O Sheikh e Eu(Completo) romance Capítulo 35

Era um sonho, percebi por fim. Estava na minha cama, no meu quarto. Ainda que eu não me lembrasse da noite anterior, tinha certeza disso. Eu não me lembrava normalmente de nenhuma noite minha, mas não precisava, quando se tratava de refazer o meu caminho para o sono, eu quase nunca lembrava de como tinha chegado em um determinado lugar, ainda que aparecesse nele. Como tinha acontecido naquele momento. Eu estava no meu quarto.

Já tinha amanhecido e o meu celular tocava estridente. Estava na hora de eu me arrumar e buscar Matheus que deveria estar me esperando ansiosamente. Eu também estava ansiosa, quase me coçando por inteira para vê-lo e fiquei a pensar em como ele estava. Meu coração se acelerou como de uma menina adolescente, esperando o primeiro namorado e o primeiro beijo.

Coloquei um vestido que eu tinha trago que ia até o meu joelho e meias calças pretas combinando com a sapatilha que eu calçava. O vestido era preto com amarelo. Coloquei um casaquinho amarelo e molhei os meus longos cabelos cacheados, passando rímel e batom para finalizar. Quando senti que estava o mínimo apresentável, decidi ir ao encontro de Matheus. Ele devia estar me esperando.

Estava ansiosa para vê-lo. O clima estava ameno, o que era muito melhor do que o frio terrível e eu não encontrei com Seth em nenhum momento desde que sai do quarto. Nem na hora do café da manhã, nem quando sai. Nem nada. Ele parecia ter evaporado de uma maneira muito estranha, mas eu decidi não me apegar a isso. Não me importava. O que importava agora era ver Matheus que me esperava.

Avistei ele de longe depois de sair do trem que o trazia do aeroporto. Ele continuava o mesmo. Os cabelos loiros jogados ao vento, os olhos castanhos, o nariz largo, a pele alva. A altura invejável, com um sorriso de canto nos lábios. Ele estava vestindo uma blusa de manga comprida cinza e calças largas, bem como tênis. Parecia bem despojado carregando a mala casualmente e quando se aproximou de mim, para a minha surpresa, ele não me disse nem um oi, nem nada, apenas me puxou pela cintura e me deu um longo beijo.

Assustada, por um momento, não correspondi. Contudo, depois do susto tomado, fechei meus olhos e tentei corresponder ao beijo. Matheus parecia um pouco.... Faminto? E eu comecei a sentir vergonha de ser beijada dessa maneira por ele na rua. Matheus não pareceu se importar, invadindo a minha boca com sua língua e apertando levemente a minha cintura, quando, para minha surpresa, ele apertou a minha bunda.

Dei um pulo quase de trezentos e sessenta graus e parei de o beijar ainda sem acreditar no que ele tinha feito. Quase guinchei. A gente mal tinha se visto! Já estávamos há um tempo sem nos pegar! Eu entendo o beijo, mas agora, isso? Eu esperava que antes ele pudesse perguntar como eu estava, mas, pelo visto, Matheus estava bem avançadinho.

– E aí, linda? Sentiu minha falta? – Matheus deu um largo sorriso. Quase derreti com o seu sorriso mágico, e estava prestes a respondê-lo e esquecer tudo o que tinha ocorrido, quando Matheus tirou a mochila que carregava e me entregava. Fiquei olhando ainda a mochila sem compreender o que estava acontecendo ali, quando Matheus falou: – Carrega para mim. – E eu peguei a sua mochila ainda sem acreditar na sua audácia.

Tudo bem. Eu não esperava por nada disso. Vamos lá. Eu estava sendo muito julgadora. Talvez por que estivesse muito tempo sem ele e não lembrasse como ele era. Mas eu ia me acostumar. Por isso que não tinha ainda sentido nada com o beijo. Ainda precisava dar um tempo para o meu corpo sair do choque no qual se encontrava.

– Saudades. Já tem um local para ficar? – Perguntei e Matheus concordou retirando o celular do bolso. Olhou o endereço e respondeu algumas pessoas antes de guardar o celular novamente e me lançar outro sorriso.

– Você tá uma gata, amor. – Disse Matheus e eu sorri lisonjeada pelo elogio sincero.

– Obrigada. – E continuei. – Vamos guardar as coisas no seu hotel e sair um pouquinho.

– Beleza. – Concordou Matheus.

Após guardarmos as coisas de Matheus onde ele ia ficar hospedado, decidimos caminhar um pouco por Munique. Dessa vez, Matheus parecia começar a voltar à normalidade que eu conhecia e que queria, dando me beijos fofos e tirando fotos comigo enquanto me fazia rir. Eu quase podia me sentir como se estivéssemos juntos novamente. Quase.

Quando sentamos para almoçar, Matheus decidiu começar a me contar como estava lá no Brasil. Contou que chegou a visitar minha mãe e minha irmã mais uma vez e que tinha levado até mesmo minha irmã para mais uma consulta. Engoli em seco ao lembrar da minha irmã e ao perguntar como ela estava, Matheus me disse que ela parecia mais forte, mas que ia começar o novo tratamento quando ele ia viajar, então que ele não estava sabendo mais nada depois disso.

– Eu sinto muito a sua falta, todos os dias. – Disse Matheus tocando suas mãos na minha e me olhando. Me senti mal pelas suas palavras sinceras, quando eu não conseguia corresponder.

Cada momento mais que eu passava com ele, eu amava ainda mais as juras e os sentimentos que Matheus tinha por mim, mas não sentia nem uma gota de sentimento romântico por ele. O que talvez podíamos ter tido, não havia. Simplesmente tinha sumido. Ou talvez nunca tivera. A sensação de mexer comigo, de querê-lo ainda mais. Não havia. Eu não queria tocar Matheus, não queria ouvi-lo falar. Aliás, eu me sentia sem conseguir acompanhar o que ele falava e isso me fez me sentir desapontada comigo mesma.

Talvez Fernanda estivesse certa e eu tivesse que parar com o meu emprego. Mas como fazer isso se Sophia dependia do dinheiro que eu a mandava? Ou se Sophia dependia de mim? Aliás, se toda a minha família dependia de mim? Eu tinha que ser mais forte e trancafiar os mistos de sentimentos que eu sentia, e isso não seria fácil. E, para isso, eu teria que continuar me esforçando a gostar de Matheus e dar-lhe chance. Do contrário, meu coração sempre estaria voltando e retornando para as mãos do Sheikh.

Suspirei. Tudo seria tão fácil se a gente pudesse controlar os nossos sentimentos. Contudo, não era assim e lá estava Matheus me sorrindo e me fazendo me sentir ainda mais culpada do que eu vivia me sentindo.

– A gente pode se encontrar para jantar? – Pergunta Matheus ajeitando uma mecha do meu cabelo e colocando atrás da orelha. – Você poderia me mostrar onde está hospedada. – Matheus arqueou uma sobrancelha sugestivo.

– Agora? – Pergunto desorientada. Estava no mundo dos meus pensamentos. Não compreendo direito o que ele diz.

– Pode ser depois do jantar. O que achas? – Ele pergunta e eu não sei mais nem o que achar. Ele está me enxotando ou o que? Já nem sei.

– Acho que sim. – Digo.

Matheus concorda e passamos a andar por Munique de mãos dadas.

Está quase no entardecer quando eu o deixo no hotel dele e sigo pelo meu. Ele insistiu para eu o levasse até o hotel dele, e, depois, insistiu mais um pouco para que eu subisse, mas eu disse que estava ficando tarde e que tinha que retocar minha maquiagem antes de jantarmos e isso pareceu colar para Matheus que respondeu:

– Hmmmmmmm... Entendi. – E eu balancei os ombros sem me importar.

– Nos encontramos no restaurante as sete? – Pergunto e Matheus que está na minha frente concorda sorrindo.

– Nos encontramos amor. – E ele me puxa novamente pela cintura plantando um beijo demorado nos meus lábios.

Fecho os olhos novamente Anda, Agnes. Sinta alguma coisa. Eu quero sentir. Não quero ser a mecânica da história. Matheus invade meus lábios e eu toco a sua língua tentando brincar com ela também. Ele aperta a minha cintura, ficando visivelmente alterado lá embaixo, mas eu só consigo me sentir frustrada em não me sentir quente, fervendo, o pulso acelerado e os olhos vidrados. Onde está a eletricidade estática? No fundo, só consigo sentir que posso correspondê-lo com carinho, não com desejo.

– Vou te esperar, princesa. – Ele diz e eu sinto o meu coração bater fortemente, ainda que seja somente pelo sonho que eu tive. Parece que, ao menos, Matheus sabe o que dizer na hora certa. Sinto-me derreter por suas palavras amorosas.

– Até. – Respondo me desvencilhando dele. Logo nos encontraremos para jantar.

Não consigo deixar de pensar, no retorno todo, em como eu sou um ser indeciso e estranho. Que sabe que precisa esconder seus desejos para continuar como governanta, mas que não sabe como agir com o próprio namorado. Talvez tenhamos realmente esfriado com a distância ou, talvez, Fernanda estivesse certa. Matheus nunca foi para mim, eu que nunca tinha percebido isso até então.

Suspirei. Por que a vida era tão difícil? Eu não podia achar que a vida era um conto de fadas. Papai já tinha mostrado isso inúmeras vezes. Se não era Matheus, paciência. Eu já estava acostumada com a ideia de viver sozinha, pelo resto da minha vida, a ter que encontrar um homem como papai. Além disso, eu nunca poderia estar numa situação com Seth. Mesmo que ele não se casasse, certamente, eu seria a última pessoa com a qual ele pensaria em ter um relacionamento.

E, no fim, eu talvez fosse a errada da história toda. Nunca deixei que Matheus se aproximasse de mim por medo de me entregar a pessoa errada. Como mamãe tinha feito. Talvez isso tivesse feito a gente afastar. Mas Matheus nunca me cobrou disso, muito embora, agora, estivesse me agarrando na praça pública e estivesse amoroso de uma maneira que nunca esteve. O que tinha mudado? Eu queria que Fernanda pudesse estar aqui para que me respondesse.

Agora ele era amoroso, antes não. Ou era eu que, no fim, estava mudada? Eram tantas perguntas que permeavam minha mente que, quando alcancei o meu quarto no fim do corredor, tinha feito tudo tão mecanicamente que fiquei fitando a porta esperando que ela caísse na minha cabeça. Por que eu estava mais confusa que qualquer coisa. Suspirei.

Ainda tinha a janta e Matheus ainda ficaria mais dois dias depois desse. Certamente a gente se entenderia, não? Foi o que fiquei a pensar enquanto abria a porta do meu quarto e adentrava rapidamente.

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