O Sheikh e Eu(Completo) romance Capítulo 26

Me olhei uma última vez no espelho da suíte. Meus cachos estavam controláveis hoje caindo pelos ombros e meus olhos estavam marcados com o rímel. Eu tinha posto uma blusa de manga comprida verde escura que tinha florezinhas rosadas e que ia até a altura da metade das minhas coxas. Coloquei um cachecol verde também. Além disso, tinha posto uma calça legging e botas de cano curto tentando parecer um pouco apresentável para Zurique noturna. Quando achei que estava aceitável, prendendo metade do meu cabelo e a outra metade deixando solta – para controlar realmente bem os meus cachos – decidi encarar Seth para jantar.

Seth já me esperava na parede oposta à porta do meu quarto, com as pernas cruzadas e os braços cruzados. Seus olhos estavam fechados e a cabeça dele estava encostada na parede, esperando-me pacientemente, sem reclamar. Tomei o cuidado de o olhar rapidamente e, como sempre, Seth estava formidável.

Ele também estava usando uma blusa de manga comprida de cor azul marinho, ainda que tivesse posto uma jaqueta preta por cima. Tinha enrolado no pescoço um cachecol também azul marinho e o que para muitos poderia até parecer meio afeminado, nele parecia ainda mais galanteador e sedutor. Usava uma calça jeans larguinha nas pernas e coturnos nos pés. Acho que era difícil eu me acostumar com um Seth casual e não um Seth de roupas do seu costume ou um Seth de terno e gravata.

Ele abriu os olhos, mas pareceu não notar que eu o estava fitando. Deu uma rápida olhada para mim, desviando o olhar logo em seguida. Baixei meu olhar para meus pés quando vi que ele tinha corado ao me olhar. Acho que era costume por não poder ficar olhando outra mulher com esmero já tendo noiva. Ele era realmente muito educado ao tentar seguir sua religião.

– Vamos? – Ele perguntou e eu concordei. Passamos a andar lado a lado.

– Já sabe onde comer? – Perguntei e Seth me respondeu sem sequer lançar-me um olhar.

– Sim. – Inspirou profundamente. – Você vai ver. – E terminou nossa conversa com uma resposta fria e sem papo para continuações. Voltei ao meu estado de governanta séria e responsável abraçando os meus braços quando saímos para fora do hotel. Eu não ia atrasar mais Seth indo atrás de um casaco. Já estava tarde e ele já tinha um restaurante em mente. Dei de ombros e fiquei a pensar que o frio era apenas mental. Seguimos pelas ruelas de Zurique.

A noite tão bela que era quase difícil de não a notar. Eu estava encantada com aquela cidade. E nem a tinha conhecido direito. Ainda nem sabia me movimentar por lá. Respirei o ar úmido e gélido. O frio é passageiro, pensei por fim.

– Chegamos. – Anunciou Seth e sem me olhar adentrou o restaurante. Dei de ombros. Já estava acostumada à insignificância. Segui logo atrás dele. Não seria isso que me impediria de jantar. E com esse pensamento em mente, adentrei o local.

Seth fez os pedidos enquanto eu ainda me sentava. O local era aconchegante. As mesas de madeira, a pouca luz, as conversas baixas entre as pessoas enquanto comiam. Fora a falta de vento que não mais eriçava a minha pele me fazendo sentir raiva de ter esquecido meu casaco. Ou achado que não precisaria dele.

– Suco? – Me perguntou e eu concordei meneando a cabeça. Ainda estava absorta nos meus pensamentos.

Ele novamente fez o pedido para um homem que nos atendia que saiu em busca dos pedidos. Fiquei a contemplar o seu falar alemão e não pude deixar de comentar:

– Você fala alemão. – Me senti uma idiota. Era óbvio que eu tinha constatado isso.

– Sim. – Seth voltou os olhos para mim. – Você também fala, não? – Perguntou.

– Sim. – Umedeci meus lábios que estavam secos. – Muito pouco na verdade.

– Não é tão difícil quanto o português, acredite. Pelo menos para mim.– Ele murmurou e eu ri. – E olha que já tentei por muito tempo. – Confessou.

– E o que você sabe falar na minha língua materna? – Perguntei e ele sorriu.

– Eu entendo quase tudo, se quer saber. Só não consigo falar. – Segredou-me. – O pouco que sei resume-se a responder perguntas e dizer que não entendo. – Não pude deixar de rir baixinho.

– Interessante. Então está melhor do que eu no árabe. – Seth sorriu.

Rapidamente nossos pratos chegaram e eu senti o cheiro daquela comida quente e agradável. Juntou-se saliva sob minha boca e eu só consegui analisar o prato com uma fome instantânea. O garçom continuou ali, nos servindo com o que parecia ser suco de uva e, então, foi-se deixando-nos com aqueles pratos que pareciam incrivelmente apetitosos.

Era algo com batatas e uma carne diferente que eu nunca tinha comido. Estava tão gostoso que, novamente, eu só conseguia comer. Dessa vez, com mais calma. Seth me fitou.

– Conte-me mais sobre você, chatinha. – Murmurou e eu engoli um pedaço da carne antes de respondê – lo.

– Não tenho muito o que contar sobre mim. Fale sobre você. – Tentei mudar o jogo. Seth bufou revirando os olhos.

– Meu nome é Seth, tenho 24 anos agora, acabei de fazer aniversário, tenho uma noiva mais chata que você e uma sogra que não vê a hora de que eu a dê netos. Minha cor favorita é vermelho e embora eu possa parecer um babaca e criança, senhorita Agnes, eu sou homem e sigo minha religião com o empenho que posso. Ainda mais agora que decidi seguir mais seriamente. – Senti minhas bochechas queimarem. Na verdade, não esperava um diálogo tão direito. Esperava que ele insistisse para eu falar sobre mim, mas ele concordou que fosse uma troca de informações.

– Nossa, que rápido. – Comentei e Seth deu de ombros colocando um pedaço de carne na boca. Agora era minha vez. Me senti um pouco incomodada enquanto me ajeitava na cadeira para tirar um pouco do desconforto.

– Meu nome é Agnes. – Comecei e Seth permanecia me olhando, interessado, esperando que eu continuasse. Voltei meu olhar para o prato. Se eu o olhasse ia me embasbacar mais uma vez, como eu sempre fazia, e ia complicar tudo, porque eu era dessas. – Tenho 24 anos também, faço aniversário no dia 26 de maio, ou seja, sou três meses mais velha que você. Rá. – Achei que seria necessário comentar. Que estúpida. Ele abriu um pequeno sorriso, mas eu só conseguia pensar onde estava a parede mais próxima para eu bater minha cabeça. – Tenho um namorado que… – E de repente eu fiquei muda. Seth continuava me olhando.

Eu só não sabia. Simplesmente me sentia confusa naquele momento. Sobre contar sobre Matheus. Eu não conhecia Seth o suficiente para contar as coisas para ele. Ele não era meu amigo para eu dividir o meu passado com ele e dizer como andava meu relacionamento com Matheus. De repente, me senti muito tonta. A dúvida sobre contar ou não contar me incomodando.

– Que...? – Perguntou Seth arqueando a sobrancelha direita. Parecia curioso ainda que não estivesse parecendo me pressionar de propósito. Suspirei.

Seria problema eu contar para Seth sobre minha vida? Afinal, depois de um tempo não nos veríamos mais e certamente ele esqueceria o meu passado como certamente esquecera de muita gente que contou o seu passado para ele. E, mesmo assim. Que mal faria? Talvez só a mim mesma ao confessar algumas coisas que eu não confessava a quase ninguém.

– Que namora comigo há três anos. Mas não seguidos. A gente terminou antes de eu vir por descrença em relacionamento a distância. Mais descrença minha. Mas acabamos voltando. – E de repente percebi que eu realmente não queria que Seth perguntasse porque motivo tínhamos voltado.

Como contar para ele que tinha dedo dele nessa história? Que eu estava me sentindo severamente distante e sozinha noutro país e que a imagem de um homem bonitão como ele todos os dias, a todos os momentos, naquela mansão, vinha mexendo com o meu interior de uma maneira nada legal, me fazendo tentar me esconder num relacionamento no qual eu já me sentia mais acostumada por conta da rotina? Não, não era fácil.

Principalmente, porque eu não admitia isso nem para mim mesma. Quem dirá para outro. Dizer uma coisa dessas era atestar o meu óbito e eu não estava atestando nem a minha vida ultimamente, quem dirá a morte.

– E porque voltaram? – Ele fez a pergunta que eu não queria. Voltei a olhar o prato. Naquele instante, tinha perdido a fome.

– Por que... – Comecei tentando encontrar uma desculpa. Por que Agnes? Perguntei a mim mesma. – Nem eu sei porque. Acho que só aceitei voltar. – Bom, aquela era uma desculpa com sentido, pensei por fim. Uma na qual eu vinha tentando acreditar. Esquece tudo o que falei antes. Aquilo eu não admitiria nem morta. Essa era a nova verdade. Peguei o suco entre meus dedos e decidi dar um gole para afugentar a sensação estranha que se ponderava de mim.

– E aguentaram namorar todo esse tempo juntos sem casar? – Quase cuspi o suco que eu bebia tentando respirar e engolir ao mesmo tempo. Acabei tendo um ataque de tosse por conta de ter respirado líquido e fiquei tossindo e chamando a atenção de todos no restaurante para mim. Ótimo, ia morrer na Suíça. Que maravilha!

Seth levantou-se e mesmo eu fazendo gestos para ele fica parado, ele foi até mim e começou a dar tapinhas nas minhas costas. Me senti uma humilhação em pessoa. Só eu para ser tão lesada assim.

Quando o ar voltou aos meus pulmões e a vermelhidão da minha face foi diminuindo, consegui respirar com mais calma e decidi responder Seth com toda a vergonha que tomava conta da minha face:

– Ah, sim. Lá no Brasil a gente não casa tão de repente assim. – Mencionei tentando assoprar-me para ver se a quentura que tinha chego a mim se afastava.

– E porque não? – Perguntou Seth risonho voltando ao seu lugar. – Não sentem vontade de se beijarem? – Perguntou Seth com muita naturalidade. Okay, esse menino moço realmente levava muito a sério a sua religião. Como assim, produção? Nada de beijo até casar? Será que Seth nunca havia beijado na vida? Não. Logo lembrei da entrevista de emprego. Ele era bem libertino. Na verdade, ainda estava tentando compreender porque só agora ele decidiu mudar e ficar menos libertino... justo agora.

– Hã... – Aquele assunto estava ficando muito estranho. – Você já deve saber que lá no Brasil não é bem assim, não é? – Perguntei e Seth pareceu despertar de seu torpor ficando vermelho. Oh, nunca tinha o visto tão vermelho.

– Oh, me desculpe, Agnes. É que você é tão certinha que tinha me esquecido que você tinha vindo do Brasil. Lá o pessoal se beija sem problemas, não é? – Ééééé... Não era bem assim não, Sr. Seth.

– Não.... Não tem problema. – Murmurei tímida. – Algumas famílias lá são bem tradicionais. A minha ao menos é – Tentei colocar culpa na minha família. Sabia que eu, na verdade, que era a conservadora da história. Se Seth conhecesse minha família, ia perceber que era só eu mesma. Mas como ele não ia conhecer, eu não via porque não contar uma lorota. – Dai por esse motivo que o respeito continua mesmo em três anos. – Tentei convencer Seth, mas acho que não estava conseguindo convencer nem a mim mesma.

Mas, por favor, como contar para Seth os problemas que eu tinha? Como contar que eu não sentia esse tipo de atração por Matheus ao ponto de me entregar? Ou dizer o motivo pelo qual eu agradecia mentalmente por ele nunca ter avançando comigo? Difícil, não?

– Ah, sim. Entendi. – Disse Seth. Acho que não tinha entendido coisa nenhuma. Novamente, sendo educado comigo só para eu não ficar na mão.

– Continuando. – Disse para terminar logo com o interrogatório. – Tenho mãe, pai, irmã. Ah, você já sabe disso. – Tentei pular esse assunto. Não queria falar sobre minha família. – Minha cor favorita é Lilás e eu acredito em Deus. – Terminei meu discurso. Seth continuou reflexivo por algum tempo a mais até me perguntar:

– Nenhuma religião? – Parecia ainda compreender isso. Emendou: – Ouvi falar que no Brasil vocês são cristãos. – Começou e não estava de todo errado.

– É que nunca fui criada dentro de uma igreja. – Mentira. Tentei me consertar. – Não por muito tempo. – Nesse caso, depende do que a maioria considera por muito tempo. Eu fiquei até os treze anos. Quando já estava crescida demais e não conseguia compreender porque minha mãe tinha que continuar casada com meu pai. Isso era inaceitável para mim.

Felizmente, depois do vexame que passei aos quinze anos, o meu pai e minha mãe se separaram. E acredito que para sempre.

– Então acredita em Deus, mas não achou a religião certa para se encaixar? – Dei de ombros.

– Nunca fui muito de me importar com isso. Conquanto estivermos fazendo coisas boas, orando e agradecendo a Deus. – Seth concordou.

– Os fiéis, os judeus, os cristãos, e os sabeus, enfim todos os que creem em Deus, no Dia do Juízo Final, e praticam o bem, receberão a sua recompensa do seu Senhor e não serão presas do temor, nem se atribuirão. – Recitou Seth e eu só concordei meneando a cabeça.

– Sabe muitas passagens decoradas de cor. – Comentei e Seth sorriu.

– Eu te disse, Amira. – Ele umedeceu os lábios. – Eu sigo minha religião com afinco.

E continuamos a noite com conversas amenas sobre coisas fúteis como tempo, moda, línguas estrangeiras. Falamos do frio, do calor, do Brasil e de Omã. Seth me disse que eu precisava conhecer a Capital de Omã, para que eu visse algumas belezas naturais e eu apenas concordei enquanto continuávamos a nossa conversa.

Não sei exatamente em que momento paramos de conversar. Seth pagou o garçom, mesmo eu insistindo para pagar minha parte e disse que ficaria chateado se eu não o deixasse fazer isso. Acabei concordando depois de muito esforço e convencimento da parte dele e saímos para o ambiente gélido que estava em Zurique.

No momento que demos um passo para fora, voltei a amargar a minha falta de casacos. Fingi que não era nada, apenas cruzando os braços ao redor do meu peito, fingindo que era uma forma casual como eu andava. Tentei dar passos mais extensos para ver se chegávamos logo, mas Seth continuava a falar sobre algo que eu já tinha perdido o fim da meada e agora, acompanhando-o em passos curtos, percebi que, para desespero meu, eu não estava conseguindo controlar o inconstante bater de dentes.

Seth pareceu perceber isso – ou talvez meus lábios estivessem roxos – e tirou o casaco. Eu neguei com a cabeça, veementemente, e Seth simplesmente não ligou colocando o casaco sobre mim. Ainda continuei tentando tirar o casaco de mim, mesmo que estivesse ávida para me livrar do frio, mas Seth fingiu que não me ouvia, continuando a fazer aquele som que me tirava do sério:

– Mimimi, só ouço murmúrios sem sentido. – Revirei os olhos.

– Criança. – Murmurei e ele deu de ombros, como se minha ofensa fizesse cócegas nele.

Mesmo assim, agradeci mentalmente pelo seu ato de cavalheirismo. O casaco estava tão quente e tão bom que, quando percebi, já estava enrolada nele e no seu cheiro almiscarado e apimentado, quentinha e agasalhada. Acho que nunca seria tão grata à criança de Seth.

Durou pouco, de fato, pois logo estávamos no hotel e, mais rápido ainda, de frente aos quartos. Retirei o seu casaco deliciosamente quente e me senti quase nua quando retirei o mesmo e senti o friozinho que ainda se encontrava no hotel. Mais ainda, porque não havia mais o cheiro dele próximo de mim.

Agnes Valença. O que está acontecendo com você, minha filha? Querendo continuar próxima do cheiro do rapaz? Você está louca? Esqueceu que tem namorado? Instiguei minha mente a pensar um pouquinho porque, pelo visto, ela estava muito longe de se manter sã.

– Obrigada. – Agradeci. Seth colocou as mãos no bolso e assentiu.

– Eu que agradeço pela sua presença, Agnes. Boa noite. – Ele abriu a porta do quarto dele. Não pude deixar de sorrir.

– Boa noite, Seth. – E entrei também no meu.

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