Meu Senhor romance Capítulo 86

Eduarda Amorim

-Isso não vai acontecer Senhor, eu já tenho "meu Senhor". Não vou traí-lo.

Ele ri e se levanta, se aproximando da cama. Eu me encolho mais na cabeceira.

-Você não quer nem mesmo experimentar? Saber se temos compatibilidade...

-Eu... Eu... Eu... Não desejo o Senhor! Nunca desejei... Nunca houve chances de o Senhor me ter como submissa. Sinto muito!

-Você é muito tola Duda... Tola e imatura! Como pode ter tanta certeza se nem cogitou a idéia de conversar comigo? Madame não te ensinou nada ...

Seus olhos escurecem e eu me encolho mais na cama.

-Ela me ensinou que o bdsm é uma escolha. Eu não sou obrigada a nada... O Senhor está passando por cima de todas as minhas vontades, me mantendo aqui.

Ele fecha a cara e diz raivoso.

-Submissas foram feitas para obedecer, você me deve no mínimo respeito! Então preste atenção como fala comigo...

Eu me encolho mais por causa de seu tom de voz, e começo a chorar.

O que vou fazer se este homem resolve me atacar?

Ouço alguém bater na porta do quarto. Ele se levanta ainda me olhando com raiva, e vai atender a porta.

-Fala Mônica.

-Há policiais lá em baixo Mestre. O que faço?

-Os mantenha ocupado o máximo que puder... Já desço.

Policiais?

É minha chance. Vieram atrás de mim...

Me levanto na cama e saio correndo para a porta tentando passar por ela, antes que ele feche.

-Socorro! Socorro! Eu estou aqui...

Começo a gritar. Ele fecha a porta e me empurra, fazendo com que eu caia no chão.

-Menina arteira! Está na hora de te ensinar uma lição.

Começo a me arrastar para trás, e ele vem caminhando atrás de mim. Até que bato na parede. Paro e olho para ele, com minha respiração difícil. E grito mais uma vez, com  todas as minhas forças.

-Socorro!!!

Ele agarra meu queixo com força e diz:

-Está na hora de por uma mordaça em você... Eu não vou para a cadeia enquanto eu não te possuir.

Ele me segura pelo cabelo e me arrasta para cima da cama. Eu grito mais uma vez...

Senhor me ajude!

*******************

Arthur Albuquerque

Chegamos na casa e eu estou no carro com Bernardo, Paulo e Barreto... Enquanto os policiais batem na porta do Silvio.

Passo a mão na minha calça.

Merda, eu não vou ficar aqui, enquanto ela está correndo perigo. Não vou mesmo...

Abro a porta do carro, e escuto quando Bernardo diz.

-Não Arthur!

-Eu não vou ficar aqui enquanto policiais fazem uma visita de cortesia. Duda pode está em perigo.

Barreto me segura pelo ombro, de frente pra mim e diz:

- O senhor não pode entrar lá...Tem que deixar a polícia fazer o trabalho deles.

-Eu não vou fazer nada... Só quero acompanhar de perto.

-É perigoso Arthur. -Fala Paulo.

-Não estou obrigando ninguém, a vir atrás de mim.

Paulo bufa, e escuto passos quando  eles resolvem me acompanhar, os três. Chego na porta, o detetive Esteves me olha ...

-Doutor...

-Não vou ficar no carro... Só quero está perto...

-Mais  pode ter capangas aqui...

-Eu sei me proteger detetive. Não precisa se preocupar comigo.

Ele suspira, olha para Barreto e ele confirma, botando a mão na  sua arma dentro do coldre e ficando em minha frente. Depois disso, o detetive Esteves aperta a campainha da porta.

Além dele tem três policiais juntos, e mais cinco espalhados pelo terreno da casa em pontos estratégicos.

A tal da Mônica abre a porta e arregala os olhos. Sei que é ela, pois vi uma fotografia.

-Pois não?

-Eu gostaria de falar com o Senhor Silvio, ele está?

-Quem são vocês? O que desejam com meu Me... Patrão?

-Somos policiais Senhorita, e eu tenho uma ordem do juíz para revistar esta casa. Então eu pergunto mais uma vez, aonde está o seu patrão?

Ele empurra a menina e entra dentro de casa, com o papel em mãos.

-Ele está descansando...

-Entao vá chamá-lo...

Ela olha para nós sem saber o que fazer, engole seco e sobe as escadas.

-Porque vocês não vão atrás dela?

Pergunto a ele? Se ele tem uma ordem do juíz para revistar a casa, então porque não foi?

-Doutor Arthur, não tenho ordem nenhuma. Essa hora da noite não ia conseguir um mandato, eu blefei. Então eu vou tentar fazer as coisas na lei... Se acalme...

Eu suspiro...

De repente escuto o pedido de socorro da minha menina... eu não penso duas vezes... saio correndo subindo as escadas de dois em dois degraus. Escuto quando o detetive diz:

-Merda! Doutor espere...

Eu não ouço, eu não quero ouvir... eu só quero alcançar o auto da escada o mais rápido que posso para pegar minha menina. Vejo a Mônica pálida dar de cara comigo...

-Cadê ela... Cadê ela...

Ela gagueja, quando a agarro pelos ombros e a sacudo...

-Eu não sei do que você está falando...

-Arthur solta ela...

Paulo me segura, e o detetive Esteves pergunta.

-Cadê ela? Me poupe tempo menina...

Ela balança a cabeça dizendo que não e eu me desvencilho de Paulo, e começo a abrir as portas daquele corredor. Até que eu ouço minha menina gritar novamente. Vou em direção ao grito e mexo na maçaneta, a porta está trancada.

Bernardo me alcança, e se ajoga na porta a arrombando.

Entro no quarto já não raciocinando, eu só tiro ele de cima dela e o jogo na parede.

Bernardo entra na minha frente, e diz.

-Deixa a polícia tomar conta dele, Arthur.

Eu suspiro e pela primeira vez olho para a minha menina.

Ela está com a camisa rasgada na frente, com os olhos cheios de lágrimas, mais está inteira. Me desvencilho do Bernardo, vou até ela e seguro seu rosto procurando algum machucado ou qualquer coisa. Ela fecha os olhos, e esfrega a bochecha na minha mão.

-Você está bem?

-Sim...

-Ele te machucou?

-Não, eu estou bem ...

A abraço e fecho meus olhos respirando o cheiro de seus cabelos. Não acredito que chegamos a tempo. Graças a Deus!

Vejo o detetive Esteves, arrastando ele para fora do quarto algemado. Vejo Paulo e Bernardo ao meu redor.

Bernardo bate no meu ombro e diz:

-Vamos sair daqui.

Eu concordo e me levanto. Abraçando minha menina e saindo daquele lugar.

-Vamos para casa docinho!

Ela confirma e tira os últimos resquícios de lágrimas dos olhos.

Graças a Deus, deu tudo certo!

************************

Chegamos em casa a algumas horas, e eu estou sentado na cama a vendo dormi.

Não consegui pregar o olho. Eu não consigo tirar da minha mente, a imagem daquele homem nojento em cima dela. Se eu tivesse demorado mais um pouco, teria sido tarde demais.

Tivemos que passar na delegacia para oficializar tudo, e saímos de lá já passava das três da manhã.

Meus pais ficaram no casarão e os meninos, voltaram para a suas casas.

Duda deu um depoimento, e Silvio também. O que acabou esclarecendo muitas coisas. Ele descobriu a pouco tempo, que está com Câncer e metástase em vários órgãos. Tem os dias contados.

Diz ele que não lamentou ter descoberto que estava morrendo, já que ele soube aproveitar a vida melhor do que qualquer outra coisa. O único arrependimento dele é não ter jogado com a Duda.

Então, como um último desejo de um moribundo, resolveu sequestrar o seu objeto de desejo.

Como um último ato.

Não me surpreenderia que se um psiquiatra ouvisse o relato dele, diagnosticasse esquizofrenia ou algum transtorno desencadeado pela notícia da doença fatal. Pois só isso pode justificar o raciocínio dele.

Eu não sei o que passa na cabeça de uma pessoa que está morrendo, mais na área em que eu trabalho, já vi alguns casos absurdos assim... Então talvez a psiquiatria explique.

Ele provavelmente não estará vivo, quando marcarem seu julgamento, e talvez nem esquente a cadeira no presídio, o tempo necessário para pagar pelos seus atos, mais não sairá dessa rindo e nem zombando por ter feito mau a uma menina. Pelo menos a minha menina não...

Agora as outras eu não sei...

Nunca percebemos abusos com suas submissas. Pelo contrário, elas sempre pareciam bem satisfeitas com a relação com ele. Mônica até sequestrou Duda para ele...

Ele também contou em detalhes, como foi o sequestro.

Mônica era sua mais nova submissa. Uma menina de dezoito anos recém completados. Como ninguém a conhecia ele se aproveitou disso, para por ela no caminho de Duda.

No dia da palestra ela teria que levar Duda para o banheiro em questão, e apagá-la. Depois um de seus seguranças atingiu a cabeça de Ítalo com uma coronhada quando ele digitava uma mensagem no celular, e desligou o celular dele assim que caiu no chão.

Na hora de sair do prédio, pegaram uma rota não usada pelos alunos, apenas por funcionarios, no fundo da faculdade. Por isso ninguém notou eles saírem com Duda desacordada.

Ele repetiu várias vezes que não queria fazer mau a menina, que só queria conversar. Mais diante dos fatos e da recusa dela, em ser submissa dele, ele não viu saída a não ser consumar o fato antes que ele fosse preso.

Como disse... Um doido varrido... Que não consegue perceber o quanto estava errado, em fazer esse tipo de coisa.

Me levanto da cama, e saio do quarto, preciso de um pouco de ar... Antes pego um copo e uma garrafa de whisky. Vou até a área da piscina e me sento lá.

Hoje foi um dia muito difícil. A sensação que tive quando descobri que Duda, tinha sido sequestrada eu nunca senti na vida.

Foi como se tivessem enfiado um punhal no meu peito.

Eu perdi o ar, eu perdi a noção das coisas. E comecei a ver as coisas lentamente, como se tivesse em câmera lenta.

Se Pedro não tivesse pego a dianteira, e Bernardo, Paulo e Barreto assumirem depois, eu acho que ainda estaria sentado naquele sofá, olhando para a parede. Sem saber o que fazer...

E isso me fez perceber, que viver sem ela está fora de cogitação.

Eu até posso conseguir, com muito sacrifício e muita força de vontade. Mais a verdade é que não quero seguir sem ela.

Acho que chegou a hora de por um basta no contrato.

De propor uma relação, mesmo ela estando ainda reticente comigo.

Se isso que sinto não é amor, então não sei o que é...

Mas e se ela não estiver na mesma vibe? E se ela achar que ainda é cedo?

E se ela resolver entregar a coleira porque deixou de ser um contrato, para ser uma relação?

Além de fazer papel de bobo, ainda vou perder os dois meses que ainda tenho com ela. Eu posso por um espaço entre nós que não havia antes.

Ela pode achar que não é isso que quer e resolver acabar com o que temos.

Passa a mão pelo cabelo e tomo de um só vez, uma dose de whisky, enchendo o corpo novamente.

Eu nunca fui impulsivo na minha vida. Eu sempre pensei bem nos próximos passos. Tanto que tudo meu é muito bem planejado. Para que um plano dê certo, ele precisa de planejamento. Isso é tipo um mantra que segui a vida toda. Então, não vou começar a ser impulsivo desta vez. Não agora...

Eu também nunca fui inseguro.

Eu sempre tive na minha cabeça, que para tudo na vida, eu tenho duas opções: ou eu arrisco, ou espero o problema se resolver sozinho, lidando com as consequências depois.

Com a Duda tenho agido na segunda opção. Deixando o problema se resolver sozinho. Esperando para ver no que vai dar, e como as coisas vão se desenrolar.

Será que não está na hora de eu começar a agir?

O que aconteceu hoje, me fez perceber que ela é muito importante para mim. Que tudo flui excepcionalmente bem em minha vida, quando ela está comigo.

E que eu não quero que nada mude! Nada...

Que eu quero construir uma família! Que eu quero ela pra sempre comigo! Que eu quero cuidar...

Mais e se ela não quiser?

Viro de novo mais uma dose de whisky...

Pela primeira vez na vida, eu não sei o que fazer!

Eu simplesmente não sei!

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