos na praça para descansar um pouco. Estava cansada e meus pés ardiam e, no outro dia de manhã, já faríamos nossa viagem para Munique. O dia em Zurique tinha sido mágico e eu não sabia muito o que fazer, então acabei agradecendo a Seth:

– Obrigada por ter me proporcionado uma linda visão de Zurique. Vai ficar para sempre na minha memória. – Comentei e Seth concordou balançando a cabeça. Parecia perdido nos pensamentos bebericando a bebida quente e eu prontamente passei a fazer o mesmo.

– Você estava falando sério? – Começou Seth e eu franzi o cenho sem compreender o que ele estava falando. Seth umedeceu os lábios para continuar. – Estava falando sério quando me disse que eu era o seu amigo? – Fitei o horizonte ao longe. Os montes alpes circundavam a cidade e tudo parecia ainda mais gélido e tranquilo. Como uma vila moderna no meio da montanha. Essa era Zurique.

– Sim. – Confessei. – Você é um mimado de um Sr. Riquinho, mas acho que depois do que você fez por mim ontem.... Você é meu amigo, Seth. – Disse e, de verdade, estava falando do fundo do meu coração. A verdade, é que eu queria dizer mais, mas achei que ainda não era o momento ou que talvez Seth fosse achar tudo demais o que eu falasse. Mas a verdade é que fazia tempo que eu não me sentia tão livre, ou tanto tempo que alguém tinha me ajudado, como Seth tinha feito, sem ficar me julgando ou querendo algo em troca.

Fernanda sempre me ajudava, mas talvez agisse as vezes como uma mãe. E bom, Matheus não precisava nem falar. Ele sempre estava me criticando, quando não querendo algo em troca. Seth, ontem, tinha me ajudado de verdade, quando poderia aproveitar de mim, eu estando bêbada e completamente estúpida ao redor dele, mas, ao contrário, ele somente me ajudou. Claro, que eu ainda estava esperando o momento que ele fosse pedir algo em troca, para mim, mas, até então, ele não tinha feito e eu agradecia mentalmente por isso.

– Nunca tive amigos. – Começou Seth. – As pessoas sempre me olham e querem estar perto de mim pelo que eu represento. Pelo dinheiro que eu tenho, nunca pelo que eu realmente sou. – Me segredou. – Mas você nunca quis ser minha amiga e nunca fez questão de me impressionar em momento algum. – Seth riu. – Talvez quisesse impressionar minha mãe, como uma ótima governanta, mas nunca a mim. Você nunca quis chamar a minha atenção, mas, mesmo diante de tudo, você sempre foi sincera comigo. E eu aprecio muito a sua amizade, Agnes. – Confidenciou-me Seth. Eu não sabia o que achar ou o que falar, apenas me senti muda, ainda sem fala por tudo o que Seth tinha me dito.

– Seth. – Comecei também. O clima estava começando a ficar estranho entre nós. – Você está muito sentimental. – Brinquei para tentar espantar o clima de solidão que se formava ali. Seth riu e me empurrou de leve, levantando-se subitamente com um sorriso nos lábios.

Foi até o lixo e jogou o copo de papel já vazio no mesmo enquanto se aproximava de um poste. Franzi o cenho ainda tentando compreender o que Seth estava fazendo afinal, até que ele começou a falar:

– Mostra para o seu boy! – Disse imitando uma das meninas e ele começou a rodar o poste de maneira engraçada, ao tentar ser sexy, e eu gargalhei alto diante da figura do grandalhão Sheikh brincalhão. Desatei de rir, ainda que estivesse mortificada de vergonha e Seth parou em um dado momento o poli dance macabro, rindo e vindo ao meu encontro.

– Viu, eu sei mostrar melhor que você para o seu boy. – Ele disse baixinho e piscando. Tinha o rosto levemente vermelho, o que era lindo de se ver. Não era normal ver garotos com timidez, mas, mesmo assim, tinha me deixado rindo como uma tonta.

– Ah é? – Perguntei risonha. – É que ontem eu estava bêbada! – Aleguei. – Hoje vou te mostrar como de fato eu sou ótima na conquista do boy. – Seth fez uma reverência, como se estivesse me incitando a fazer melhor que ele, e tomou o meu lugar sentada enquanto eu me aproximava do poste, agora morta de vergonha, de estar pagando esse mico.

Então eu realmente paguei um mico. Comecei a rodar o poste como se fosse a dona do poli dance e tentei pular no mesmo ao mesmo tempo que rodava. Mas minhas malditas mãos não alcançaram o poste e eu cai arrastando a minha bunda pelo chão enquanto ria da minha queda maravilhosa rumo ao chão.

Seth gargalhou tanto e tão alto que eu só consegui fazer o mesmo que ele e continuar no chão, morta. Seth veio ao meu encontro e me estendeu a mão. Afinal, única forma de ajudar a lesada a sair do chão. Achei estranho, já que Seth tentava não encostar em mim nunca, mas talvez o mundo do ocidente estivesse mexendo com Seth naquele momento. Então aceitei pontificalmente.

Num impulso fui para o alto e ficamos face a face um ao outro. Aquela eletricidade estática tinha retornado com força entre nós, ainda mais porque Seth não soltara minha mão. Estávamos há alguns passos de distância e meu coração palpitava confusamente.

Quando eu disse que eu estava sentindo com Seth uma coisa que eu não sentia com Matheus, eu estava sendo sincera. Essa eletricidade estática, essa sensação terrível de estar tão próxima de Seth e de sentir todos os pensamentos fugirem de mim. A sensação de estar com o estômago dando voltas dentro de mim, gelo na barriga, um frio na boca do estomago. Eram sensações que eu nunca tinha experimentado com Matheus e eu, sinceramente, não sabia o que esperar delas, próxima de Seth.

– Olha lá a Ag! – Ouvi uma voz dizer e percebi que tinham sido as meninas, ainda que eu não tivesse identificado qual delas tinha falado. Soltei-me rapidamente de Seth, puxando a minha mão com uma violência paranormal enquanto me afastava dele ainda cambaleante e sem entender o que tinha acontecido até então, voltando minha atenção para as meninas.

Ainda bem que elas tinham aparecido, do contrário, eu não saberia como me livrar da eletricidade que percorria nossos corpos. E, aparentemente, Seth ainda estava absorto na estática. Engoli em seco e dei meu melhor sorriso para as meninas. Eu disse que ia comprimir aqueles sentimentos para dentro de mim e eu estava falando sério. Seth era apenas um amigo, disse para mim mesma. Era o que eu tinha dito para todos e era no que eu acreditaria dali para frente.

– Oi meninas! – Respondi sem olhar para Seth. A profusão de sentimentos sendo escondidos apenas começando.

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