O Sheikh e Eu(Completo) romance Capítulo 9

Eu de fato já tinha previsto que o dia seria cansativo. Coloquei uma calça legging e uma blusa grande de meia manga laranja. Quando cheguei na sala, Zilena chegou no mesmo momento e me deu um longo sorriso enquanto dizia:

– Sobre hoje à tarde, Srta. Agnes. Vou ter que te pedir um favor. – Eu era todos ouvidos. Olhei com interesse para a Sra. Zilena que dessa vez usava um hijab de cor azul caneta e ela parecia um pouco nervosa, mexendo as mãos consideravelmente. O que ela ia me pedir, Senhor?

– Vou precisar que você use uma roupa mais ocidental, se você não se importar. – Olhei Zilena sem entender. Franzi o cenho. Por que ela estava me pedindo isso? Não entendia o que ela queria dizer com roupa mais ocidental e ela, por sua vez, parecia um pouco confusa, tentando não parecer que faltava com o respeito comigo.

– Espero não te ofender, sabe? Essas mulheres, que vem hoje, são insuportáveis. – Confessou Zilena revirando os olhos. Dei um meio sorriso. Nunca pensei que Zilena confessaria algo desse tipo para mim. – E eu não suporto a forma como essas mulheres olham meus empregados analisando os defeitos deles, o que eles precisam, essas coisas. – Zilena mexia a mão enquanto falava, tentando esconder o nervosismo. Também nunca pensei que uma mulher forte como Zilena pudesse ficar nervosa. – E elas vem hoje fazer a mesma coisa com a senhorita. No entanto, quero pegar elas de surpresa. Quero chocá-las, ao ponto de que elas não venham mais falar nada, ao ponto de ficarem realmente em choque. Cansei de vê-las falando de meus empregados quando sempre mandei eles aparecerem com o melhor porte possível. – Concordei com a Sra. Zilena. Ela deu um fraco sorriso. – Mas eu entendo se você não quiser o fazer. É só que não aguento mais isso. E quero dar um fim nisso hoje. Para que não precise mais apresentar meus futuros empregados para essas mulheres. Afinal, acredito que elas nunca mais irão querer vir aqui se você me ajudar nessa, claro.

Eu precisava considerar. Olhei Zilena que me olhava no fundo dos olhos. Instintivamente, lembrei de minha mãe, olhando nos meus olhos, pedindo carinhosamente. Eu não podia negar isso para Zilena.

– E que tipo de roupas a senhora gostaria que eu usasse nessa reunião? – Perguntei receosa. Queria ajudar Sra. Zilena, mas não queria também parecer uma pessoa vulgar e chocante andando por aí, sem respeito por mim mesma.

– Você me ajudaria nessa? Não quero te pressionar, Senhorita Agnes. Nunca! Se não quiser, saiba que entenderei isso da melhor maneira possível. Estou lhe pedindo demais. Sinto que poderia pedir isso para você, confio em você, mas não quero jamais faltar com o respeito. Compreenderei se quiser recusar.– Disse Zilena, um pequeno sorriso de compreensão formando em seus lábios.

– Acho que não, Sra. Zilena. Depende do que a senhora Esteja pedindo que eu use. – Comentei arqueando uma sobrancelha. Vai saber. Não sabia dizer por acaso o que ela queria mesmo era me colocar de biquíni na frente das muçulmanas.

– Não é nada demais. – Disse Zilena com um sorriso caloroso nos lábios. – Um vestido, de preferência, ou alguma peça de seu guarda-roupa com os ombros de fora, o colo também. – Olhei para Zilena. Ela estava falando sério, embora eu não considerasse um vestido algo escandaloso demais, mas conseguia entender o ponto de vista dela.

– Certo. Acho que consigo algo assim. – Disse corando um pouco. Eu tinha um único vestido de alça na minha mala, mas estava com medo de usar dado o rebuliço que poderia causar se algum outro trabalhador da mansão me visse assim. – Só peço que você impeça que os outros empregados da casa me vejam assim. Me causaria muita vergonha, de verdade. – Zilena riu.

– Apenas Sahir. Os outros, pedirei que fiquem no andar de cima, tudo bem, senhorita Agnes? – Concordei enquanto Zilena partia de encontro as escadas, dando por fim a conversa. – Vou ficar no meu quarto por hoje. Te vejo as três horas da tarde hoje, Srta. Agnes? – Concordei enquanto balançava a cabeça, ainda com um pouco de medo do que viria pela frente.

Segui em direção a cozinha assim que Zilena saiu da minha vista. Passei com Sahir o que ela faria para essa reunião. Ela me assegurou que prepararia alguns bolos, chás, biscoitos e tortas. Depois, passei com os empregados a limpeza dos cômodos que as senhoritas ficariam, como a sala de chá, por exemplo, e, enquanto andava pelos cômodos, acabei esbarrando em Matias.

– Estás muito linda hoje, Agnes. – Ele disse e eu corei enquanto fazia uma leve mesura cordial.

– Muito obrigada, o Senhor também. – Disse. E, de fato, era verdade. Matias estava usando uma blusa branca colada ao corpo, o que parecia acentuar os músculos dele. Quando ele arrumava tempo para malhar? Tentei tirar isso da minha cabeça. Ele também estava usando uma blusa social aberta por cima da mesma, andando com todo o galanteio que ele poderia ter.

– Matias. – Ele disse e piscou. Voltei a andar. Não sabia exatamente como parar Matias. Quer dizer, ele não estava avançando pelo muro da amizade, não é? Queria pensar que não. Não saberia exatamente como o parar, visto que eu nem sabia como responder àquilo tudo. Era muito para minha cabeça. E eu não ficaria ali muito tempo. Não podia me envolver. Mas como dizer isso para os outros sem magoá-los? De fato, eu não tinha a mínima ideia.

Quando a tarde chegou, resplandecente, como sempre, segui para o meu quarto para um banho revigorante.

Zilena tinha me assegurado que eu não deveria chegar antes, visto que eu era uma visitante naquele momento, não uma governanta. E eu, que precisava tanto de um banho revigorante, não achei ruim deitar um pouco e desfrutar dos sais e perfumes que haviam na banheira.

Coloquei meu vestido de alcinha. Era de cor amarelo-claro com branco e ia até a altura do meu joelho deixando minhas pernas de fora, meu colo de fora, meu eu de fora. Okay, no Brasil eu andava com aquele vestido sem parecer ou me sentir uma estranha, normalmente. Mas ali, por algum motivo, eu estava corada enquanto me olhava no espelho. Talvez estivesse sentindo como se estivesse ferindo a cultura muçulmana miseravelmente. As mulheres iam me odiar para sempre depois que me vissem vestida assim.

De qualquer forma, eu não sabia o que havia de errado comigo. Talvez a sensação de que algo daria terrivelmente errado. Talvez eu fosse tropeçar na minha sandália, talvez eu caísse e batesse meu rosto mais uma vez. Não sei. Eu só sentia que tinha uma peça faltando, uma peça que me deixaria terrivelmente cheia de vergonha e morta por dentro.

Dei de ombros. Não podia ficar pensando nisso. Além do mais, tinha que me arrumar. Meus cabelos estavam úmidos, fazendo cachos que vinham um pouco abaixo dos ombros, deixando-me com uma aparência um pouco mais juvenil. Talvez fosse o fato de eu usar vestido que contribuísse ainda mais para esse ar jovial. Estava tão acostumada a parecer profissional, mesmo quando precisava ficar dentro de casa usando legging – que não era tão formal assim – que me ver de vestido, depois de tanto tempo sem usar um, me fazia sentir como se estivesse com uma peça faltando. Talvez um parafuso na minha cabeça, penso eu.

Respirei fundo. Ia dar tudo certo, Agnes. Óbvio que ia. Sra. Zilena tinha pedido para todos os empregados ficarem em seus quartos. Sahir, mesmo que visse, não saberia descrever para os outros com extrema perfeição. E, afinal, eu estava fazendo isso por Zilena. Ela tinha me pedido tão carinhosamente, como se pedisse para uma filha. Eu não ia magoá-la. Não ia negar isso a ela. Ela me queria assim, assim eu ia aparecer.

Desci as escadas calmamente, um passo de cada vez. Ouvia a voz das mulheres bem longe, conversando entre si. Algumas riam, outras faziam comentários baixos demais para que eu conseguisse distinguir. Como será que reagiriam ao me ver do jeito que estou? Será que enlouqueceriam? Eu mal esperava para ver a reação das mulheres ao me ver. Ia dar tudo terrivelmente certo tal como a Sra. Zilena queria que desse.

Paralisei por um instante no meio da escada. Instintivamente, a primeira coisa que consegui fazer foi cruzar meus braços colocando minhas mãos nos meus ombros. Céus. Eu não acredito que isso esteja acontecendo comigo. Não, não pode ser.

Meu rosto estava corado violentamente e eu não fazia ideia de como tampar minhas pernas que estavam amostra! Deus, me salve! Eu estava paralisada, corando muito, tentando não gaguejar. Na verdade, nada saia da minha boca e meus olhos estavam terrivelmente petrificados olhando para a última pessoa que eu queria ver naquele momento: Seth.

Ele também parecia petrificado. Estava segurando uma papelada, um laptop da apple e um celular da apple em cima de tudo isso. Estava de terno – o que eu nunca tinha visto ele usar até então – de cor azul marinho com listras finas. Usava uma blusa branca por baixo disso tudo e uma gravata escura. Seus cabelos, que tinham sido poucas vezes que eu tinha visto até então, estavam penteados belissimamente e tinham uma cor harmoniosa castanho escuro, embora com a luz parecesse quase mel. Seus olhos, agora, brilhavam imensamente e ele estava muito vermelho, o que nunca imaginei que estaria, me olhando petrificante.

Acho que mesmo estando acostumado a cultura ocidental, ele não costumava ver muitas mulheres com ombros de fora como eu estava. Ou, talvez, eu fosse o problema. Acho que ele nunca imaginou que veria a governanta de sua casa daquele jeito alguma vez na vida. Devia ser uma visão dos infernos, decerto. A probabilidade de que ele vomitasse ali era muito grande.

Nós dois nos olhávamos sem saber o que dizer. Na verdade, eu não me lembrava nem de como falar. Tinha certeza de que se tentasse falar alguma coisa, algo como “nharam” sairia da minha boca.

– Uou. Você está... – Seth não conseguiu terminar de falar. Eu precisei engolir em seco várias vezes para não me sufocar com minha própria língua.

– Com os ombros de fora, eu sei. – Consegui dizer. Ainda estava paralisada e fiquei ainda mais quando percebi que Seth havia percorrido todo o espaço entre nós mantendo-se a minha frente.

Eu estava gelada, sem conseguir me esconder mais do que eu estava tentando, mas Seth estava olhando nos meus olhos, como se tivesse algo para dizer, mas não conseguisse. Eu sei, a visão de eu de vestido era chocante.

– Você não está vestida de ursinho. – Refletiu Seth. Corei ainda mais tentando sair do seu contato visual. Céus, o ar parecia rarefeito e o clima parecia ter esquentado um pouco mais.

– Não estou. – Disse e percebi que meus lábios soltaram aquelas palavras em português. Ia me desculpar e falar em inglês quando percebi que Seth ria. Tentei não arquear uma sobrancelha enquanto via ele tentando falar:

– Você está diferente. – Ele disse em português. Embora tenha parecido com um “Vocie está difereentie”. Mas óbvio que eu não ia rir dele pela tentativa. Sorri.

– Pois é. Desculpe pela visão dos infernos. – Nós estávamos tendo uma conversa sem gritos, o que parecia muito estranho para mim. Eu estava gelada, morta, sem conseguir me mexer direito e, por sinal, sem conseguir desgrudar os meus olhos dos dele.

– Não, eu... – E para minha surpresa Seth tocou numa mexa cacheada dos meus cabelos que caíam na altura dos meus olhos. Obviamente, petrificada como eu estava, não tinha percebido. Contudo, quando Seth estendeu a mão, tocando na mexa, o ar realmente pareceu fugir dos meus pulmões e eu prendi a minha respiração tentando não fazer nenhum gesto precipitado.

Próximo do local onde estava a mexa, os dedos de Seth roçaram sem querer, enquanto ele colocava a mexa por trás da minha orelha. Senti o formigamento que se lançou em mim no local até então tocado, bem como a vermelhidão que se apossava de mim. Minhas entranhas pareciam se contorcer por dentro do meu corpo. Meu Deus! O que estava acontecendo comigo? Eu não podia ficar tão afetada com Seth tão próximo de mim.

– O-obrigada. – Disse gaguejando miseravelmente. Quase me odiei por um momento. Os olhos de Seth ainda estavam em mim e seus lábios carnudos e másculos também estavam muito próximos. Eu queria tocar a barba dele e sentir se era macia, mas aquilo era inapropriado. Alguma coisa na minha mente dizia que eu tinha algo para fazer, mas eu não conseguia me lembrar o que era. Minha mão formigava quase se levantando.

– Senhorita Agnes já deve estar aparecendo. – Ouvi a voz de Zilena ao fundo dizer. Seth pareceu perceber também, visto que conseguiu se movimentar e sair pela porta de entradas deixando-me com o coração palpitando sobre o peito e a sensação estranha de fazer o meu corpo pedir por ar novamente. Tudo aquilo tinha sido muito estranho e eu preferia não pensar nisso.

Minhas bochechas ainda ardiam quando terminei de descer as escadas. Respirei mais uma vez enquanto seguia rumo à sala de chás. Eu precisava me recompor. Olhei a porta pela qual Seth tinha saído efusivo. Respirei fundo. Mais uma vez, os olhos de Seth ainda faziam parte da minha visão, me olhando profundamente, como se quisesse tirar todo o ar do meu corpo.

*

Sim, as mulheres tinham ficado extremamente desconfortáveis e chocadas ao me ver. Sim, elas não acreditavam no quão descoberta eu estava e sim, senhora Zilena parecia muito satisfeita com o que via, com o fato de que eu estava ajudando aquelas mulheres a nunca mais quererem colocar o pé na Mansão do Senhor Rashid.

Tinha sido um café da tarde agradabilíssimo. As mulheres não conseguiam falar comigo, nada saia das bocas delas. Comemos sem muitos problemas e, mais tarde, Zilena riu graciosamente, de uma maneira que até então eu nunca tinha visto, enquanto me agradecia:

– Obrigada, Srta. Agnes. Você me ajudou muito. – Havia um sorriso no canto dos lábios dela e eu sorri também, feliz por ter deixando Zilena feliz.

– Eu que agradeço. – Disse enquanto voltava meu caminho para a escada, de encontro ao meu quarto. Zilena, no entanto, me chamou mais uma vez:

– Acho que não me arrependo de ter te escolhido. – Assenti enquanto agradecia a Zilena, sorrindo e muito feliz. Zilena tinha sido como uma mãe para mim naquele momento. Eu estava feliz que ela estivesse bem.

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