O Egípcio romance Capítulo 19

Meu coração se agita.

— Veio, então, para conhecer onde trabalho?

Ele sorri, parece estar rindo de mim, e não sorrindo para mim.

— Também, mas vim comprar um vestido. Acho que falei isso logo que cheguei. Não falei?

Eu fico vermelha.

Então é verdade?

— Sim. Muito bem — pego meu bloco de notas. — Que tipo de vestido o senhor quer, já que nenhum da loja o agradou? — peço, com uma nota de reprimenda.

— Quero um… longo, lindo, glamoroso. Mas nada que marque muito o corpo.

— É para Raissa, por acaso? — pergunto, segurando com força a caneta.

— Não.

— Entendo — digo, seca, com cara de profissional, enquanto sinto a pontada no coração com as palavras dele, mas não demonstro isso.

Anoto no caderno.

Longo.

Glamoroso.

Decente.

Hassan estica o pescoço e lê o que eu escrevi, então sorri.

— Eu falei “decente”?

Com raiva, estou para riscar a palavra, mas ele segura a minha mão. Eu ofego involuntariamente quando sinto o calor de sua mão sobre a minha. Eu o encaro, tentando desesperadamente voltar ao meu equilíbrio.

— Não, deixe. É exatamente o que eu quero. É que você anotou antes mesmo que eu lhe dissesse.

Assinto, e ele retira a sua mão bem cuidada da minha.

— Que tamanho ela teria? Você saberia me dizer?

— Levante-se, por favor — ele me pede.

O encaro atordoada por um tempo, então me levanto com o coração agitado.

— Exatamente seu tamanho e peso.

Eu me sento e anoto, tentando fazer minha mão parar de tremer. Ele já está de caso com outra e veio esfregar na minha cara.

O que eu esperava, afinal? Eu toda hora o enxoto da minha vida.

— Aqui, tenho um catálogo.

Pego o catálogo na gaveta. Há vários bordados, brilhos e tecidos. Escolha o que mais te agrade.

— Não, prefiro que isso seja por sua conta — ele sorri, novamente.

— Por minha conta? Mas, pelo que sei, você não gostou muito da minha escolha outro dia.

Ele acena um sim.

— Verdade, naquele dia não gostei, mas você tem acertado com Raissa.

— Entendo. E a tez dela? Ela é clara, morena?

— Clara.

Marquei no caderno: branca.

— Ela usará joias?

— Sim — ele diz, com um sorriso.

Marquei no caderno: sem brilho.

— Para quando é esse vestido?

— Sexta agora.

Eu assinto.

— Bem, acho que tenho todas as informações que preciso. Mais alguma coisa? — minha voz é rouca e ofegante.

Ele sorri, como se estivesse se divertindo comigo.

— Não, é só.

Ele, então, se levanta. E eu me levanto também.

— Bem, então quando estiver pronto o vestido eu mando entregar em sua casa.

— Está certo.

— Ah, esqueci de perguntar, quanto pretende gastar no vestido?

— O céu é o limite. Quero que o vestido impressione, tanto quem o recebe como quem o vê.

— Está certo — pela primeira vez ri, desde sua chegada aqui, pensando no trabalhão que eu terei para deixar o vestido bonito, já que tudo nele será fechado. E a beleza do vestido longo é o colo aparecendo.

— Posso saber por que riu?

Eu ruborizo, e meus olhos se fixam nos dele.

— Desculpe-me, é uma piada particular.

Ele movimenta a cabeça, olhos negros vivos com humor perverso.

— Bem, eu estou indo, então. Bom trabalho, Senhorita Michael.

— Para você também, Senhor Hajid.

Eu vou até a porta e a abro para ele. Hassan fica pertinho de mim, ele para, me encara, seus olhos descem para os meus lábios por um breve momento, então procuram meus olhos.

— Sabāha l-ḫair — ele diz bom dia em árabe e sai. Sei porque Raissa me ensinou essa palavra também.

Quando ele se afasta, eu fecho a porta e, trêmula, me sento na cadeira em que ele estava sentado. A sala ainda está com o perfume dele.

Maravilhoso…

Minutos depois, eu saio da sala. A mulherada está agitada, vieram todas falar comigo.

— Karina, Rebeca disse que ele é irmão de Raissa? — a curiosidade dela é irritante.

— Sim — e eu tento manter minha voz casual.

— Deus! Que homem! Quando ele vem buscar o vestido?

Eu dou um sorriso fraco.

— Não vem. Mandaremos para ele.

— Puxa! Que pena! — Anne diz.

Pelas portas de vidro, vejo a dona da grife surgir na calçada. Todas percebem também, e se dispersam, cada uma se posicionando na sua função, e eu acho ótimo isso.

Tereza é um socialite, casada com um empresário que tem a loja como um passatempo.

— Bom dia, Karina. Como andam as coisas?

— Tudo bem.

— Vamos até o atelier e você me conta as novidades.

Depois de mostrar minhas criações e um resumo do trabalho que eu ainda tenho para fazer, ela sorri satisfeita.

— Karina, as meninas estão trabalhando bastante depois que eu te contratei. Suas criações são um sucesso. Os clientes estão muito satisfeitos.

Eu sorrio para ela. Ao menos na minha carreira profissional não posso me queixar. Estou pensando até em guardar dinheiro e abrir minha própria loja, mas isso é um sonho, muito distante ainda.

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