O Sheikh e Eu(Completo) romance Capítulo 28

Ok. Eu não ia me divertir.

Enquanto as meninas estavam pulando na pista da boate que tínhamos entrado, eu só conseguia me sentir deslocada no meio daquilo tudo. Até agora não conseguia compreender como eu tinha aceitado entrar ali e o que eu estava fazendo num lugar como aquele, que não me completava, sabe?

Então eu apenas liguei para Fernanda e contei para ela que tinha feito essa burrada e ela me disse para tomar uns goles e sair dali então. Por que ali não era espaço para mim mesmo. Como uma mãe. Me dando conselhos. E eu não tinha gostado nada disso. Desliguei o telefone e decidi mostrar para Fer que aquele podia ser sim o meu lugar e que as pessoas só sabiam fazer pouco caso de mim e achar que eu era de uma maneira, quando eu não era.

Eu podia ser quem eu quisesse ser.

E agora, eu queria ser a menina que ficava ali até quando pudesse.

Pedi mais um drink para o barman enquanto não me importava em beber álcool. Eu tinha bebido poucas vezes na minha vida e sabia que era muito fraca para qualquer coisa assim. Novamente, a menina certinha que nunca bebe nada. Mas não estava nem aí. Comecei a beber a contragosto. Céus, o gosto daquelas coisas era muito ruim.

Mas nada mudou. Eu continuava sendo a chata de sempre. Nem bebendo eu conseguia parecer um pouco legal que fosse.

– Vamos dançar. – Chamaram as meninas e me puxaram para o meio da roda. Mas eu estava sem vontade e só fiz por que elas pediram. Marina me entregou outro copo de bebida e eu engoli por inteiro, sem me importar. E continuamos pulando.

E então eu passei a sorrir, e a pular com elas, sem ligar para mais nada. Que o mundo explodisse! Eu estava feliz! Eu estava pulando sem me preocupar com o dia de amanhã! E continuei pulando e rindo com elas, porque agora tudo estava muito mais bonito! O mundo, enfim, estava cor de rosa para mim.

– A gente tem que quebrar o carro dele! – Voltou a sugerir Joana e as outras e eu rimos com aquela ideia que parecia muito melhor agora que estávamos bêbadas.

– Que coisa, Jo. – Disse eu achando tudo muito engraçado.

– Eu gosto da ideia. – Disse Bianca. Marina começou a rir.

– Eu também! – Disse Marina.

– Então vamos! – Eu, dessa vez, sugeri.

E saímos pulando e rindo da boate porque agora tínhamos tido uma ideia brilhante e tudo parecia maravilhosamente bem. Eu não me importava que não soubesse para onde estava seguindo. A ideia parecia muito boa para eu fugir.

Meus pés pareciam não me obedecer, porque por vezes precisei me apoiar nas meninas enquanto ria e dizia algo como “opa” e elas riam junto de mim e nós quase parecíamos quatro meninas caindo no meio da calçada. Mas eu não liguei. Não conhecia elas de longo tempo, mas parecia que já fazia tanto! De repente, me sentia uma amiga delas de muitos anos.

– Acho que o chão ta rodando. – Disse Bianca e caiu de bunda sentada no chão. As outras meninas começaram a rir e eu comecei a gargalhar altamente. Marina se segurou no poste fino que estava ali e tentou começar um poli dance, mas estava tão bêbada e não sabia nem porque tinha começado tudo aquilo que quando foi tentar levantar a perna, caiu para trás também.

Agora eu e Joana ríamos das duas tentando se ajudar a se levantarem, porque o salto não permitia que elas conseguissem isso com destreza.

Joana então teve uma esplêndida ideia e disse para elas tirarem o sapato. De repente, olhei para minhas botas, pensando se deveria tirá-las também, mas olhar para baixo me deixava tonta, então desisti de o fazer. Joana, contudo, tentou puxar o salto com as mãos e começou a pular de um lado para o outro até conseguir tirar um pé e cair. Eu comecei a rir, tontamente.

Marina e Bianca estavam tão bêbadas que pareciam estar brigando com os saltos para tirá-los. E ainda assim o humor continuava, porque continuavam rindo muito e eu achei tudo muito hilário porque comecei a rir e falar:

– Agora é a minha vez de tentar! – Disse e me aproximei do poste que Marina estava perto. Marina riu e assoviou:

– Vai linda! Mostra esse corpinho, minha filha! – E eu decidi dar o agrado da minha beleza para elas, por que eu era dessas e sorri.

– Vou mostrar para vocês. – Comecei e percebi que estava trocando as línguas todas, porque tinha começado a falar em inglês. – Vou mostrar a vocês como uma mulher de verdade tem que fazer! – Disse e Marina riu.

– Mostra como você faz com o seu boy! – Ela disse assoviando e Joana que tinha conseguido arrancar o outro pé, também passou a fazer. Eu que não estava entendendo muito, sincera como a bebida conseguia deixar, decidi falar:

– Eu to bebendo. To parecendo o meu pai. – E ri disso, embora não fosse engraçado. Pelo contrário, era trágico e meu cérebro de bêbada decidiu esquecer disso, por ora. – Agora vou mostrar como faria com o boy. Por que ainda sou virgem meninas! – Gritei e passei a rir e as meninas também passaram a gargalhar. Bianca disse:

– Virgem danadinhaaaaaa! Uiiiii! Mostra para gente, o que você é?! – Ela gritou e depois emendou: – Eu sou uma linda safada! – E as outras garotas passaram a rir. E eu voltei a rir. Olhei para o poste e tentei analisar como colocar a minha perna ali, mas desatei a rir enquanto falava:

– Eu disse que não ia fazer como papai, mas eu sou uma bêbada como ele, não é mesmo? – Perguntei ao vento e as meninas concordaram fazendo sons de “Uhu!” “É isso aí” e acho que, na verdade não me ouviam. E eu não ligava. Decidi que ia tentar fazer o que Marina estava fazendo. Coloquei o meu joelho sobre o poste e tentei me equilibrar. Tirei a perna tontamente porque percebi que não ia conseguir, mas comecei a andar para trás cambaleante, prestes a cair no chão como as meninas, tropeçando nos meus próprios pés.

– O que você ta fazendo, Agnes? – Ouvi uma voz grave perguntar-me e parecia muito furiosa brigando comigo. As mãos da voz estavam me segurando por trás, pelos meus braços, mas minhas pernas pareciam gelatina e eu não sabia quanto tempo demoraria até eu cambalear ao chão. Achei engraçado pensar nisso. Cambalear. Que palavra engraçada essa. Desatei a rir.

– Agnes. – A voz pediu novamente, dessa vez mais séria ainda se fosse possível. O detentor da voz grave e máscula me virou para ele ao ponto de poder me olhar para ter certeza que era eu. Olhei aquela figura que eu tinha certeza que conhecia, mas ainda estava buscando no meu cérebro de onde era. Ora, eu conseguia lembrar. Era só um pouquinho de esforço.

Desatei a rir novamente. Esforço. Outra palavra engraçada.

Voltei meus olhos ao mocetão. Ele era muito bonito. E meu interior estava queimando intensamente por causa dele. Estava com a mesma roupa de Seth e olhando agora para aqueles olhos âmbar, eu começava a ter quase certeza que era ele.

– Seth! – Gritei e Seth arqueou uma sobrancelha sem compreender o que tinham feito com a Agnes. – É você. – Disse e ele meneou a cabeça concordando.

– Com esse boy como namorado e você ainda é virgem filha? – Perguntou Bianca ajeitando os cabelos. Estava conseguindo se levantar, pelo visto.

– Pois é. – Desatei a rir também e percebi que Seth estava vermelho de vergonha. Morto. – Prazer, eu sou Agnes e sou virgem. – Disse saindo dos braços de Seth, ainda tonta, e estendendo a minha mão para um aperto. Seth olhou para a minha mão, depois para mim e parecia incrédulo de que aquela era eu.

– Agnes? – Ele perguntou mais uma vez só para ter certeza.

– Sou eu! – Disse e levantei a mão. – Eu fui a escolhida? – Voltei meus olhos para as meninas, quase com lágrimas nos olhos. – Fui escolhida. – E elas começaram a bater palmas, porque para elas, eu ter sido escolhida era algo bom também.

– Vamos para o hotel, Agnes. Você precisa dormir. – Disse Seth tentando me convencer disso. Tentei dar um passo para frente, mas tropecei uma bota na outra e Seth precisou me segurar, pelos ombros dessa vez.

– Você vai dormir comigo? – Perguntei toda risonha. Onde estava o meu decoro, meu Deus? – Porque você é muito bonito, sabia? – Seth tentou, mas não aguentou e riu baixinho.

– Eu sei que sou. – Ele disse todo cheio de si. – E eu não vou dormir com você. Por que sei que isso é culpa da bebida, Agnes. Maomé já alertava sobre isso. Então eu só vou levar você em paz e segurança para o hotel. – Seth achou necessário comentar.

– Não. – Neguei. – Eu agora sou uma bêbada como meu pai. Um dia eu seria como ele. – Ri de nervoso. – Eu sou uma estúpida. – Seth bufou.

– Não é não. – Ele não parecia nada satisfeito em ser minha babá.

– Não vai, Ag. – Bianca agora estava de pé, ao meu lado. – A gente tem que ir até o Javel. – Disse Bianca como se eu conhecesse quem era aquele homem. Não conhecia, mas estava topando qualquer coisa pela frente.

– É isso aí. Vamos lá. – Disse me desvencilhando dos braços de Seth e agarrando o braço de Bianca. Nós duas começamos a rir e eu comentei para Seth:

– Agora eu sou da Bianca.

– É isso aí! – Bianca gritou. – Agora ela é minha! – E para minha humilhação total continuamos caminhando para onde o tal Javel morava e as outras meninas vieram atrás.

E um senhor Seth zangado também.

– Agnes, pelo amor de Deus, o que aconteceu com você para estar assim? – Ele me perguntou aflito.

– Eu cansei. Cansei de ser a certinha em tudo. Cansei de não dizer a verdade. – Refleti um pouco. – Você é um idiota.

– Você não precisa estar bêbada para me dizer isso, Agnes. – Comentou Seth com um sorriso zombeteiro.

– Eu gosto de sua idiotice, idiota. – Fiz questão de comentar. – Já ganhou o cargo de amigo. Vem com a gente. – Disse como se estivesse convidando ele para fazer parte da minha gangue. Vem, bro. Vamos lá, bro. Ta dentro, bro? Meu Deus, eu estava muito lesada.

Seth provavelmente só nos seguiu para me manter em segurança, já que ele não estava entendendo nada do que estávamos fazendo. Desatamos a rir novamente e Seth continuava arqueando uma sobrancelha sem entender o que estava acontecendo, embora eu desconfiasse que ele entendia tudo o que estávamos falando, só respondendo em inglês mesmo. Ainda não sabia como eu estava conseguindo falar em português e inglês ali. Meu estado de bêbada, pelo visto, não tinha pego ainda muito da minha linguagem.

Rapidamente avistamos uma casinha simples de telhado vermelho e um morro para chegar até a casa. Seria uma subida bem íngreme para algumas bêbadas como nós, mas não nos intimidamos. O troféu estava lá em cima, ainda que Seth não estivesse era entendendo nada.

Caímos e nos sujamos várias vezes enquanto tentávamos nos manter em pé até lá em cima. Uma hora, inclusive, puxei Seth para ele cair também e já podia perceber, pelo seu olhar, que ele estava odiando ver tudo aquilo. Mas eu só achava graça e ficava rindo da cara dele.

– Você é engraçado. – Eu dizia e Seth revirava os olhos.

Finalmente conseguimos alcançar a casa do morro e estávamos arfando e mortas depois daquela subida. Decidimos nos apoiar umas nas outras, porque estávamos cansadas e precisávamos de um ar. Seth ficou de vela lá, de braços cruzados, odiando ser a babá. Ele certamente me mataria depois que eu saísse do meu estado.

Não sabia que horas eram, mas parecia que a manhã logo chegaria, porque não estava tão escuro assim. A gente precisava ser rápida. Parecendo ler meus pensamentos, Joana se levantou mais rápida que todas e contemplou a casa de Javel enquanto dizia:

– Chegamos ao nosso brinde! – E as outras meninas começaram a gritar, embora eu já estivesse tonta demais e começando a ficar torpe de sono – efeito final do álcool – para começar a gritar com elas. Apenas contemplei a casa. A bendita casa que parecia que nunca chegaríamos a ela. Finalmente estávamos ali. Mortas, sujas, cansadas, contudo, prestes a cometer a nossa humilde vingança.

Ali começaria a bagunça. Certamente que sim.

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