O Sheikh e Eu(Completo) romance Capítulo 17

Olhei-o. Seus olhos brilhavam como cristalino. Havia uma mistura de confissão e tristeza naquelas palavras. Alguma coisa que eu não conseguia entender, mas que transparecia uma tristeza tão grande que eu só sentia vontade de abraçá-lo e dizer que tudo ia ficar bem.

– Não foi sua culpa, certamente, Sr. Seth. – Comecei, mas Seth balançou a cabeça, discordando do que eu tinha dito. Fiquei a olhá-lo em sua beleza iluminada pela lua.

– Seth, por favor, Agnes. Aqui estamos apenas como pessoas, não em graus hierarquizados. – Murmurou Seth e sua voz saia amarga e grave, como uma pessoa que há tanto precisava dizer isso, mas só agora tinha criado coragem. Seth suspirou. – Foi minha culpa, Ag. – Ele me olhou para ter certeza de que eu não tinha me ofendido com o escorregão para apelido, de sua parte. Não disse nada. Ainda estava curiosa do motivo pelo qual ele achava que a culpa era dele e, de certa forma, mesmo que eu não gostasse de ser chamada assim, na boca de Seth, Ag parecia uma palavra incrivelmente sexy quando a língua dele tocava o palato e murmurava meu apelido como algo sublime. Eu não podia simplesmente pedir para ele parar de me chamar assim. Parecia algo tão lindo…

Encarei Seth tentando demonstrar no meu olhar que ele podia me chamar assim. Os olhos cor de âmbar, do mocetão, me observavam comedidamente e, novamente, Seth recomeçou seu tom de confissão.

– Minha mãe queria ao menos dar um filho para o Senhor Rashid, meu pai. E, quando, aos seis meses de gravidez, foi observado um câncer se espalhando em grande quantidade, pelas duas tubas uterinas, mesmo sabendo que isso poderia me afetar no útero, minha mãe continuou comigo. Ela me teve prematuro, com oito meses, mas infelizmente, isso não foi tempo suficiente para ela. O câncer já tinha se espalhado consideravelmente.

Ouvir as palavras de Seth me fez me sentir num torpor inimaginável. Não sabia como reagir com aquelas palavras, com a sensação de culpa que ele sentia, com a tristeza que havia em sua voz. Parecia comentar nas entrelinhas sobre o fato de que seus pais não estavam no seu aniversário, na tristeza de ter atrapalhado a vida dos pais, na culpa de não possuir irmãos.

Eu não sabia como consolar aquele homem, não sabia se o deitava no meu colo enquanto fazia-o cafuné no cabelo, ou se esperava que alguma coisa idiota saísse da minha boca na tentativa de consolá-lo.

– Minha irmã tem câncer. – Foi a única coisa que saiu da minha boca e me trouxe uma dor gigantesca admitir isso em voz alta. Quer dizer, eu sempre soube que minha irmã tinha que conviver com isso, sempre tentava comentar que ela tinha câncer de uma maneira mais indireta de falar, contudo, falar tão abertamente essas palavras? Isso parecia ser tão dolorido que eu não sabia nem mesmo falar mais uma palavra sequer. Doía admitir a mim mesma que ela tinha câncer, doía admitir que eu tentava conviver com isso, mas não conseguia. Doía.

– Que tipo de câncer ela tem? – Me perguntou Seth com a voz bem baixa e parecia realmente interessado em saber.

– Câncer de pulmão. – Comentei. Seth continuava me olhando, me instigando a continuar falando. Inevitavelmente, me enrolando nas palavras, acabei vomitando um monte de palavras. – Luta por isso há muito tempo. Estou aqui, na verdade, tentando juntar dinheiro para o novo tratamento dela, que necessita de pagamento, por ser um tratamento mais inovador. – Seth concordou balançando a cabeça.

O silêncio se instaurou no meio de nós. Parecia que não havia mais o que ser dito. Olhei para frente. A piscina estava vazia, transmitindo sua paz encantadora. Havia alguma sujeira pelo chão, no entanto, o mais bonito de se ver era o deserto estendendo-se rumo à frente, as estrelas tomando seu lugar junto da beleza sem igual. Havia uma paz tranquilizadora olhar aquela aparência tão mutável como se, de repente, minha vida pudesse se tornar um grão de areia, mudando de direção, vagando o espaço, encontrando o destino que tanto queria.

– O que pensas? – Perguntou-me Seth.

– Em como deve ser majestoso jantar numa noite assim no deserto. – Comentei suspirando e Seth riu da ironia de eu estar com fome e pensando em comida num momento tão sublime como esse.

– Você enfrentaria um deserto desafiante pela frente, Agnes? – Perguntou Seth com um sorriso divertido sob os lábios.

– Sou mais forte do que você imagina, Senhor Seth. – Disse sorridente para o homem que parecia ter um pequeno brilho no olhar.

– Então você não negaria se, por acaso, eu a convidasse para um adorável jantar no deserto? – Perguntou Seth com um sorriso bobo nos lábios.

– Não. – Comentei sorrindo também. Duvidava que ele tivesse coragem. Mas não me importei em dizer a verdade. Estava tão cansada.... Seth sorriu.

– Então está feito o trato. – Disse Seth me estendendo a mão para um aperto de mão. Apertei-a rindo enquanto concordava:

– Então está feito. – A gente riu ainda mais depois que soltou as mãos. Parecia que havia alguma alegria momentânea em prometer isso um para o outro.

– Posso te dizer uma coisa? – Perguntou-me Seth depois de um tempo, quando nossos risos diminuíram um pouco até quase sumir. Concordei balançando a cabeça. – Eu queria pedir desculpas por ser um idiota contigo. Eu tenho uma noiva. Deveria levar isso mais a sério. E você tenta me auxiliar a ser menos vexame do que já sou para minha família. Me perdoe por te tratar mal. – O sorriso que, anteriormente, havia em meu rosto, acabou se desfazendo conforme eu ouvia ele falar. Não porque eu não quisesse ouvir o que ele estava dizendo, longe disso, era o que eu mais esperava ouvir do cabeça oca! Contudo, por não esperar, realmente, que ele fosse fazer isso. Ainda mais ali, naquele momento.

– Seth... – Engoli em seco. – Sr. Seth. – Me corrigi, muito embora tenha ganhado um olhar de reprimenda por parte dele. – Você não precisa... – Eu não conseguia terminar a minha frase.

Sempre esperei que Seth fosse gentil comigo em algum momento. Na maioria das vezes isso envolvia a gente em momentos muito humilhantes. Contudo, agora que ele estava sendo gentil, num momento não vexatório, eu sentia como se isso fosse inadequado, completamente insano. Talvez eu já estivesse tão acostumada com o jeito de Seth que o ver assim, me pedindo desculpas, parecia muito para que meu cérebro compreendesse.

Além disso, eu era uma governanta. Meu dever era entender quando os meus chefes estivessem de mal humor em algum momento e compreender que haveria dias que qualquer um estaria da mesma forma. Seth se retratar comigo fazia meu cérebro arder.

– Não, eu preciso. – Disse Seth e seus olhos se voltaram para baixo, em busca de alguma coisa no meio daquele cobertor mostarda.

– Se você vai pedir desculpas, Seth... – Comecei ganhando a atenção do homem. – Eu também devo pedir desculpas. Uma governanta deveria compreender quando seu chefe está mal-humorado e não o xingar toda vez que ele elevar um pouco a voz. – Disse e, de repente, o clima ficou estranho.

Talvez fosse o fato de ambos estarem pedindo desculpas. Parecia criar uma leve tensão no ambiente, perpassando qualquer coerência do universo. Ambos arrependidos, sem se xingar. Ambos se olhando.

Perceber, para a minha grande sorte, Seth tão próximo de mim, fez meu cérebro se desligar por inteiro. Fiquei a pensar se outras partes também não tinham sido desligadas, já que eu não conseguia perceber que estava respirando, se é que eu estava. Havia só a presença de um homem enrolado num cobertor a minha frente.

Certo. Seth não estava tão próximo assim, mas era suficiente para eu sentir o seu cheiro. O seu maldito cheiro de terra, aridez, pimenta e madeira. O seu maldito cheiro tão atraente que parecia desligar o meu cérebro de suas funções normais.

Seth pareceu se perder em torpor também e eu acabei encontrando seus olhos. Havia uma mistura de languidez no mesmo. Os olhos castanhos quase verdes estavam almiscarados de desejo e o simples olhar para os mesmos fazia todo o meu corpo se arrepiar.

Pareciam horas o que provavelmente eram segundos de nós nos olhando e decidindo se íamos avançar ou não. Alguma coisa me dizia que não deveria avançar, mas, provavelmente, como ele, eu não conseguia me lembrar de qual era o motivo para tal.

Meu coração pareceu parar por longos segundos quando a mão de Seth tocou meu rosto. Havia um formigamento incomum tomando conta do local exato onde seus dedos tocaram – mais ou menos na altura das maças do rosto – entregando, inclusive, minhas entranhas ao comando do homem que fazia todo o meu corpo despertar.

Esperei. Por alguns segundos só conseguia observar os seus lábios encontrando meu campo de visão, meio entreabertos, ávidos pelo encontro que parecia demorar uma eternidade para se realizar.

Senti sua respiração próxima da minha, o contato parecia tão próximo que eu podia sentir o lábio dele a milímetros do meu. Havia um sentimento tão grande se apoderando do meu corpo que a distância na qual estávamos parecia incrivelmente longe demais para meus cálculos mentais.

Ouvimos, ao mesmo tempo, o momento que uma das meninas bêbadas encontrou o chão num baque surdo e oco que pareceu doer demais. Foi o suficiente para que tirasse completamente a nossa atenção na delinquência que estávamos fazendo. Percebendo isso, Seth se afastou rapidamente de mim, olhando a jovem que estava no chão e murmurava baixinho:

– Ai. – Seth me olhou rapidamente, só para dizer:

– Eu vou ajudar ér... Você sabe... – Eu concordei balançando a cabeça, porque tenho certeza de que se eu tentasse falar, nada sairia da minha boca. Seth se levantou do chão indo ao encontro da jovem. Finalmente, o meu coração idiota lembrou-se de bater, já que saltitava sob o meu peito.

Foi quase. Disse a mim mesma. O que havia acontecido comigo naquele momento? Eu, sinceramente, não sabia dizer. Só conseguia sentir a culpa tomando conta de mim por, em poucos minutos, ter esquecido de que tinha um namorado e quase me amaldiçoar num beijo que não deveria ser realizado. Afinal, não podíamos cometer mais esse deslize! Matheus era meu namorado. Eu não podia ser tão ruim para ele assim, não é mesmo?

Eu não conseguia responder a minha própria dúvida. Minha cabeça parecia uma rede difusa de pensamentos em completa confusão. Eu só conseguia pensar em como meu cérebro tinha se desligado e como, mesmo que eu quisesse mentir para mim mesma, sabia que esses últimos minutos tinham sido os mais eletrizantes da minha vida.

Passei a mão pelo meu cabelo cheio de frizz e me enrolei mais um pouco no cobertor verde. Estava muito frio e meu vestido ainda estava molhado e grudado no meu corpo. Eu precisava rapidamente de um bom banho quente e trocar de roupa. O outro dia ainda pediria muito de mim.

Olhei Seth enquanto me levantava. Ele estava levantando a garota e colocando novamente a mesma na cama. Seu cobertor estava pendente sobre o corpo e ele parecia tão paternal levantando a jovem delicadamente, tentando tocá-la na menor quantidade possível. Ao mesmo tempo, ele não parecia muito satisfeito em ver que as jovens estavam no seu quarto, mas parecia ter se esquecido por um segundo do que tinha acontecido minutos atrás.

Mesmo envergonhada, não pude deixar de perguntá-lo:

– Quer que eu arrume um quarto de hóspedes para o senhor? – Seth me olhou como se tivesse percebido só agora que a minha presença ainda estava ali. Na certa, achara que eu já tinha partido, perdido em seus pensamentos.

– Não, não precisa. Eu me viro. – Ele disse e eu concordei. – Sei achar os quartos de hóspedes, Srta. Agnes. – Disse-me Seth com um pequeno sorriso de deboche no canto dos lábios.

– Tudo bem. Boa noite. – Disse percebendo que estava realmente cansada daquele dia.

– Boa noite. – Disse Seth abrindo a boca num bocejo.

*

Não pude deixar de me xingar mentalmente enquanto terminava meu banho quente. Eu estava brincando com o meu emprego. Era isso. Por que não tinha nenhuma outra justificativa para eu ter feito tamanho erro!

Percebi, quando já estava indo para a cama, que Karen tinha me deixado o meu celular em cima da cama, junto de um bilhete carinhoso que dizia “Boa Noite, Srta. Agnes. Obrigada pela ajuda por hoje =D”. Sorri.

Olhando o celular pude perceber que haviam um monte de mensagens da Fer, a maioria falando sobre o que ela via da festa. Para a minha sorte, nada me mencionava. Na certa porque não sabiam o meu nome. Havia também uma mensagem de Sofia dizendo “Bom trabalho, maninha. ”Além disso, havia também duas mensagens de Matheus, para fechar o meu dia com mais culpa ainda para cima de mim mesma.

“Você estava tão atrapalhada com o trabalho que acabei não contando a novidade que tanto queria. Espero que me perdoe por fazer isso por mensagem. Achei que assim poderíamos comemorar isso junto, bem como marcarmos de nos ver, na próxima vez que nos falarmos por videochamada.”

“A novidade que tenho é que vou para a Alemanha daqui uma semana, Ag! Bjs. Matheus.”

“Ps: Te amo.

Não sabia como me sentir com o tanto de informações que haviam ali. Quer dizer, estava feliz! Poderia ver Matheus! Estávamos namorando novamente, quem sabe beijá-lo de novo pudesse me fazer esquecer dos volumosos lábios de Seth e do meu grande torpor quando estava diante dele? Sim, pensei com meus botões, esse era o problema!

Eu não tinha beijado Matheus ainda depois que tínhamos voltados. E, tanto tempo sem beijar.... Claramente, meus neurônios estavam sendo afetados com a falta de lembrança. Não conseguia me lembrar do gosto do beijo de Matheus, tampouco de como era agradável estar na presença dele. Essas lembranças, sendo novas, certamente, fariam bem ao meu cérebro! Novas lembranças! Por que não pensei nisso antes?

Era isso o que eu estava precisando! De novas lembranças para preencher as últimas que tinham me tirado o fôlego e sobre as quais prefiro não pensar. Melhor nem deixar que elas cheguem a linha de pensamento. Agora tudo fazia sentido. Meu plano parecia ser o salvador do século! A melhor maneira que eu teria para conseguir conviver com a ideia de Seth tão próximo de mim. Acrescentar lembranças de Matheus. Se eu as tivesse em abundância, eu não me deixaria ser pega por essa culpa instantânea porque, primeiro, não me deixaria nem ser pega pelo torpor de um beijo com Seth.

Matheus vir para o que seria razoavelmente próximo de mim era a melhor novidade do século! Sorri. Isso faria tão bem a mim. Não via a hora de colocar o meu plano em prática. Começando, é claro, a convencer Seth de ir para a Europa. Ele precisava fazer alguma coisa por lá. Era só eu pensar em algo, de forma a acompanhar ele nessa aventura pela Alemanha e, invariavelmente, salvar a Mansão de um vexame se Seth decidisse que, estando sozinho na mansão, ele tinha direito a fazer outra festa.

Agora era só eu pensar em como convencer Seth a ir para a Alemanha sem que isso pareça um convite impróprio para outras coisas. Talvez contar a verdade seja uma opção. Não sei.

Com as ideias fulminando em meu cérebro, dormi.

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