O Sheikh e Eu(Completo) romance Capítulo 7

– Não sabia que você finalmente veio limpar o meu escritório. – Ouvi, tomando um susto que podia muito bem ter testado o funcionamento do meu coração. Era a voz de Seth. De alguma maneira, meu cérebro enlouqueceu e decidiu que eu deveria guardar aquela folha para depois. Loucamente – por que era só isso que podia estar me movendo nesse momento – dobrei o papel de qualquer jeito colocando dentro do bolso da calça. Que mal que me havia acometido para esconder a poesia do possível dono? Acho que era o calor excessivo. Só podia ser.

– Não sabia que aqui era o seu escritório, Sr. Seth. Tem tantas coisas da casa escondidas por aqui. Tem certeza de que não escondeu um corpo no meio da papelada? – Seth bufou enquanto tirava a toalha de mesa da cabeça. Jogou em cima da mesa enquanto sentava na cadeira. Parecia bastante acomodado colocando o pé em cima de uma das pilhas que eu tinha organizado e…

– Ei, ei, ei. Senhor Seth. Pare de bagunçar com seu pé a pilha que fiz. – Disse irritada ao ver o meu esforço sendo amassado pelos pés sujos da rua. Talvez isso explicasse porque, por impulso, eu quase toquei a perna dele que estava em cima da pilha, mas paralisei no último segundo percebendo o que ia fazer e o quão inapropriado aquilo era. Naquele momento, na verdade, olhei para a porta que estava aberta. Já era inapropriado eu estar numa mesma sala, sozinha, com Seth. Ele, mais do que eu, deveria ter noção disso.

Ele pareceu entender o que eu estava pensando, visto que tirou o pé da pilha enquanto ria graciosamente. Parecia leve, por um momento. Fiquei olhando aquela arcada branca se mostrando audaciosamente.

– Não se preocupe, Senhorita Agnes. Já estou de saída. Mas, por favor, tire isso do meu escritório. Aliás, tire todas essas pilhas e leve para um outro quarto. Tem alguns quartos vagos por aí, só você procurar. Eu prefiro que minhas coisas do trabalho não se misturem com essa papelada cheirando a mofo com a qual você está mexendo.

– Como você consegue achar as coisas do seu trabalho nessa bagunça? – Acabei perguntando no impulso. Fechei meus lábios na hora. Ai, que idiota eu tinha sido! Tinha decidido abrir minha boca para falar besteira. O que eu achava que estava fazendo perguntando alguma coisa para o Senhor Seth? Ele que devia me perguntar as coisas, não o contrário. Estúpida, estúpida, estúpida.

– Acho que isso não deve ser algo que deva ser de seu interesse, Senhorita Agnes. – Disse Seth, para minha surpresa, com um tom que parecia um pouco acusatório, embora se parecesse mais como um pai chamando a atenção de uma filha.

Eu tinha merecido.

– O senhor tem razão. Me desculpe. – Disse e comecei a ajeitar as pilhas novamente. Faltava algumas poucas, mas acho que naquela noite, ainda, eu terminaria. Seth suspirou enquanto se encaminhava para a porta. Por algum motivo, parou diante dela, segurando a maçaneta para fechá-la. Levantei o olhar para observar o seu porte altivo, o nariz empinado, a face perfeita de quem sabia que era bonito.

– Mas como sou uma pessoa muito gentil, vou te dizer, Senhorita Agnes. Não mexa naquelas pilhas a direita. – Seth apontou para umas pilhas ao lado da cadeira dele. – Nem aquelas próximas das gavetas. – E ele apontou outra pilha próximo das gavetas de arquivo. Assenti sem saber porque o fazia. – São as coisas do meu trabalho. E, acredite, eu saberei se você tiver tocado um dedo sequer. – Ele disse e piscou graciosamente fechando a porta. Eu, porém, fiquei sem chão. Sem saber como me mexer. Olhei as pilhas das quais ele tinha falado e paralisei.

Anotado. Não ia nem mexer nelas.

Contudo, se ele queria saber, menos essas pilhas, ele tinha diminuído um bom tempo meu mexendo naquelas pilhas de papel, o que eu faria depois da janta. Sra. Zilena estava chegando e, com certeza, precisaria da minha ajuda. Depois disso, eu voltaria as pilhas para no dia seguinte colocar tudo de forma organizada nas planilhas.

E, de fato, Sra. Zilena me esperava. Ela me deu um adorável sorriso enquanto me informava daquilo que todos comentavam:

– Vamos dar uma pequena confraternização. Aliás, seu olho parece estar bem melhor, Srta. Agnes. – Disse Zilena e continuou andando em direção a sala de jantar. Concordei balançando a cabeça. Ficava feliz por isso. – Será na quinta, um chá. Serão poucos convidados. Você consegue organizar tudo até lá? Vou te apresentar para algumas irmãs minhas. – Concordei tentando colocar um sorriso nos lábios.

– A senhora não se preocupe. Farei o meu melhor para tudo ficar perfeito. – Ela concordou enquanto se sentava para comer. Anunciei o que seria o jantar e fiquei ali, em pé, esperando caso precisassem de minha ajuda para alguma coisa, como caso quisessem algum outro prato em especial.

Observei enquanto eles comiam. Seth me olhou por um curto período de tempo enquanto mastigava alguma coisa. Ele parecia pensativo. Contudo, seus pensamentos foram cortados no momento que o Senhor Rashid comentou:

– Como foi o seu dia, querida? – Zilena sorriu.

– Foi ótimo. Estamos combinando de montar uma casa de auxílio aos pobres e sofredores. Talvez aos refugiados da Guerra também. Por enquanto, estamos apenas no campo das teorias. – Senhor Rashid concordou com um sorriso meigo nos lábios. – E você? Como foi o trabalho?

– Eu e Seth estamos resolvendo algumas papeladas pendentes da empresa. Os funcionários da contabilidade estão com dificuldade de fazer o balancete do mês e o Seth está ajudando para que não atrase. – Zilena concordou. Seth parecia alheio a tudo ou cansado demais, talvez.

O silêncio retornou à mesa, mas apenas por poucos minutos. Como se lembrasse de uma informação importante somente naquele segundo, o Senhor Rashid falou:

– Não poderei estar no seu aniversário, Seth. – Rashid parecia triste ao anunciar isso. – Fui chamado para uma apresentação da palavra de Deus na Mesquita de Al-Shallah nesse dia. – Seth olhou o pai e deu de ombros. Parecia desinteressado com a presença do mesmo. Não entendi muito bem.

– Não se preocupe. Planejo fazer uma festa mais ocidental, sabe? Com fotógrafos, mulheres de verdade. Essas coisas. – Comentou Seth. Zilena revirou os olhos, como se não gostasse da forma como o filho falava, embora não pudesse fazer muita coisa a respeito. Rashid parecia não sentir a mínima vontade de advertir o filho pela centésima vez. Seth continuou: – A senhora não precisa estar presente, minha mãe.

– E pode ter certeza de que não estarei. – Disse Zilena, séria. – Nem mesmo sua noiva, se você quer saber. Vou avisá-la para te visitar no dia anterior, ou seguinte. Eu não sei porque continuo insistindo em lembrá-lo que quando você se casar, precisará ser um homem de respeito com ela, Seth. – Disse Zilena séria. Seth revirou os olhos, parecendo também cansado de ouvir a mãe, enquanto murmurava:

– Tanto faz. – E colocava mais uma colher de comida na boca como se encerrasse a conversa em família. O silêncio se instaurou no ambiente mais uma vez, embora, dessa vez, parecesse que duraria até o fim do jantar.

Para mim, no entanto, me senti caindo em um abismo bem grande e nem soube dizer porquê. Quer dizer, acho que sei. Seth tinha uma noiva. Meu Deus! Como ele podia fazer isso com a noiva dele? Eu nunca imaginaria… Ele agia como um cafajeste. Isso me dava uma raiva tremenda. Odiava homens que agiam de maneira tão inadequada como Seth agia, que enganavam e traíam.

Fechei meu punho enquanto lembrava da forma como ele tratava as outras mulheres que não eram de sua religião. Que idiota ele tinha sido. Meu Deus! O que será que ele tinha chegado a fazer com aquelas mulheres sendo que ele tinha uma noiva? Em alguma parte do meu ser a raiva me atingia a proporções catastróficas e eu acho que comecei a ficar vermelha de raiva.

– A senhora me permitiria ir no banheiro? – Perguntei para Zilena e ela quase engasgou com uma garfada de comida enquanto corava. Assentiu para mim enquanto murmurava baixo:

– Vai, vai logo. – Assenti enquanto saia da sala indo até o banheiro, o primeiro que encontrei. Precisei molhar meu rosto algumas vezes para afugentar o vermelho da face. Podia ser de calor também, pensei.

Olhei-me no espelho. O inchado já tinha sumido. Havia só uma fina linha roxa que nem dava para ver agora que eu estava cheia de maquiagem. Mesmo jogando água no rosto, pouca coisa do roxo aparecia. Ainda assim, me vi pensando, novamente, no que Seth fazia.

Não sei, talvez eu tivesse uma opinião diferente dele depois dele ter me ajudado. Talvez eu tivesse pensado que, quando ele encontrasse alguém de quem ele realmente gostasse, ele fosse parecer menos criança, mudar mais. Não sei. Só sabia que me era um choque imenso olhar para minha imagem no reflexo do banheiro e lembrar das palavras da mãe dele. Do fato de que ele tinha uma noiva. Do fato de que ele, só beijando outra, tinha, obviamente, a traído.

Tudo bem, talvez fosse um casamento arranjado. Ainda assim. Não é possível que ele não respeitava um pouco que ela fosse. Eu não sabia. Nem conhecia a menina. Só sabia que precisava respirar. Por que isso estava me afetando tanto? Eu não podia deixar que isso me afetasse. Afinal, não dizia respeito a minha vida. Dizia respeito à vida dele. E não era como se eu quisesse estar ligada a vida dele. Não, eu ia embora dali em um ano. Um ano. Não poderia deixar que qualquer coisa me afetasse. Afinal, duvido que no dia do aniversário de Seth não fosse acontecer a mesma coisa, ou quem sabe, não fosse até pior.

Ele era o filho do Skeikh e talvez fosse Sheikh também. Podia fazer o que quiser com a vida dele. E eu? Bom, eu era uma governanta e devia seguir com o que me era cabível, fazer o meu trabalho da melhor maneira possível e ganhar dinheiro da maneira que eu queria. Eu precisava. Sofia contava comigo.

Quando sai do banheiro já era tarde, só precisei ajudar a guardar as comidas da janta e encaminhar os funcionários para que já se preparassem para deitar ou dormir. Com a mente com muitas informações e pouca vontade de refletir ainda mais sobre elas, decidi de me encaminhar ao encontro do quarto cheio de papéis a fim de continuar meu trabalho por ali pela noite, finalizando, alguma hora da noite, aquelas pilhas.

Pelo menos até o momento que os pensamentos intrusos desistissem de fazer morada dentro do meu cérebro.

Em algum momento, minha cabeça concordou que eu poderia começar a organizar as planilhas no computador e eu fui buscar o meu laptop levando até o quarto. Noutro momento, meus olhos se fecharam e a escuridão tomou conta de mim. Acho que adormeci. Um sono sem sonhos, negro e revigorante, de alguma forma. Um sono delicioso que desde que eu havia chegado ali ainda não tinha tido.

Um sono, enfim.

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