O Egípcio romance Capítulo 29

Entre tantos armários amontoados na sala, vou até um que parece um barzinho. Vejo então várias garrafas de uísque novas, e vários copos embalados. Pego a garrafa e a abro.

Determinada, vou até ele.

— Hassan.

Ele abre os olhos, e quando vê tudo na minha mão me dá um sorriso fraco.

— Desinfete com o uísque o abridor de cartas e depois meu ombro. Então, mãos à obra e retire a bala.

Eu tremo muito.

— Eu acho que não vou conseguir — digo, angustiada.

— É claro que vai. Você é forte. Não sabe a força que tem.

Eu o olho com descrédito. Ele procura minhas mãos trêmulas e as aperta com sua mão.

— Vamos fazer uma coisa de cada vez. Está certo?

Eu aceno um sim.

— Primeiro me dê a garrafa! — ele pede.

Eu dou a garrafa de uísque para ele. Hassan então bebe bastante do uísque e limpa a boca com a manga da camisa. Eu estremeço, pois entendo seu gesto. Ele está se preparando para a dor que irá sentir e se anestesiando.

Ele me entrega a garrafa.

— Agora me ajude a retirar a camisa.

Ofego, com medo de não conseguir retirar a bala. Levo minha mão até sua gravata, a afrouxo e a passo por sua cabeça.

Fecho meus olhos e respiro fundo, e de botão a botão vou despindo-o. Seu lindo peito forte e peludo vai sendo revelado. Ajudo Hassan a tirar a camisa. Vejo o grande buraco na sua carne, mas não consigo ver bala nenhuma.

A polícia continua a falar com os bandidos, dá para ver que eles estão exaltados lá no salão, e ouvimos um tiro.

Mais uma morte? Ou apenas um aviso?

Deus! Acho que vou desmaiar.

— Beba! — Hassan me dá o uísque quando me vê pálida.

Eu respiro fundo e faço como ele me disse, bebo do uísque. Tusso quando ele arde na minha garganta.

— Chega! — ele sorri fraco. — Você precisa estar bem para tirar a bala.

Eu aceno um sim para ele.

— Boa menina — Hassan diz, com um sorriso de aprovação.

Ele pega a garrafa de minhas mãos e joga no ferimento, soltando um palavrão em árabe. Aperta os olhos e as mãos no sofá quando sente toda a região arder.

— Hassan, tem certeza de que quer que eu faça isso? A polícia está aí. Logo seremos resgatados.

— Isso leva tempo e não podemos esperar.

Eu derramo uma lágrima.

— Está certo.

Hassan se emociona. Seus olhos se enchem de lágrimas.

— Perdoe-me por te fazer passar por isso. Consegue me perdoar? — ele diz arrastado.

Eu o olho ternamente.

— Não tenho nada para perdoar. Você não imaginava que isso fosse acontecer — digo, e passo a mão nos cabelos dele, afastando de sua testa molhada de suor.

Hassan pega a minha mão e a beija, então me puxa e nossos lábios se abrem e nossas línguas se acariciam, envolvidas em uma dança suave e exploratória. Esse beijo é suave e romântico, mas com uma disposição que evoluiria para quente e excitante se não fosse a situação. Ele então me afasta, seus olhos parecem duas chamas de fogo.

— Lamento quebrar nosso beijo, mas agora faça o que tem que fazer. Um aviso, caso eu desmaie, não se desespere, é normal que isso aconteça.

Então ele olha para o armário contra a porta.

— Melhor empurrar o sofá, caso eu desmaie pelo menos sou um peso a mais caso eles tentem forçá-la.

Ele nem sabe que passei por isso sozinha quando ele estava desfalecido. Eu estremeço com a lembrança e dou um aceno de cabeça para ele.

— Boa ideia.

Ajudo Hassan a se levantar. E empurro o sofá no piso de madeira. O colocamos em frente ao pesado arquivo. Hassan então se deita no sofá, faz um bolo com a camisa e a coloca entre os dentes.

Com as mãos trêmulas, jogo uísque no abridor de cartas. E olho para o ferimento. Ofegante, me sento ao lado dele e encaro o ferimento novamente.

— Vocês estão cercados — ouvimos a polícia novamente.

Eu estremeço e paro o que estou fazendo. Hassan vira meu rosto para ele e tira a camisa da boca. Seus olhos negros são duros sobre os meus:

— Karina. Foco. Não se preocupe com eles — ele diz, e coloca a camisa entre os dentes novamente.

Eu aceno um sim e respiro fundo. Tremendo muito, insiro a ponta do abridor e começo a cavoucar a carne, sem olhar para o rosto de Hassan, que se contorce de dor, mas ver seu rosto é pior, e eu não vou conseguir acabar logo com isso.

A bala está funda na carne. Eu posso senti-la. Vejo que, pressionando a carne para o lado, consigo forçá-la a sair. O sangue aumenta quando começo a trabalhar para isso. Meu estômago revira, mas fico firme. Minutos depois, com muita dificuldade, ela vem à tona. Sorrio entre lágrimas quando consigo tirá-la.

Os braços de Hassan caem, e eu o olho. Ele está desacordado, e branco como papel.

Tadinho…

Pego a bala e a coloco dentro do lenço, e jogo uísque na carne novamente. Hassan geme, mas não volta a si. Tiro a camisa de sua boca e pressiono seu ferimento, tentando fazê-lo fechar e estancar o sangue.

Fico assim, pressionando. Quando acho que foi o suficiente, tiro a camisa. Funcionou.

Respiro fundo.

Passo os olhos pelo local e verifico se tem telefone, mas não acho nenhum, e, pela aparência da sala, parece guarda-treco. Tem várias cadeiras amontoadas em um canto, armários novos e alguns mais velhos. Um grande espelho, uma estátua, vasos…

Os minutos passam e ele não acorda, mas percebo que sua respiração e temperatura estão normais. Meus olhos passam por Hassan. Observo seus ombros largos, seu peito peludo e forte.

Deus! Como ele é lindo.

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