O Sheikh e Eu(Completo) romance Capítulo 36

Ainda me encarava no espelho para a imagem que eu via a frente. Tinha tomado um banho e trocado de roupa. Matheus tinha mandado mensagem dizendo que íamos a um barzinho experimentar algumas cervejas que tanto marcavam a cidade de Munique como a cervejaria da Alemanha. Então, para ficar um pouco mais apresentável, troquei de roupa.

Estava usando uma blusa preta de renda e uma calça jeans colada de lavagem escura. Também tinha me aventurado por scarpin preto e tentado uma maquiagem mais escura, embora eu não me reconhecesse agora que estava com um batom vinho. Tinha tentado ficar bonita para ver, se assim, eu me animava um pouco, mas confesso que não estava animada em sair com Matheus. Ainda mais para beber...

Lembrar de bebidas fez um sorriso abrir-se involuntariamente na minha face. Não pude deixar de lembrar de Seth e de como eu o tinha feito pagar um mico e tanto por minha conta. Ele não tinha, ainda, pedido nada em troca. Ademais, não tinha me feito ficar com peso na consciência pelo trabalho excessivo que eu tinha o dado. Seth parecia.... Mudado.

Pensar nesse fato me fez constatar que eu estava certa. Seth estava mudando, embora eu não soubesse porquê. Pensar nele no dia da nossa entrevista só me fez lembrar ainda mais desse fato. Não tinha me ocorrido o quanto ele era cafajeste naquela época e o quanto não se importava em pegar outras meninas. Pelo contrário, ele parecia achar tudo muito tranquilo.

O que haveria de ter feito ele mudar?

Eu sinceramente não tinha a mínima ideia. Ainda assim, voltei meus pensamentos para o dia da bebida e em como, estranhamente, o dia inteiro, eu não tenha visto Seth. Ele aparentemente se escondeu e fugiu do planeta Terra, porque sua existência evaporou.

Em um timing perfeito, meu celular recebeu uma mensagem. Fui atrás dele com um sorriso nos lábios pensando que poderia ser o Seth. Ele devia ler os meus pensamentos e tinha decidido vir falar comigo e explicar o motivo de seu sumiço.

“Senhorita Agnes, os seguranças do Senhor Seth, chegaram. Não se preocupe, eles só vão ficar de olho na segurança dele, mas se a senhorita Quiser, eles podem te acompanhar quando precisar. Com amor, Zilena.”

Fiquei olhando a mensagem dela por um longo tempo enquanto tentava assimilar uma coisa com a outra. De repente, lembrei-me que ela já tinha mencionado sobre os guardas em outra mensagem e que Seth, até então estava descuidado de guardas, o que começou a me fazer suar e pensar asneiras como o sumiço de Seth.

Comecei a andar pelo quarto visivelmente preocupada com ele. Se os guardas tinham chegado só agora e eu não tinha visto o Seth – aliás, nem fazia ideia de onde estavam os guardas, se eles iam se apresentar, ou se eles ficavam escondidos e ao mesmo tempo protegendo o seu dono – apenas pensei em como Seth tinha desaparecido e em como eu poderia estar encrencada com isso. Afinal, de alguma forma, eu sentia que a responsabilidade com o Seth antes dos guardas era toda minha e que eu devia ter cuidado dele quando precisava.

E agora? Onde estava Seth?

Estaria morto? Quase senti o meu coração sair pela boca no simples pensamento mórbido. Não, não era possível. Eu queria acreditar que não. Seth devia estar bem. Ele devia saber se cuidar. Não era uma criança, não é? Não é como se Seth fosse ser atropelado por um carro e morrer no hospital gritando o meu nome porque eu não o tinha cuidado.

Comecei a suar frio.

Depois disso, a ideia de Seth sendo arremessado como os pinos de boliche pelo ar, fez os meus olhos encherem-se de lágrimas e eu obriguei o meu pensamento a mudar de ideias mórbidas para ideias obscuras a fim de diminuir o medo que parecia se apossar de mim.

E se Seth tivesse sido sequestrado?

Bom, a ideia tinha mais lógica que a primeira, contudo, não menos perigosa. Fiquei a pensar se tinham descoberto que ele era um quase Sheikh e se decidiram o pegar para arrancar dinheiro e daqui a pouco a senhora Zilena me ligaria chorosa e aborrecida e eu perderia o meu emprego por não ter cuidado de Seth em segurança, quando a senhora Zilena tinha confiado tanto em mim. Ai, meu Deus. Eu ia morrer!

E se, pior? As pessoas islamofóbicas tivessem pego Seth e estivessem colocando fogo nele por acharem que ele tinha sido responsável por todas as chacinas no mundo árabe? E se Seth, na verdade, tinha decidido renegar a noiva e tivesse casado com outra sirigaita e a Sra. Zilena colocasse culpa em mim por eu não ter cuidado dele enquanto ele fugia pelo mundo afora? E se Seth tivesse tido um súbito AVC e estivesse estirado numa cama de hospital? Ou em coma? E não se lembrasse de quem era, de onde tinha vindo e o que fazia ali? Ou, pior, se tivessem roubado os órgãos de Seth para o tráfico negro?

Ai meu Deus! Quantas coisas ruins podiam fazer com o meu homem e eu nem sabia onde ele estava!

Paralisei de repente diante do pensamento louco que eu tinha tido. Comecei a ter um ataque de riso nervoso enquanto repetia a frase rindo da insanidade do que eu tinha pensado:

– Meu homem. – Comecei a rir. Por que, claro, era tantas ideias malucas me atormentando os pensamentos que eu só conseguia pensar na idiotice de tê-lo chamado de meu homem. – Estou louca. – Joguei as mãos para o alto já ciente de que precisava de um manicômio. – Tudo culpa desse maldito. – Disse para o vento sentindo as lágrimas sorvendo os meus olhos.

Ouvi então o que pareceu ser um barulho de porta se batendo e fiquei em alerta tentando compreender o que acontecia. Olhei ao redor tentando perguntar para o meu quarto se tinha sido minha impressão ou se eu realmente tinha ouvido uma porta bater. E, se, talvez, eu precisasse pegar alguma coisa no quarto para me defender porque os homens que tinham roubado os órgãos de Seth agora estavam atrás de mim e iam roubar os meus! Olhei pelo quarto em busca de uma saída. Talvez se eu pulasse a janela.... Até que então ouvi:

– A gente vai dar uma vasculhada no hotel, Senhor Seth. Qualquer coisa, o senhor sabe como nos chamar. – Não ouvi resposta de Seth, mas acho que os guardas estavam acostumados, porque ouvi eles se afastando como se não tivessem mais nada para esperar.

Timidamente abri a porta do quarto me sentindo numa espécie de alívio misturado com uma sensação estranha. Parecia que a qualquer momento o bicho papão apareceria e me comeria. Comecei a caminhar pelo corredor antes que as luzes desligassem. Deus que me perdoe, mas odeio o escuro. Os monstros, daí, poderiam vir tentar comer meu pé. Vai saber.

– Seth? – Chamei batendo na porta. Sem resposta. Cocei minha mão direita tentando não parecer nervosa, embora eu estivesse por algum motivo. – Seth, eu pensei até agora você estava morto e você não me responde e... – Eu estava ficando nervosa. – Seth! – Gritei socando a porta enlouquecidamente. Que ele me respondesse, senão eu arrombaria a porta!

– O que foi? – Ele disse aparecendo com o cabelo todo amarrotado. Parecia que estava arrancando os fios do cabelo e a voz também não era das melhores. Até parecia que ele estava estressado e rancoroso. E olha que eu que tinha motivo para estar assim.

– Você sumiu. – Disse e Seth revirou os olhos ligeiramente irritado. – Pensei que tinha sido morto – Não pude deixar de perceber que Seth tinha levantando uma sobrancelha intrigado com a minha imaginação fértil. – Ou que tivessem vendido os seus órgãos ou que, pior, estivessem queimando você vivo por ser islâmico. – Se fosse possível, Seth pareceria mais boquiaberto ainda. Continuei: – E fiquei pensando que tinha abandonado você por conta do Matheus e que a senhora Zilena ia me matar por eu ter te abandonado e que eu ia perder o meu emprego... – Seth me interrompeu com uma longa gargalhada que me desconcertou. Qual é! Eu estava sendo sincera! Ele não devia ficar rindo da sinceridade dos outros.

– De onde você tirou isso mulher? – Ele gargalhou mais ainda. Tentei não corar diante da sua presença agora descontraída, diferente do rabugento que parecia antes. – Não bebeu de novo, não é mesmo, Ag? – Me senti ofendida por um momento.

– Mas é claro que não! – Bufei. – Você me deixou preocupada, criança. – Disse e Seth me lançou um sorriso no canto dos lábios enquanto dizia:

– Que imaginação fértil, amira. Já tentou o meu celular? – Ele parecia tentar segurar o risinho que já se formava no canto de seus lábios. Maldito! E eu me preocupando com a sua morte. Deveria ter morrido mesmo! Humpf.

– Como? – Perguntei.

– Meu celular. Tentou ligar para ele? – Bem, eu não tinha pensado nessa. Senti meu rosto tingir-se de vermelho. Seth percebeu na hora e voltou a gargalhar. – Você é muito dramática, Ag. Eu estava apenas comprando um jogo de damas. – E Seth então deu espaço para que eu olhasse para dentro do seu quarto e encontrasse um jogo embalado em cima da cama. Ainda assim, franzi o cenho. Sei. O garoto sai cedinho para passear e volta à tarde apenas com um jogo na mão. Vou fingir que acredito. Seth riu baixinho. – Relaxa, Agnes, não vou morrer e te dar o prazer de se ver livre de mim tão cedo.

– RÁ RÁ. – Disse fingindo uma risada ácida, o que só fez aumentar o sorriso nos lábios de Seth. – Até desejaria a sua morte. – Ele me fitou abalado, ou talvez fingisse abalo. – Mas você é um chato de galocha e merece a minha amizade insuportável por mais tempo. – Ele riu.

– Você então só veio esmurrar a minha porta para perguntar se estou vivo? – Ele perguntou se divertindo. Tentei não corar novamente. Saindo da boca dele parecia tão impróprio.

– Mais ou menos. Vim salvar o meu pescoço. Agora que salvei, vou sair para jantar com o Matheus. – Seth então voltou os olhos para mim analisando a minha vestimenta como se fosse um crítico de moda. De repente, me senti nua na frente dele diante daquele olhar.

Ele arrastou o olhar de baixo para cima até parar no meu rosto e sorrir. Sorri sem graça diante da presença dele e do calor que tinha se ponderado por todo o meu corpo.

– Está bonita. Sorte do Matheus. – Senti corar e percebi que até o elogio tinha o feito ficar levemente tímido. – Quando voltar, quando quiser, na verdade, estou disponível para jogar. Afinal, fico aqui enfadonhamente esperando que você me dê atenção. – Dessa vez, ele que parecia o dramático. E depois fala de mim.

– Oh, meu Deus, que criancinha fofa. – Disse brincando. – Fica esperando a minha atenção. – Ri, mas logo parei ao ver que Seth não estava achando graça. – Eu sei, temos que ver o anel. – Era verdade, Seth estava me esperando sem fazer nada só para me dar tempo com Matheus. – Se eu não me engano amanhã de manhã o Matheus tem uma reunião de emprego e eu aproveito para te ajudar a comprar o anel. Pode ser? – Perguntei e Seth concordou com a cabeça colocando as mãos no bolso. Me senti corar pensando em como tudo podia dar errado se Matheus descobrisse que o meu chefe estava ali comigo. Ele era muito ciumento. E sem motivo.

– Então está indo? – Ele perguntou e eu concordei balançando a cabeça.

– Quando eu voltar a gente joga. – Disse e lancei um piscar para Seth que me fez, depois, sentir vontade de bater a minha cabeça na parede mais próxima. Céus, o que tinha sido isso?

– Vou aguardar então. – Comentou um Seth tímido e eu concordei sem saber em que momento sair. Seth pareceu perceber isso já que me lançou um tchau com a mão e eu engoli em seco virando-me e saindo. Logo em seguida, Seth fechou a porta num baque surdo e eu ouvi, logo em seguida, alguma coisa sendo espatifada e ele gritando “Argh”. Voltei à porta e esmurrei ela novamente.

– Seth? – Esmurrei de novo com batidas longas. – Você não está tentando se destruir agora que eu estou indo embora, não é mesmo? – Seth abriu apenas uma frestinha da porta me encarando. Aparentemente, tinha achado que eu já tinha ido embora. Agora, parecia realmente envergonhado.

– Hã? – Me perguntou e eu me sentia meio idiota de ter falado assim com ele.

– Deixa para lá. Vai conseguir sobreviver? – Perguntei risonha. Seth revirou os olhos.

– Você me subestima amira. Vou arrumar um monte de menina para passar a noite comigo hoje. – Ele comentou risonho e eu revirei os olhos.

– Precisamos conversar sobre isso. – Disse franzindo o cenho e fingindo-me de brava. – Vou contar tudo para Nadirah. – Seth gargalhou. Contudo, para atrapalhar nossa conversa que se estendia, ouvi o meu celular tocar e no automático atendi sem ver quem era.

– Alô? – Respondi e ouvi a voz de Matheus.

– Estou no bar te esperando. – Me senti muda de repente. Pensei que ele viria me buscar. Óbvio que estava me enganando. Ele sequer tinha pedido o endereço. Eu era tão tola me iludindo.

– Ok. – Respondi já em um fio de voz. – Estou indo aí. Até.

– Até. – Respondeu Matheus. Suspirei.

– Problemas? – Perguntou-me um Seth atento. Surpresa, percebi que tinha bufado na frente dele. Não, eu não podia aparentar problemas com Matheus. Não na frente de Seth. Isso já era demais. Tentei colocar um sorriso na cara, mas acho que fiquei parecendo aquelas falsianes tentando parecer simpáticas.

– Não, nada. – Respondi e, se tinha percebido a minha voz aguçada demais, Seth nada comentou. Apenas deu de ombros. Ainda estava na fina fissura da porta sem demonstrar o resto do quarto.

– Vejo você então depois, senhorita sem graça que acha que é a última rosquinha do pacote? – Perguntou Seth piscando para mim depois de ter repetido o que eu tinha dito há algum tempo em uma de nossas conversas. Gargalhei porque não esperava isso dele e assenti já me sentindo um pouco melhor.

– Claro que sim, Senhor Riquinho. Afinal, eu sou a última rosquinha do pacote. – Respondi rindo agradavelmente e me virei com tudo enquanto tentava não rir de última hora caminhando para o elevador. Me segurei, na verdade, muito para isso. E Seth, mesmo assim, não me ajudou, gargalhando altamente.

– Então até mais, senhorita rosquinha. – Respondeu-me um Seth brincalhão e risonho e eu mal esperei o elevador se fechar e fiquei rindo baixinho o caminho todo. Devia parecer uma louca rindo sozinha no elevador. Deus queira que minha esquizofrenia não fosse vista nas câmeras. Ri mais um pouquinho me segurando agora que me encaminhava para a rua.

Só Seth para me fazer sorrir tão bobamente assim.

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