O Egípcio romance Capítulo 9

Eu dou um sorriso e digo:

— Então aproveita o dia para passar com seu irmão.

— Eu não posso monopolizá-lo o dia inteiro. Karina, venha só um pouco aqui.

Deus! Ela não entende que fui nocauteada pelo irmão dela? O que eu menos quero é encontrá-lo novamente.

— Eu vou ver, qualquer coisa te ligo. Ah, tive uma ideia! Por que eu não passo aqui para sairmos? Vamos tomar café à tarde juntas! Tem uma ótima delicatéssen no centro.

Raissa sorri.

— Você está querendo me engordar? Você não sabe o que eu já sofro em casa evitando os doces que a cozinheira faz. Tenho inveja do meu irmão, que come o que quiser e não engorda um grama — então, negando com a cabeça, diz: — Não, eu prefiro que você venha em casa.

Eu suspiro resignada.

— Se der, eu venho.

— Eu sei por que está indecisa. Mas meu irmão irá morar aqui. E quanto mais você encarar isso naturalmente, melhor para você. Se você o evitar, é pior.

Só de pensar nisso, meu coração se agita.

— Está certo, amanhã te ligo.

Karina

No dia seguinte, eu acordo tarde. Dez horas. Não levanto com pressa. Depois de me trocar, caminho tranquilamente até a sala. Meu pai está lendo um jornal, enquanto mamãe arruma as flores em um vaso, que fica no canto da sala, em cima de um lindo aparador.

Audrey é uma mulher de 50 anos e usa os cabelos grisalhos naturais. O branco misturado ao preto deixa-o com uma cor acinzentada. Seus olhos verdes, iguais aos meus, me focalizam e ela abre um sorriso.

— Bom dia — digo a todos.

— Bom dia — eles falam quase em coro.

Papai deixa o jornal de lado e me encara com curiosidade.

— Como foi a festa?

Eu disfarço meu nervosismo com essa simples pergunta e respondo sem colocar emoção na voz.

— Foi legal.

Jonas sorri.

— Legal? Já vi que você não gostou. Esse “legal” não me convenceu.

Eu me dirijo à mesa de jantar, que está arrumada com o café. Sento-me diante dela e digo, de maneira desinteressada:

— A maioria das pessoas, eu não conhecia. Fiquei mais com Raissa.

Mamãe se aproxima e se senta à minha frente.

— Filha, mas e a festa em si? Dizem que eles capricham na decoração e que é muito animada.

Eu suspiro.

— Ah, isso é verdade. A decoração estava linda. Cheio de véus amarrados, as pilastras enfeitadas com fitas douradas, plantas ornamentais em cada canto, uma mesa enorme de guloseimas e uma mesa de bebida. Música árabe, dançarinas de dança do ventre. Você sabia que eles não bebem álcool?

Meu pai sorri, surpreso.

— Para mim essa festa seria sem graça, então.

Mamãe encara meu pai com o semblante fechado.

— Você não pode nem pensar em bebida, sua pressão sobe muito.

Meu pai pega o jornal, e eu vejo quando ele mostra a língua para ela, sem que ela percebesse. Eu dou risada do seu gesto e encho uma caneca de café e corto um pedaço de bolo.

— Bem, vou tomar meu café lá fora, aproveitar o sol. O verão está indo embora e quero pegar uma cor.

Lá fora, me sento à beira da piscina, a uma mesa que está com o guarda-sol fechado. Olho a água convidativa, respiro o ar da manhã, o cheiro de rosas. Fecho os olhos tentando a todo custo parar de pensar em Hassan. Já basta a noite insone que tive pensando nele.

Ouço a campainha, nem preciso ir lá para saber quem é. Com certeza é Vitor. Dito e feito, logo vejo a porta de tela se abrir e ele caminhar em minha direção.

Vitor é meu amigo desde os tempos de faculdade, nós nos conhecemos há dois anos. Não é novidade seu interesse por mim, mas já conversamos sobre isso. Eu nunca o iludi. Pelo contrário, sempre o incentivo a sair com outras mulheres. Sempre deixei claro meus sentimentos em relação a isso.

Embora ele seja um rapaz bonito, alto, forte, bronzeado, ombros largos, cabelos castanho-claros, olhos castanhos inteligentes cobertos por um charmoso par de óculos, que lhe dá um ar intelectual, eu nunca consegui vê-lo mais do que um amigo.

— Oi, Vitor.

Vitor sorri para mim. E passa os olhos rapidamente pelo meu curto vestido jeans.

— Vim te convidar para sairmos. Que tal pegarmos um cinema hoje à tarde? Está passando um filme que você gosta. Jurassic World. Você não vai na casa daquela amiga sua, vai?

— Verdade? O novo?

— Sim — ele sorri de maneira triunfante.

Vitor sabe que eu gosto de todos os filmes do Jurassic World. E ir à casa de Raissa? Ah, não mesmo. Não pisarei lá tão cedo.

— Tudo bem. Mas antes ligarei para ela. Para deixar claro que não irei lá. Ontem ficou meio em aberto de eu ir ou não.

— Ótimo! Sabia que esse filme te faria sair da toca.

Eu me levanto sorrindo. Vitor, satisfeito, já se desmancha em sorrisos.

Passo pela sala e vejo mamãe confabular com meu pai. Com certeza é a respeito de Vitor. Eles torcem para que eu enxergue no bom menino um bom marido. Audrey sabe que Vitor quer ir além da amizade. Ela vive me dizendo que ele é um ótimo rapaz, trabalhador, estudioso, sereno, com aquele jeitão pacato de ser. Com 25 anos, já trabalha como engenheiro eletrônico em uma indústria de componentes eletrônicos como Account Manager.

— E Vitor?

— Está lá fora. Só vou ligar para Raissa para dizer que não vou lá hoje.

Mamãe abre um sorriso de orelha a orelha.

— Vai sair com Vitor? Ele nos disse que irá te convidar para assistir àquele filme que você gosta tanto.

Ah, um complô!

— Sim, eu aceitei.

Minha mãe olha para o meu pai com um sorriso vitorioso. Será que eles apostaram entre si se eu ia aceitar ou não?

Está me parecendo.

Na biblioteca, disco para Raissa, mas quem atende é a empregada. Escuto gritos e vozes. Uma era a voz de Hassan, e a outra não identifiquei. Com o coração agitado, peço então para a empregada anotar o recado, dizendo que eu não irei à casa de Raissa, que surgiu um imprevisto. Desligo o telefone com aquela sensação ruim dentro de mim de que algo está acontecendo na casa de Raissa e é sério.

Quando saio da biblioteca, mamãe está conversando com Vitor, ele me aguarda sentado no sofá.

— Vitor, por que você não almoça conosco? — ela pergunta.

— É claro, será um prazer.

Deus! Que horas iremos ao cinema?

Matinê? Ou ele ficará o tempo todo aqui até a hora de ir?

Está parecendo isso mesmo!

Mamãe sorri para ele.

— Por que vocês não aproveitam o dia na piscina? Jonas, temos uma sunga extra, não temos?

Meu pai tosse, engasgado com o suco. É claro que ele dará a dele para Vitor.

— Temos, sim, vou lá pegar.

— Não precisa, Senhor Jonas — Vitor diz rapidamente.

Eu soltei o ar, em puro alívio. Meu pai se sentou novamente.

Ah, Deus! Quando meus pais se unem para algo, sai de perto. Eu detesto esse jeito deles.

Encaro Vitor, séria.

— Vamos lá fora? Quero tomar sol. Pegar uma cor, estou muito branca.

— É claro — ele diz, satisfeito.

Vitor se levanta. Mamãe sorri de orelha a orelha Ele vai na frente, eu não o sigo de imediato, e encaro os dois.

— Eu sei o que vocês estão fazendo! Parem! Isso é algo que vocês não verão acontecer.

Mamãe se faz de desentendida. Meu pai, mais adiante, nem tira os olhos da televisão. Pisando duro, vou para fora. Vitor está lá, pensativo. Quando ele me vê, se endireita na espreguiçadeira.

— E então? Como foi a tal festa?

Eu me sento e, sem olhar para ele, dou toda a descrição de como foi, desde a decoração, as pessoas, as danças, músicas e os tipos de comida. Tudo muito impessoal. Omiti que dancei com Hassan, a ousadia dele, quando me beijou.

— E Hajid? O homem poderoso no mundo hoteleiro, como ele é?

Meu coração se agita no peito.

— Bonito. Maduro. Rico — digo friamente.

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