O Sheikh e Eu(Completo) romance Capítulo 18

– Quem é Nadirah? – Perguntei tentando entender de quem Sahir falava enquanto almoçávamos calmamente. Senhor Seth ainda não tinha acordado para almoçar. Na certa, só começaria a comer quando a tal da Nadirah chegasse.

– Senhorita Agnes. É a noiva do Senhor Seth. – Disse Sahir como se agora ficasse surpreendentemente fácil para eu entender. Ao menos, pensei eu, a modelo já tinha pego o jatinho e partido. Por que, do contrário, acho que a noiva do Sr. Seth ficaria bem aborrecida ao saber que há mulheres em sua casa depois da festa que ele deu.

– E porque ninguém me avisou que ela viria hoje? – Perguntei. Este sim, era o motivo pelo qual eu estava bufando de raiva, colocando minha cabeça para pensar, de forma a tentar lembrar todas as palavras que eu sabia em árabe para conversar com a senhorita Nadirah. Seria difícil, mas eu deveria tentar. Certamente eu teria treinado um pouco mais se alguém tivesse me dito que isso ia acontecer.

Os funcionários se olharam sem resposta alguma para me dar. Contudo, eu pude perceber no rosto de muitos que o motivo para não terem me contado era por terem achado que eu me sobrecarregaria demais se o fizesse. Tudo bem, eles estão certos! Mas eu precisava o fazer! Se não ia ficar maluca como estou nesse exato momento por não saber o que fazer com a notícia, tampouco como me preparar. Me sinto como se tivesse sido pega de braços atados e colocada numa sala de jantar pronta para me bombardearem com perguntas que não saberei responder.

– Não se preocupe, senhorita Agnes. A senhorita é muito prestativa e sabe fazer tudo da melhor maneira possível. Temos certeza que a sua parte a senhorita conseguirá fazer com destreza. Quanto a nossa parte, a senhorita não precisa se preocupar. Nos organizamos todos para não dar tanto trabalho para a senhorita e quase tudo está pronto já. – Disse Sahir com seu sorriso fofo diante das faces rechonchudas que me davam vontade de apertar. Sorri.

– Obrigada Sahir – Murmurei e Sahir concordou.

Terminei meu almoço correndo indo ao meu quarto. Eu não fazia ideia de como me vestir perante a noiva de Seth. A verdade é que, depois do ocorrido no dia anterior, eu não sabia sequer como conseguiria olhar para a cara dela!

O que eu diria? Hey, olá senhorita Nadirah, eu ontem quase beijei seu noivo.

Certamente isso eu não poderia falar. Bati minha cabeça na parede. Pensa Agnes. Pensa. Contudo, quanto mais eu tentava pensar, mais parecia que minha mente se transformava num livro em branco.

Coloco terno? Roupa normal? Uma abaya com um hijab? Eu não fazia a mínima ideia. Talvez Nadirah não aceitasse tanto as pessoas e suas roupas como a senhora Zilena. Eu não sabia. E também não ia ligar para a senhora Zilena perguntando-a apenas sobre como me vestir diante de sua nora.

Acabei optando pelo bem conservador. Era melhor parecer que se optava pelo bem discreto do que aparecer de uma maneira que pudesse chocar a senhorita Nadirah. Pensando dessa forma, pela primeira vez, decidi bater à porta de Karen.

A jovem de madeixas ruivas olhou pela fresta da porta antes de me puxar para dentro do quarto. Percebi o motivo apenas quando ela me deu um de seus agradáveis sorrisos cheio de pintinhas no rosto e quando vi seus lindos cabelos ruivos amostra para mim. Ela só podia mostrar para mulheres. Por isso a pressa em me puxar para o quarto. Para ter certeza de que nenhum homem a veria dessa maneira.

– Uau. Que cabelos lindos Karen! Sério, no Brasil, as mulheres matariam para ter um cabelo natural como o seu! E provavelmente te xingariam por você deixar tamanha beleza escondida. – Murmurei, dizendo a verdade. Karen me deu um gracioso sorriso, enquanto ria baixinho, achando graça.

– Você acha? – Seus olhos brilhavam. – Será que o meu marido também acharia tão belo assim? – Sorri. Ela estava brincando, não é? Só pode. Por que perguntar isso parecia brincadeira.

– Ele é um idiota com o qual você não deveria nem casar se ele não achar no mínimo isso, Karen. – Disse e Karen sorriu.

Finalmente, o silêncio se fez. Karen percebeu que eu estava ali e que isso deveria ter um motivo além de querer visitá-la, já que o horário já se aproximava das quatro. Ela aguardava sem nada dizer e, por conseguinte, eu me sentia perdida no meio das palavras em pedir algo assim para ela.

– Karen, eu não conheço a senhorita Nadirah. Eu queria não parecer um choque aos seus olhos, ao menos não hoje. Pensei que optar pelo conservador seja uma maneira sensata de começar com ela. O que você acha? – Perguntei, tímida.

– Acho que sem dizermos nada a você, você acertou em cheio. – Disse Karen séria e eu arqueei uma sobrancelha sem entender. Karen continuou: – A senhorita Nadirah é bem conservadora, Agnes. E ela não costuma conversar com quase ninguém que não seja da religião dela. – Disse Karen e parecia pensativa, perdida no mundo dos pensamentos. Encorajei ela para que continuasse.

– Nossa. – Karen concordou balançando a cabeça.

– Ela me fez recitar algumas partes favoritas minhas do alcorão antes de ter certeza de que queria que eu a servisse. Sahir não estava podendo a servir terminando os preparos na cozinha. – Concordei ainda um pouco assustada.

– Você acha que ela vai ser rude comigo então? – Perguntei.

– Acho que não rude, Agnes. – Começou Karen me olhando nos olhos. Parecia continuar pensando. – Ela deve respeitar e tentar entender num primeiro momento porque a senhora Zilena a deixou se tornar governanta dela e depois, quando necessário, falará contigo. Mas nada além disso. Não espere que ela tente conversar contigo ou perguntar qual o seu sobrenome, por exemplo. – Disse Karen e eu concordei.

– Bom, quanto a isso eu já estou preparada. Pessoas que não ligam para quem eu sou e nem me dirigem a palavra já vejo desde o Brasil. – Comentei e Karen lançou-me um adorável sorriso. Com isso eu poderia lidar. Existia em qualquer país, pessoas esnobes, que só se preocupam consigo próprias.

– Vamos então. Está precisando de uma abaya e um hijab, não é mesmo? – Concordei deixando uma Karen sorridente e feliz, ávida por encontrar a melhor roupa para mim. Não sei se seria possível. Karen era um pouco mais baixa que eu, embora um pouco gordinha também.

– Acho que tenho uma perfeita para você. – Disse-me Karen enquanto abria o seu armário. Percebi a presença de várias abayas e de várias cores. Todas pareciam lindas, de fato. Karen tirou do armário uma abaya de cor sólida rosa que tinha um caimento tão lindo que fiquei a me perguntar se não era um abaya que Karen usava para sair.

– Será que eu ficaria bem de rosa? Ela não me acharia estranha? – Perguntei para Karen. Pensei que o certo seria usar cores escuras e sóbrias na frente de Nadirah. Para passar um aspecto mais sério e maduro para ela, pensei comigo mesma. Era só uma opinião que logo fora descartada por Karen, numa risada engraçada:

– Agnes, ela vai te odiar de qualquer jeito. Ao menos com esse rosa, você ficará divina e eu poderei ter uma ideia de que tipo de abaya e hijab poderei te presentear um dia. – Piscou apenas para ratificar o que dizia.

Não pude deixar de sentir vergonha diante das afirmações de Karen e da empolgação dela em me vestir como se eu fosse uma boneca dos seus sonhos, que ela sempre quis, mas nunca teve. Me perguntei se Karen poderia ter irmãs, porque ela estava se parecendo muito com a minha.

Depois de pôr a abaya e ter que desfilar com a mesma aos aplausos e sorrisos de Karen, fora a vez de cuidar do meu cabelo. Eu já estava morrendo de calor nos braços, embora a abaya fosse bem fresca, mas não podia deixar de terminar o visual.

Karen abriu uma gaveta que continha um monte de acessórios e um monte de lenços. Fiquei olhando aquela infinidade de cores e imaginando qual delas ela escolheria para combinar com a abaya. Para começo de conversa, mesmo que eu tivesse tentando em casa – aos gritos de minha mãe que eu estava estranha com um pano na cabeça – eu não conseguia saber como colocar direito o hijab.

Karen primeiro começou prendendo meu cabelo num coque e, logo em seguida, colocando o que parecia um pano elástico na minha cabeça que fazia com que todos os fios ficassem para trás, bem como escondendo meu couro cabeludo. Essa era de cor preta. E, por fim, ela escolheu o lenço de cor lilás, que parecia quase roxo, ou talvez fosse lavanda, eu não conseguia identificar direito, colocando-o sobre a minha cabeça e prendendo com alfinetes em locais estratégicos.

– Eu só vou deixar você se olhar no espelho depois que eu delinear seus olhos. – Disse Karen e eu suspirei mediante tamanha fala. Não tinha o que eu pudesse fazer. Afinal, como Karen mesmo dissera, Nadirah me odiaria de qualquer forma. Pelo menos eu estava deixando a minha amiga feliz.

Fechei os olhos esperando o delineador. Acho que até cochilei diante de alguns segundos aguardando meus olhos ficando prontos. Karen então pareceu satisfeita, dizendo:

– Pode se olhar no espelho agora. – Levantei-me de sua cama indo de encontro ao espelho que havia do lado do seu armário. Não pude deixar de me assustar, por nunca ter me visto assim, dessa maneira, ao mesmo tempo que admirava como eu estava bela, mesmo toda coberta.

O caimento da abaya era perfeito e muito romântico, o hijab dava o que parecia tom sobre tom à roupa, dando um brilho adorável enquanto escondiam o meu colo. Meus olhos, por sua vez, estavam perfeitamente delineados e marcantes, deixando-me com uma aparência mais séria, contudo não menos deslumbrante.

Fiquei a pensar o que a minha família no Brasil diria se visse dessa maneira como estou. Logicamente achariam insano, mas fora esses comentários. Me achariam bela? Por que eu estava me achando linda, de uma maneira que nunca imaginei igual e, por mais estranho que parecesse, linda, mesmo coberta. Linda.

Tive que balançar a cabeça para tentar afastar a ideia dos meus pensamentos de o que Seth acharia do meu look. Eu não devia ficar pensando no que ele acharia, mas o que Matheus acharia. Sorri. Lembrar das últimas palavras de Matheus parecia uma dádiva e me fazia lembrar, inevitavelmente, do meu plano de ontem. Uma hora eu precisava colocar ele em prática.

Minhas pernas se mexeram com extrema lentidão para fora do quarto de Karen. Estava cansada do dia anterior, mas precisava ainda encarar Nadirah. Respirei fundo e sai do quarto rumando para a sala das visitas.

O ambiente arrumado só esperava a noiva de Seth. Esperei pelo que pareceram cinco minutos até ouvir a voz de Karen que tinha recepcionado a moça e a trazia para a sala de visitas. Pela primeira vez, então, visualizei Nadirah.

Ela tinha as sobrancelhas bem definidas, o que era mais marcante na primeira vista. Parecia não ter muito conhecimento de blush, já que seu rosto estava com as bochechas bem vermelhas e os lábios não tão vermelhos. Ela era alguns centímetros mais alta que eu e usava um hijab marrom escuro e uma abaya marrom claro. Os olhos estavam marcados com maquiagem forte e tinham uma cor castanha bem próxima da cor dos meus. Era mais comum do que eu achava que uma noiva de Seth seria.

Ela me olhou nos olhos por longos segundos até o momento que pareceu franzir o nariz, como quem sente um cheiro ruim e sentou-se no sofá. Tentei não ficar constrangida com a altiva mulher que parecia estar me investigando com o olhar. Não era muito diferente de como as mulheres do Brasil – algumas – agiam.

– Boa tarde Srta. Nadirah. Sou a governanta da senhora Zilena. Caso necessite, pode me chamar de Agnes. – Disse e Nadirah, para minha surpresa, pareceu não ter entendido nada do que eu tinha dito, me olhando como se eu tivesse dito uma blasfêmia.

– Ela tentou dizer que é a governanta da minha mãe e se Chama Agnes, senhorita Nadirah. – Disse Seth que, para minha surpresa, vinha acompanhado da mãe de Nadirah. Parecia uma mulher altiva e um pouco obesa, contudo, maravilhosamente linda sob a maquiagem bem delimitada e os adornos que compunham a hijab.

– Oh, claro. – Disse Nadirah tentando um sorriso que me pareceu meio falso. – O árabe dela é tão ruim que eu demorei a entender o que ela estava dizendo, meu querido Seth. – Disse Nadirah com uma risadinha zombeteira. Tentei controlar a veia que saltava em minha testa com a raiva remanescente que crescia. Eu estava tentando! Não acreditava que ela podia achar tudo tão deplorável assim.

– Ela está aprendendo, senhorita. – Disse Seth parecendo cortês e educado ao mesmo tempo. Um tipo diferente de Seth que eu enxergava naquele momento enquanto ele alcançava a sala. – Mas a senhorita sabe inglês, se quiser conversar com ela numa língua que ela entenda melhor. – Disse Seth, dessa vez, em inglês. Nadirah concordou.

Seth e eu nos olhamos. Num primeiro momento os lábios de Seth se elevaram num sorriso presunçoso, o qual ele tentou esconder rapidamente. Parecia surpreso ao me ver numa vestimenta daquelas, tão similar à cultura dele. Sorri. Ele também não estava nada mal, terno de linho azul. Seth, na verdade, nunca estava mal.

– Oh, claro. Está já vem de onde? – Perguntou Nadirah carregada de preconceito em suas palavras. Pior de tudo! Não estava perguntando a mim e sim a Seth, como se eu fosse uma mercadoria a ser inspecionada! Não estava acreditando no que via com meus próprios olhos. Meus lábios quase fizeram o formato de um “o” quando Seth me olhou. Seus olhos pareciam dizer alguma coisa que não entendi.

Contudo, o pior ainda estava por vir.

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